São Francisco “pauper et humilis caelum dives ingreditur”[1]. Com base nessa afirmação presente no Devocionário Franciscano, vale a indagação: por que ele, pobre e humilde, entra rico no céu? Alguém que, de repente, sendo rico quis ser pobre; de cavaleiro passa a mendicante; de roupas finas e macias, ao nu e depois aos farrapos; do ter tudo ao ter nada, do ser nada ao ser tudo; dos perfumes odoríficos, aos odores repugnantes da morfeia; dos gritos nas cavalarias e festins, à oração e meditação silenciosas; de uma vida agitada à contemplação do belo, das mansões e casebres, às taperas de palhoças; das majestosas cavalgadas ao peregrinar pelos vales; de uma vida de amores a uma vida para o Amor.  Queremos, embebidos neste amor, refletir sobre o processo de conversão de São Francisco, do seu amor ao Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor.

 

Ao falar sobre a conversão de Francisco, pode-se situá-la entre os anos 1204 a 1208, quando ele tinha cerca de 25 anos. Podemos imaginar um jovem já formado, de acordo com os critérios de maturidade da época. Francisco[2] tinha condições de se tornar um bom comerciante e nutrir o desejo de se tornar cavaleiro medieval. Conta Celano: “a mãe de Francisco certamente ouvia comentários a respeito de Francisco e sua prodigalidade, e respondia: ‘Que pensais de meu filho? Ainda terá a graça de ser um santo de Deus!’” Até os vinte e cinco anos, Francisco viveu ao ritmo dos imperativos normais e coerentes, até que “o Senhor fixa nele seu olhar”[3]. A conversão de Francisco não se dá devido a uma crise cultural, social ou afetiva, mas brota do confrontar-se com uma situação existencial que o impulsiona a uma forma de vida em que os valores possuem critérios incomparáveis. O converter-se de Francisco não partiu de um desengano, de um desencantamento ou de um pessimismo, mas sim de um processo gradual e progressivo. É então que começou um reajustar de toda a sua vida pessoal, emocional, valorativa e social, por um valor que julgou “único desejável”. O Cavaleiro da Fé começa a purificar o coração e orientar o comportamento. Francisco passa a ter no seu interior a sensação de ser olhado pelo Senhor. Esse encontro com Deus não se dá pela solidão radical, mas em contato com a realidade e com os elementos que fazem parte dela: natureza, tensões, conflitos, amor, alegria, temores; a comoção que sentiu no seu interior explode em seu exterior.

 

Francisco sente a ação do Criador em sua vida, e o escolhe como valor Absoluto. Viu em Jesus, o Crucificado, a sua almejada “nova vida”, permeada pelo amor daquEle que ele irá cantar não ser amado.

 

