Novos padres falam das experiências, alegrias e desafios do trabalho pastoral após receberem o sacramento da Ordem

O quanto o padre está presente no dia a dia da comunidade? O quanto isso é gratificante na vida do sacerdote e dos fiéis? Agora, imagina esses sentimentos para quem foi ordenado padre há poucos meses e semanas. Alegria, satisfação, crescimento pessoal e espiritual. Estas são apenas algumas das vivências experimentadas pelos novos sacerdotes da Arquidiocese de Londrina, que receberam o sacramento da ordem em 2022 e já estão atuando nas paróquias.

É o caso do padre Elizeu Bonfim de Souza, ordenado no final de março na sua cidade natal, Corumbataí do Sul (PR), numa cerimônia que contou com a presença de dom Geremias Steinmetz e parte do clero londrinense. “Estar presente na vida das pessoas é muito bom. Em cada momento feliz, de conquista, de celebrar a vida, os sacramentos. É perceptível como a presença do padre torna o momento mais significativo para as pessoas. Assim como os momentos de perdas, luto e doença”, resume o novo presbítero, que desde o início de 2021 trabalha na Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Km 9.

É perceptível como a presença do padre torna o momento mais significativo para as pessoas. Assim como os momentos de perdas, luto e doença

Souza teve o desejo de ser padre ainda criança, fortalecido pelos exemplos da família e da comunidade onde vivia. “O processo foi longo e rico de oportunidades para o amadurecimento. Iniciei o processo na Diocese de Campo Mourão e concluí na Arquidiocese de Londrina, num período de aproximadamente 11 anos. Tive oportunidade de conhecer muita gente e partilhar experiências enriquecedoras na faculdade, pastoral, na vida comunitária, seminário, missões. Ao mesmo tempo nunca deixei de estar próximo da família, que sempre acompanhou cada passo”, valoriza.

Depois que concluiu os estudos filosóficos e teológicos, fez o ano de síntese na própria Paróquia Nossa Senhora Aparecida. “Após a conclusão do tempo de seminário fiz uma rica experiência de inserção numa comunidade Quilombola no Vale de Ribeira, na cidade de Adrianópolis (PR). Apesar de ter sido uma curta experiência de 15 dias, considero que esse tempo facilitou para ter uma melhor convivência com o padre (Dirceu Fumagalli) que convivo até o presente momento. Temos a oportunidade de estar sempre partilhando experiências religiosas e sociais”, destaca.

Primeira missa do padre Elizeu Bondim na Arquidiocese de Londrina foi na Paroquia Sagrados Corações, Decanato Centro (Foto Terumi Sakai)

ADMINISTRADOR PAROQUIAL

O padre Rodrigo Nunes foi ordenado mais recentemente, em maio de 2022. Ele já era religioso da congregação Pequena Missão para Surdos e há três anos entrou para o seminário da Arquidiocese de Londrina, terminando a formação. “Fiz o ano de síntese pastoral na Paróquia São João Batista, em Bela Vista do Paraíso, onde aprendi o cotidiano da vida paroquial, serviços administrativos e pastorais. Tendo recebido o primeiro grau da Ordem em 30 de outubro de 2021, exerci o diaconato em Bela Vista até meados de janeiro deste ano quando fui transferido para a Paróquia da Ressurreição, em Rolândia”, relembra.

Desde então está na Paróquia da Ressurreição como administrador paroquial, função que lhe foi confiada ainda durante o diaconato. “Foi uma vivência muito intensa e também difícil. Administrar uma paróquia como diácono exige um esforço maior que o esperado tendo em vista a inexperiência e uma compreensível desconfiança dos paroquianos por não ser uma situação corriqueira. Além disso, tive que organizar a minha própria ordenação presbiteral enquanto administrava a paróquia, o que tornou tudo muito mais desafiador”, elenca.

Padre Rodrigo preparou a própria ordenação enquanto admnistrava a paróquia, o que tornou tudo muito mais desafiador (Foto Flábia de Paula)

DESAFIOS

Desafio, aliás, é que permeia a caminhada do sacerdote, ainda mais na fase inicial. “O principal desafio certamente é conciliar a administração do tempo entre trabalhos pastorais, administrativos e espirituais e ainda encontrar tempo para os afazeres pessoais”, comenta o padre Rodrigo Nunes.

Foto Flávia de Paula

Mesmo em meio a tanta correria, os dois sacerdotes dizem certos de terem ouvido o chamado de Deus e falado sim. “Fazendo dois meses de padre posso dizer que tenho sido muito feliz. Tem sido cada dia melhor. Mais do que isso é pensar que se não fosse padre, não sei como seria ou se de fato seria feliz como sou hoje. É uma graça inexplicável”, resume o padre Elizeu Bonfim de Souza.

‘Estou fazendo aquilo que eu nasci para fazer’

Padre Renato Aparecido Pelisson recebeu a ordenação presbiteral no dia 23 de abril na Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ibiporã, uma cerimônia, segundo ele, pensada e organizada há muito tempo. Desde então o trabalho não para: atuou na Paróquia São José, em Rolândia, onde já trabalhava como diácono, e, no final de maio, assumiu a função de vigário na Paróquia Santa Terezinha, de Sertanópolis.

Exercer o ministério junto ao povo de Deus é, para ele, uma experiência bonita, motivo de grande alegria. “Você quer ser melhor, porque vê o quanto o povo confia em você. Mesmo sendo tão novo perto de outras pessoas, o respeito, o carinho que as pessoas têm… Tem sido uma felicidade mesmo, aquela sensação: ‘eu encontrei de fato a minha vocação, eu estou fazendo aquilo que eu nasci para fazer’”, revela. Em Sertanópolis, pretende exercer o ministério com o mesmo carinho.

Logo na sua primeira missa na Paróquia São José, de Rolândia, no dia 24 de abril, padre Reanato celebrou um batizado (Foto Pascom Paroquial)

Sobre a diferença entre o trabalho antes e depois de ser ordenado, padre Renato conta que algo interiormente mudou. “Agora a gente conversa com as pessoas, mas a gente leva o sacramento do perdão na vida delas, estar na celebração da Eucaristia é a presença do próprio Cristo Ressuscitado no nosso meio, nós vamos celebrar o batismo, como diácono já fazíamos isso, mas agora de modo muito mais completo porque nós trazemos as pessoas cada vez mais para perto de Cristo. Então, esse mergulho no interior cada vez mais da  vida em Jesus, do Coração de Jesus. Isso muda e muda muito na vida da gente, é interessante”, finaliza.

