O mundo on-line há alguns anos vem mudando nossa forma de consumir muita coisa, inclusive informação. A velocidade com que a notícia circula na rede e a apropriação dela por parte das pessoas têm feito as instituições repensarem sua forma de se comunicar. Com a pandemia do Covid-19 essa realidade se intensificou e a Igreja católica tem enfrentado de maneira criativa esses desafios, fazendo com que nossos lares sejam transformados em “igrejas domésticas virtuais”. Castells, um renomado especialista em comunicação, diz que a internet coloca as pessoas em contato numa ágora pública, para expressar suas inquietações e partilhar suas esperanças.
A expressão “igrejas domésticas” não é uma criação teológica. Ao final da 1ª Carta aos Coríntios, Paulo ao enviar saudações, diz: “…Áquila e Prisca, com a comunidade que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações” (16, 19). A Igreja, somos todos nós, povo de Deus, a comunidade que faz comunhão no corpo místico de Cristo. Na Igreja, encontramos as vias de salvação, a Revelação Divina e a Graça, cuja porta de entrada é o Batismo e os demais acessos são os sacramentos e a oração. A família católica é uma comunidade dentro dessa comunidade, que se une com Deus. Encontramos no Catecismo da Igreja Católica no número 1666 a definição: “o lar cristão é o lugar em que os filhos recebem o primeiro anúncio da fé. Por isso o lar é chamado com toda razão, de “igreja doméstica”, comunidade de graça e de oração, escola das virtudes humanas e da caridade cristã.”
Vemos agora a providência de Deus, e o cuidado da Igreja como mãe. O papa Francisco há tempos tem apoiado ações de comunicação para chegar aos quatro cantos do mundo nessa ágora virtual. Desde o dia 9 de março em função da pandemia de Covid-19, o Santo Padre quis que suas missas diárias na Casa Santa Marta no Vaticano, que antes tinham caráter privado, passassem a ser transmitidas on-line, para estar mais próximo do povo de Deus, e as homilias divulgadas na íntegra. Ao final da celebração, passou a ser exposto o Santíssimo Sacramento para um momento de adoração.
Sensível à pandemia, que em muitos países já dura três meses, o pontífice tem convocado ainda dias de jejum e oração. Ele até conclamou as comunidades cristãs de várias confissões, para um dia especial no qual rezaram juntos um Pai Nosso pelo fim da pandemia.
No dia 27 de março, em um imenso gesto de amor pela humanidade, com a Praça São Pedro vazia, o Santo Padre dirigiu um momento de oração no átrio da Basílica de São Pedro, seguida da adoração ao Santíssimo Sacramento e, por fim, concedeu a Bênção Urbi et Orbi, que é uma bênção solene para conceder indulgência plenária, ou seja, o perdão dos pecados, desta vez em caráter extraordinário. Também todas as solenidades da Semana Santa foram transmitidas pelos meios de comunicação do Vaticano e retransmitidas por centenas de outros veículos. Essas ações em âmbito religioso on-line e dezenas de ações em âmbito pastoral e social, o Santo Padre tem tomado para alcançar não só espiritualmente, mas até mesmo financeiramente os que sofrem com esta pandemia.
Como pai e pastor, além de permitir que acompanhássemos as missas on-line, o papa flexibilizou ainda a confissão sacramental. Ou seja, baseando-se no Catecismo da Igreja Católica, por decreto da Penitenciaria Apostólica, todos os fiéis foram dispensados da confissão até que se voltem as atividades normais das paróquias.
E esse modo on-line de celebração vem se espalhando mundo afora. Aqui no Brasil, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) apoiou todas essas ações oriundas da Santa Sé, indicando que as dioceses, na medida do possível, também transmitissem suas celebrações pelos meios de comunicação e que os sacerdotes buscassem se aproximar ainda que virtualmente do seu rebanho. Assim, muitas iniciativas têm sido realizadas como a distribuição de comunhão e confissão sacramental pelo modo drive-thru, até passeios do Santíssimo Sacramento pelas ruas e hospitais.
Pesquisas constatam um aumento no índice de audiência das tvs católicas e também lives via facebook, instagram e youtube promovendo terços, grupos de oração, adoração ao Santíssimo Sacramento, formações, direção espiritual etc., tudo para aliviar um pouco o sofrimento e a solidão. Com tudo isso, de fato, nossas igrejas domésticas, dia após dia tem-se se tornado mais virtuais, sem perder o fervor, a espiritualidade.
A Arquidiocese de Londrina, por meio do nosso arcebispo, Dom Geremias Steinmetz, tem orientado os padres e todo o povo, no sentido de realizar todas as ações possíveis no combate ao coronavírus, bem como incentivado as transmissões on-line das celebrações, arrecadação de alimentos e itens de primeira necessidade para os mais necessitados. Numa ação ainda mais inédita, a Igreja de Londrina, em parceria com a Prefeitura do Município, está realizando o acolhimento das pessoas em situação de rua nas casas de retiro. Dom Geremias também tem rezado o santo terço às segundas, quartas e sextas-feiras, às 18h, transmitido pelo Facebook da arquidiocese e Rádio Alvorada, acolhendo intenções de vários locais e cidades.
Diversos especialistas têm repetido que após essa pandemia as pessoas não serão mais as mesmas. As consequências podem ser traumáticas, mas enquanto tudo isso não passa, continuemos firmes em nossas igrejas domésticas virtuais, amando o próximo mais próximo de nós, sem esquecer de estender as mãos aos que gritam por socorro. Lembrando que quando tudo isso normalizar, devemos buscar a Eucaristia presencial, a confissão sacramental e demais sacramentos oferecidos pela Santa Igreja. Mais uma sugestão é a de que meditemos e rezemos firmemente com uma passagem da Sagrada Escritura que o Papa Francisco tem repetido em seus pronunciamentos: “A esperança não decepciona…” (Rm 5,5). E esta esperança é Jesus Cristo.
Jefferson Bassetto
Seminarista da teologia da Arquidiocese de Londrina
Fonte: Revista Ecos de Santa da Paróquia Sant’Ana de Londrina