Tendo em conta, então que na vida de Francisco a conversão se dá paulatinamente, sem a intenção de enumerar qual fato se deu por primeiro, vale elencar: em 1202, Francisco é resgatado da prisão devido à sua doença; em 1204, visão e mensagem de Espoleto; em outono de 1205, mensagem do Crucifixo; primavera de 1206, ele cuida de leprosos[4]. Esses momentos da vida de conversão de Francisco expressam a magna história de amor que Deus se propõe a fazer com o homem. Deus escolhe Francisco e o quer tornar “servo do Senhor”, como em Espoleto: “Francisco a quem deves seguir, o servo ou o Senhor?” E Francisco respondeu: “ao Senhor”; e a voz voltou a perguntar: “Por que procuras o servo, no lugar do Senhor?” E como alguém que não entende a pergunta, o jovem de Assis responde perguntando: “Senhor, que queres que eu faça?”[5] Francisco começa a buscar o querer do Senhor. Acontece uma transformação radical em seu coração, passa enxergar Cristo nos pobres… Poder-se-ia até imaginar um Francisco que tinha os olhos voltados às vitórias na guerra, cavalarias, festas… Agora procura o Senhor. É ainda Celano[6] que nos conta: “estando ao redor de São Damião, ouve uma voz que vinha da igreja abandonada, em ruínas. Entrou para rezar e ajoelhou-se; e fitando o crucificado, viu seus lábios mexerem e chamando-o: ‘Francisco, Francisco, vai e repara a minha Igreja que, como vês, está em ruínas’. Movido por tamanha compaixão pelo Crucificado iniciou a restauração da Igrejinha de São Damião”. Não imaginava Francisco, que a restauração não era no templo de pedras que tendia a cair. Na verdade, era o templo espiritual que sofria declínio ameaçador; tinha-se necessidade de um modo novo de viver a fé; necessitava-se de uma mudança, de um olhar aos pobres, aos leprosos, que inicialmente para Francisco eram insuportáveis. Francisco já havia caminhado rumo ao Senhor, e o encontrava a cada dia mais próximo. Já havia abandonado o dinheiro, a glória mundana, a admiração dos homens. E ainda precisaria chegar até o leproso. Mas, por fim, Francisco consegue dar um passo decisivo ao encontro do leproso: “ficou muito aborrecido e enojado, mas, para não quebrar o propósito que fizera apeou e foi beijá-lo…”. Francisco de fato experienciou que há um valor Absoluto, pelo qual se pode e é valido doar a vida. Assim ele foi tocado até o mais profundo de seu coração e a partir desse momento passou a querer unicamente o Senhor. Em Francisco pode-se perceber que há um radical abandono, uma decisão e um romper sem considerações. Ele deixa pais, posses, possibilidades humanas e o futuro, e se coloca na dimensão-surpresa da fé e da esperança. O “Pobre de Assis”, pôs-se a caminho, assemelhou-se a um itinerante, mas sossegado, em paz, seguro. A sua postura não foi de um fugitivo que está com medo, e muito menos de um aventureiro que espera a surpresa incerta do amanhã, sem se preocupar donde vem e para onde vai. Francisco tinha a meta, o objetivo a atingir, mas apenas se preocupava com o hoje, pois, sabia que se vivesse com intensidade o agora, estaria sempre e cada vez mais próxima a meta.

 

O “Irmão de Assis” é um constante convite de retorno a Deus; ele se tornou, através da vida de pobreza, dom ao próximo em Cristo. Francisco ganhou forças nessa sua vivência radical na doação total de sua vida a Deus. A conversão de Francisco de Assis é a abertura a uma realidade nova, que surge da adesão à pessoa de Jesus Cristo, do aceitar os desafios que são necessários para permanecer fiel ao Evangelho.

Frei Wainer José de Queiroz, fmm
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Decanato Oeste

 

 

[1] “o pobre, o humilde entra rico nos céus”. Devocionário Franciscano.
[2] Certa vez tratou mal um pobre que dele se aproximara, e “prometeu a si mesmo que jamais negaria a quem lhe pedisse em nome de Deus”, 1C 17.
[3] 1C 2,2C 7-12, Ltc 7-29
[4] Para estas datas, ver Celano: 1C 3-5, 206,2C 10,2C 9.
[5] 2Cel 6
[6] Ibid. 10

Encontros on-line serão nos dias que antecedem a festa do santo de Assis: 28, 29 e 30 de setembro e 1 de outubro

 

Para celebrar a memória de São Francisco de Assis, no dia 4 de outubro, a Associação Cultural Italiana de Londrina I Bravissimi promove o curso São Francisco peregrino: Fé, arte e cultura no berço do franciscanismo. Serão quatro encontros, ministrados pelo frei franciscano Sidney Damasio Machado, OFMCap, em que se fará uma espécie de visita guiada aos lugares, vales e conventos por onde Francisco passou e que até hoje guardam sinais da sua presença: Uma noite em Assis e seus arredores, berço do franciscanismo; uma noite no extraordinário Vale de Rieti, no qual está localizado, por exemplo, o Convento de Greccio, onde Francisco montou o primeiro presépio da história; e uma noite no Monte Alverne, local da experiência mística mais elevada de Francisco.  A primeira noite de curso, 28/9, tem como tema: “Francesco, il più italiano dei santi”: Francisco, o mais italiano dos santos, e será ministrada em italiano.