Trabalho com as famílias e com a juventude

Assim também no ministério do padre Paulo Ricardo Batista. Ele foi ordenado no dia 19 de março, no dia 20 celebrou sua primeira missa e no dia 21 assumiu a função de pároco na Nossa Senhora das Graças de Ibiporã, onde desde dezembro do ano passado, ainda diácono, já trabalhava como administrador paroquial. Mesmo com pouco tempo de trabalho naquela comunidade, padre Paulo já identifica duas frentes de trabalho que merecem atenção: as famílias e a juventude.

Padre Paulo recebe a bênção de sua mãe no dia da ordenação (Foto Guto Honjo)

Digo isso em função do atual e generalizado estado de desestruturação familiar pela qual passa a nossa sociedade, fato esse que se verifica de maneira ainda mais latente em meio as suas camadas mais carentes”, destaca. Sobre o trabalho com a juventude, ele fala do grande número de jovens que residem na região, comprovado pela quantidade de creches, escolas e colégios na localidade. Nesse sentido, padre Paulo vê seu ministério ali como uma contribuição ao trabalho dos padres que o antecederam: padre Antônio Acir Squarcini e padre Josias Romero.

Tão importante quanto a missão de guiar a comunidade é, para ele, a missão de ser um sinal da graça de Deus junto ao povo a ele confiado. “O ministério sacerdotal perpetua no tempo e na história o sacrifício de Cristo. Por isso, sinto-me convidado nesse ministério e nessa missão a cultivar os mesmos sentimentos de Cristo, Jesus.” Sendo assim, ensinar, santificar e governar os fiéis em favor do povo de Deus”, conclui.

Padre Paulo, à esquerda, durante a Visita Pastoral do arcebispo dom Geremias Steinmetz às paróquias de Ibiporã (Foto Tiago Queiroz)

 Presença na comunidade

Padre Alex Aparecido Barboza foi o primeiro diácono transitório ordenado neste ano. Recebeu o presbiterato no dia 26 de fevereiro na Paróquia São Francisco Xavier, em Cambé, comunidade de origem de Alex. Ele presidiu a sua primeira missa no dia 27 de fevereiro, na Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Cambé e a partir dali iniciou seu trabalho como vigário da Paróquia Santa Terezinha de Sertanópolis, onde já atuava como diácono. Função que exerceu até o final de maio, quando foi transferido para a Paróquia São Tiago, em Londrina, como pároco.

Padre Alex iniciou seu ministério presbiteral na Paróquia Santa Terezinha, Sertanópolis (Foto Paroquial)

Padre Alex destaca que trabalhar pela primeira vez numa comunidade torna necessário aprender tudo de novo sob um outro olhar  e uma outra perspectiva. Ele fala da profunda gratidão que sente pela Paróquia Santa Terezinha, onde exerceu suas primeiras funções como sacerdote. “O novo sempre nos tira do comodismo, principalmente o novo de Deus, pois somos surpreendidos com o Seu amor misericordioso. Percebi que a minha presença, mesmo inexperiente, junto deles, é o que faz a comunidade acontecer”, finaliza padre Alex.

Pedro Marconi
(colaboração: Flávia de Paula, Juliana Mastelini Moyses e Henrique Reis)

Foto Destaque: Marilene Maria de Souza

Revista Comunidade edição maio de 2022.
DESTAQUE é a matéria principal mensal da Revista Comunidade, a revista oficial da Arquidiocese de Londrina, que tem como patrocinadores:

ALVARO TINTAS
BELLA CONFORT
GRUPO METAUS
LIVROS E LIVROS
METRONORTE

PLATOMAC EMBREAGENS
SEBO CAPRICHO
RADIADORES SÃO FERNANDO
TINTAS LONDRES COLOR

Prezados amigos e amigas.


Tomei-me o atrevimento de realizar esta síntese “motivacional” sobre a última carta apostólica do Papa Francisco. Produto de uma primeira leitura que fiz. A riqueza do documento é ímpar. Exige mais de uma semana de leitura e hermenêutica. Como professor do quero contribuir para que nos animemos em fazer a leitura do documento todo. A metodologia é a mnemotécnica. Como muitos de vocês bem o sabem sou Pascaliano e as citações do Papa Francisco sobre Romano Guardini me remetem imediatamente a Blaise Pascal. Digo mais uma vez: A síntese é motivacional para que cada uma e cada um se anime a ler na íntegra e assim aprofundar o texto.

Padre Rafael Solano

“Abandonemos as polêmicas para ouvirmos juntos o que o Espírito Santo diz à Igreja, guardemos a comunhão, continuemos a nos encantar com a beleza da Liturgia”, pede o Papa no final do texto, fazendo certamente uma alusão implícita às numerosas e ainda presentes polêmicas, suscitadas com o motu proprio Traditionis Custodes, que restringe a liturgia em seu rito extraordinário”.


CARTA APOSTÓLICA
DESIDERIO DESIDERAVI
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
AOS BISPOS, SACERDOTES E DIÁCONOS, AOS HOMENS E MULHERES CONSAGRADOS E AOS LEIGOS FIÉIS
SOBRE A FORMAÇÃO LITÚRGICA DO POVO DE DEUS

Introdução.
1. Meus queridos irmãos e irmãs,
Com esta carta desejo chegar a todos vocês – depois de ter escrito já apenas aos bispos após a publicação do Motu Proprio Traditionis custodes – e escrevo para compartilhar com vocês algumas reflexões sobre a liturgia, dimensão fundamental para a vida da Igreja . O tema é vasto e merece sempre uma consideração atenta em cada uma das suas vertentes.

A Liturgia: o “hoje” da história da salvação.

2. Desejei ardentemente comer esta páscoa convosco, antes de sofrer”. (Lc 22,15) Estas palavras de Jesus, com as quais se abre o relato da Última Ceia, são a fresta pela qual nos é dada a surpreendente possibilidade de intuir a profundidade do amor das pessoas da Santíssima Trindade por nós.

3. Pedro e João foram enviados para fazer os preparativos para comer aquela Páscoa, mas, na verdade, toda a criação, toda a história – que finalmente estava prestes a se revelar como a história da salvação – foi uma enorme preparação para isso. Neste caso, a desproporção entre a imensidão do dom e a pequenez de quem o recebe é infinita, e não pode deixar de nos surpreender. No entanto, pela misericórdia do Senhor, o dom é confiado aos Apóstolos para que seja levado a cada homem e mulher.

4. Ninguém ganhou um lugar naquela Ceia. Todos foram convidados. Ou melhor dito: todos foram atraídos para lá pelo desejo ardente que Jesus tinha de comer aquela Páscoa com eles.

5. O mundo ainda não sabe, mas todos estão convidados para a ceia das bodas do Cordeiro (Ap 19:9). Para ser admitido na festa, basta o vestido nupcial da fé, que vem da escuta da sua Palavra (cf. Rm 10,17). A Igreja confecciona tal vestimenta para caber em cada um com a brancura de uma vestimenta banhada no sangue do Cordeiro. (Re 7:14).

