Novos vídeos começam a ser divulgados nessa semana pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) na série “Voz da Amazônia”. A segunda edição do projeto traz diferentes perspectivas do Sínodo para a Amazônia e suas implicações na vida da Igreja da região, a partir das diversas vozes das pessoas daquele território e assessores da Rede.
Os 32 vídeos da série, que serão postados por blocos ao longo das próximas semanas, foram produzidos em parceria com a Verbo Filmes e a Agência Católica para o Desenvolvimento no Exterior/CAFOD. As vozes foram gravadas em atividades realizadas pela REPAM.
De acordo com imrã Maria Irene Lopes, secretaria executiva da REPAM-Brasil, as escutas realizadas ao longo de todo o processo sinodal fizeram com que se retomasse o projeto, agora, na perspectiva de visibilizar, para todo o mundo, os gritos, sonhos e anseios da Igreja daquela região. “É importante que nós, como REPAM, façamos com que essas vozes sejam ouvidas fora da Amazônia”, destacou irmã Irene.
O “Voz da Amazônia” foi lançado em novembro de 2017. O Projeto surgiu durante as coberturas dos Seminários Laudato SI’, promovidos pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e com o apoio do Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na Amazônia Legal. Os novos vídeos podem ser conferidos na página da REPAM ou no canal do Youtube da Rede.
O monsenhor Raimundo Possidônio, da arquidiocese de Belém (PA), apresentou ao Conselho Permanente, na manhã deste dia 26, o Instrumento de Trabalho (Instrumentum laboris) para o Sínodo dos Bispos da região Paz-Amazônica, a ser realizado em outubro deste ano no Vaticano. O monsenhor é um dos brasileiros especialistas que participou da elaboração do Instrumento de Trabalho preparatório. Ele é um estudioso da história da Amazônia e colabora na REPAM.
Ele destacou que o documento é fruto de um processo de escuta que teve início com a visita do Papa Francisco a Puerto Maldonado (Peru) em janeiro de 2018, prosseguiu com a consulta ao Povo de Deus em toda a Região Amazônica por todo o ano e se concluiu com a II Reunião do Conselho Pré-Sinodal, em maio passado.
O Instrumento de Trabalho deste Sínodo para a Região Pan-Amazônica foi publicado em três idiomas: espanhol, italiano e português. O texto é composto por 147 pontos divididos em 21 capítulos separados por três partes. A primeira parte se titulada “a voz da Amazônia” e tem a finalidade de apresentar a realidade do território e de seus povos.
Na segunda parte deste texto vaticano, intitulada “Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres”, adverte-se sobre a “destruição extrativista” e abordam questões relevantes como “os povos indígenas em isolamento voluntário (PIAV)” e outros fenômenos de interesse mundial, como “a migração”, “a urbanização”, “a família e a comunidade”, “a saúde”, “a educação integral” e “a corrupção”.
Na terceira parte do Instrumentum laboris, reflete-se sobre os desafios e esperanças da região e incentiva a Igreja a ter um papel “profético na Amazônia”, apresentando “a problemática eclesiológica e pastoral” da região.
Os bispos que integram o Conselho Permanente apresentaram sua visão sobre o Instrumento de Trabalho após a apresentação. Segundo o arcebispo de São Paulo, o cardeal dom Odilo Scherer, é necessário reforçar que trata-se, por hora, de um “instrumento de trabalho” preparatório e que ainda não é nenhum documento conclusivo, o que só é publicado como documento oficial após a Assembleia e ser transformada numa Exortação Apostólica do papa Francisco.
Ele chamou a atenção para o risco de a mídia e a opinião pública reduzirem os debates do Sínodo a poucos aspectos. “Cabe aos bispos assegurar um amplo debate em torno da temática desta Assembleia do Sínodo”, observou.
