Precisamos ser resilientes espiritualmente para termos uma fé inabalável neste Jesus menino

 

2020 está se findando, e com ele iniciamos um novo ano litúrgico em nossa Igreja. Dia 29 de novembro damos início ao tempo do Advento: preparação para o Natal do Senhor Jesus! Em meio a um ano tão atípico, com uma pandemia que abalou o Brasil e o mundo, um vírus tão pequeno, o Covid-19, mas tão grande em consequências na saúde física e mental de todos nós, a palavra de ordem sem dúvida é a resiliência.

 

Se buscarmos a definição de resiliência na Física encontraremos que é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Já na Psicologia, é a capacidade do indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse, algum tipo de evento traumático, entre outros. Mas aqui nos interessa adentrarmos no âmbito da resiliência espiritual, para bem nos prepararmos para este tempo de Advento.

 

Tomamos a liberdade aqui de recordar o dia 27 de março, em um imenso gesto de amor pela humanidade, com a Praça São Pedro vazia, o Santo Padre, o Papa Francisco, dirigiu um momento de oração no átrio da Basílica de São Pedro, depois rezou com a Palavra de Deus e procedeu a Adoração ao Santíssimo Sacramento, concedendo ao final a Bênção Urbi et Orbi extraordinária. Uma das frases que mais ecoou pelos quatro cantos da Terra é que o Sumo Pontífice não estava sozinho naquela praça, mas cada um de nós estávamos lá, trazendo nossas dores, nossos medos, uma infinita quantidade de indagações que guardávamos em nossas mentes e corações do que estaria por vir ainda. Mais de oito meses se passaram desde o início da pandemia no Brasil e as incertezas ainda continuam e poderão continuar por mais um tempo. Em todo este período, o Papa Francisco tem nos convidado a diversos momentos de oração e reflexão, sem cessar, nesta busca pela resiliência espiritual.

 

Como numa grande maratona de revezamento, vamos nos cansando em alguns trechos da corrida, precisando recarregar nossas baterias em pontos do caminho. Grandes figuras bíblicas do Antigo Testamento tiveram muita resiliência espiritual e podem nos ensinar a passar por essa maratona por vezes tão caótica que estamos vivenciando. Moisés é um grande exemplo, sofreu pressões de toda ordem, caminhando com aquele povo para a terra prometida, mas buscava sempre a face de Deus para se refazer e dar continuidade em sua missão. Nos Salmos são relatadas as dores emocionais de Davi, seus conflitos internos, suas lutas, mas, quanto mais adorava a Deus, saia fortalecido para concluir os propósitos designados para ele.

 

No Novo Testamento os relatos de resiliência espiritual não são diferentes. Talvez um dos maiores ícones seja o apóstolo Paulo, com sua experiência de perseguição, fome, cárcere, rejeição e tantos outros revezes que ele enfrentou, mas que expressou em um dos versículos que mais nos dão força e nos conclama a ser resilientes: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13). A nossa força vem de Deus, da sua Igreja que nos dispensa os sacramentos, da nossa fé em Jesus Cristo, nosso único e verdadeiro Salvador. Mesmo Jesus, sendo divino, também se fez humano por amor a nós, precisou ser resiliente em diversos momentos de sua vida terrena. Após ser batizado por João Batista no Jordão, Jesus passou 40 dias no deserto, foi tentado, sentiu fome, lhe foi oferecido Poder, Prazer e Posse pelo inimigo de Deus, os três “p” que continuam assolando-nos até os dias de hoje. Porém, Ele foi resiliente espiritualmente, resistiu bravamente por meio da oração, da renúncia, dos sacrifícios, das mortificações. Ao longo de toda a sua vida pública, Jesus foi rejeitado, criticado, sofreu a paixão e morte na cruz de forma horrenda, mas aceitou o propósito eterno que Ele veio cumprir, a redenção dos nossos pecados.

 

Contudo, lendo essas frases, você pode estar se questionando, olha, mas eu não sou Jesus, eu não sou esses personagens bíblicos citados, eu sou bem humano! De fato, se olharmos somente para nossa humanidade corremos o risco de sucumbir, como os discípulos de Emaús, logo após a morte de Jesus. Estavam desanimados, pensando que tudo aquilo que haviam vivido com o mestre tinha sido em vão, um fracasso total. Mas em uma experiência pós-pascal Jesus caminha com eles, os discípulos sentem o coração arder, o convidam para ficar com eles, reconhecendo-o somente ao partir o Pão. Assim precisa ser nossa experiência com Cristo, precisamos repetir como os discípulos de Emaús: “Fica conosco Senhor” (Lc 21,29). O grande segredo para nossa resiliência é ficarmos com Jesus na Eucaristia, nas Escrituras, nos sacramentos e na oração!

 

Este mesmo Jesus que há mais de dois mil anos sofreu a paixão, morte e ressureição com resiliência, é o mesmo que nós podemos esperar como menino que nasce em uma manjedoura e que vem para continuar nos ensinando que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.  A Igreja nos convida neste tempo de Advento, a recordar as palavras de Paulo aos Romanos “A esperança não decepciona…” (Rm 5,5). Advento como tempo de preparação e esperança em um 2021 melhor, seres humanos melhores, uma Casa Comum que é nosso planeta, mas bem cuidado! Utopia? Romantismo? Loucura? Não! Precisamos ser resilientes espiritualmente para termos uma fé inabalável neste Jesus menino!

 

Aproveitemos este tempo do Advento para fazer uma real avaliação do nosso ano, dos nossos relacionamentos pessoais e profissionais, dos nossos trabalhos pastorais tão prejudicados pela pandemia em 2020. É oportuno esse exame de consciência, a busca do arrependimento e a procura, caso sinta a necessidade, do sacramento da confissão. Assim como preparamos nossas casas com uma bonita decoração, pratos apetitosos e presentes embaixo da árvore de Natal, o essencial não pode ser esquecido: Jesus!