 

Segundo o frei, esses locais percorridos pelo curso representam Francisco porque, primeiro de tudo, ele esteve ali, mas também porque testemunham a tradição de presença franciscana. “Peregrinos, por séculos, viajam até esses lugares para perceber algo do carisma de Francisco, da sua espiritualidade, da sua mística, daquilo que ele viveu, tanto em relação com Deus, quanto na sua intimidade com as pessoas dos lugares onde ele passava.” Francisco também tinha um apreço muito grande pelas montanhas, os lugares elevados onde se pode ter uma visão privilegiada dos vales, que o ajudam a rezar e o colocam em contemplação, em comunhão com Deus.

 

São Francisco de Assis

Com seu jeito, o santo realizou em sua vida o pleno seguimento de Cristo, e por meio do seguimento, “chegou a ser uma pessoa profundamente integrada do ponto de vista afetivo, do ponto de vista social, do ponto de vista humano em geral, de tal modo que acabou ultrapassando, digamos assim, as fronteiras da própria Igreja e se tornando um personagem universal”, ressalta o frei.

 

Segundo ele, o Papa Francisco, ao assumir o nome desse santo cheio de carisma, propõe também para toda Igreja esse modo de ser: “simples, fraterno, ao mesmo tempo humano, gentil, cordial, próprio de Francisco de Assis de se colocar em relação com as pessoas, se colocar em relação com a natureza e em relação com Deus, de tal modo que em Francisco nós temos um dos melhores exemplos de seguimento de Jesus Cristo e de vida cristã e de quanto os valores cristãos são profundamente humanos e elevam o ser humano a uma estatura altíssima.”

 

Integração com a natureza

Provavelmente a primeira imagem que vem à mente quando se fala de São Francisco é aquela do santo em meio à natureza, rodeado de pássaros e outros animais. Esta é apenas uma parte de sua espiritualidade, explica o frei. Como ele estava em plena comunhão com a natureza, sentia-se parte da criação e dialogava com os animais e com as plantas. “Mas digamos que é uma parte pequena. Reduzir Francisco ao aspecto puramente ecológico seria subestimar a sua personalidade.”

 

Francisco era um homem muito à frente de seu tempo. “Por exemplo, no tempo das cruzadas, chegou a ir ao encontro do sultão, para conversar, dialogar e encontrou no sultão, um amigo, de tal maneira que em Assis até hoje são conservados os presentes que ele recebeu do sultão. No tempo em que os cristãos estavam empenhados em guerras, Francisco é o homem do diálogo e da paz.”

 

A personalidade que extrapola o alcance cristão levou Francisco a ser apontado, pela Revista Time, como o homem do milênio, a personalidade que representa o ocidente do segundo milênio. “É preciso ampliar os nossos horizontes e perceber que essa fama imensa de Francisco é bem fundada, é justificada pelo seu modo de ser e proceder”, enfatiza.

 

A mística

Do ponto de vista da espiritualidade, São Francisco de Assis é um grande místico. Pelos seus escritos, numericamente poucos, mas de muita profundidade, percebe-se que o santo tinha grande intimidade com Deus, destaca o frei. “Então ele traz esta comunhão com Deus, toda uma forma de ser, de se colocar no mundo que é transformadora”, observa. “Francisco nos ensina a sermos seres humanos mais integrados, mais plenos, capazes de perdoar, capazes de dialogar, capazes de estabelecer relações fraternas.”