O bispo de Roraima e vice-presidente da CNBB, dom Mário Antônio da Silva, destacou a beleza do processo de escutas sinodais realizada em toda região Amazônica que integra um conjunto de nove países. Um ponto bem destacado pelos bispos foi a metodologia e o processo de escuta e preparação deste relatório que, por meio de diferentes metodologias, ouviu e sistematizou a voz e a visão dos diferentes povos que vivem na região amazônica.
Dom Canisio Klaus, bispo de Sinop (MT) e presidente do regional Oeste 2, disse que o trabalho para se chegar ao Instrumento de Trabalho foi muito real e feito junto às bases. “Eu mesmo me sentei com eles, os indígenas, as comunidades, eu participei. O Documento são palavras deles, não nossas”, frisou. Para o bispo de Sinop é preciso, a partir de agora, compromisso com o que veio das escutas. “Se não tivermos amor, dedicação e profetismo teremos muitas barreiras. O papa nos pediu para escutar e sermos fiéis à essas escutas”, destacou.
Uma série de encontros estão programados para que os bispos, sobretudo os bispos da região Amazônica do Brasil, que participarão do Sínodo, aprofundem o texto preparatório e ainda possam sugerir propostas e alterações.
Comissão Episcopal Especial para a Amazônia
Após a apresentação do Documento de Trabalho, o Conselho Permanente aprovou a continuidade da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia (CEA). Com o objetivo de animar o espírito missionário da Igreja e sensibilizar a sociedade brasileira em relação à Amazônia, a CEA foi criada em 2003 e tem sido responsável por uma série de iniciativas e articulações de projetos e ações na região.
Com a aprovação da Comissão pelo Conselho Permanente, os membros da CEA permanecem os mesmos, pelo menos até o Sínodo, de forma a garantir a continuidade dos processos já iniciados. Fazem parte da Comissão o Cardeal Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo (SP), na função de presidente; Dom Ervin Krautler, bispo emérito de Xinguú (PA), como secretário; Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO); Dom Sérgio Eduardo Castriani, arcebispo de Manaus (AM); Dom Vicente Costa, bispo de Jundiai (SP); e Ir. Maria Irene Lopes, no serviço da assessoria
O Instrumento de Trabalho pode ser acessado aqui: http://repam.org.br
O mundo amazônico pede à Igreja que seja sua aliada: esta é a alma do Documento de trabalho (Instrumentum Laboris) publicado na manhã desta segunda-feira (17 de junho) pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos e apresentado à imprensa.
O Documento é fruto de um processo de escuta que teve início com a visita do Papa Francisco a Puerto Maldonado (Peru) em janeiro de 2018, prosseguiu com a consulta ao Povo de Deus em toda a Região Amazônica por todo o ano e se concluiu com a II Reunião do Conselho Pré-Sinodal, em maio passado.
Ouvir com Deus o grito do povo; até respirar nele a vontade a que Deus nos chama
O território da Amazônia abrange uma parte do Brasil, da Bolívia, do Peru, do Equador, da Colômbia, da Venezuela, da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa, em uma extensão de 7,8 milhões de quilômetros quadrados, no coração da América do Sul. Suas florestas cobrem aproximadamente 5,3 milhões de km2, o que representa 40% da área de florestas tropicais do globo.
A primeira parte do Documento, “A voz da Amazônia”, apresenta a realidade do território e de seus povos. E começa pela vida e sua relação com a água e os grandes rios, que fluem como veias da flora e fauna do território, como manancial de seus povos, de suas culturas e de suas expressões espirituais, alimentando a natureza, a vida e as culturas das comunidades indígenas, camponesas, afrodescendentes, ribeirinhas e urbanas.
Vida ameaçada, ameaça integral
A vida na Amazônia está ameaçada pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares de sua população. De modo especial a violação dos direitos dos povos originários, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios.
Segundo as comunidades participantes nesta escuta sinodal, a ameaça à vida deriva de interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade atual, de maneira especial de empresas extrativistas. Atualmente, a mudança climática e o aumento da intervenção humana (desmatamento, incêndios e alteração no uso do solo) estão levando a Amazônia rumo a um ponto de não-retorno, com altas taxas de desflorestação, deslocamento forçado da população e contaminação, pondo em perigo seus ecossistemas e exercendo pressão sobre as culturas locais.