6. Podemos até não estar cientes disso, mas toda vez que vamos à Missa, a primeira razão é que somos atraídos por seu desejo por nós. De nossa parte, a resposta possível — que é também a ascese mais exigente — é, como sempre, entregar-se a esse amor, deixar-se atrair por ele.

7. Apenas algumas horas depois da Ceia, os apóstolos poderiam ter visto na cruz de Jesus, se pudessem suportar o peso dela, o que significava para Jesus dizer “corpo oferecido”, “sangue derramado”.

8. Não teríamos outra possibilidade de um verdadeiro encontro com ele a não ser o da comunidade que celebra. Por isso a Igreja sempre guardou como seu tesouro mais precioso o mandamento do Senhor: “Fazei isto em memória de mim”.

9. Desde o início a Igreja estava ciente de que não se tratava de uma representação, por mais sagrada que seja, da Ceia do Senhor. Não teria sentido, e ninguém poderia pensar em “encenar” – especialmente diante dos olhos de Maria, a Mãe do Senhor – aquele momento mais alto da vida do Mestre.

A Liturgia: lugar de encontro com Cristo.
10. Aqui reside toda a poderosa beleza da liturgia. Se a ressurreição fosse para nós um conceito, uma ideia, um pensamento; se o Ressuscitado fosse para nós o recolhimento do recolhimento de outros, ainda que autoritários, como, por exemplo, dos Apóstolos; se não nos fosse dada também a possibilidade de um verdadeiro encontro com Ele, isso seria declarar que a novidade do Verbo feito carne se esgotou.
11. A Liturgia nos garante a possibilidade de tal encontro. Para nós, uma vaga lembrança da Última Ceia não adiantaria. Precisamos estar presentes nessa Ceia, para poder ouvir a sua voz, comer o seu Corpo e beber o seu Sangue. Nós precisamos Dele. Não é mágica.
12. A magia é o contrário da lógica dos sacramentos, porque a magia pretende ter um poder sobre Deus, e por isso vem do Tentador. Em perfeita continuidade com a Encarnação, nos é dada, em virtude da presença e ação do Espírito, a possibilidade de morrer e ressuscitar em Cristo.
13. Como é emocionante, como isso acontece. A oração pela bênção da água batismal [3] revela-nos que Deus criou a água precisamente com o Batismo em mente. Isso quer dizer que quando Deus criou a água, ele estava pensando no Batismo de cada um de nós, e este mesmo pensamento o acompanhou em toda a sua atuação na história da salvação, todas as vezes que, com intenção precisa, usou a água para sua obra salvífica. A Igreja: Sacramento do Corpo de Cristo
14. Como nos recordou o Concílio Vaticano II (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 5), citando as Escrituras, os Padres e a Liturgia — os pilares da autêntica Tradição — foi do lado de Cristo que dormia o sono da morte sobre a cruz que saiu “o maravilhoso sacramento de toda a Igreja”. [4] O paralelo entre o primeiro Adão e o novo Adão é notável: assim como do lado do primeiro Adão, depois de tê-lo lançado em sono profundo.
15. De fato, há apenas um ato de adoração, perfeito e agradável ao Pai; ou seja, a obediência do Filho, cuja medida é sua morte na cruz. A única possibilidade de poder participar de sua oferta é tornar-se “filhos no Filho”. Este é o presente que recebemos. O sujeito que atua na Liturgia é sempre e somente Cristo-Igreja, o Corpo místico de Cristo.

O sentido teológico da liturgia.
16. Devemos ao Concílio — e ao movimento litúrgico que o precedeu — a redescoberta de uma compreensão teológica da Liturgia e de sua importância na vida da Igreja. Como os princípios gerais enunciados na Sacrosanctum Concilium foram fundamentais para a reforma da liturgia, continuam a ser fundamentais para a promoção dessa celebração plena, consciente, ativa e fecunda (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 11; 14). , na liturgia “a fonte primária e indispensável da qual os fiéis devem derivar o verdadeiro espírito cristão” (Sacrosanctum Concilium, 14).

A Liturgia: antídoto para o veneno do mundanismo espiritual.
17. Em diversas ocasiões alertei contra uma perigosa tentação para a vida da Igreja, que chamei de “mundanismo espiritual”. apontando o gnosticismo e o neopelagianismo como duas versões conectadas entre si que alimentam essa mundanidade espiritual. A primeira reduz a fé cristã a um subjetivismo que “em última análise, mantém a pessoa aprisionada em seus próprios pensamentos e sentimentos”. (EG 94) A segunda anula o papel da graça e “conduz a um elitismo narcísico e autoritário, pelo qual, em vez de evangelizar, analisa e classifica os outros, e em vez de abrir a porta à graça, esgota as suas energias em inspecionando e verificando”. (EG 94) Essas formas distorcidas de cristianismo podem ter consequências desastrosas para a vida da igreja.
18. Obviamente, estou falando da Liturgia em seu sentido teológico e certamente não, como Pio XII já afirmou, Liturgia como cerimônias decorativas ou uma mera soma total de leis e preceitos que regem o culto.
19. Se o gnosticismo nos intoxica com o veneno do subjetivismo, a celebração litúrgica nos liberta da prisão de uma autorreferência alimentada pelo próprio raciocínio e pelo próprio sentimento. A ação da celebração não pertence ao indivíduo, mas à Igreja-Cristo, à totalidade dos fiéis unidos em Cristo. A liturgia não diz “eu”, mas “nós”, e qualquer limitação na amplitude desse “nós” é sempre demoníaca.
20. O início de cada celebração me lembra quem eu sou, pedindo-me para confessar meu pecado e convidando-me a implorar a Maria sempre virgem, os anjos e santos e todos os meus irmãos e irmãs que rezem por mim ao Senhor nosso Deus. Certamente, não somos dignos de entrar em sua casa; precisamos de uma palavra dele para sermos salvos. (cf. Mm 8,8) Não temos outra glória senão a cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. (cf. Gl 6,14) A liturgia nada tem a ver com um moralismo ascético. É o dom do Mistério Pascal do Senhor que, recebido com docilidade, renova a nossa vida. Não se entra no cenáculo senão pelo poder de atração de seu desejo de comer a Páscoa conosco: Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum, antequam patiar (Lc 22,15).