 

Frei Sidney destaca também que Francisco de Assis é extremamente atual: um homem que amava cantar, que amava poesia, teatro, arte, cultura, estar em contato com a natureza e com as pessoas. “E que era capaz de tirar algo positivo até das situações mais adversas, é um personagem cuja vida é revestida de uma atualidade incrível. Muito à frente do seu tempo, ele continua a ser uma luz pela sua mansidão, pelo seu desejo de paz, pela sua integração pessoal e pela paixão com que ele passou por esta terra, como um meteoro, viveu 46 anos, mas se queimou, ou seja, se entregou, se desgastou completamente no serviço a Deus e aos outros. Então o seu testemunho de vida é o testemunho de uma vida plena, totalmente realizada, não sem desencontros, não sem sofrimentos, não sem contrariedades, mas cheio de significado e cheia de sentido”, conclui.

 

Frei Sidney

Frei Sidney, OFMCap, dedica-se à pesquisa e cursos sobre arte sacra, espiritualidade e iconografia cristã. Entre 2004 e 2019 viveu na Itália, onde frequentou cursos de iconografia e arqueologia cristã e foi Secretário Geral de Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (2007/2012). Lecionou na Pontifícia Universidade Antonianum e desde 2018 é professor convidado do Pontifício Ateneu Santo Anselmo de Roma, na pós-graduação. Desde 2008 é professor convidado do Instituto de Espiritualidade Franciscana de Madrid.

 

Serviço

Curso São Francisco peregrino: Fé, arte e cultura no berço do franciscanismo

Ministrado pelo frei Sidney Damasio Machado, OFMCap

Data: 28/9, 29/9, 30/9 e 1/10

Curso on-line

Investimento:

R$ 80,00 para associados I Bravissimi / R$ 160,00 não associados

As aulas serão gravadas e posteriormente disponibilizadas aos alunos.

Informações e inscrições:

(43) 99957-7031 (WhatsApp)

https://www.ibravissimilondrina.org/ 

 

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

Encontros on-line serão nos dias que antecedem a festa do pobrezinho de Assis: 28, 29 e 30 de setembro e 1 de outubro

 

Para comemorar a memória de São Francisco de Assis, no dia 4 de outubro, “o mais italiano dos santos”, a Associação Cultural Italiana de Londrina I Bravissimi promove o curso São Francisco peregrino: Fé, arte e cultura no berço do franciscanismo. Serão quatro encontros, nos dias 28, 29 e 30 de setembro e 1 de outubro, com temáticas diferentes e independentes entre si: “Francesco, il più italiano dei santi” (terça, 28/09); “Assis e arredores, o berço do franciscanismo” (quarta, 29/09); “O Vale de Rieti e o amor universal” (quinta, 30/09) e “La Verna, novo Gólgota” (sexta, 1º/10).

 

O curso será ministrado pelo frei franciscano Sidney Damasio Machado, OFMCap. O primeiro encontro será em italiano e os outros em português, estes últimos não requerem participação no primeiro para serem aproveitados.  O investimento é R$80 para associados da I Bravissimi e R$160 para não associados. As aulas serão gravadas e posteriormente disponibilizadas aos alunos. 

 

Frei Sidney, OFMCap, dedica-se à pesquisa e cursos sobre arte sacra, espiritualidade e iconografia cristã. Entre 2004 e 2019 viveu na Itália, onde frequentou cursos de iconografia e arqueologia cristã e foi Secretário Geral de Ordem dos Frades Menores Capuchinhos (2007/2012). Lecionou na Pontifícia Universidade Antonianum e desde 2018 é professor convidado do Pontifício Ateneu Santo Anselmo de Roma, na pós-graduação. Desde 2008 é professor convidado do Instituto de Espiritualidade Franciscana de Madrid.

 

Informações e inscrições pelo WhatsApp (43)99957-7031; ou pelo site: https://www.ibravissimilondrina.org/ 

 

São Francisco nasceu em Assis, na Itália, em 1182. Seus pais, de origem francesa, faziam parte da classe dos comerciantes da cidade. Seu pai era ambicioso, avistava para o filho a alta classe; e sua mãe era humilde e simples, de alma nobre instruía Francisco, desde muito pequeno, pelos caminhos da generosidade para com o próximo e da oração. Se comparado aos de sua época, pode-se dizer que Francisco recebeu uma ótima educação.