 

O Divino Salvador em sua infinita misericórdia está ansioso pela abertura do seu coração, quer te encontrar na Eucaristia, na Palavra e nos momentos de oração neste Advento. Quer te encontrar também no Natal, na pessoa dos mais necessitados, daqueles que pouco têm em suas mesas para comer, outros tantos que estão carentes de um ombro amigo para serem escutados. Iremos encontrar Jesus neste Advento sendo profetas e denunciando a injustiça, a corrupção, o mau uso do dinheiro público, a vida sexual desregrada, o aborto e todos os males que atentam contra as leis de Deus. Que menino Jesus você está esperando neste Advento? Como Ele vai te encontrar nesse Natal?

Jefferson Bassetto
Seminarista de teologia da Arquidiocese de Londrina

No dia 3 de Outubro de 2020 o Papa Francisco publicou a Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social. É uma reflexão sobre os ensinamentos de vida que a pandemia da Covid -19 sugere a todas as pessoas, “pois que deixou a descoberto as nossas falsas seguranças (n.7). 

 

Logo no primeiro número cita São Francisco de Assis, em quem se inspira, para propor uma “forma de vida com sabor a Evangelho”. Aprofundando a expressão Fratelli Tutti insiste: “Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita” (n. 1). O Santo de Assisque se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos” (n.2). Cita dois encontros importantes que o Santo Padre teve e que o inspiraram fortemente: “Se na redação da Laudato si tive uma fonte de inspiração no meu irmão Bartolomeu, o Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, agora senti-me especialmente estimulado pelo grande Ímã Ahmad Al-Tayyeb, com quem me encontrei, em Abu Dhabi, para lembrar que Deus «criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos” (n.5). 

 

Foto Vatican Media

Após todas estas inspirações tão amplas, o Papa mostra claramente o seu objetivo com a encíclica: “Neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos o anseio mundial de fraternidade” (n.8). 

 

O conteúdo da encíclica é desenvolvido em oito capítulos: I. As sombras de um mundo fechado; II. Um estranho no caminho; III.Pensar e gerar um mundo aberto; IV. Um coração aberto ao mundo inteiro; V. A política melhor; VI. Diálogo e amizade social; VII. Percursos de um novo encontro; VIII. As religiões ao serviço da fraternidade no mundo. 

 

No primeiro capítulo, o papa faz uma exaustiva análise sobre as sombras no mundo que dificultam uma cultura de fraternidade melhor pronunciada. Lembra que nos últimos anos o mundo está voltando para trás nas questões de integração, dando sinais de regressão e reacendendo conflitos que se esperavam superados; favorece uma perda do sentido da história que desagrega ainda mais; denuncia que não há um projeto para todos e que acontece um verdadeiro descarte mundial em que uns têm mais direitos que outros, especialmente os direitos humanos que não são suficientemente universais. 

 

Ainda no primeiro capítulo, o papa cita a problemática das migrações, das fronteiras, do meio ambiente, etc. Mas ele quer falar, sobretudo, de Esperança: Ela “é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna” (n.55). No segundo capítulo faz uma reflexão sobre o Evangelho do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). Ali busca a base para falar sobre a fraternidade e a amizade social. Descreve com calma todos os detalhes da parábola colocando a inspiração de tudo o que vai dizer no agir de Jesus Cristo.  Nos capítulos restantes busca indicar caminhos para a construção de um mundo mais aberto para todos e que possam usufruir das muitas possibilidades que a tecnologia avançada nos oferecem.

 

Enfim, a pandemia da COVID-19 nos colocou a todos no mesmo barco. Temos nas mãos uma oportunidade histórica de darmos um salto de qualidade na fraternidade e nas relações sociais entre todos os povos do mundo. No último número o Santo Padre sugere uma oração ao Criador, muito rica em conteúdo e rezando pela causa que propõe na nova Encíclica:

Oração ao Criador

Senhor e Pai da humanidade,
que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade,
infundi nos nossos corações um espírito fraterno.
Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo, de justiça e de paz.
Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras.

Que o nosso coração se abra
a todos os povos e nações da terra,
para reconhecer o bem e a beleza
que semeastes em cada um deles,
para estabelecer laços de unidade, de projetos comuns,
de esperanças compartilhadas. Amém.

 

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

 

Fotos:  Vatican Media

Artigo publicado na Revista Comunidade da Arquidiocese de Londrina, Edição Novembro de 2021.

 

Vivemos uma nova realidade: a pandemia do Covid-19. Há mais de seis meses uma necessidade surgiu: o distanciamento físico entre as pessoas para a preservação da vida. Com isso, novos formatos de celebrações e eventos foram sendo implementados, como as missas on-line, formações e momentos de oração pela internet. Alguns sacramentos e a catequese foram postergados, sonhos foram adiados, planos foram mudados. Mas, é ainda possível ser missionário neste momento tão desafiante de isolamento social?

 

Outubro é o mês missionário por excelência. Missão é sempre sair de si e ir em direção ao outro, anunciando Jesus Cristo. Papa Francisco nos chama a atenção constantemente para que sejamos uma Igreja em Saída. Mas como sair, quando somos chamados a ficar em casa? A alternativa é o areópago digital, espaço agora das “lives” no Facebook e Instagram, das reuniões no Google Meet, no Zoom e outras ferramentas que eram prioritariamente usadas no mundo dos negócios ou da educação e que passaram a ser território também de bispos, padres, leigos e leigas, portanto, território de missão!

 

Neste tempo pandêmico, as pessoas ficam muito mais tempo em casa e, portanto, têm mais tempo livre para acessar os meios de comunicação disponíveis em suas residências, seja TV, rádio ou internet. Assim como as formas de consumo de bens em geral estão mudando consideravelmente nesses últimos meses, a mudança no consumo de informação não poderia ser diferente e precisamos estar atentos a esta oportunidade de evangelização. Ainda que nenhum dos sacramentos possam efetivamente ser recebidos de forma virtual e, na medida do possível, respeitando todas as medidas sanitárias, eles precisam ser buscados fisicamente. Porém, há uma dificuldade para a preparação presencial do povo de Deus para o recebimento dos mesmos. Há ainda impossibilidade para visitação de famílias, idosos, crianças e adolescentes para realizar essa missão presencial. Assim, a internet continua sendo apontada como uma alternativa viável!

