No próximo domingo estaremos celebrando a solenidade de Pentecostes, ou seja, estaremos revivendo a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora reunidos no cenáculo. Segundo o texto bíblico este acontecimento se deu cinquenta dias após a Páscoa.
Neste dia os Judeus também celebram a festa da colheita ou das primícias, mais conhecida como “festa das semanas”, porque, por determinação de Moisés, acontecia na sétima semana depois da Páscoa. Mais tarde, os rabinos acrescentaram, à natureza, a motivação histórica.
Segundo eles, a promulgação da Lei, no monte Sinai, aconteceu cinquenta dias depois da saída do Egito. Por isso, além da colheita e das primícias, nas “festas das semanas”, ou Pentecostes, os judeus celebravam também a revelação da Aliança e a dádiva da Torá (Lei) no Sinai.
Pentecostes era uma das três festas, durante as quais todo judeu piedoso peregrinava à Jerusalém. Nestas oportunidades, a população de Jerusalém triplicava. De trinta mil passava a noventa mil pessoas. Elas vinham de todas as partes do mundo então habitado.
Por isso, quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos, produzindo um grande ruído, pessoas de diversos países ou regiões acorreram ao local para ver o que estava acontecendo. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos eram peregrinos provenientes da Partia, da Média, do Elam, da Mesopotâmia, da própria Judeia, da Capadócia, do Ponto, da Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito, da Líbia, de Cirene e de Roma.
A coincidência da vinda do Espírito Santo com a festa de Pentecostes dos Judeus, não passou despercebida aos primeiros cristãos. Assim como viram na Páscoa, a celebração da libertação do pecado e da morte, também viram no Pentecostes cristão a festa das primícias da Igreja, da promulgação da nova Lei e da oficialização da nova Aliança.
No século III, Tertuliano apresenta a festa de Pentecostes, como o segundo dia mais favorável para celebrar o batismo das pessoas. O primeiro dia, naturalmente, era a Páscoa. No pensamento de Santo Agostinho, fim do século IV, a Páscoa significa o início da graça, o Pentecostes a coroação desta mesma graça. As Constituições Apostólicas, uma compilação de vários documentos anteriores ao século IV, determinavam que a festa de Pentecostes fosse celebrada durante uma semana.
Ainda no século IV, a monja Etéria nos informa que a festa de Pentecostes, em Jerusalém, era celebrada com a leitura dos Atos dos Apóstolos, na passagem que fala da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. No ano 425, o Imperador Teodósio II, proibiu a realização de jogos durante a semana de Pentecostes.
Na missa de Pentecostes, após a segunda leitura, se canta a sequência Veni Sancte Spiritus, um poema, atribuído por uns a Stephen Langton, arcebispo de Cantuária, na Inglaterra, no século XIII, por outros ao Papa Inocêncio III, também do século XIII. Tão grande é sua beleza poética e melódica que ficou conhecida como “Sequência de Ouro”. Um autor medieval a considera “acima de todos os louvores, por conta de sua maravilhosa doçura, clareza de estilo e agradável concisão, combinada com uma riqueza de pensamento, de modo que cada linha é uma sentença”.
A beleza deste poema continua a tocar o coração dos cristãos de hoje. Num comentário recente, Alfredo Votta assim se expressa: “O compositor deste canto era uma verdadeira harpa de Deus tocada pelo próprio Espírito Santo. Seus sons permanecerão por tanto tempo quanto a humanidade recorrer, em oração sincera, ao “Pai dos pobres”. Quem quer que perceba a carência de seu próprio coração, quem quer que simpatize com tudo aquilo que move o seu coração e o coração de seus irmãos, quem quer que reflita, enquanto medita o texto e seu desenvolvimento melódico, sobre a obra do Espírito Santo nas almas e na Igreja, alcançará a mais adequada interpretação deste canto magnífico”.
Não resta dúvida, este é um poema muito bonito que merece ser rezado e meditado, não apenas na celebração litúrgica, mas também em outros momentos, como alimento de nossa espiritualidade cristã. Senão, vejamos!
Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, daí aos corações vossos sete dons.
Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.
Enchei, luz bendita chama que crepita, o íntimo de nós!
Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente, dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
Daí à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.
Daí em premio ao forte uma santa morte, eterna! Amém.
Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina