Nesta primeira sexta-feira do mês, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, dom Geremias Steinmetz teve seu segundo dia de visita pastoral a Jaguapitã. Durante todo o dia, o arcebispo esteve na Casa de Maria, instituição que acolhe doentes de aids e pessoas com transtornos mentais, uma escola, um asilo, Prefeitura e Câmara Municipal.
A Santa Missa na Casa de Maria deu início às atividades. O arcebispo celebrou junto a cerca de 50 pessoas, entre funcionários e internos. Uma celebração um pouco diferente do que ele celebra nas paróquias. De vez em quando podia-se presenciar um grito, ou alguém que levantava do lugar, pedia um abraço para um funcionário ou reclamava de algo que o estava incomodando. Depois da celebração, o bispo conversou com os internos e com a equipe, que partilhou um pouco sobre a realidade da casa. “Eu sempre falo, aqui é Casa de Maria, então a gente vai acolhendo quem pode”, destaca a presidente e fundadora Regina Célia Siqueira Almeida.
A presidente falou da alegria em receber dom Geremias para celebrar uma missa na casa. “O dom Albano já esteve aqui várias vezes, foi ele que trouxe Jesus pra nós [o Santíssimo Sacramento no sacrário], o dom Orlando esteve mas não celebrou uma missa, então pra nós é um presente de Deus a visita do dom Geremias, a gente ficou muito feliz, em plena primeira sexta-feira do mês, deu certinho, um presente de Deus mesmo.”
Em seguida na Prefeitura, depois na Câmara Municipal, dom Geremias conversou com as autoridades locais e funcionários, para entender um pouco sobre a realidade do município. Dom Geremias falou aos representantes municipais da importância da fé na sociedade e de se respeitar a dignidade humana em todas as suas instâncias. “Desde a criança que está nascendo até a pessoa que está no hospital esperando para ser chamada para a eternidade.”
“Vocês devem colocar-se à disposição de todos”, frisou dom Geremias. “Porque quando temos uma crise não são só membros de uma determinada religião que são atingidos, mas todos. Ninguém fica fora do evangelho.”
A pedido dos funcionários da prefeitura, dom Geremias os deu uma bênção.
Na Câmara, os vereadores também partilharam suas experiências com a Igreja, citando algumas ações importantes como dos vicentinos, da Pastoral da Sobriedade e do Meio Ambiente. Segundo os legisladores, a recente criação da Comissão do Meio Ambiente no município partiu de um incentivo da Pastoral do Meio Ambiente da Paróquia São José. Dom Geremias os entregou dois documentos do Papa Francisco: Laudato Si, que trata sobre o meio ambiente, e Fratelli Tutti, em que o papa fala do pós-pandemia.
Após o almoço, o arcebispo foi recebido com música na Escola Divina Providência, administrado pela Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Jesus. A mensagem estampada nas camisetas dos alunos deram as boas vindas ao arcebispo: Paz e bem, assim como São Francisco de Assis. Ao terminarem, a diretora entregou o violão a dom Geremias e pediu que ele tocasse uma música. O arcebispo puxou a canção “Um dia uma criança me parou” e foi acompanhado pelos alunos.
Na próxima parada, a Casa Sagrada Família, dom Geremias também foi recebido com música por parte dos 42 idosos e 17 funcionários da instituição.
A última atividade do dia foi o encontro com os membros do Conselhos Pastoral Paroquial (CPP), quando dom Geremias falou sobre sua presença em Jaguapitã e da experiência nos locais por onde está passando. “Nem todos são cristãos, mas o evangelho tem que ser dirigido a todas as pessoas. Por isso a visita pastoral é uma presença na Igreja mas também na sociedade. Por isso nesses dias demonstramos a preocupação de estar na sociedade também”
Casa de Maria
A Casa de Maria, primeiro local visitado hoje por dom Geremias atende ao todo 70 pessoas, das quais 45 são portares de HIV e o restante com algum transtorno mental. “A gente atende a todos, o pessoal vai pedindo e a gente tendo uma vaguinha vai encaixando”, explica Regina Célia Siqueira Almeida, presidente e fundadora da casa. “Os idosos que estão conosco é porque foram ficando, tem gente que está conosco há 20 anos, 15 anos, que já não tem família.” Muitas dessas pessoas estão acamadas ou cadeirantes.
Regina destaca que dos 25 internos com transtornos mentais, 15 deles são em decorrência do abuso de álcool e droga. “Temos que mostrar também que esses meninos que estão transtornados aqui são por causa do uso de droga e álcool… Então a gente faz uma campanha grande pra ninguém beber, ninguém usar droga, no sentido que é muito difícil, as pessoas não têm noção, quando chega numa idade de 45 anos, tem gente aqui que você pensa que é idoso mas que tem 45, 47 anos, de uso abusivo de drogas.”
O espaço físico da instituição, onde funcionava uma casa dos padres xaverianos, é bem amplo, com capacidade para acolher muitas pessoas, o que falta é dinheiro para manter os funcionários. Por isso ela até comentou com dom Geremias sobre a ideia de reduzir o número de internos. “A gente não tem estrutura financeira para manter os funcionários. Se você pedir 1 kg de arroz pra um, feijão pra outro, você até consegue, mas pagar funcionário você não consegue. E precisam ser funcionários que tenham capacidade, que gostem, que tenham comprometimento com a causa, nesse sentido que a gente tem que ir vendo e fazendo e torcendo pra que tudo dê certo.”
A Casa de Maria foi fundada há 31 anos, para trabalhar com dependentes de álcool e drogas, mas desde 1995 começou a atender doentes de aids. “Quando a gente montou a comunidade terapêutica, á gente ia nos encontros em Campinas, eles ficavam admirados que a gente não atendia os doentes de aids na nossa comunidade, mas a gente sabia do problema. Aí a gente montou aqui, depois de cinco anos, porque a gente viu que é um trabalho bem diferenciado”, finaliza.
Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana
Fotos: Tiago Queiroz