 

Sempre muito pastoral, em sua nova Encíclica “Fratelli Tutti”, “Todos Irmãos” lançada no último dia 4 de outubro, em Assis, Itália, Papa Francisco nos exorta pela busca da fraternidade e da amizade social. Transcrevemos aqui o primeiro ponto do documento:“‘FRATELLI TUTTI’: escrevia São Francisco de Assis, dirigindo-se a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor a Evangelho. Destes conselhos, quero destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço; nele declara feliz quem ama o outro, ‘o seu irmão, tanto quando está longe, como quando está junto de si’. Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita”. Com esta exortação, o Papa Francisco nos convida a buscarmos a criatividade por meio do Espírito Santo para amar o irmão de perto ou de longe em tempos de pandemia e assim realizarmos a missão de encontrar Jesus no próximo!

 

Com a trágica crise dos últimos meses, a economia, jogos políticos e interesses escusos têm estado acima da dignidade humana.  Com a correria histérica que vivíamos, a pandemia do COVID-19 fez-nos parar um pouco. Por vezes já estávamos bastante insensíveis com o sofrimento do outro, tomando como corriqueiro os fatos degradantes de nossa sociedade.  Muitas pessoas isoladas pela pandemia estão confinadas em suas casas ou outros que nem casa têm, sofrem mais ainda nas ruas. Um bonito trabalho unindo a Arquidiocese de Londrina por meio da Cáritas e a Secretaria de Assistência Social de Londrina está sendo realizado desde o início da pandemia, acolhendo moradores em situação de rua nas diversas casas de retiro da arquidiocese, dando dignidade a esses irmãos e irmãs já fragilizados. Isso é um ato concreto de missão.

 

No que tange ainda à internet, de forma muito lúcida, o Sumo Pontífice, nos alerta para os perigos da onda digital no número 71 da Fratelli Tutti: “Entretanto os movimentos digitais de ódio e destruição não constituem – como alguns pretendem fazer crer – uma ótima forma de mútua ajuda, mas meras associações contra um inimigo. Além disso, ‘os meios de comunicação digitais podem expor ao risco de dependência, isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais autênticas’. Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana. As relações digitais, que dispensam da fadiga de cultivar uma amizade, uma reciprocidade estável e até um consenso que amadurece com o tempo, têm aparência de sociabilidade, mas não constroem verdadeiramente um ‘nós’; na verdade, habitualmente dissimulam e ampliam o mesmo individualismo que se manifesta na xenofobia e no desprezo dos frágeis. A conexão digital não basta para lançar pontes, não é capaz de unir a humanidade”. Sendo assim, na medida do possível, respeitando as leis impostas para a preservação da saúde, precisamos, pouco a pouco, retomar o contato missionário físico, participar dos sacramentos, insistir no olho-no-olho, afinal o ser humano é relacional, e precisa disso para alcançar sua sanidade mental, física e espiritual.

 

Com equilíbrio, em tempos de pandemia, não podemos deixar de ser missionários. Um telefonema (tão raro hoje em tempos de WhatsApp), uma mensagem de conforto, um pão feito em casa, um pedaço de bolo, uma oração feita de coração, enfim, tudo que estiver ao nosso alcance, pode ser feito pelo nosso próximo e com certeza agradará o coração de Deus. Portanto, invoquemos o Espírito Santo para que sejamos: irmãos todos missionários.

Jefferson Bassetto
Seminarista da teologia da Arquidiocese de Londrina

A Semana Nacional da Vida ConSagrada¹, tem como tema “Amados e Chamados por Deus”, o mesmo do mês Vocacional. Esse tema carrega uma expressão cara de significado para a vida de Batizados, pois, “chamados”, o primeiro chamado é à vida! Chamados por Deus à vida pelo seu amor infinito e incondicional, com o Sopro da Vida.

 

 A “Vida ConSagrada” é uma vocação de total entrega a Deus sumamente amado, em que a pessoa chamada coloca toda sua vida a serviço de Deus (cf. LG 44).

 

A “Vida ConSagrada” é composta por “homens e mulheres que, dóceis ao chamamento do Pai e à moção do Espírito, escolheram este caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicarem a Ele de coração ‘indiviso’ (cf. 1 Cor 7,34). Também eles deixaram tudo, como os Apóstolos, para estar com Cristo e colocar-se, como Ele, ao serviço de Deus e dos irmãos” (VC 1).

 

Os Religiosos e Religiosas, manifestam, ao longo da história, “o mistério e a missão da Igreja, graças aos múltiplos carismas de vida espiritual e apostólica que o Espírito Santo lhes distribuía, e deste modo concorreram também para renovar a sociedade” (VC 1). Os religiosos e religiosas, através dos sagrados votos de pobreza, castidade e obediência, são convidados a colocarem toda sua vida na implantação do Reino, como “instrumentos da missão de Deus”.

 

Ser Religioso e Religiosa é viver segundo o sopro do Espírito Santo! Sem o Espírito Santo, Deus fica distante e não há vida. A “Vida ConSagrada” vivida no murmúrio do Espírito é vida de Santidade, é testemunho anunciado profeticamente. Testemunho dado hoje por muitos Irmãos e Irmãs da “Vida ConSagrada”, “Amados e chamados por Deus”, que doam suas vidas por causa do Reino. Embora o nosso momento seja de celebração da “Vida ConSagrada”, como não recordar os Religiosos e Religiosas ceifados por este novo vírus nestes tempos de pandemia! Queremos celebrar os seus testemunhos de pobreza, de simplicidade, de desapego, de doação total… e também de esperança!

 

O que espera de nós o atual momento da “Vida ConSagrada”? Assim como em diversas outras circunstâncias:  o testemunho da perseverança!

