Precisamos ser resilientes espiritualmente para termos uma fé inabalável neste Jesus menino
2020 está se findando, e com ele iniciamos um novo ano litúrgico em nossa Igreja. Dia 29 de novembro damos início ao tempo do Advento: preparação para o Natal do Senhor Jesus! Em meio a um ano tão atípico, com uma pandemia que abalou o Brasil e o mundo, um vírus tão pequeno, o Covid-19, mas tão grande em consequências na saúde física e mental de todos nós, a palavra de ordem sem dúvida é a resiliência.
Se buscarmos a definição de resiliência na Física encontraremos que é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Já na Psicologia, é a capacidade do indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse, algum tipo de evento traumático, entre outros. Mas aqui nos interessa adentrarmos no âmbito da resiliência espiritual, para bem nos prepararmos para este tempo de Advento.
Tomamos a liberdade aqui de recordar o dia 27 de março, em um imenso gesto de amor pela humanidade, com a Praça São Pedro vazia, o Santo Padre, o Papa Francisco, dirigiu um momento de oração no átrio da Basílica de São Pedro, depois rezou com a Palavra de Deus e procedeu a Adoração ao Santíssimo Sacramento, concedendo ao final a Bênção Urbi et Orbi extraordinária. Uma das frases que mais ecoou pelos quatro cantos da Terra é que o Sumo Pontífice não estava sozinho naquela praça, mas cada um de nós estávamos lá, trazendo nossas dores, nossos medos, uma infinita quantidade de indagações que guardávamos em nossas mentes e corações do que estaria por vir ainda. Mais de oito meses se passaram desde o início da pandemia no Brasil e as incertezas ainda continuam e poderão continuar por mais um tempo. Em todo este período, o Papa Francisco tem nos convidado a diversos momentos de oração e reflexão, sem cessar, nesta busca pela resiliência espiritual.
Como numa grande maratona de revezamento, vamos nos cansando em alguns trechos da corrida, precisando recarregar nossas baterias em pontos do caminho. Grandes figuras bíblicas do Antigo Testamento tiveram muita resiliência espiritual e podem nos ensinar a passar por essa maratona por vezes tão caótica que estamos vivenciando. Moisés é um grande exemplo, sofreu pressões de toda ordem, caminhando com aquele povo para a terra prometida, mas buscava sempre a face de Deus para se refazer e dar continuidade em sua missão. Nos Salmos são relatadas as dores emocionais de Davi, seus conflitos internos, suas lutas, mas, quanto mais adorava a Deus, saia fortalecido para concluir os propósitos designados para ele.
No Novo Testamento os relatos de resiliência espiritual não são diferentes. Talvez um dos maiores ícones seja o apóstolo Paulo, com sua experiência de perseguição, fome, cárcere, rejeição e tantos outros revezes que ele enfrentou, mas que expressou em um dos versículos que mais nos dão força e nos conclama a ser resilientes: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13). A nossa força vem de Deus, da sua Igreja que nos dispensa os sacramentos, da nossa fé em Jesus Cristo, nosso único e verdadeiro Salvador. Mesmo Jesus, sendo divino, também se fez humano por amor a nós, precisou ser resiliente em diversos momentos de sua vida terrena. Após ser batizado por João Batista no Jordão, Jesus passou 40 dias no deserto, foi tentado, sentiu fome, lhe foi oferecido Poder, Prazer e Posse pelo inimigo de Deus, os três “p” que continuam assolando-nos até os dias de hoje. Porém, Ele foi resiliente espiritualmente, resistiu bravamente por meio da oração, da renúncia, dos sacrifícios, das mortificações. Ao longo de toda a sua vida pública, Jesus foi rejeitado, criticado, sofreu a paixão e morte na cruz de forma horrenda, mas aceitou o propósito eterno que Ele veio cumprir, a redenção dos nossos pecados.
Contudo, lendo essas frases, você pode estar se questionando, olha, mas eu não sou Jesus, eu não sou esses personagens bíblicos citados, eu sou bem humano! De fato, se olharmos somente para nossa humanidade corremos o risco de sucumbir, como os discípulos de Emaús, logo após a morte de Jesus. Estavam desanimados, pensando que tudo aquilo que haviam vivido com o mestre tinha sido em vão, um fracasso total. Mas em uma experiência pós-pascal Jesus caminha com eles, os discípulos sentem o coração arder, o convidam para ficar com eles, reconhecendo-o somente ao partir o Pão. Assim precisa ser nossa experiência com Cristo, precisamos repetir como os discípulos de Emaús: “Fica conosco Senhor” (Lc 21,29). O grande segredo para nossa resiliência é ficarmos com Jesus na Eucaristia, nas Escrituras, nos sacramentos e na oração!
Este mesmo Jesus que há mais de dois mil anos sofreu a paixão, morte e ressureição com resiliência, é o mesmo que nós podemos esperar como menino que nasce em uma manjedoura e que vem para continuar nos ensinando que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. A Igreja nos convida neste tempo de Advento, a recordar as palavras de Paulo aos Romanos “A esperança não decepciona…” (Rm 5,5). Advento como tempo de preparação e esperança em um 2021 melhor, seres humanos melhores, uma Casa Comum que é nosso planeta, mas bem cuidado! Utopia? Romantismo? Loucura? Não! Precisamos ser resilientes espiritualmente para termos uma fé inabalável neste Jesus menino!
Aproveitemos este tempo do Advento para fazer uma real avaliação do nosso ano, dos nossos relacionamentos pessoais e profissionais, dos nossos trabalhos pastorais tão prejudicados pela pandemia em 2020. É oportuno esse exame de consciência, a busca do arrependimento e a procura, caso sinta a necessidade, do sacramento da confissão. Assim como preparamos nossas casas com uma bonita decoração, pratos apetitosos e presentes embaixo da árvore de Natal, o essencial não pode ser esquecido: Jesus!
O Divino Salvador em sua infinita misericórdia está ansioso pela abertura do seu coração, quer te encontrar na Eucaristia, na Palavra e nos momentos de oração neste Advento. Quer te encontrar também no Natal, na pessoa dos mais necessitados, daqueles que pouco têm em suas mesas para comer, outros tantos que estão carentes de um ombro amigo para serem escutados. Iremos encontrar Jesus neste Advento sendo profetas e denunciando a injustiça, a corrupção, o mau uso do dinheiro público, a vida sexual desregrada, o aborto e todos os males que atentam contra as leis de Deus. Que menino Jesus você está esperando neste Advento? Como Ele vai te encontrar nesse Natal?
Jefferson Bassetto
Seminarista de teologia da Arquidiocese de Londrina