Redescobrindo diariamente a beleza da verdade da celebração cristã.
21. Mas devemos estar atentos: para que o antídoto da liturgia seja eficaz, somos obrigados a redescobrir todos os dias a beleza da verdade da celebração cristã. Refiro-me mais uma vez ao sentido teológico, como n. 7 da Sacrosanctum Concilium descreve-o tão belamente: a Liturgia é o sacerdócio de Cristo, revelado a nós e dado no seu mistério pascal, tornado presente e ativo por meio de sinais dirigidos aos sentidos (água, óleo, pão, vinho, gestos, palavras), para que o Espírito, mergulhando-nos no mistério pascal, transforme todas as dimensões da nossa vida, conformando-nos cada vez mais a Cristo.
22. Obviamente, o que estou dizendo aqui não quer de modo algum aprovar a atitude oposta, que confunde simplicidade com banalidade descuidada, ou o essencial com superficialidade ignorante, ou a concretude da ação ritual com um funcionalismo prático exasperante.
23. Sejamos claros aqui: todos os aspectos da celebração devem ser cuidadosamente cuidados (espaço, tempo, gestos, palavras, objetos, vestimentas, canto, música…) e todas as rubricas devem ser observadas. Tal atenção bastaria para evitar que se roube da assembléia o que lhe é devido; ou seja, o mistério pascal celebrado de acordo com o ritual que a Igreja estabelece.

Assombro diante do mistério pascal: parte essencial do ato litúrgico.
24. Se nos faltasse o espanto pelo fato de o mistério pascal se tornar presente na concretude dos sinais sacramentais, arriscaríamos verdadeiramente ser impermeáveis ao oceano de graça que inunda cada celebração. Esforços para favorecer uma maior qualidade à celebração, ainda que louváveis, não são suficientes; nem é o apelo a uma interioridade maior.
25. Ainda é verdade que a plenitude da revelação tem, em relação à nossa finitude humana, uma abundância que nos transcende e encontrará sua plenitude no fim dos tempos, quando o Senhor voltar. Mas se o espanto for do tipo certo, não há risco de que a alteridade da presença de Deus não seja percebida, mesmo dentro da proximidade que a Encarnação pretende. Se a reforma eliminou aquele vago “senso de mistério”, então, mais do que motivo para acusações, é mérito seu. A beleza, como a verdade, sempre engendra maravilhas, e quando estas se referem ao mistério de Deus, levam à adoração.
26. A maravilha é parte essencial do ato litúrgico porque é a maneira como aqueles que sabem que estão engajados na particularidade dos gestos simbólicos olham as coisas. É a maravilha de quem experimenta o poder do símbolo, que não consiste em referir-se a algum conceito abstrato, mas em conter e expressar em sua própria concretude o que ele significa.

