A Evangelização da Igreja no Brasil hoje privilegia o trabalho de pequenas comunidades, o que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da CNBB chamam de Comunidades Eclesiais Missionárias. As diretrizes atuais falam da Igreja como uma casa, a partir da experiência das primeiras comunidades cristãs descrita nos Atos dos Apóstolos. Uma casa que tem sua base, seus pilares, sua forma de ser e, principalmente, que promove relações próximas de irmãos entre as pessoas que ali vivem. No Arquidiocese Entrevista de hoje, o bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro e secretário geral da CNBB dom Joel Portella Amado fala sobre as diretrizes no contexto do mundo urbano, tema do curso anual dos presbíteros, assessorado por dom Joel em Londrina no mês de março. Confira a entrevista conduzida pela jornalista Juliana Mastelini Moyses.
O cardeal dom Geraldo Majella Agnelo completa 60 anos de ordenação neste 29 de junho, dia de São Pedro. Ele recebeu a equipe do JC em seu apartamento no centro de Londrina, para uma entrevista
Segundo arcebispo de Londrina e hoje arcebispo emérito de São Salvador da Bahia, o cardeal Dom Geraldo Majella Agnello está prestes a completar 60 anos de sacerdócio. Uma trajetória iniciada em 29 de junho de 1957, na arquidiocese de São Paulo. Após mais de duas décadas de trabalhos em Roma e Salvador (BA), Dom Geraldo decidiu retornar a Londrina, cidade que o acolheu com carinho em 1983, quando, à época, era o arcebispo mais jovem do País. Mineiro de Juiz de Fora, ele conta um pouco de sua história e de seus trabalhos realizados nestas seis décadas de dedicação à Igreja.
JC: Como senhor decidiu ser padre? Como começou essa história?
Dom Geraldo Majella Agnelo: Essa história vem desde a infância. Desde a infância eu dizia “vou ser padre”, eu já aspirava à dedicação ao sacerdócio. Naquele tempo, havia um padre que era o capelão das religiosas, que tinham um colégio em Juiz de Fora (MG). Todos os dias, eu ajudava nas missas celebradas por ele. Estava já naquele tempo me dedicando à vocação para o sacerdócio. Tão pequeno, mas já estava dedicado ao sacerdócio. E com 12 anos eu entrei no seminário, em 1945.
JC: E quanto à sua ordenação, quais são as suas recordações?
Dom Geraldo: O cardeal Motta (arcebispo de São Paulo, na época) era verdadeiramente um pai. Ele é quem devia me ordenar, junto com mais três outros sacerdotes. Mas, naquele dia ele estava de cama. Ele pediu ao bispo auxiliar, Dom Antônio Maria Alves de Siqueira, que presidisse a ordenação. Mas, na hora da ordenação, o cardeal apareceu e ficou lá na estala dos cônegos, na catedral de São Paulo. Ele foi por minha causa, ele me queria muito bem. Ele foi para mim um verdadeiro pai. Viajei com ele muitas vezes. Tínhamos uma convivência muito boa.
JC: Quais foram seus primeiros trabalhos como sacerdote?
Dom Geraldo: Quando fui ordenado, meu primeiro trabalho foi em um seminário de vocações tardias, na Freguesia do Ó, em São Paulo. Nós éramos dois sacerdotes que trabalhávamos naquele seminário. Eu e o padre Francisco de Assis Gandolfo, já falecido há muitos anos. Íamos todos os dias celebrar a missa de lambreta. Hoje em dia, nem pensar uma coisa dessas em São Paulo. Mas naquele tempo, saíamos Gandolfo e eu, de lambreta, da Freguesia do Ó até a Paróquia Santo Antônio, na Barra Funda. Depois, fui mandado para Aparecida. Em Aparecida, tudo, naquela época, era diminuto. Eu fui, trabalhei lá, no seminário. Mais tarde, estudei Liturgia, em Roma, no Santo Anselmo. Toda semana, eu falava para a Rádio Vaticano sobre Liturgia.
JC: Como foi sua ordenação episcopal?
Dom Geraldo: Dom Paulo Evaristo Arns foi o celebrante de minha ordenação episcopal. Eu trabalhei muito com ele. Éramos muito unidos. Fui ordenado quando morria Paulo VI, em 6 de agosto de 1978. Por Paulo VI, eu tenho muita admiração. Eu o conheci quando estudei em Roma. Admirava seu modo de ser, um grande papa. Uma benção de Deus.
JC: O senhor foi bispo de Toledo, arcebispo de Londrina e, mais tarde, arcebispo de Salvador. Como foram as experiências?
Dom Geraldo: Eu fui nomeado para Toledo em 1978. Fui o segundo bispo, sucedendo Dom Armando Cirio. Interessante que naquele tempo tínhamos um encontro toda semana, eu e Dom Armando. Uma coisa muito fraterna, mesmo. Ele, bispo de Cascavel, à época. Isso foi muito marcante para mim. Dele guardei uma lembrança muito carinhosa. Em Toledo, fiquei quatro anos. De Toledo, vim para cá. Então… Londrina não era um lugar pequenininho (risos). Aqui já era uma grande cidade. Foi muito interessante a diferença em relação a Toledo. Mas como em todas as minhas nomeações, nunca discuti ou perguntei, simplesmente fui. E aqui encontrei um povo que me acolhe muito bem. Em Salvador, fui muito bem recebido. Claro que lá tem todas as suas tradições… mas eu não brigava com ninguém. Com muita gente distante da Igreja, conseguia chegar e conversar.
JC: Qual foi sua participação no surgimento da Pastoral da Criança, que nasceu em 1983, aqui em nossa arquidiocese?
Dom Geraldo: Zilda Arns, médica, irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, assumiu comigo o trabalho. Montamos juntos todo o projeto. A proposta foi assumida com muito carinho em cada lugar onde foi apresentada. Depois, foi se espalhando pelo Brasil inteiro. Eu tive a oportunidade de acompanhar, indo aos mais distantes lugares do País, para visitar, para conversar com os bispos. Realmente, foi uma benção de Deus essa Pastoral da Criança. Fui colocado nesse trabalho por indicação de Dom Paulo, representando depois a pastoral diante do episcopado, na CNBB.
JC: Entre 1991 e 1999, o senhor trabalhou no Vaticano. Como foi trabalhar com São João Paulo II?
Dom Geraldo: Eu fui secretário da Congregação para o Culto Divino e disciplina dos sacramentos. Essa convivência em Roma é muito marcante. O Vaticano é interessante, tem várias congregações… A gente toma consciência de como a Igreja está pensando todas as questões. Eu tinha contato com muitos bispos. Afinal, todos os bispos do mundo vão a Roma a cada cinco anos, para apresentar o que tem sido feito em suas dioceses. Eles vinham visitar a Congregação. Tínhamos contato com o mundo inteiro. Quanto a São João Paulo II, eu estive muito próximo dele. Semanalmente, eu me encontrava com o Papa. Ele gostava de se encontrar com os bispos das congregações. Ele nos recebia para almoços, nos quais discutíamos temas. Dele sempre recebi apoio. Ele era uma pessoa extraordinária.