O clamor da terra e dos pobres
Na segunda parte, o Documento examina e oferece sugestões às questões relativas à ecologia integral. Hoje, a Amazônia constitui uma formosura ferida e deformada, um lugar de dor e violência, como o indicam de maneira eloquente os relatórios das Igrejas locais recebidos pela Secretaria Geral do Sínodo. Reinam a violência, o caos e a corrupção.
“ O território se transformou em um espaço de desencontros e de extermínio de povos, culturas e gerações. ”
Há quem se sente forçado a sair de sua terra; muitas vezes cai nas redes das máfias, do narcotráfico e do tráfico de pessoas (em sua maioria mulheres), do trabalho e da prostituição infantil. Trata-se de uma realidade trágica e complexa, que se encontra à margem da lei e do direito.
Território de esperança e do “bem viver”
Os povos amazônicos originários têm muito a ensinar-nos. Reconhecemos que desde há milhares de anos eles cuidam de sua terra, da água e da floresta, e conseguiram preservá-las até hoje a fim de que a humanidade possa beneficiar-se do usufruto dos dons gratuitos da criação de Deus. Os novos caminhos de evangelização devem ser construídos em diálogo com estas sabedorias ancestrais em que se manifestam as sementes do Verbo.
Povos nas periferias
O Documento de Trabalho analisa também a situação dos Povos Indígenas em Isolamento Voluntário (PIAV). Segundo dados de instituições especializadas da Igreja (por ex., CIMI) e outras, no território da Amazônia existem de 110 a 130 diferentes “povos livres”, que vivem à margem da sociedade, ou em contato esporádico com ela. São vulneráveis perante as ameaças… do narcotráfico, de megaprojetos de infraestrutura, e de atividades ilegais vinculadas ao modelo de desenvolvimento extrativista.
Povos amazônicos em saída
A Amazônia se encontra entre as regiões com maior mobilidade interna e internacional na América Latina. De acordo com as estatísticas, a população urbana da Amazônia aumentou de modo exponencial; atualmente, de 70 a 80% da população reside nas cidades, que recebem permanentemente um elevado número de pessoas e não conseguem proporcionar os serviços básicos dos quais os migrantes necessitam. Não obstante tenha acompanhado este fluxo migratório, a Igreja deixou no interior da Amazônia vazios pastorais que devem ser preenchidos.
Igreja profética na Amazônia: desafios e esperanças
Enfim, a última parte do Documento de Trabalho chama os Padres Sinodais da Pan-amazônia a discutirem o segundo binário do tema proposto pelo Papa: os novos caminhos para a Igreja na região.
Por falta de sacerdotes, as comunidades têm dificuldade de celebrar com frequência a Eucaristia. “A Igreja vive da Eucaristia” e a Eucaristia edifica a Igreja. Por isso, pede-se que, em vez de deixar as comunidades sem a Eucaristia, se alterem os critérios para selecionar e preparar os ministros autorizados para celebrá-la. As comunidades pedem ainda maiores apreciação, acompanhamento e promoção da piedade com a qual o povo pobre e simples expressa sua fé, mediante imagens, símbolos, tradições, ritos e outros sacramentais. Trata-se da manifestação de uma sabedoria e espiritualidade que constitui um autêntico lugar teológico, dotado de um enorme potencial evangelizador. Seria oportuno voltar a considerar a ideia de que o exercício da jurisdição (poder de governo) deve estar vinculado em todos os âmbitos (sacramental, judicial e administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem.
