A festa da epifania, ou seja, da manifestação de Jesus aos pagãos e a todos os povos através dos magos. A trajetória dos magos coincide com o caminho da fé. Eles saem do Oriente, colam-se à procura, percorrem estradas, realizam um êxodo externo e interno. Sentem atração, admiração e deixam-se cativar pela estrela. Esta é a porta da fé, ou seja, colar-se à procura, abrir o coração, desejar o encontro, caminhar na direção, fazer-se peregrino.
Em Jerusalém, eles perguntam pelo rei dos judeus que acaba de nascer. Perguntam, buscam ajuda e orientação, indagam querendo saber o caminho. Assim é a fé. Exige estudo, ciência, reflexão, informação. As dúvidas precisam ser dirimidas pois a fé não é ainda a visão, pelo contrário, é peregrinação, interrogação, obscuridade, penumbra que precisa de compreensão. Compreender para crer e crer para compreender, são verdades complementares.
No caminho os magos perdem o contato com a luz da estrela. Fazem a experiência das trevas, entram na noite escura, passam pela provação. Assim é a estrada da fé. É preciso procurar mesmo na escuridão, entrar nas trevas, passar pela noite esperando pela aurora. Não desistir diante dos obstáculos. Depois da noite da provação, a luz da estrela reaparece. Eles retomam o caminho, recomeçam, continuam a peregrinar, mas, agora, com mais luz, mais certeza, mais segurança. Após a noite vem o dia ensolarado da fé. Após a provação vem a alegria profunda e consoladora. No caminho da fé passamos pelas tribulações do mundo e as consolações de Deus. Fé e alegria são gêmeas. “Feliz és tu que acreditaste”. (cf Lc. 1,45).
Chegando a Belém, eles realizam ulteriores passos da fé. Primeiro, entram na casa, no estábulo, na gruta. Fé é entrar pela porta que é Cristo. É preciso entrar, decidir, optar, dar o assentimento da mente e da vontade. Fé é querer, dar o sim, entregar-se, entrar no mistério. Tendo entrado, acharam o Menino com Maria, sua mãe. Estamos aqui no ápice da fé, encontrar-se com Jesus Cristo, fazer uma experiência pessoal, viva, decisiva, persuasiva com um Tu, um Outro, um Alguém que nos ama. Onde acontece o encontro, o relacionamento, a comunicação interpessoal, explode a fé.
Em seguida, os magos se prostram diante do Menino e o adoram. A fé se manifesta em gestos de oração, de celebração, de comunhão. Prostrar-se e adorar significa a confissão de fé, a manifestação do credo, a oblação de si a Deus. A fé é professada, celebrada, vivida e rezada. É abandonar-se nas mãos de Deus. Os magos no presépio tornam pública a sua fé.
Logo a seguir eles abrem seus tesouros porque antes tinham aberto seu coração. Acontece uma troca de presentes. Eles foram enriquecidos com a luz da fé e se despojaram de seus bens materiais, fazem um gesto de solidariedade, de amizade, de congratulação. A fé é um tesouro e por outro lado, a fé se manifesta no amor, nas boas obras, nos gestos fraternos. Os magos são avisados em sonho a respeito de sua volta para casa. Deus se revela também nos sonhos. A fé é inspiração, revelação, diálogo, intimidade entre o homem e Deus nos acontecimentos da vida. Os magos alcançaram a conaturalidade da fé.
Por fim, voltam por outro caminho, deixam a magia, saíram de si, de seus esquemas e certezas e seguem por outro caminho. A fé nos leva ao “Outro” e aos outros e nos proporciona novos caminhos, novos horizontes, novos sentimentos, nova personalidade, na verdade, um “novo eu”. A experiência da fé muda o coração, os critérios, a mentalidade e abre novos caminhos.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo eleito de Aparecida