 

Foi um jovem radiante e entusiasta, um típico líder juvenil de seu tempo. Tinha um coração fervoroso e um turbilhão de idéias. Era cortês, alegre e muito empolgado. Francisco era de estatura pequena, mas ágil e de caráter forte; espalhava alegria e tinha modo festeiro. Passava pelas ruas cantando serenatas, arrastando colegas para suas festas e deixando encantadas as belas jovens de Assis. Suas canções eram apaixonantes e românticas.

 

O sonho de Francisco…

O santo viveu num período de grandes transformações do regime feudal. Seu sonho era o de ser cavaleiro célebre. Sonho que o fazia almejar a glória e a fama. Desde a juventude participou das lutas políticas de sua cidade contra a rival Perúgia, com o desejo de vencer.  Armou-se cavaleiro e partiu para a guerra. Seu exército, no entanto, foi derrotado e Francisco acabou preso pelas tropas de Perúgia. Mesmo assim não se desanimou, não se deixou derrotar, e durante o tempo que esteve preso fez-se cordial e solidário para com os colegas encarcerados. Depois que saiu da prisão Francisco acabou contraindo uma grave doença que quase o levou à morte. Depois de curado, no entanto, voltou a buscar seu sonho: armaduras, palácios, soldados, guerras…enfim, ser cavaleiro!

 

A mudança de vida do jovem Francisco…

Absorto e se interrogando, Francisco, sente dentro de si o desejo de solidão, de silêncio. Os seus companheiros julgam que ele estava apaixonado. Numa noite teve um sonho, ouve uma voz que o chama: “Francisco!”. Ele então responde: “Quem sois, meu Senhor?”. Indagou-lhe a voz: “Quem é mais forte, o escravo ou o senhor?”. Respondeu o jovem: “o senhor, é claro”. Sentenciou a voz: “escolhe melhor”. Francisco passava por uma reviravolta espiritual, tornava-se interiormente uma nova criatura. Algo radical e decisivo acontece na vida do jovem de Assis. Francisco tomou ao pé da letra o desejo revelado ao seu coração através do sonho, como um bom jovem sabe fazer, faz o que deve fazer no agora, no de sua vida.

 

O agir de Francisco…

Em oração com o Crucificado, Francisco pergunta: “Que quereis que eu faça?” e a resposta é: “Vai e reconstrói a minha Igreja!”. Francisco realiza nesse momento um encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Ele começa a vender os tecidos da loja do seu pai, arruma tijolos, ferramentas, e começa a trabalhar como pedreiro…reconstruindo a pequena Igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos que estava caindo, em ruínas. É… nada disso agradou ao seu pai.

 

A nova vida…

Diante do bispo o pai de Francisco o deserda, ele fica sem nada de próprio. Francisco compreende, ao romper os laços de familiar, que poderia então rezar livremente: “Pai nosso que estais no céu. Vós sois o meu tesouro e a minha esperança”. Aqui entendemos que Francisco confiou tudo ao Pai do Céu, e sendo filho irmão em Cristo fizera-se irmão de todos os homens e de todas as criaturas, sobretudo: dos mais pobres, dos deserdados, dos leprosos… Irmão universal.

 

Do asco ao beijo…

Os leprosos viviam fora das cidades na época de Francisco. Esperando a morte eles eram desamparados e excluídos. Os desejos de Francisco do jovem rico, vaidoso e bem sucedido, estavam longe da aproximação de um leproso, o que lhe causava asco e nojo. Conseguiu vencer-se de tal maneira que beijou o leproso quando o encontrou. Profundamente, no seu ser, havia acontecido uma transformação… “Foi assim que o Senhor me concedeu a mim, Frei Francisco, iniciar uma vida de penitência … o que antes me parecia amargo se me converteu em doçura da alma e do corpo … E depois que o Senhor me deu irmãos ninguém me mostrou o que eu deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo evangelho”. (Test. de São Francisco de Assis). Francisco assume o Evangelho de Jesus Cristo como norma de vida. Mesmo diante das exigências e imposições de seu tempo.

