Um desejo do arcebispo e o clero arquidiocesano para que o pastor conhecesse a realidade dos sacerdotes e como encaminhar de que forma a Igreja de Londrina pode continuar ajudando esta missão
Desde 2011, a Arquidiocese de Londrina tem um pé e um braço na Diocese de Macapá, no Amapá, no Norte do país. Três padres estão atuando junto a comunidades das cidades de Vitória do Jari e Laranjal do Jari. Padre Paulo Martins e padre João Pires em Vitória e padre Sebastião Benedito em Laranjal. “Estão ali dando seu testemunho”, conta o arcebispo dom Geremias Steinmetz, que visitou os padres entre os dias 9 e 12 de julho.
“São três padres que em tese poderiam estar servindo aqui na arquidiocese, mas que por opção deles e também da arquidiocese, estão lá, ajudando a diocese de lá a atender aquela população. Os padres são praticamente sustentados pela arquidiocese e isso é importante que a nossa população saiba.”, explica o arcebispo.
A visita de dom Geremias estava marcada desde abril com o objetivo de conhecer o trabalho. “O padre João Pires eu ainda não conhecia. Eu precisava ir lá, era meu desejo e era também um desejo do clero que eu fosse dar uma olhada, em vista que os colegas estão lá. São missionários da arquidiocese, então tem que estar presente. Então eu queria olhar como é a paróquia, qual é o trabalho, as dificuldades e também ver até que ponto podemos continuar ajudando”.
Dom Geremias explica que as condições de trabalho dos padres são complicadas. “É muito difícil, eles sofrem, a gente vê que sofre. Ficam três, quatro horas sentados num banco de barco, depois tem que rezar missa. Não é fácil. Isso tudo tem que chamar a nossa atenção. Essa é a realidade deles”, contou o arcebispo.
Padre Evandro Delfino, coordenador da Ação Evangelizadora e das SMP na arquidiocese, destaca que, sendo Londrina uma arquidiocese que recebeu tantos missionários no seu processo de evangelização, é importante também partilhar seus sacerdotes . “O conhecimento da realidade propiciou ao dom Geremias perceber que vale a pena investir nesta missão”, acrescenta.
Acolhida
As comunidades e os padres receberam com alegria a visita de dom Geremias. “Foi uma bênção de Deus”, fala padre Sebastião Benedito. “Como ele mesmo disse, ele veio confirmar na fé o padre Tiãozinho. Porque eu sou de Londrina, a serviço do Reino de Deus plantado aqui no Amazonas”.
O padre conta que o arcebispo acolheu a todos, inclusive os evangélicos, que são quase 80% da população. Também visitou o prefeito e secretários municipais. Presidiu a Santa Missa e ministrou o sacramento da Confirmação aos jovens. Jantou com lideranças, conversou com os jovens, passeou no rio Jari no barco da paróquia acompanhado dos jovens. “O arcebispo foi amado e soube amar o povo de Deus”.
Padre Paulo também acrescenta que a visita foi importante para confirmar que a missão no Amapá é uma missão da Arquidiocese de Londrina, não apenas dos padres. “Foi ânimo para os padres e para as comunidades conhecerem o arcebispo de Londrina. As pessoas têm um afeto por Londrina por causa dos padres que estão aqui”, acrescenta.
“Apesar de ter sido muito rápida a visita do nosso bispo”, acrescenta padre João, “foi muito boa. A gente sentiu que ele estava contente, nós mais contentes ainda”.
Evangelização centrada na figura de líderes leigos
Os padres Paulo, João e Sebastião, atendem 63 comunidades, entre a cidade e o interior. A quantidade de comunidades não é problema, explica padre Paulo, mas as distâncias entre as comunidades do interior. “Estão há horas de viagem de barco, ou de 60 a 120 km de carro”. O padre conta, por exemplo, da sua visita à comunidade Terra Vermelha no dia 16 de julho.
Ele percorreu 100 Km de carro pelos ramais da floresta e mais duas horas de voadeira, espécie de barco pequeno, rio abaixo. “Saí 5 horas da manhã, rezei cinco missas, seis batizados, três Primeira Eucaristia e institui um ministro da Eucaristia. Voltei para casa chegando só à noite. A dificuldade maior são essas distância e o ramal da floresta que é estreito e cheio de valetas”, conta.
Somado as grandes distâncias estão os altos custos de deslocamentos, já que o motor do barco consome bastante combustível. “Ontem foram 50 litros de gasolina só para voadeira. O padre Sebastião quando vai para as ilhas precisa de 200 litros de diesel e mais pagar a diária do marinheiro que pilota o barco”, explica. Porém, ele não encara como dificuldades, mas como realidades a serem vividas.
Na matriz das duas cidades, a missa é celebrada todo domingo e nas capelas uma vez por mês. Já nas comunidades do interior, em Laranjal do Jari as visitas são às segundas-feiras e em cada viagem o padre atende normalmente quatro ou cinco comunidades, fazendo até nove visitas por ano. Em Vitória do Jari, como os custos são altos e as visitas levam uma semana inteira, são quatro ou cinco visitas por ano. O padre Sebastião sai no domingo e volta só no sábado. “No barco tem cozinha, banheiro e também dorme na rede”, explica.
A presença do padre apenas algumas vezes por ano pode soar estranho sob a perspectiva da Arquidiocese de Londrina. Porém, o padre explica que a evangelização não é centrada no padre, mas sim nas comunidades sob a direção dos leigos. “Como são muitas comunidades, quem celebra na maioria das vezes são os ministros da Palavra e o padre a cada cinco semanas vai confirmar o povo na fé.”
Dessa forma, cada comunidade tem seu animador, catequistas, ministros da Palavra, ministros da Eucaristia. “É o modo possível aqui na Amazônia. Eu celebro duas Missas no sábado à noite, duas no domingo de manhã e uma no domingo à noite. Porém, ao mesmo tempo estão acontecendo celebrações da Palavra em todas as comunidade no horário das 8h no domingo. É até bonito de ver”, explica padre Paulo.
Missão Solidária Amapá
As Santas Missões Populares (SMP) da Arquidiocese de Londrina, como gesto concreto, assumiram a chamada “Missão Solidária Amapá”, lançada no quarto retiro das SMP, no dia 21 de julho, com o objetivo de arrecadar dinheiro para a missão no Amapá. “Primeiramente vamos fazer uma grande oferta para comprar um novo motor para o barco que é usado pelo padre Sebastião para visitar as comunidades. Hoje, demora-se muito para fazer a viagem. Com um motor novo, poderá fazer em menos tempo”, explica padre Evandro Delfino.
O objetivo dessa primeira etapa da campanha é abater 100% dos custos do barco. No retiro, o grupo dos 30, lideranças paroquiais das SMP, se comprometeu a conseguir dez pessoas que vão fazer uma oferta de qualquer valor para a campanha. “Depois, com estas doações, pretendemos colaborar em outros projetos e demandas. O primeiro passo será o motor do barco”, explica.
Juliana Mastelini Moyses
PASCOM Arquidiocesana
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