 

Há poucos dias, como “Vida ConSagrada”, tivemos uma reunião online de coordenadores dos núcleos do Regional da CRB. Durante o momento de partilha alguém recordou um aspecto belíssimo, que faz reconhecer a face da “Vida ConSagrada”, que é a vida fraterna. Partilhou que nessa comunidade se estaria reaprendendo, de forma mais aprofundada, a conviver em fraternidade, a estar com o irmão. Imaginei aquela correria do cotidiano de muitos irmãos e irmãs religiosas, e que durante o tempo de pandemia, devido ao distanciamento social, permaneceram em casa podendo participar e viver de forma mais intensa muitos momentos da vida em comum: oração, refeição e até mesmo os momentos de partilha fraterna. Uma vida em comunidade, vivida segundo o Evangelho, que dá um testemunho profético do Reino, “de tal modo que aqueles que veem uma comunidade capaz de amar em um ambiente de ódio, capaz de justiça onde há injustiças, de entrega generosa onde há egoísmos, descobrem aí Aquele que salva” (CLAR 1973).

 

A proposta, pois, do tema para a Semana Nacional da “Vida ConSagrada” enseja o desejo de que cada Religioso e Religiosa sintam-se verdadeiramente “Amados e Chamados por Deus”! Isso não especifica apenas que és importante para Deus, mas, que fazes parte da missão salvífica de Cristo! Assim, nesta comemoração do dia da “Vida ConSagrada”, cada Religioso e Religiosa renovemos nosso propósito de participar da missão da construção do Reino que se concretiza a cada dia. E peçamos que o Senhor da messe, faça ressoar em muitos outros corações a alegria de serem “Amados e Chamados por Deus”.

 

Frei Wainer José de Queiroz fmm
Coordenador da CRB do Núcleo de Londrina.

 

 

 

 

 

¹“A palavra SAGRADA. Refere-se à Vida! É, por si só, sagrada! É Dom! Ao responder o chamado, esta vida se consagra, se oferece, se coloca aos cuidados de Deus, se coloca a serviço do Reino” (CRB 2020).

 

 

 

Em fevereiro de 2020 participei, com os bispos do Regional Sul II, da minha primeira Visita Ad Limina Apostolorum. É a visita que todos os bispos realizam como dever de ofício, aos túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, em Roma, e ao Sucessor de Pedro, o Santo Padre o Papa. Ela tem também o caráter de manifestação da unidade dos bispos com o Santo Padre. Não é, porém, uma simples viagem de turismo na Cidade Eterna, antes, é muito trabalhosa porque nela se incluem visitas a vários departamentos que ajudam o Papa a governar a Igreja Universal que ele preside “na caridade”. Portanto, realizamos visitas a várias Congregações, Dicastérios, Secretariados e as quatro Basílicas romanas: São João do Latrão; Santa Maria Maior; São Paulo fora dos Muros e São Pedro no Vaticano. Todo o programa foi preparado com cuidado e com antecedência, para que a visita propriamente pudesse ser proveitosa o mais possível. Os relatórios das dioceses e arquidioceses foram enviados alguns meses antes para que, em Roma, soubessem da realidade das nossas Igrejas Particulares.

 

A Visita Ad Limina reveste-se de um caráter espiritual e pastoral muito denso. Primeiramente a lembrança dos santos apóstolos. De fato Pedro e Paulo derramaram o seu sangue por causa da fé em Jesus Cristo. Enviados que foram pelo próprio Cristo a testemunhar o seu Mistério, cumpriram a missão até a morte. Diz a história que Pedro morreu crucificado de “cabeça para baixo”, por não se achar digno de morrer como o Mestre. Paulo, por sua vez, morreu decapitado.  Pedro construiu a Igreja sobre a herança de Israel e Paulo levou o Evangelho para o mundo pagão, ou seja, fora da cultura israelita. Neste sentido Pedro representa mais a instituição, (rígido, jurídico, organizacional), e Paulo o carisma (missionário, mais livre, deixando falar mais o Espírito Santo e lendo os sinais dos tempos). Talvez tenha até havido conflitos entre os dois, mas, cada um à sua maneira acentuou questões importantes da vida da Igreja. Além disso, eles lembram os muitos cristãos que derramaram o seu sangue por causa da fé durante a história e todos aqueles que são os “mártires do cotidiano”. O Papa Francisco, na Exortação Gaudete et Exsultate, sobre a santidade nos nossos tempos, usa o termo “santos de pé de porta” para falar dessa realidade.

 

A visita, normalmente, mais esperada é aquela feita ao Santo Padre. Para todos nós, de fato, foi muito marcante a conversa com o Papa Francisco por várias razões: 1. O nosso horário com ele estava marcado para as 10:30, mas às 09:30 ele já estava nos esperando e nos recebeu a todos cumprimentando-nos na porta de entrada da sala. 2. A duração da nossa estada com ele foi de 03 horas e 10 minutos. 3. Todos os bispos tiveram a liberdade de dirigir alguma pergunta ao Papa e ele respondia com muito conhecimento e liberdade. 4. Nas respostas manifestava conhecimento global da Igreja. Citava exemplos de todo o mundo e justificava suas respostas citando pensadores, teólogos, pastoralistas,  inclusive sugerindo a leitura de artigos e livros atuais. 5. As perguntas giraram ao redor de vários assuntos: Formação dos padres, missão dos bispos, missionariedade, críticas ao Santo Padre, Pastoral Familiar, Sínodo da Amazônia, Doutrina Social da Igreja, mudança de época, etc. Saímos de lá edificados.