Novos ministérios
Para além da pluralidade de culturas no interior da Amazônia, as distâncias causam um problema pastoral grave, que não se pode resolver unicamente com instrumentos mecânicos e tecnológicos. É necessário promover vocações autóctones de homens e mulheres, como resposta às necessidades de atenção pastoral-sacramental. Trata-se de indígenas que apregoem a indígenas a partir de um profundo conhecimento de sua cultura e de sua língua, capazes de comunicar a mensagem do Evangelho com a força e a eficácia de quem dispõe de uma bagagem cultural.
“ É necessário passar de uma “Igreja que visita” para uma “Igreja que permanece”, acompanha e está presente através de ministros provenientes de seus próprios habitantes.”
Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã.
Papel da mulher
É pedido que se identifique o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica. Reclama-se o reconhecimento das mulheres a partir de seus carismas e talentos. Elas pedem para recuperar o espaço que Jesus reservou às mulheres, “onde todos/todas cabemos”. Propõe-se inclusive que às mulheres seja garantido sua liderança, assim como espaços cada vez mais abrangentes e relevantes na área da formação: teologia, catequese, liturgia e escolas de fé e de política.
A vida consagrada
Propõe-se promover uma vida consagrada alternativa e profética, intercongregacional, interinstitucional, com um sentido de disposição para estar onde ninguém quer estar e com quantos ninguém quer estar. Aconselha-se que a formação para a vida religiosa inclua processos formativos focados a partir da interculturalidade, inculturação e diálogo entre espiritualidades e cosmovisões amazônicas.
Ecumenismo
O Documento não deixa de relevar o importante fenômeno importante a ter em consideração é o vertiginoso crescimento das recentes Igrejas evangélicas de origem pentecostal, especialmente nas periferias: “Elas nos mostram outro modo de ser Igreja, onde o povo se sente protagonista, onde os fiéis podem expressar-se livremente, sem censuras, dogmatismos, nem disciplinas rituais”.
Igreja e poder: caminho de cruz e martírio de muitos
Ser Igreja na Amazônia de maneira realista significa levantar profeticamente o problema do poder, porque nesta região o povo não tem possibilidade de fazer valer seus direitos face às grandes corporações econômicas e instituições políticas. Atualmente, questionar o poder na defesa do território e dos direitos humanos significa arriscar a vida, abrindo um caminho de cruz e martírio. O número de mártires na Amazônia é alarmante (por ex., somente no Brasil, de 2003 a 2017, foram assassinados 1.119 indígenas por terem defendido seus territórios).
“ A Igreja não pode permanecer indiferente mas, pelo contrário, deve contribuir para a proteção das/dos defensores de direitos humanos, e fazer memória de seus mártires, entre elas mulheres líderes como a Irmã Dorothy Stang. ”
Durante o percurso de construção do Instrumentum Laboris, ouviu-se a voz da Amazônia à luz da fé com a intenção de responder ao clamor do povo e do território amazônico por uma ecologia integral e por novos caminhos para uma Igreja profética na Amazônia. Estas vozes amazônicas exortam o Sínodo dos Bispos a dar uma resposta renovada às diferentes situações e a procurar novos caminhos que possibilitam um kairós para a Igreja e o mundo.
Faltando 4 meses ao início do Sínodo Pan-amazônico convocado pelo Papa Francisco de 6 a 27 de outubro no Vaticano, em breve será publicado o Instrumentum Laboris, o documento de trabalho que servirá como base da discussão na Assembleia.
Bispos dos 9 países da região (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana, Peru, Venezuela e Suriname), ao lado de especialistas e auditores, e convidados nomeados diretamente pelo Papa, vão discutir os “Novos caminhos para a Igreja e a Ecologia Integral” no Vaticano, com a presença do Santo Padre.
Neste período que precede a Assembleia Sinodal, eventos de reflexão sobre o Sínodo têm-se multiplicado nos quatro cantos do mundo, uma demonstração de que o tema escolhido pelo Papa é atraente e visto como urgente pela Igreja Universal.