 

Hoje nos ensina…

Francisco respondeu aos anseios de seu tempo. Tinha por prática o forte desejo de obediência a Igreja. Tanto que assim nos ensina sua Regra: “Frei Francisco promete obediência e reverência ao senhor papa Honório e a seus sucessores e à Igreja Romana. E os outros frades estejam obrigados a obedecer a Frei Francisco e a seus sucessores” (RB 1).  Outro aspecto da vida de Francisco é a busca pela paz, o santo exorta aos seus confrades da seguinte maneira: “Em qualquer casa em que entrem, digam primeiro: Paz a esta casa” (RG 3) ou “Como saudação, revelou-me o Senhor que disséssemos: O Senhor te dê a paz” (Test. de São Francisco de Assis). Francisco também mostra sua preocupação com o próximo, com os que passam necessidades e que precisam de cuidados: “Bem-aventurado o irmão que ama ao seu ‘irmão’, que não lhe pode ser útil, tanto como ao que tem saúde e está em condições de lhe prestar serviços” (cf.Adm 25).

E nós, como respondemos aos anseios de nossa atualidade?

Que inspirados em São Francisco de Assis sejamos anunciadores da Paz e do Bem!

Frei Wainer José de Queiroz FMM
Frades Menores Missionários
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade

 

 

 

Na sexta-feira, dia 2 de agosto, celebra-se o “Perdão de Assis”, na Festa de Nossa Senhora dos Anjos, também conhecida como “Porciúncula”. Nessa data (das 12h do dia 1° até as 24h do dia 2), os fiéis podem obter Indulgência Plenária para si ou para almas do Purgatório em todas as paróquias da Arquidiocese de Londrina, com as condições habituais.

 

“Uma indulgência é o perdão do ‘castigo’ temporal, das consequências do pecado, oferecida a alguém verdadeiramente arrependido do pecado cometido. Para lucrar esta indulgência é necessário ao fiel, além da rejeição ao pecado, peregrinar ao Santuário da Porciúncula em Assis ou qualquer outra igreja, confessar-se, comungar e rezar o Credo, um Pai Nosso e uma Ave Maria nas intenções do Santo Padre”, explica o frei Roberto Mauro Buhrer FMM.

 

 


 

Papa Francisco reza na Porciúncula, em 2016 (Foto Vatican News)

Peregrinos do perdão

Era desejo de São Francisco de Assis que todas as pessoas encontrassem a salvação.

 

A Festa do Perdão de Assis é celebrada no dia 02 de agosto e remete à vida de São Francisco, o Pobrezinho de Assis, aos primeiros passos da Ordem Franciscana e à pequena igrejinha da Porciúncula, doada à Francisco pelo Abade D. Teobaldo.

 

Chamada de ‘Porciúncula’ por se localizar em uma pequena porção de terra de propriedade dos Monges Beneditinos, aquela ermida fora devotada à Maria Assunta ao Céu e, segundo uma lenda, nas vésperas de algumas solenidades, ali se ouviam numerosos coros de anjos com cânticos de aleluias e outras muitas vozes em festivos louvores, donde  derivou o título de Santa Maria dos Anjos.

 

Essa minúscula igreja se tornou o berço da fraternidade franciscana e nela o Santo de Assis experienciou grandes momentos de graça. Foi ali, também, que Francisco completou sua peregrinação terrestre, mas não antes de alcançar a célebre Indulgência Plenária da Porciúncula que os Sumos Pontífices confirmaram e estenderam a outras muitas Igrejas da ordem franciscana.