 

No relato de At 12,1-11 Pedro está na prisão esperando ser entregue ao povo para ter, talvez, o mesmo fim do mestre. Mas toda a Igreja orava por ele. É esta também a coisa a ser feita agora. Devemos rezar. Rezar, antes de tudo, para que Deus faça de nós cristãos verdadeiramente apostólicos, solidamente ancorados à fé dos apóstolos Pedro e Paulo. Rezar também pelo sucessor de Pedro, para que ele que o colocou em tal posição o ilumine e o torne capaz de “confirmar os irmãos”.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

 

 

Túmulo do apóstolo Pedro, no subsolo da Basílica de São Pedro, no Vaticano (Foto Karina de Carvalho / CNBB Sul 2)

 

 

Em frente à Basílica de São Paulo Fora dos Muros, estátua do apóstolo com a espada, símbolo do seu martírio (Karina de Carvalho / CNBB Sul 2)

 

Somos seres relacionais. Fomos criados por Deus para estarmos em conexão uns com os outros. Feitos para amar, sofremos com o isolamento social. Em tempos de pandemia do Covid-19 fomos chamados à construir igrejas domésticas on-line em nossos lares, ficando afastados das nossas comunidades físicas nas paróquias, protegendo assim à cada um de nós e àqueles que amamos.

 

Há tempos que já consumimos produtos e serviços, inclusive informação, de forma mais assídua pela internet. Esse comportamento geral da população é algo que parece irreversível e um fato crescente em nossos dias. Com a crise do coronavírus passamos a acompanhar as transmissões da Santa Missa pela TV ou pelas redes sociais. Sacerdotes e leigos têm promovido terços, grupos de oração, adoração ao Santíssimo Sacramento, formações, direção espiritual etc. via Facebook, Instagram e Youtube, tudo para aliviar um pouco o sofrimento e a solidão. Assim, nossas igrejas domésticas, dia após dia tem-se se tornado mais virtuais.

 

Desde o dia 9 de março em função da pandemia do Covid-19, o Santo Padre quis que suas missas diárias na Casa Santa Marta no Vaticano, que antes tinham caráter privado, passassem a ser transmitidas on-line, para estar mais próximo do povo de Deus, e as homilias divulgadas na íntegra.

 

Foto: AFP Vatican News

Porém, no último dia 17 de abril, sexta-feira, nessa missa diária, o Papa Francisco alertou para o risco de uma fé gnóstica, sem comunidade e contatos humanos reais, vivida unicamente por meio da internet que “viraliza” os sacramentos. Precisamos recordar que a fé católica é baseada na experiência concreta entre três sujeitos: Deus, os irmãos e cada um de nós individualmente.

 

A aliança entre Deus e o seu povo nos põe numa dinâmica de vida comunitária, em Cristo, somos todos irmãos e congregados na mesma fé, esperança e caridade. Isso gera em nós um espírito de comunhão, queremos partilhar a alegria do Ressuscitado e os bens espirituais advindos D´Ele mesmo, expressando mutuamente essas maravilhas nos encontros de fé. Desse modo, no dia 17 de abril, o pontífice, com preocupação disse: “as pessoas que estão em conexão conosco (terão) somente a Comunhão espiritual. E esta não é a Igreja. Esta é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor a permite, mas o ideal da Igreja é sempre com o povo e com os Sacramentos”.

 

Assim, fica muito claro que nossa fé não pode estar baseada em algo constituído por uma simulação criada por meios eletrônicos, que são as transmissões virtuais. Isso nos ajuda e muito, neste tempo de pandemia, a rezar, a nos colocar em reflexão, a nos alimentar de algum modo espiritualmente. Porém não podemos nos contentar com isso. Precisamos ter plena consciência que este é um tempo “anormal” de nossa Igreja que, com todo o cuidado com as normas sanitárias vigentes e nossa oração, iremos superar. Consumimos informação, livros, roupas, calçados pela internet, mas a riqueza que são os sacramentos dados por Cristo por meio da Igreja, a cada um de nós, precisa ser recebido presencialmente.

 

Foto: Terumi Sakai

Cristo se dá em seu corpo e sangue, está no Sublime Sacramento da Eucaristia. Ali está a presença espiritual e humana da segunda pessoa da Trindade. Isso não nos comove? Não nos causa ansiedade para encontrá-Lo com a comunidade reunida? Se a resposta for não, alguma coisa está errada. Infelizmente, muitos católicos se “acostumaram” com uma fé virtual, não lhes diz mais nada a experiência de “tocar a chaga aberta” como fez São Tomé. Cristo quer que caminhemos ao seu encontro nos sacramentos e onde “dois ou mais” estiverem reunidos, tal como a experiência do apóstolo incrédulo. Por vezes, ficamos tempo sem ver nossos pais, um parente ou amigo querido, sentimos saudades, queremos abraçar, conversar, estar junto, pois sentimos muita falta. Isso precisa mesmo nos causar alguma dor, em especial a distância do nosso amado Jesus Cristo presente na Eucaristia, que não temos podido receber regularmente nos últimos tempos.

 

Segundo a Sagrada Escritura a fé é “o fundamento da esperança, é uma certeza do que não se vê” (Hb 11,1). De fato, não vemos o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia, mas cremos nisso, esta é a nossa fé. É urgente continuarmos desejosos de receber os sacramentos, viver a vida na comunidade cristã, dar o abraço da paz. Podemos neste momento até usar de meios virtuais para viver nossa fé, mas a fé não é virtual, ela é real e verdadeira, fundamentada em Nosso Senhor Jesus Cristo!

Jefferson Bassetto
Seminarista da teologia da Arquidiocese de Londrina

 

Artigo publicado pela Revista Coração de Jesus, Edição 308, ano 2020 (Catedral Metropolitana de Londrina).

[dropcap]É[/dropcap] visível na história da Igreja como, ao passar do tempo, o Espírito Santo vai agindo, movimentos vêm e vão e a Palavra de Deus nutre a vida do povo, sobretudo, em tempos de dificuldade. Nos últimos anos a Igreja, principalmente no Brasil e América Latina, vem passando por uma conversão bíblica. Com a animação bíblica Pastoral a Palavra tem voltado para seu devido lugar. Corremos um risco e passamos por um tempo de supervalorizar a comunhão eucarística em detrimento da Palavra de Deus. Fomos a Igreja do Pão, mas esquecemos que o Pão só vem até nós pela Palavra. Assim percebemos o quanto somos a Igreja da Palavra e do Pão.

