FB_IMG_1463413702801Tem acontecido recentemente em Santa Cruz de la Sierra, Bolivia, organizado pelo Departamento da Comunhão Eclesial e Diálogo do CELAM, o IV Encontro Latinoamericano de Bispos Responsáveis das CEBs e a Equipe de Articulação Continental das CEBs, presente em 18 países latino-americanos, tendo como tema de debate o “Estudo da atual situação das CEBs e seu aporte à nova evangelização”. Estavam presentes sete bispos de diferentes países junto com sacerdotes, religiosos e leigos.

 

A partir de uma visão missionária do trabalho evangelizador, o encontro teve como objetivo: “Discernir a situação e o papel das CEBs em referencia à renovação da comunhão eclesial-missionária das paróquias, para impulsionar a conversão pastoral de uma comunidade paroquial “em saída” em favor de seus setores e ambientes”.

 

O trabalho, baseado no método ver, julgar e agir, partiu dos informes dos bispos responsáveis das CEBs em cada Conferencia Episcopal e do aportado pelos representantes de cada uma das regiões em que a Articulação Continental das CEBs está dividida. A análise da realidade tem conduzido os presentes a constatar que o individualismo, enraizado em nossas sociedades, tem tido como conseqüência a dificuldade de construir comunidade, destacando a grande presencia das mulheres nas CEBs, que assumem diferentes ministérios, assim como que as CEBs envolvem-se na vida social e na defesa do meio ambiente, colocando como desafios a presença na realidade urbana, tema do próximo Intereclesial do Brasil, que vai acontecer em Londrina em janeiro de 2018, a promoção da paz ou o acompanhamento aos migrantes.

 

A partir daí foram apresentadas diferentes reflexões que ajudem a avançar às CEBs em seu caminho evangelizador. Simón Gutiérrez, quem analisou a comunidade eclesial paroquial, como lugar de comunhão e formação de discípulos missionários, partindo do assinalado em diferentes documentos pelos bispos bolivianos, quem nos últimos anos tem afirmado que “as paróquias tem entrado numa dinâmica de mudança que se mostra no nascimento e crescimento das CEBs”, incentivando uma “paróquia que seja comunidade de comunidades”, abertas para “ir ao encontro do outro” através “da missão e o diálogo”, exercendo “a ação profética” para “denunciar toda forma de pobreza e opressão; defender e fomentar os direitos fundamentais e inalienáveis da pessoa humana”. Reconhece que falta a formação de discípulos missionários, o que é um desafio, a partir do afirmado em Aparecida, a impulsionar a conversão pastoral e a renovação missionária.

 

José Marins, numa tentativa em fazer uma fundamentação teológica das CEBs, partiu da idéia de que elas como aparecem em LG1, é o primeiro nível da Igreja sacramento, que mostram uma Igreja aberta, missionária, inspirada no ser e agir da Igreja que os deixaram os Apóstolos, e que partilha, não desde a abundância, e sim desde seus limitados recursos. Uma Igreja samaritana que reflexiona teologicamente partindo da vida do povo, prioriza a Palavra de Deus e tem como horizonte o Reino, cujo sujeito é o Povo de Deus. Uma Igreja martirial, ministerial e não clerical, ao serviço da justiça e do mutuo entendimento com todos, ecológica, que supera o modelo de cristiandade auto-referencial e centralizador e que quer evangelizar partindo de uma constante renovação evangélica das estruturas.
Em opinião do teólogo brasileiro, a preocupação no está em relação ao número das CEBs, nem sequer sobre seu reconhecimento unânime, e sim na fidelidade à sua fidelidade originalidade fundamental. Para as CEBs é inegociável ser uma Igreja em saída, fermento no meio do povo de Deus, um acontecimento significativo mais do que quantitativo, com mínima autonomia que os leve a não depender do capricho das autoridades eclesiásticas de turno, que faça mais propostas do que denuncias, defenda aos mais necessitados, formando o que Dom Helder Câmara chamava “Minorias Abrahâmicas” que desde a qualificação e criatividade acostumam encontrar saídas históricas.