A necessidade de uma formação litúrgica séria e vital.
27. Portanto, a questão fundamental é esta: como recuperar a capacidade de viver plenamente a ação litúrgica? Esse foi o objetivo da reforma do Conselho. O desafio é extremamente exigente porque as pessoas modernas – não em todas as culturas no mesmo grau – perderam a capacidade de se envolver com a ação simbólica, que é um traço essencial do ato litúrgico.
28. Com a pós-modernidade as pessoas sentem-se ainda mais perdidas, sem referências de qualquer espécie, carentes de valores porque se tornaram indiferentes, completamente órfãs, vivendo uma fragmentação em que um horizonte de sentido parece impossível. E por isso pesa ainda mais a pesada herança que a época anterior nos deixou, consistindo no individualismo e no subjetivismo (que evoca mais uma vez os problemas pelagianos e gnósticos).
29. É com esta realidade do mundo moderno que a Igreja, unida em Concílio, quis entrar em contacto, reafirmando a sua consciência de ser o sacramento de Cristo, a Luz das nações (Lumen gentium), colocando-se em escutando a Palavra de Deus (Dei Verbum) e reconhecendo como suas as alegrias e as esperanças (Gaudium et spes) dos homens do nosso tempo.
30. Nosso espírito, portanto, exulta de verdadeira alegria, pois no caminho que as coisas têm caminhado notamos o respeito a uma justa escala de valores e deveres. Deus deve ocupar o primeiro lugar; a oração a ele é nosso primeiro dever. A liturgia é a primeira fonte de comunhão divina na qual Deus compartilha sua própria vida conosco. (Referência direta a São Paulo VI no encerramento a quarta sessão do concílio Vaticano II).
31. Se a liturgia é “o ápice para o qual se dirige a atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde brota todo o seu poder” (Sacrosanctum Concilium, 10), então podemos compreender o que está em jogo. aposta na questão litúrgica. Seria trivial ler as tensões, infelizmente presentes em torno da celebração, como uma simples divergência entre diferentes gostos em relação a uma determinada forma ritual. A problemática é principalmente eclesiológica. Não vejo como é possível dizer que se reconheça a validade do Concílio – embora me surpreenda que um católico ouse não fazê-lo – e ao mesmo tempo não aceitar a reforma litúrgica nascida da Sacrosanctum Concilium, uma documento que expressa a realidade da Liturgia intimamente ligada à visão de Igreja tão admiravelmente descrita na Lumen gentium.
32. Voltemos ao cenáculo em Jerusalém. Na manhã de Pentecostes nasce a Igreja, célula inicial da nova humanidade. Somente a comunidade de homens e mulheres – reconciliados porque perdoados, vivos porque Ele está vivo, verdadeiros porque habitados pelo Espírito da verdade.
33. Sabemos que só graças à graça deste encontro o ser humano se torna plenamente humano. Só a Igreja de Pentecostes pode conceber o ser humano como pessoa, aberta a uma relação plena com Deus, com a criação e com os irmãos.
34. Nisto se coloca a questão decisiva da formação litúrgica. Romano Guardini diz: “Aqui também é indicada a primeira tarefa prática: levados por essa transformação interior de nosso tempo, devemos aprender de novo a nos relacionar religiosamente como seres plenamente humanos”. [8] É isso que a Liturgia torna possível. Para isso devemos ser formados. Guardini não hesita em declarar que sem formação litúrgica “então as reformas rituais e textuais não ajudarão muito”. [9] Não pretendo tratar aqui de forma exaustiva o riquíssimo tema da formação litúrgica.
35. Era e é necessário encontrar os canais para uma formação que é o estudo da Liturgia. Desde o início do movimento litúrgico muito se fez neste sentido, com preciosas contribuições de estudiosos e instituições acadêmicas. No entanto, é importante agora difundir este conhecimento para além do ambiente acadêmico, de forma acessível, para que cada fiel cresça no conhecimento do sentido teológico da Liturgia. Esta é a questão decisiva e fundamenta todo tipo de entendimento e toda prática litúrgica.
36. Os ministros ordenados realizam uma ação pastoral de primeira importância quando pegam pela mão os fiéis batizados para conduzi-los à repetida experiência do mistério pascal. Recordemos sempre que é a Igreja, o Corpo de Cristo, que é o sujeito celebrante e não apenas o sacerdote. O tipo de conhecimento que vem do estudo é apenas o primeiro passo para poder entrar no mistério celebrado. Obviamente, para poder conduzir os irmãos e irmãs, os ministros que presidem à assembleia devem conhecer o caminho, conhecê-lo por tê-lo estudado no mapa de seus estudos teológicos, mas também por ter frequentado a liturgia na prática real de uma experiência de fé viva, alimentada pela oração — e certamente não apenas como uma obrigação a ser cumprida.
37. Um plano litúrgico-sapiencial de estudos na formação teológica dos seminários certamente teria efeitos positivos na ação pastoral. Não há aspecto da vida eclesial que não encontre seu ápice e sua fonte na Liturgia. Mais do que o resultado de programas elaborados, uma pastoral abrangente, orgânica e integrada é consequência de colocar a Eucaristia dominical, fundamento da comunhão, no centro da vida da comunidade. A compreensão teológica da Liturgia não permite de modo algum que essas palavras sejam entendidas como reduzir tudo ao aspecto do culto. Não é autêntica uma celebração que não evangeliza, assim como não é autêntica uma proclamação que não conduz ao encontro com o Ressuscitado na celebração.
38. Tanto para os ministros como para todos os baptizados, a formação litúrgica neste primeiro sentido não é algo que se possa adquirir de uma vez por todas. Uma vez que o dom do mistério celebrado ultrapassa a nossa capacidade de o conhecer, este esforço deve certamente acompanhar a formação permanente de todos, com a humildade dos pequeninos, a atitude que se abre ao espanto.
39. Somente a ação do Espírito pode completar nosso conhecimento do mistério de Deus, pois o mistério de Deus não é uma questão de algo apreendido mentalmente, mas uma relação que toca toda a vida. Tal experiência é fundamental para que, uma vez que os seminaristas se tornem ministros ordenados, possam acompanhar as comunidades no mesmo caminho de conhecimento do mistério de Deus, que é o mistério do amor.
40. Esta última consideração nos leva a refletir sobre o segundo sentido que podemos entender na expressão “formação litúrgica”. Refiro-me à nossa formação, cada um segundo a sua vocação, a partir da participação na celebração litúrgica. Mesmo o conhecimento que advém dos estudos, dos quais acabei de falar, para não se tornar uma espécie de racionalismo, deve servir para realizar a ação formativa da própria Liturgia em cada crente em Cristo.
41. A plena extensão da nossa formação é a nossa conformação a Cristo. Repito: não tem a ver com um processo mental abstrato, mas com tornar-se Ele. Este é o propósito para o qual é dado o Espírito, cuja ação é sempre e somente confeccionar o Corpo de Cristo. É assim com o pão eucarístico, e com cada um dos batizados chamados a tornar-se cada vez mais aquilo que foi recebido como dom no Batismo; ou seja, ser um membro do Corpo de Cristo. Leão Magno escreve: “Nossa participação no Corpo e Sangue de Cristo não tem outro fim senão tornar-nos aquilo que comemos”.
42. A Liturgia é feita com coisas que são exatamente o oposto das abstrações espirituais: pão, vinho, óleo, água, fragrâncias, fogo, cinzas, pedra, tecidos, cores, corpo, palavras, sons, silêncios, gestos, espaço, movimento, ação , ordem, tempo, luz. Toda a criação é uma manifestação do amor de Deus, e desde quando esse mesmo amor se manifestou em sua plenitude na cruz de Jesus, toda a criação foi atraída para ela. É toda a criação que é assumida para ser colocada a serviço do encontro com o Verbo: encarnado, crucificado, morto, ressuscitado, ascendido ao Pai.
43. A liturgia dá glória a Deus não porque podemos acrescentar algo à beleza da luz inacessível em que Deus habita (cf. 1Tm 6,16). Tampouco podemos acrescentar à perfeição do canto angélico que ressoa eternamente pelos lugares celestiais. A liturgia dá glória a Deus porque nos permite – aqui, na terra – ver Deus na celebração dos mistérios, e ao vê-lo tirar vida da sua Páscoa.
44. Guardini escreve: “Aqui se delineia a primeira tarefa do trabalho de formação litúrgica: o homem deve tornar-se novamente capaz de símbolos”. [13] Esta é uma responsabilidade de todos, tanto dos ministros ordenados como dos fiéis. A tarefa não é fácil porque o homem moderno se tornou analfabeto, não consegue mais ler símbolos; é quase como se nem sequer se suspeitasse de sua existência. Isso acontece também com o símbolo do nosso corpo.
45. Sabemos bem que a celebração dos sacramentos, pela graça de Deus, é eficaz em si mesma (ex opere operato), mas isso não garante o pleno engajamento das pessoas sem uma forma adequada de se colocarem em relação à linguagem da a celebração. Uma “leitura” simbólica não é um conhecimento mental, nem a aquisição de conceitos, mas sim uma experiência viva.
46. Se as coisas criadas são uma parte tão fundamental e essencial da ação sacramental que traz nossa salvação, então devemos nos organizar em sua presença com um olhar renovado, não superficial, respeitoso e agradecido. Desde o início, as coisas criadas contêm a semente da graça santificante dos sacramentos.
47. Ainda pensando em como a Liturgia nos forma, outra questão decisiva é a educação necessária para poder adquirir a atitude interior que nos permitirá usar e compreender os símbolos litúrgicos. Deixe-me expressá-lo de uma forma simples.
48. Tenho em mente os pais, ou mais talvez os avós, mas também os nossos pastores e catequistas. Muitos de nós aprendemos com eles o poder dos gestos da liturgia, como, por exemplo, o sinal da cruz, o ajoelhar-se, as fórmulas da nossa fé. Talvez não tenhamos uma memória real de tal aprendizado, mas podemos facilmente imaginar o gesto de uma mão maior pegando a mãozinha de uma criança e acompanhando-a lentamente no traçado pelo corpo pela primeira vez o sinal de nossa salvação. As palavras acompanham o movimento, estas também ditas lentamente, quase como se quisessem tomar posse de cada instante do gesto, tomar posse de todo o corpo: “Em nome do Pai… e do Filho… e do Espírito Santo …. Um homem.” E então a mão da criança é deixada sozinha, e é observada repetindo tudo sozinha, com ajuda pronta por perto, se necessário. Mas esse gesto fica agora consignado, como um hábito que crescerá com Ele, dando-lhe um sentido que só o Espírito sabe fazer. A partir desse momento esse gesto, a sua força simbólica, é nosso, pertence-nos; ou melhor, pertencemos a ela.