Meios de comunicação de inspiração religiosa e a imprensa em geral se interessam e a busca de informação tem sido contínua e acelerada com o passar do tempo. A Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos desde o último Sínodo está presente nas redes sociais e na internet e para esta Assembleia especial foi criado o site www.sinodoamazonico.va
Além disso, as redes sociais estão promovendo o uso da hashtag #SinodoAmazonico. O responsável, padre Ariel Beramendi, nos dá maiores detalhes:
“A Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos iniciou a sua presença digital durante a fase de preparação para o Sínodo dos Jovens em 2018. Começamos com um site específico e as redes sociais Facebook, Twitter e Instagram. Também promovemos a hashtag #Synod2018 que nos permitiu interagir constantemente com jovens de diferentes partes do mundo.
Após a Assembleia do Sínodo da Juventude as redes sociais permaneceram ativas; o nome das redes sociais é synod.va e se referem ao site institucional da Secretaria do Sínodo, ou seja, este site é como um tronco onde os ramos serão outros sites criados especificamente para cada Sínodo.
“Já no ano passado, o site dedicado à Assembleia Pan-Amazônica está online: www.sinodoamazonico.va está atualmente disponível em cinco idiomas e apresenta conteúdos sobre o grande evento eclesial e ecológico que será realizado no próximo mês de outubro. ”
Além disso, em paralelo, estamos promovendo o uso da hashtag #SinodoAmazonico porque a maioria dos participantes falam espanhol e português. A hashtag #SinodoAmazonico é a mesma para todos os idiomas.
Gostaria também de mencionar que temos um canal no Youtube para vídeos e o Flickr, onde publicamos fotografias disponíveis para quem procura conteúdo sobre o próximo Sínodo”.
Depois de dias de reuniões, encontros, palestras, orações e entrevistas, representantes da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) retornam ao Brasil. A viagem de volta ocorreu na tarde da quinta-feira (noite na Europa), quando irmã Maria Irene Lopes, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia e secretária executiva da REPAM-Brasil, e dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), embarcaram em Roma para São Paulo.
A última atividade dos brasileiros foi um encontro com 70 religiosas, Filhas da Caridade, na comunidade da Capela Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, em Paris, na tarde da última quarta-feira. O local, que é um dos grandes centros de peregrinações da França, costuma receber muitos brasileiros e as religiosas tiveram interesse em saber mais sobre o Sínodo Para a Amazônia.
De acordo com a irmã Maria Irene Lopes, o encontro foi uma oportunidade de partilhar as experiências vividas no processo Sinodal e sobre a Amazônia brasileira. “Elas se colocaram à disposição para orações em sintonia com o Sínodo e disseram que farão momentos específicos durante o Sínodo na Capela da Medalha Milagrosa”, acrescentou irmã Irene sobre o diálogo com as religiosas da Caridade.
Ainda em Paris, na quarta-feira,22, dom Roque e irmã Maria Irene estiveram na Conferência Episcopal da França para também partilhar sobre o Sínodo para a Amazônia e a realidade dos povos indígenas e comunidades tradicionais daquela região. Desde a semana passada, os religiosos brasileiros, acompanhados do padre Raimundo Vanthuy Neto, da diocese de Roraima e que atualmente reside em Lyon – França, visitaram diversas instituições francesas, participaram de reuniões estratégicas, conversaram com jornalistas e religiosos e rezaram com peregrinos.
Conselho Pré-Sinodal
A viagem começou, em Roma, com a reunião do Conselho Pré-Sinodal. Entre os dias 14 e 15 desse mês, membros do Conselho, consultores da Secretaria Geral, especialistas e convidados realizaram reunião para leitura, avaliação e aprovação do Instrumentum Laboris do Sínodo para a Amazônia.
O Documento aprovado na reunião, que servirá de base para as discussões da assembleia que será realizada em outubro, no Vaticano, foi dividido em três partes que abordam os seguintes temas: Voz da Amazônia, entendida como a escuta dos territórios; Ecologia Integral; e Igreja com rosto Amazônico.