 

O teólogo mexicano José Sánchez apresentou o aporte das CEBs no continente para a renovação eclesial. Partindo da idéia de que o ser e a missão da Igreja muda em função do momento histórico e o local, que é o que o Vaticano II chama “sinais dos tempos”, e que na América Latina motivou o nascimento das Comunidades Eclesiais de Base como nova forma de ser Igreja, às que define como expressão da Igreja na Base e de uma Igreja Ministerial, defendendo a necessidade da existência de alguns ministérios como promotor do análise e discernimento, da Palavra, da conscientização política, da solidariedade, de uma mística do seguimento, da Coordenação e articulação, da celebração da vida ou do diálogo e ação ecumênica. Sánchez analisa se as CEBs têm contribuído à renovação da paróquia, sem esconder que as CEBs e a paróquia atualmente vivem um modelo de Igreja diverso, as umas desde um modelo de comunhão e participação e a outra desde a auto-referencialidade. Por isso afirma que o aporte das CEBs na renovação das paróquias atualmente é escasso, pelo que é preciso uma conversão pastoral de suas estruturas de conservação por outras de transformação e de serviço, nas quais se dei uma participação co-responsável de todos os agentes de pastoral.

 

Benedito Ferraro tem ajudado os participantes do encontro a refletir sobre o papel das CEBs na transformação da realidade. Em sua análise partiu da necessidade de tomar consciência de um agir libertador, característica primordial na historia das Comunidades Eclesiais de Base, nascidas numa situação de violência que causava a morte dos povos latino-americanos e caribenhos, e descobrem que a justiça é condição imprescindível no seguimento de Jesus é a força para a transformação dessa injustiça. Defende a relação entre Fé e Vida, que conduz a lutar pela transformação da realidade. Para isso é preciso a integração nos movimentos populares, sindicais, partidos políticos, conselhos de cidadania, pastorais sociais, economia solidaria, pois ao assumir essas lutas, os pobres, invisibilizados durante séculos, vão se fazendo os novos protagonistas da história.

 

Oscar Urriago tem mostrado o papel das Comunidades Eclesiais na renovação da comunhão eclesial missionária. Partindo da necessidade de mudança na Igreja para se voltar mais universal e ecumênica, democratizando a participação dos leigos, tendo em conta a autonomia pessoal. Propõe dez novos mandamentos como resposta à crise atual e a necessidade de uma conversão para ser uma comunidade de amor que leve a Cristo e promova estruturas mais justas, com uma nova mística missionária que desdobre em alegria e gratidão.

 

Vê preciso a conversão pessoal, pastoral e estrutural que conduza a formar uma comunidade de discípulos, sinal do Reino. Defende que tem que formar a consciência do povo e fazer opção pela vida, promovendo o seguimento de Jesus, que convencia com sua prática e sua palavra, vivendo ao serviço, revelando o rosto carinhoso de Deus, promovendo a consciência missionária e acolhendo os marginalizados.

 

Na mensagem final do Encontro constatasse que as comunidades estão vivas e lutando pela vida digna, reativadas com a chegada do Papa Francisco, sendo Igreja de Jesus na base, Igreja pobre e dos pobres, Igreja servidora, centralizada na Palavra, martirial, missionária desde o seguimento de Jesus, ministerial e alegre. Mas ao mesmo tempo modo de ser Igreja que enfrenta o desafio de ser conhecida e apoiada pela hierarquia e que deve voltar às fontes, recolhidas nas diferentes Conferencias do CELAM.

Pe. Luis Miguel Modino
Diocese de São Gabriel
Missionário em Pari Cachoeira – Amazonas

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‘Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo’ é a mensagem do Papa Francisco para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que em 2016 será celebrado no dia 8 de maio.

Nela Francisco convida a Igreja a rejeitar palavras e gestos “duros ou moralistas”, que correm o risco de afastar ainda mais as pessoas.

“Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu”, explica.

A celebração de 2016 é colocada no contexto do ano santo extraordinário (dezembro de 2015-novembro de 2016), o Jubileu da Misericórdia convocado pelo Papa.

“Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia é injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente”, admite Francisco, que responde a estas críticas com a vida familiar e a atitude dos pais para com os filhos.

“Gostaria de encorajar todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros”, acrescenta.

Francisco refere que é “fundamental escutar” para fazer da comunicação uma verdadeira partilha, distinguindo esta atitude do simples “ouvir”, porque ultrapassa o âmbito da informação e “requer a proximidade”, admitindo que “escutar nunca é fácil”.

“O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus”, sublinha Francisco.

Nesse sentido, deixa um convite a “todas as pessoas de boa vontade” para que redescubram “o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades”.

O texto cita a obra ‘O mercador de Veneza’, de Shakespeare: “A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe”.

O Papa espera que a misericórdia inspire também a “linguagem da política e da diplomacia”, sobretudo junto dos que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para não alimentar “as chamas da desconfiança, do medo, do ódio”.

“Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis”, observa.

A mensagem do Papa é publicada anualmente por ocasião da festa litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, que se celebra a 24 de janeiro.  (Agencia Ecclesia)

Clique aqui para ler a mensagem do Papa Francisco para o 50º dia Mundial das Comunicações Sociais