Ars celebrandi.
49. Então, é preciso saber como o Espírito Santo age em cada celebração. A arte de celebrar deve estar em harmonia com a ação do Espírito. Só assim estará livre dos subjetivismos que são fruto dos gostos individuais dominantes. Só assim estará livre da invasão de elementos culturais que são assumidos sem discernimento e que nada têm a ver com uma correta compreensão da inculturação.Finalmente, é preciso compreender a dinâmica da linguagem simbólica, sua natureza particular, sua eficácia.
50. O verdadeiro artista não possui uma arte, mas é possuído por ela. Não se aprende a arte de celebrar frequentando um curso de oratória ou de técnicas de comunicação persuasivas. (Não estou julgando intenções, apenas observando efeitos.) Toda ferramenta pode ser útil, mas deve estar a serviço da natureza da Liturgia e da ação do Espírito Santo. É necessária uma dedicação diligente à celebração, permitindo que a própria celebração nos transmita a sua arte. Guardini escreve: “Devemos entender quão profundamente permanecemos entrincheirados no individualismo e no subjetivismo, quão desacostumados nos tornamos às demandas dos ‘grandes’ e quão pequenos são os parâmetros de nossa vida religiosa.
51. Penso em todos os gestos e palavras que pertencem à assembléia: reunir-se, andar cuidadoso em procissão, estar sentado, de pé, ajoelhar-se, cantar, ficar em silêncio, aclamações, olhar, ouvir. Há muitas maneiras pelas quais a assembléia, como um corpo, (Ne 8:1) participa da celebração. Todos juntos fazendo o mesmo gesto, todos falando juntos em uma só voz — isso transmite a cada indivíduo a energia de toda a assembléia. É uma uniformidade que não apenas não amortece, mas, ao contrário, educa os crentes individuais para descobrir a singularidade autêntica de suas personalidades não em atitudes individualistas, mas na consciência de ser um só corpo. Não se trata de seguir um livro de etiqueta litúrgica. Trata-se, antes, de uma “disciplina” — no sentido a que Guardini se referiu — que, se observada autenticamente, nos forma. São gestos e palavras que colocam ordem no nosso mundo interior fazendo-nos viver certos sentimentos, atitudes, comportamentos.
52. Entre os atos rituais que pertencem a toda assembléia, o silêncio ocupa um lugar de absoluta importância. Muitas vezes é expressamente prescrito nas rubricas. Toda a celebração eucarística está imersa no silêncio que precede o seu início e que marca cada momento do seu desenrolar ritual. De fato, está presente no ato penitencial, depois do convite “Rezemos”, na Liturgia da Palavra (antes das leituras, entre as leituras e depois da homilia), na oração eucarística, depois da comunhão. [16] Tal silêncio não é um refúgio interior para se esconder em algum tipo de isolamento íntimo, como se deixasse para trás a forma ritual como uma distração. Esse tipo de silêncio contrariaria a própria essência da celebração. O silêncio litúrgico é algo muito mais grandioso: é símbolo da presença e da ação do Espírito Santo que anima toda a ação da celebração.
53. É sempre o mesmo gesto que, em essência, declara nosso próprio ser pequeno na presença de Deus. No entanto, feito em diferentes momentos de nossa vida, molda nossas profundezas internas e depois se mostra externamente em nossa relação com Deus e com nossos irmãos e irmãs. Também ajoelhar-se deve ser feito com arte, ou seja, com plena consciência do seu sentido simbólico e da necessidade que temos deste gesto para expressar o nosso modo de estar na presença do Senhor.
54. Se é verdade que a ars celebrandi é exigida de toda assembléia que celebra, também é verdade que os ministros ordenados devem ter uma solicitude muito particular por ela. Ao visitar as comunidades cristãs, notei que a sua forma de viver a celebração litúrgica está condicionada – para melhor ou, infelizmente, para pior – pela forma como o seu pároco preside à assembleia. Poderíamos dizer que existem diferentes “modelos” de presidência.
55. Haveria muito mais a dizer sobre a importância de presidir e os cuidados que requer. Em diversas ocasiões me detive no exigente dever de pregar a homilia. [17] Limito-me aqui a várias outras considerações amplas, querendo sempre reflectir convosco sobre como somos formados pela Liturgia. Penso no ritmo regular da Missa dominical em nossas comunidades e, portanto, dirijo-me aos sacerdotes, mas implicitamente a todos os ministros ordenados.
56. O sacerdote vive sua participação característica na celebração em virtude do dom recebido no sacramento da Ordem, e isso se expressa precisamente na presidência. Como todas as funções que ele é chamado a desempenhar, este não é principalmente um dever que lhe é atribuído pela comunidade, mas sim uma consequência do derramamento do Espírito Santo recebido na ordenação que o capacita para tal tarefa. O sacerdote também é formado por ele presidir à assembléia celebrante.
57. O próprio sacerdote deve ser dominado por este desejo de comunhão que o Senhor tem para com cada pessoa. É como se estivesse colocado no meio entre o coração ardente de amor de Jesus e o coração de cada um dos fiéis, que é o objeto do amor do Senhor. Presidir à Eucaristia é mergulhar na fornalha do amor de Deus. Quando nos for dado compreender esta realidade, ou mesmo apenas intuir algo dela, certamente já não precisaríamos de um Diretório que imponha o devido comportamento. Se temos necessidade disso, então é por causa da dureza de nossos corações.
58. Quando a primeira comunidade partiu o pão, obedecendo ao mandamento do Senhor, fê-lo sob o olhar de Maria que acompanhou os primeiros passos da Igreja: «todos estes continuaram unânimes em oração com as mulheres e Maria, mãe de Jesus .” (At 1,14) A Virgem Mãe “guarda” os gestos de seu Filho confiados aos Apóstolos. Assim como ela protegeu o Verbo feito carne em seu seio depois de receber as palavras do anjo Gabriel, ela protege mais uma vez no seio da Igreja aqueles gestos que formam o corpo de seu Filho.
59. Tornados instrumentos para acender o fogo do amor do Senhor na terra, protegidos no seio de Maria, Virgem feita Igreja (como cantou São Francisco sobre ela) os sacerdotes devem permitir que o Espírito Santo aja sobre eles, para completar o trabalho que ele começou neles em sua ordenação. A ação do Espírito oferece-lhes a possibilidade de exercer o seu ministério de presidir à assembleia eucarística com o temor de Pedro, consciente de ser pecador (Lc 5,1-11), com a poderosa humildade do servo sofredor (cf. 42ss), com o desejo de “ser comido” pelas pessoas que lhes são confiadas no exercício quotidiano do ministério.
60. Não é, repito, uma adesão mental, mesmo que toda a nossa mente, bem como toda a nossa sensibilidade, devam estar engajadas nela. Assim, o sacerdote se forma presidindo as palavras e os gestos que a Liturgia coloca em seus lábios e em suas mãos. Ele não está sentado em um trono [18] porque o Senhor reina com a humildade de quem serve.
61. Nesta carta quis simplesmente partilhar algumas reflexões que certamente não esgotam o imenso tesouro da celebração dos santos mistérios. Peço a todos os bispos, sacerdotes e diáconos, aos formadores dos seminários, aos instrutores das faculdades teológicas e escolas de teologia, e a todos os catequistas que ajudem o santo povo de Deus a tirar daquilo que é a primeira fonte da espiritualidade cristã. Somos chamados continuamente a redescobrir a riqueza dos princípios gerais expostos nos primeiros números da Sacrosanctum Concilium, captando o vínculo íntimo entre esta primeira das constituições conciliares e todas as outras. Por isso não podemos voltar àquela forma ritual que os padres conciliares, cum Petro et sub Petro, sentiram a necessidade de reformar, aprovando, sob a orientação do Espírito Santo e seguindo sua consciência de pastores, os princípios dos quais nasceram a reforma.
62. Gostaria que esta carta nos ajudasse a reavivar nossa admiração pela beleza da verdade da celebração cristã, a nos lembrar da necessidade de uma autêntica formação litúrgica e a reconhecer a importância de uma arte de celebrar que está em o serviço da verdade do mistério pascal e da participação de todos os batizados nele, cada um segundo a sua vocação.
63. Para isso, desejo deixar-lhes mais uma indicação para seguir em nosso caminho. Convido-vos a redescobrir o sentido do ano litúrgico e do Dia do Senhor. Ambos também nos foram deixados pelo Conselho. (Cf. Sacrosanctum Concilium, nn. 102-111).
64. À luz de tudo o que dissemos acima, vemos que o ano litúrgico é para nós a possibilidade de crescer no conhecimento do mistério de Cristo, mergulhando a nossa vida no mistério da sua morte e ressurreição, aguardando o seu regresso na glória. Esta é uma verdadeira formação permanente. Nossa vida não é uma série caótica de eventos aleatórios, um após o outro.
65. À medida que avança o tempo renovado pelo mistério da sua morte e ressurreição, a cada oitavo dia a Igreja celebra no dia do Senhor o acontecimento da nossa salvação. O domingo, antes de ser um preceito, é um dom que Deus faz ao seu povo; e por isso a Igreja o protege com um preceito. A celebração dominical oferece à comunidade cristã a possibilidade de ser formada pela Eucaristia. De domingo a domingo, a palavra do Ressuscitado ilumina a nossa existência, querendo realizar em nós o fim para o qual foi enviada. (Cf. Is 55,10-11) De domingo a domingo a comunhão no Corpo e Sangue de Cristo quer fazer também da nossa vida um sacrifício agradável ao Pai, na comunhão fraterna da partilha, da hospitalidade, do serviço.