 

O ditoso acontecimento se deu no ano de 1216, quando o Seráfico Pai se encontrava em fervorosa oração e contemplação. De maneira surpreendente o lugar se iluminou e sobre o altar apareceu-lhe Jesus junto de sua Mãe, Maria Santíssima, acompanhados de uma multidão de anjos. O monge dominicano Bartolomeu de Pisa, em uma biografia sobre Francisco, descreve o que se sucedeu: “Francisco ficou em silêncio e começou a adorar o seu Senhor. Perguntaram-lhe, então, o que ele desejava para a salvação das almas.  Francisco tomado pela graça de Deus que ama incondicionalmente, responde: “Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero, o pior dos pecadores, te peço, que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão visitar esta Igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas”.

 

Uma indulgência é o perdão do ‘castigo’ temporal, das consequências do pecado, oferecida a alguém verdadeiramente arrependido do pecado cometido. Para lucrar esta indulgência é necessário ao fiel, além da rejeição ao pecado, peregrinar ao Santuário da Porciúncula em Assis ou qualquer outra igreja franciscana, confessar-se, comungar e rezar o Credo, um Pai Nosso e uma Ave Maria nas intenções do Santo Padre.

 

Deus te faça feliz!!!

Frei Roberto Mauro Buhrer
Frades Menores Missionários

 


 

Os padres franciscanos da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, Decanato Oeste estarão atendo confissões das 8h às 17h30.

 

 

Dia de Nossa Senhora dos Anjos – Confissões e oração do Terço

Local: Paróquia Nossa Senhora da Piedade – Decanato Oeste
Data: 02/08
Horário: 8h às 17h30
Endereço: Rua Pedro Nolasco da Silva, 178, Jardim Tókio

 

 

A Porciúncula, no interior da Basílica Santa Maria dos Anjos (Foto Vatican News)

Foto destaque: ofmcap.org

 

 

 

[dropcap]G[/dropcap]eralmente chamamos de Irmão ou Irmã aqueles nos quais correm o mesmo sangue, ou que temos uma afinidade de coração, como se costuma dizer: “irmão do coração”. E isso significa que aquela pessoa tem importância em minha vida e que eu a amo. Mas, numa dinâmica maior, Jesus vai dizer que é “meu irmão e minha irmã” todo aquele que faz a vontade do Pai que está no Céu. Fazer a vontade de Deus nos coloca numa condição de filhos e irmãos.

Francisco de Assis, que celebramos dia 04 de outubro, foi um jovem de inspiração harmoniosa intensa, tendo presente sempre: Deus-Humanidade-Criação. Nasceu em 1182, mas seu exemplo de vida ressoa até os dias de hoje e nos aponta para uma integração que nos ajude a viver com consciência a nossa humanidade, a sermos mais humanos. Tanto que São Francisco nos pede para chamar a todos de “Irmão” e “Irmã”, não simplesmente por uma questão de tratamento, mas elevando a nossa consciência, o nosso modo de viver e agir. Até mesmo as Criaturas deveriam ser chamadas de Irmão ou Irmã. Basta exercitar, olhar para as águas do Lago Igapó e saudá-las: Irmã Água; ou olhar para a noite de céu estrelado e de Lua exuberante e dizer: Irmã Estrela, Irmã Lua; e no amanhecer: Irmão Sol; e ainda, Irmã Chuva, Irmão Vento, Irmão Fogo, Mãe Terra… São nossos Irmãos e nossas Irmãs, que inspiram cuidados.

Francisco nos ensina muito… até chamar a morte de Irmã Morte, “da qual nenhum de nós podemos escapar”. Acho que podemos saudar o Irmão que chega até nós nas adversidades da vida… Assim vamos encontrando também a “Perfeita Alegria”.

Frei Wainer Queiroz FMM
Pároco Paróquia Nossa Senhora da Piedade – Decanato Oeste