“Comer sua carne e beber o seu sangue, não apenas no mistério eucarístico, mas também na leitura da Escritura.” (São Jeronimo, carta 53 a Paulina)

Tudo foi feito pela Palavra de Divina (cf. Jo 1,3). Cristo é a Palavra que se faz carne e habita no meio de nós. Pela força da sua palavra nos deixa sua presença real no Pão. A Eucaristia não se reduz apenas à comunhão, mas a toda liturgia da Celebração Eucarística. Renovando a certeza de que precisamos “comer sua carne e beber o seu sangue, não apenas no mistério eucarístico, mas também na leitura da Escritura.” (São Jeronimo, carta 53 a Paulina).
Quando fazemos a proposta de resgatar a origem da nossa fé, necessitamos de um retorno às primeiras comunidades cristãs e não ao triunfo da Igreja após Constantino. Conhecer os grupos de Jesus, e as primeiras comunidades petrinas, paulinas e joaninas.Diante da Pandemia mundial com o novo coronavírus, nos deparamos com pessoas que reivindicam os sacramentos e o direito ao culto e comunhão. Fruto de uma catequese que vivemos há tempos, sacramentalista e muitas vezes deixando de lado o caminhar com o Senhor, a Igreja doméstica e força da Palavra. Os sacramentos não são um fim em si mesmos, mas são instrumentos para expansão do Reino de Deus. Nossa catequese deve nos conduzir ao discipulado como condição para os sacramentos “Ide e fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28,19)

 

Esse tempo mexe diretamente com a forma em que estávamos acostumados a celebrar, ao que tínhamos como valores e ao mesmo tempo questiona a fé que cultivávamos. Mas é tempo de esperança e com isso podemos sair mais fortes. O isolamento social nos tira do templo e nos leva para a Igreja Doméstica, mesmo como que à força, aprendemos a presença de Cristo nos irmãos (cf. Mt 25,40), em casa e na oração pessoal. Para bem viver esse período faz-se necessário uma conversão na Presença Real do Senhor na Sagrada Escritura. Palavra essa que está próxima de nós, em nossas mãos e corações para colocarmos em prática (cf. Dt 30,14).

 

Não estamos em tempos de clamar a abertura de igrejas, mas de abrir em nossos lares a Igreja doméstica e comungarmos a Palavra de Deus, que arde o nosso coração e nos convoca ao partir do pão, que hoje podemos fazer em obras de misericórdia com o Cristo presente nos mais vulneráveis. Temos a oportunidade de ressignificar muita coisa. Isso só possível se abrirmos os nossos corações à ação do Espirito Santo.

 

O mesmo Espírito que inspirou as Sagradas Escrituras está hoje nos ajudando a perceber o quanto é o tempo da Palavra. “Escutai o que Espírito diz às igrejas” (Ap 2,17). Cristo está presente em cada lar e família que diante da sua Palavra reza unida. “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei, no meio deles” (Mt 18,19). Está abençoando através das mãos de tantos pais, avós, irmãos, tios. A fé é a mesma, a essência continua a mesma, a ação de Deus acontece, porém agora de uma forma diferente e não menos importante. Unimos na comunhão espiritual toda a igreja. Podemos sentir como vivem aqueles que estão afastados da mesa do Senhor.

“Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei, no meio deles” (Mt 18,19)

Vamos sair melhores de tudo isso, contudo, todo tempo de crise deve ajudar no crescimento pessoal e eclesial. Que esse período nos ensine a força da Palavra de Deus e enquanto não voltamos com a comunhão física, vivamos o tempo da Palavra e nos deixemos transformar por ela que é “viva e eficaz” (Hb 4,12). E assim como Maria afirmarmos “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). Na alegria da esperança que nos salva e nos dá forças em meio às inseguranças da vida.

Em Cristo,

Pe. Djonh Denys
Pároco Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Vila Oliveira – Rolândia PR

 

 

 

 

 

Foto destaque: Terumi Sakai

O mundo on-line há alguns anos vem mudando nossa forma de consumir muita coisa, inclusive informação. A velocidade com que a notícia circula na rede e a apropriação dela por parte das pessoas têm feito as instituições repensarem sua forma de se comunicar. Com a pandemia do Covid-19 essa realidade se intensificou e a Igreja católica tem enfrentado de maneira criativa esses desafios, fazendo com que nossos lares sejam transformados em “igrejas domésticas virtuais”. Castells, um renomado especialista em comunicação, diz que a internet coloca as pessoas em contato numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças.

 

A expressão “igrejas domésticas” não é uma criação teológica. Ao final da 1ª Carta aos Coríntios, Paulo ao enviar saudações, diz: “…Áquila e Prisca, com a comunidade que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações” (16, 19). A Igreja, somos todos nós, povo de Deus, a comunidade que faz comunhão no corpo místico de Cristo. Na Igreja, encontramos as vias de salvação, a Revelação Divina e a Graça, cuja porta de entrada é o Batismo e os demais acessos são os sacramentos e a oração. A família católica é uma comunidade dentro dessa comunidade, que se une com Deus. Encontramos no Catecismo da Igreja Católica no número 1666 a definição: “o lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso o lar é chamado com toda razão, de “igreja doméstica”, comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã.”

 

Vemos agora a providência de Deus, e o cuidado da Igreja como mãe. O papa Francisco há tempos tem apoiado ações de comunicação para chegar aos quatro cantos do mundo nessa ágora virtual. Desde o dia 9 de março em função da pandemia de Covid-19, o Santo Padre quis que suas missas diárias na Casa Santa Marta no Vaticano, que antes tinham caráter privado, passassem a ser transmitidas on-line, para estar mais próximo do povo de Deus, e as homilias divulgadas na íntegra. Ao final da celebração, passou a ser exposto o Santíssimo Sacramento para um momento de adoração.