Padre Rafael Solano (Foto: Guto Honjo)

Na noite da última sexta feira, 01 de julho, foi realizado na Catedral Metropolitana de Londrina mais uma edição do Terço Jovem. Jovens de alguns grupos da arquidiocese estiveram participando desse momento de devoção a Virgem Maria e adoração ao Santíssimo Sacramento. Uma grande oportunidade de fortalecer a vida de oração que alimenta a perseverança dos adolescentes e jovens na caminhada pastoral.

As atividades já trazem nas intenções a realização da 4ª Jornada Missionária da Juventude que será realizada em 23 de outubro na Catedral de Londrina.

SetorJuvenil

Confira algumas imagens do Terço Jovem:

Neste domingo, 3 de julho, o Conselho Missionário Arquidiocesano de Londrina (COMIDI), teve a alegria de acolher a missionária Helena Wegrzyn, da Diocese de Jacarezinho, que retornou da Missão São Paulo VI, do Regional Sul 2 da CNBB na Guiné Bissau. Helena chegou ao aeroporto de Londrina e foi recebida por familiares, membros do COMIDI de Jacarezinho e pelo padre Marco Antônio Rosim, coordenador da Ação Evangelizadora daquela diocese. “Celebramos a chegada da missionária em ação de graça, nos animando para continuar trabalhando na retomada da ação missionária a favor desta missão”, destacou irmã Maria Fernanda Godoy, MC, coordenador do COMIDI de Londrina.

O Regional Sul 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) mantém, desde 2014, a Missão São Paulo VI, na Guiné-Bissau, um dos países africanos mais pobres do mundo.  Desde o seu início já foram enviados vários missionários e missionárias para colaborar nas tarefas de evangelização, vivendo no meio do povo, partilhando as alegrias e dores da comunidade.

A missão atua em três áreas: evangelização, saúde e educação. Para que se mantenha é preciso que toda a Igreja do Paraná abrace a missão. É possível colaborar de três formas: indo em missão, rezando pela missão e contribuindo materialmente com a missão. “Nem todos podem ir, mas todos podem rezar e contribuir! Os missionários precisam continuar com a ação evangelizadora em favor das crianças e famílias. A missão continua e podemos fazer parte sempre”, finaliza irmã Fernanda.

Pascom Arquidiocesana

Fotos: Guto Honjo

Nesta solenidade de São Pedro e São Paulo (dias 2 e 3 de julho), cerca de 130 catequizandos da Paróquia São José Operário, Decanato Oeste, receberam durante a Santa Missa a oração do Pai-Nosso. Os catequizandos foram divididos em três grupos e cada grupo em um horário de celebração. Reunidos pela Palavra e pela Eucaristia, a comunidade paroquial participa de mais um momento significativo da caminhada de fé dos catequizandos do Primeiro Tempo de Catequese, ou seja, mais um passo na decisão de seguir Jesus.

O Pai-Nosso é a oração ensinada pelo próprio Jesus. Desde os inícios de nossa Igreja, os que fazem a Catequese de Iniciação a Vida Cristã recebem, de forma solene, essa oração, selando com este rito, o compromisso de viver, no dia a dia, o que foi ensinado e vivido por Jesus. Durante a homilia o padre Dirceu Reis, pároco, destacou a importância da participação na Celebração Eucarística que nos conduz ao mistério pascal, alimenta a nossa caminhada cristã e ilumina a experiência realizada em cada encontro catequético. “A participação na Santa Missa dominical é também um testemunho de pertença e fidelidade a Cristo e à sua Igreja. Ao participarmos da missa atestamos a nossa comunhão na fé e na caridade; damos testemunho da santidade de Deus e da nossa esperança na salvação; e reconfortamo-nos mutuamente, sob a ação do Espírito Santo”, disse o padre.