A propostas é que o documento fique pronto ainda no mês de junho e seja encaminhado às Conferências Episcopais interessadas e demais organismos das Igreja que terão representantes no Sínodo. O Documento também será disponibilizado e divulgado para toda a Igreja de forma envolver o maior número de pessoas no processo e discussão desse Sínodo que é para a Amazônia e para toda a Igreja Universal.
No intervalo do café na manhã do sábado, 4 de maio, o cardeal Sergio da Rocha, que foi o relator geral do Sínodo dos Bispos para os Jovens, em outubro de 2018, cumprimentou o arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), cardeal Cláudio Hummes por sua recente nomeação pelo papa Francisco para o cargo de relator geral para a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos a ser realizada no Vaticano, em outubro deste ano. O tema do sínodo é “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
Ao portal da CNBB, dom Claudio disse receber a notícia com o sentimento de responsabilidade porque o Sínodo é muito importante e poderá ser histórico. “Eu agradeço ao papa a confiança na gente, em mim, e quero dar o meu melhor para realizar este serviço”, afirmou.
A nomeação para o o cargo de relator geral, para o cardeal, não significa nenhuma distinção especial. Segundo ele, o gesto aponta que o papa tem muita esperança, em nós, do Brasil e também nos outros oito países que integram a Pan-Amazônia para que assumamos esta tarefa com alegria e espírito de serviço, olhando para frente. “Os nove países temos as mesmas responsabilidades e esperanças e estamos fazendo o nosso melhor para que este sínodo seja frutuoso”, afirmou.
Dom Claudio disse estar feliz por prestar este serviço em função do grande amor à Amazônia e a todo o processo já desenvolvido desde a convocação do Sínodo pelo papa Francisco, em 2017. Ele ressaltou o papel que a Repam vem desenvolvendo de preparação junto com os bispos de toda a Pan-Amazônia e da Secretaria-Geral dos Sinodos, órgão do Vaticano.
O religioso refere-se, principalmente, ao trabalho de escuta da população amazônica, de seus sonhos e temores do futuro, especialmente dos indígenas que, em sua avaliação, estão sendo ameaçados. Estas escutas vão redefinir, segundo ele, a presença da Igreja junto a estas populações ameaçadas em seus territórios.
O Vaticano divulgou também a nomeação dos dois secretários especiais para o Sínodo: o vigário apostólico de Puerto Maldonado, no Peru, dom David Martinez de Aguirre Guinea e o subsecretário da Seção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, monsenhor Michael Zcerny.
Em outubro de 2019, a Igreja retoma a célebre frase do papa Paulo VI “Cristo aponta para a Amazônia”. Convocada pelo papa Francisco, a assembleia sinodal terá como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Saiba mais sobre o Sínodo dos Bispos e o contexto da assembleia deste ano:
O que é Sínodo:O Sínodo é uma instituição permanente da Igreja Católica que foi criada pelo papa Paulo VI, em resposta aos desejos dos padres do Concílio Vaticano II. A intenção é manter vivo o espírito de colegialidade nascido na experiência conciliar.
Resgatando o sentido etimológico da palavra “sínodo”, chega-se aos termos gregos syn (que significa “juntos”) e hodos (que significa “caminho”), numa junção que expressa a ideia de “caminhar juntos”. A reunião desta instituição permanente da Igreja consiste em um encontro religioso ou assembleia na qual alguns bispos, reunidos com o papa, têm a oportunidade de trocarem informações e compartilhar experiências. O objetivo comum destas reuniões é buscar soluções pastorais que tenham aplicação universal. A Santa Sé define o Sínodo, em termos gerais, como uma assembleia de bispos que representa o episcopado católico e tem como tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja universal dando-lhe seu conselho.
Qual o tema:O papa Francisco convocou, em outubro de 2017, a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para outubro de 2019, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integral”. O objetivo, nas palavras do pontífice, “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta. Que os novos Santos intercedam por este evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram caminhos de justiça e de paz”.