 

Sensível à pandemia, que em muitos países já dura três meses, o pontífice tem convocado ainda dias de jejum e oração. Ele até conclamou as comunidades cristãs de várias confissões, para um dia especial no qual rezaram juntos um Pai Nosso pelo fim da pandemia.

 

No dia 27 de março, em um imenso gesto de amor pela humanidade, com a Praça São Pedro vazia, o Santo Padre dirigiu um momento de oração no átrio da Basílica de São Pedro, seguida da adoração ao Santíssimo Sacramento e, por fim, concedeu a Bênção Urbi et Orbi, que é uma bênção solene para conceder indulgência plenária, ou seja, o perdão dos pecados, desta vez em caráter extraordinário. Também todas as solenidades da Semana Santa foram transmitidas pelos meios de comunicação do Vaticano e retransmitidas por centenas de outros veículos. Essas ações em âmbito religioso on-line e dezenas de ações em âmbito pastoral e social, o Santo Padre tem tomado para alcançar não só espiritualmente, mas até mesmo financeiramente os que sofrem com esta pandemia.
Como pai e pastor, além de permitir que acompanhássemos as missas on-line, o papa flexibilizou ainda a confissão sacramental. Ou seja, baseando-se no Catecismo da Igreja Católica, por decreto da Penitenciaria Apostólica, todos os fiéis foram dispensados da confissão até que se voltem as atividades normais das paróquias.

 

E esse modo on-line de celebração vem se espalhando mundo afora. Aqui no Brasil, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) apoiou todas essas ações oriundas da Santa Sé, indicando que as dioceses, na medida do possível, também transmitissem suas celebrações pelos meios de comunicação e que os sacerdotes buscassem se aproximar ainda que virtualmente do seu rebanho. Assim, muitas iniciativas têm sido realizadas como a distribuição de comunhão e confissão sacramental pelo modo drive-thru, até passeios do Santíssimo Sacramento pelas ruas e hospitais.

 

Pesquisas constatam um aumento no índice de audiência das tvs católicas e também lives via facebook, instagram e youtube promovendo terços, grupos de oração, adoração ao Santíssimo Sacramento, formações, direção espiritual etc., tudo para aliviar um pouco o sofrimento e a solidão. Com tudo isso, de fato, nossas igrejas domésticas, dia após dia tem-se se tornado mais virtuais, sem perder o fervor, a espiritualidade.

 

A Arquidiocese de Londrina, por meio do nosso arcebispo, Dom Geremias Steinmetz, tem orientado os padres e todo o povo, no sentido de realizar todas as ações possíveis no combate ao coronavírus, bem como incentivado as transmissões on-line das celebrações, arrecadação de alimentos e itens de primeira necessidade para os mais necessitados. Numa ação ainda mais inédita, a Igreja de Londrina, em parceria com a Prefeitura do Município, está realizando o acolhimento das pessoas em situação de rua nas casas de retiro. Dom Geremias também tem rezado o santo terço às segundas, quartas e sextas-feiras, às 18h, transmitido pelo Facebook da arquidiocese e Rádio Alvorada, acolhendo intenções de vários locais e cidades.

 

Diversos especialistas têm repetido que após essa pandemia as pessoas não serão mais as mesmas. As consequências podem ser traumáticas, mas enquanto tudo isso não passa, continuemos firmes em nossas igrejas domésticas virtuais, amando o próximo mais próximo de nós, sem esquecer de estender as mãos aos que gritam por socorro. Lembrando que quando tudo isso normalizar, devemos buscar a Eucaristia presencial, a confissão sacramental e demais sacramentos oferecidos pela Santa Igreja. Mais uma sugestão é a de que meditemos e rezemos firmemente com uma passagem da Sagrada Escritura que o Papa Francisco tem repetido em seus pronunciamentos: “A esperança não decepciona…” (Rm 5,5). E esta esperança é Jesus Cristo.

Jefferson Bassetto
Seminarista da teologia da Arquidiocese de Londrina

Fonte: Revista Ecos de Santa da Paróquia Sant’Ana de Londrina

Sem desmerecer a pessoa do meu pai, que me ensinou muitas coisas, destaco a pessoa de minha mãe, como grande inspiradora da minha fé. Assim como tantas mulheres o fazem, minha mãe me ensinou a rezar o terço, a participar da missa com respeito e a viver uma devoção. Creio que o sacerdócio que exerço hoje tem muito a ver com aquilo que aprendi dela. Pela Bíblia, sabemos que homem e a mulher são imagem de Deus criador e pelos filhos que geram são mediadores da vida. Entretanto, a maioria das mulheres de fé geram a vida corporal de seus filhos dentro de si e geram a vida de fé dentro de seus filhos. Ao cuidar dos filhos, a mulher deve os ajudar no desenvolvimento humano-espiritual. Alguns estudos antropológicos mostram que as mulheres têm essa facilidade porque possuem uma propensão mais intensa para a fé, em razão da sensibilidade feminina. 

 

Embora a Bíblia não tenha livros escritos por mulheres, o Antigo Testamento possui alguns livros com nomes femininos: Rute e Judite. Outros livros elogiam a mulher, dizendo ser ela a alegria e a coroa do marido, comparando-a à sabedoria (Pr 31,10-31). Ao mencionar Abrão, Isaac e Jacó, a Bíblia também fala de Sara, Rebeca, Raquel e Lia. Ao falar de Moisés e Aarão, destaca Miriam e Séfora. Vemos a importância das parteiras, que salvam as vidas dos meninos, de Ester, e tantas outras. 

 

Na tradição cristã, Jesus inova, tendo mulheres que o seguiam. O evangelista Lucas, por exemplo, diz que um grupo de mulheres seguia Jesus: Maria Madalena, Joana, Suzana, dentre outras (Lc 8,1-3). As primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus foram as mulheres, mostrando sua importância na vida de fé. Maria, a Mãe de Jesus, tem grande importância na obra da redenção, sendo considerada Corredentora. O evangelista Marcos diz que uma mulher anônima unge Jesus com óleo perfumado, que era uma prática típica dos profetas, que ungiam os reis. Agradecido, Jesus a valoriza dizendo que onde o Evangelho for proclamado, esse episódio será lembrado (Mc 14,9). 