Durante o rito eucarístico, após a doxologia, os catequizandos receberam das mãos do padre a oração e juntamente com toda a comunidade irão dizer as palavras que o próprio Jesus ensinou aos seus apóstolos, e eles para todos os seguidores de Jesus. “Esta oração foi recebida por nós, esta comunidade que agora, com muita alegria, passa para vocês rezarem todos os dias, como alimento e fonte de amizade com o nosso bom Deus”, disse o padre aos catequizandos. A comunidade paroquial expressa sua ação de graças pelo bonito testemunho dos catequistas na caminhada da Iniciação a Vida Cristã formando novos discípulos de Jesus, nosso Senhor.  Confira algumas imagens do rito nessas celebrações. 

Pascom Paroquial

NOTA DE PESAR

“Eu sou a ressurreição e a vida.
Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá.” João 11,25

A Arquidiocese de Londrina se solidariza com a Arquidiocese de São Paulo pelo falecimento do cardeal Cláudio Hummes, neste dia 4 de julho de 2022.

Dom Cláudio participou dos conclaves que elegeram o Papa Bento XVI e o Papa Francisco. Foi um dos cardeais ao lado de Francisco quando este foi apresentado aos fiéis na Praça de São Pedro. Dedicava especial atenção aos mais pobres, tendo exercido, entre outras funções, a de presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e 1º presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).

Unidos em oração, neste momento, suplicamos a Deus que lhe conceda a paz e a luz do Cristo Ressuscitado. Na firme esperança da ressurreição, expressamos a nossa gratidão e o nosso respeito pelos anos de dedicação à Igreja.

Em Cristo Jesus,

Londrina, 4 de julho de 2022

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina


A Arquidiocese de Londrina se une em oração à Arquidiocese de São Paulo, que, neste dia 4 de julho, perdeu seu arcebispo emérito dom Cláudio Hummes. Damos graças por seu ministério e suplicamos a Deus que lhe conceda a paz e a luz do Cristo Ressuscitado.

Confira abaixo a nota emitida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer:

NOTA DE PESAR E ESPERANÇA:

falecimento do Cardeal Claudio Hummes
Arcebispo emérito de São Paulo
e Prefeito emérito da Congregação para o Clero

A Arquidiocese de Londrina se une em oração à Arquidiocese de São Paulo, que, neste dia 4 de julho, perdeu seu arcebispo emérito dom Cláudio Hummes. Damos graças por seu ministério e suplicamos a Deus que lhe conceda a paz e a luz do Cristo Ressuscitado.Confira abaixo a nota emitida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer:NOTA DE PESAR E ESPERANÇA:falecimento do Cardeal Claudio HummesArcebispo emérito de São Pauloe Prefeito emérito da Congregação para o CleroComunico, com grande pesar, o falecimento do Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo emérito de São Paulo e Prefeito emérito da Congregação para o Clero, no dia de hoje, com a idade de 88 anos incompletos, após prolongada enfermidade, que suportou com paciência e fé em Deus. O médico Dr. Rodrigo Paulino constatou a morte do Cardeal, ocorrida um pouco após às 9h da manhã de 04/07/2022.

Nascido em Salvador do Sul (RS), em 08.08.1934, entrou na vida religiosa da Ordem Franciscana dos Frades Menores; recebeu a ordenação sacerdotal em 3 de agosto de 1958 e a ordenação episcopal em 25 de maio de 1975. Foi bispo diocesano de Santo André (SP), Arcebispo de Fortaleza e Arcebispo de São Paulo. Foi feito membro do Colégio Cardinalício pelo Papa São João Paulo II no Consistório de 21 de fevereiro de 2001. De 2006 a 2011 trabalhou ao lado do Papa Bento XVI em Roma, como Prefeito da Congregação para o Clero. De volta ao Brasil, ocupou a função de Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, e da recém criada Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).

Convido todos a elevarem preces a Deus em agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Hummes e de sufrágio em seu favor, para que Deus o acolha e lhe dê a vida eterna, como creu e esperou. Deus acolha em suas moradas eternas nosso irmão falecido, cardeal Cláudio Hummes, e faça brilhar para ele a luz eterna.

Seu corpo será velado na Catedral Metropolitana de São Paulo, onde serão celebradas Santas Missas em diversos horários a serem oportunamente divulgados.

São Paulo, 04 de julho de 2022

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo

No último domingo (26), a Pastoral dos Coroinhas de nossa arquidiocese realizou mais uma edição da Missa Anual dos Coroinhas. A celebração, realizada na Catedral Metropolitana, foi presidida pelo assessor, padre Evandro Delfino. Participaram da missa os padres Joubert Luciano Ferrarezi (Paróquia Nossa Senhora de Fátima), Luis Carlos Greco da Silva (Paróquia Nossa Senhora Aparecida), Hernán Del Carmen Diaz Vivero (Paróquia Cristo Rei) , Stephendass Joseph (Paróquia Santa Terezinha) e Padre Augustin Mukamba Basubi (Paróquia São Vicente Pallotti).


Realizada no domingo posterior à solenidade do padroeiro de Londrina, Sagrado Coração de Jesus, a celebração eucarística não era realizada deste 2019, por conta da pandemia. Com o tema: “Coroinhas, vamos caminhar juntos?”, padre Evandro refletiu com os coroinhas sobre a sinodalidade da Igreja, na comunhão e missão.


A Catedral esteve lotada, com a presença de grupos de coroinhas de todos os decanatos de nossa arquidiocese. Como gesto concreto, os coroinhas trouxeram suas ofertas, que serão destinadas para a Missão São Paulo VI, em Guiné-Bissau. Com o objetivo de promover as vocações, uma das metas da pastoral dos coroinhas, os religiosos e seminaristas presentes na missa se apresentaram e deixaram sua mensagem para as crianças e adolescentes.


A Missa Anual dos Coroinhas marca uma retomada das concentrações de coroinhas em nível arquidiocesano e decanal. No segundo semestre, a Pastoral Coroinhas realizará a chamada “Expo Coroinhas”, encontro que reúne três ou mais decanatos em momentos de oração, partilha e integração entre os coroinhas.

Pastoral dos Coroinhas

Fotos: Guto Honjo e Terumi Sakai


Nessa sexta feira, 01/07, às 19:30 na Catedral Metropolitana de Londrina temos o TERÇO JOVEM. Todos os jovens de nossa arquidiocese estão convidados para esse momento de devoção de intimidade com a Virgem Maria que nos conduz ao Seu Filho Jesus. Vamos juntos pedir aos pés de Nossa Senhora por todos os jovens que estão afastados do amor de Deus e também por todas as famílias. Participe com seu grupo, seus amigos e sua família.

#SetorJuvenil