Qual a motivação:Em 2018, durante o encontro com povos indígenas de quase todos os países da Pan-Amazônia, em Porto Maldonado, Peru, o papa Francisco falou sobre a riqueza dos saberes e da diversidade indígena, sobre a necessidade de defender a Amazônia e seus povos e, também, sobre as ameaças que estes povos enfrentam em função dos interesses econômicos em seus territórios.
Um Sínodo para CONHECER a riqueza do bioma, os saberes e a diversidade dos Povos da Amazônia, especialmente dos povos Indígenas, suas lutas por uma ecologia integral, seus sonhos e esperanças.
Um Sínodo para RECONHECER as lutas e resistências dos Povos da Amazônia que enfrentam mais de 500 anos de colonização e de projetos desenvolvimentistas pautados na exploração desmedida e na destruição da floresta e dos recursos naturais;
Um Sínodo para CONVIVER com a Amazônia, com o modo de ser de seus povos, com seus recursos de uso coletivo compartilhados num modo de vida não capitalista adotado e assimilado milenarmente.
Um Sínodo para DEFENDER a Amazônia, seu bioma e seus povos ameaçados em seus territórios, injustiçados, expulsos de suas terras, torturados e assassinados nos conflitos agrários e socioambientais, humilhados pelos poderosos do agronegócio e dos grandes projetos econômicos desenvolvimentistas.
Quais são as pautas: De acordo com o Documento Preparatório, o Sínodo vai refletir sobre os novos caminhos de evangelização que devem ser elaborados para e com o povo de Deus que habita na região amazônica: habitantes de comunidades e zonas rurais, de cidades e grandes metrópoles, ribeirinhos, migrantes e deslocados e, especialmente, para e com os povos indígenas.
As reflexões do Sínodo para a Pan-Amazônia superam o âmbito estritamente eclesial amazônico, por serem relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta “Partimos de um território específico, do qual se quer fazer uma ponte para outros biomas essenciais do nosso mundo: Bacia Fluvial do Congo, corredor biológico mesoamericano, florestas tropicais da Ásia Pacífica e Aquífero Guarani, entre outros”.
O Documento Preparatório indica alguns assuntos que devem estar na pauta do Sínodo para a Amazônia:
O “rosto dos povos da Amazônia”;
A riqueza natural em risco mediante a exploração desmedida;
O modo de vida dos povos da Amazônia baseado no “bem-viver”;
A realidade das cidades dos nove países que compõem a Pan-Amazônia;
A predominância das desigualdades sociais, econômicas, culturais e políticas;
IDENTIDADE E CLAMORES DA PAN-AMAZÔNIA O território; Diversidade sociocultural; Identidade dos povos indígenas; Memória histórica eclesial; Justiça e direitos dos povos; Espiritualidade e sabedoria.
PARA UMA CONVERSÃO PASTORAL E ECOLÓGICA Anunciar o Evangelho de Jesus na Amazônia:
dimensão bíblico-teológica;
dimensão social;
dimensão ecológica;
dimensão sacramental;
dimensão eclesial-missionária.
NOVOS CAMINHOS PARA UMA IGREJA COM ROSTO AMAZÔNICO Igreja com rosto amazônico; Dimensão profética; Ministérios com rostos amazônicos; Novos caminhos;
Processo Sinodal: O processo preparatório do Sínodo, que deve ser concluído até o meio do ano, com a publicação do instrumentum laboris, consistiu em um amplo processo de escuta, que teve como primeiros interlocutores os povos indígenas e todas as comunidades que vivem na Amazônia. “Queremos saber como imaginam um “futuro tranquilo” e o “bem viver” para as futuras gerações. Como podemos colaborar na construção de um mundo capaz de romper com as estruturas que sacrificam a vida e com as mentalidades de colonização para construir redes de solidariedade e interculturalidade? Sobretudo queremos saber: Qual é a missão específica da Igreja, hoje, diante desta realidade?”.