 

No início da Igreja, a mulher aparece desempenhando muitos papéis importantes. O evangelista João, por exemplo, fala da estrangeira sírio-fenícia, que foi encontrar Jesus e o faz ver que os cachorrinhos também precisam de pão que cai das mesas, ajudando Jesus a alargar sua visão de missão sobre todos os povos (Mt 15,26). As irmãs de Lázaro, em Betânia, têm uma relação importante com Jesus. Muitas mulheres colaboram com o apóstolo Paulo em sua missão. Na Primeira Carta a Timóteo, Paulo afirma que a mulher será salva pela maternidade, mas, igualmente à condição do homem, ela deve permanecer na fé, no amor e na santidade (cf. 1Tm 2,15). Na história da Igreja, encontramos muitas mulheres fundadoras de grandes obras como Santa Clara, Santa Tereza de Ávila, Irmã Dulce e tantas outras. As “beguinas”, moças leigas que viviam a castidade e vida de oração, sem serem monjas ou religiosas, no século XII influenciaram muitos místicos e difundiram devoções que são a base do catolicismo popular de hoje. 

 

Como colaboradora do criador, gerando filhos no corpo e no espírito a mulher aparece na história como protagonista de tantos feitos. Hoje, vemos tantas mulheres mães que protagonizam a transmissão da fé aos seus filhos, outras que, com seus ministérios, transmitem a fé aos filhos que a Igreja lhes confia com fé. O teólogo José Comblin observa que em toda a Idade Média, diante de vários lapsos evangelizadores da Igreja, se não fossem as mulheres transmitirem a fé em suas famílias, o cristianismo teria enfraquecido muito e que as milhões de mulheres simples, missionárias em seus lares, é que o cristianismo subsiste e avança. Mulheres que carregam uma força divina inexplicável, mostrando que a força de Deus está na fé dos que parecem fracos, não no poder dos que se dizem fortes. 

 

Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R
Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – Decanato Leste
Professor do Curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

 

Foto destaque: Banco de Imagens

No Tempo Comum a cor litúrgica é o verde, símbolo de crescimento e de esperança (Foto: Terumi Sakay)

 

Além dos tempos litúrgicos que possuem características próprias, como é o caso do Advento, Natal, Quaresma ou Páscoa, existem trinta e três ou trinta e quatro semanas durante o curso do ano nas quais não se celebram aspectos particulares do mistério de Cristo. Nelas o mistério é venerado em sua globalidade, especialmente nos domingos. Este é chamado de “tempus per annum” ou Tempo Comum.

 

Julian Lopez Martin diz muito bem que estamos diante de “um tempo importante, tão importante que, sem ele, a celebração do mistério de Cristo e a sua progressiva assimilação pelos cristãos seriam reduzidas a episódios isolados, ao invés de impregnar toda a existência dos fiéis e das comunidades”.

 

É um tempo indispensável que desenvolve o mistério pascal de modo progressivo e profundo. Dar atenção unicamente aos “tempos fortes” significa esquecer que o ano litúrgico consiste na celebração, com sagrada lembrança no curso de um ano, de todo o mistério de Cristo e da obra da salvação. O Tempo Comum começa na segunda-feira que segue o domingo após o dia 6 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma. Retoma na segunda-feira depois de Pentecostes e termina nas Vésperas do primeiro domingo do Advento.

 

Neste longo período do ano litúrgico devemos prestar especial atenção às leituras tanto dos domingos como dos dias de semana. É o tempo em que a comunidade cristã aprofunda na fé o mistério pascal e sublinha as exigências da vida cristã. A liturgia é, antes de tudo, culto santificante, todavia contém rica instrução e ensino ao Povo de Deus, para a qual é importantíssima a leitura da Sagrada Escritura.

 

O Concílio Vaticano II estabeleceu que houvesse nas celebrações litúrgicas uma mais abundante, variada e mais adequada leitura da Bíblia (cf SC 24,33,35). A recuperação da leitura da maior parte dos livros da Sagrada Escritura acontece durante o Tempo Comum. O anúncio da Palavra é parte integrante da liturgia de todos os sacramentos para dar mais leveza e agilidade a toda a vida cristã em contínua conversão. É realmente muito rico e profundo o esquema com o qual a Igreja anuncia o Mistério de Cristo na sua liturgia. Assim o cristão, de ano em ano vai vivendo e aprofundando a sua fé. A Liturgia lhe permite a perseverança na fé e o esclarecimento e fundamentação da sua esperança.

 

Neste período, deve ser lembrado e cultivado o sentido do domingo como Páscoa semanal e dia da assembleia. A leitura semi contínua dos evangelhos sinóticos permite, através da homilia, uma profunda educação à fé, fundada na teologia das atividades históricas de Jesus, como é apresentada pela narrativa de cada evangelista. É preciso estar muito atento a esse aspecto, para ajudar os fiéis a perceberem, de domingo em domingo, a continuidade da narrativa evangélica e fazer com que aflore a característica da mensagem de cada evangelista ao apresentar o mistério de Cristo.

 

Além disso, não se deverá esquecer a referência ao texto do Antigo Testamento, cuja escolha é sempre determinada pelo texto do Evangelho. Os textos bíblicos anunciados na liturgia que caracterizam os anos A, B e C são testemunho da consciência de um itinerário de amadurecimento na Igreja primitiva. Percorrer este caminho significa ir em direção a uma consciência plena da vontade de Deus, “com toda sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1,10), também para as nossas assembleias dominicais. Assim o cristão, de ano em ano vai vivendo e aprofundando a sua fé. A Liturgia lhe permite a perseverança na fé e o esclarecimento e fundamentação da sua esperança.


Dom Geremias Steinmetz

Arcebispo Metropolitano de Londrina