[dropcap]O[/dropcap] momento histórico que estamos vivendo, por diversas razões, é carregado de muita intolerância e também de fundamentalismos. Nos dicionários que consultei, Intolerância “é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões”. No mesmo dicionário, fundamentalismo “é a estrita adesão a um conjunto específico de doutrinas teológicas tipicamente em reação à teologia do modernismo”. Estes dois termos, porém, denotam reações e conceitos na área da religião, da política, da economia, da cultura, da educação, etc. É, portanto, um movimento mundial muito amplo.
Motivados por acontecimentos recentes envolvendo a utilização de símbolos religiosos da fé católica em manifestações e exposições “artísticas”, “que, em nome da arte e da cultura, desrespeitaram a sexualidade humana e vilipendiaram símbolos e sinais religiosos, dentre eles o crucifixo e a Eucaristia, tão caros à fé dos católicos”. Os bispos que integram o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elaboraram a mensagem ao povo brasileiro, divulgada em Coletiva de Imprensa, realizada na sede da entidade, dia 26/10. No documento, os bispos reconhecem que “em toda sua história, a Igreja sempre valorizou a cultura e a arte, por revelarem a grandeza da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fazendo emergir a beleza que conduz ao divino”. Contudo, recentemente, a mensagem destaca que “crescem em nosso meio o desrespeito e a intolerância que destroem esta harmonia, que deve marcar a relação da arte com a fé, da cultura com as religiões. Se, por um lado, a arte deve ser livre e criativa, por outro, os artistas e responsáveis pela promoção artística não podem desconsiderar os sentimentos de um povo ou de grupos que vivem valores, muitas vezes, revestidos de uma sacralidade inviolável”.
Os bispos chamam a atenção de toda a sociedade, dizendo: “o desrespeito e a intolerância, por parte de artistas para com esses valores, fecham as portas ao diálogo, constroem muros e impedem a cultura do encontro. Preocupam, portanto, o nível e a abrangência destas intolerâncias que, demasiadamente alimentadas em redes sociais, têm levado pessoas e grupos a radicalismos que põem em risco o justo apreço pela arte, a autêntica liberdade, a sexualidade, os direitos humanos, a democracia do País”.
Penso que é necessário dizermos claramente que: vivemos numa sociedade pluralista, por isto, precisamos saber conviver com os diferentes. Isso, contudo, não subtrai à Igreja o direito de anunciar o Evangelho e as verdades nele contidas, a respeito de Deus, do ser humano e da criação. Em desacordo com ideologias como a de gênero, é nosso dever ressaltar, sempre mais, a beleza do homem e da mulher, tais como Deus os criou, bem como os valores da fé, expressos também nos símbolos religiosos que, com sua arte e beleza, nos remetem a Deus. Desrespeitar estes símbolos é vilipendiar o coração de quem os considera instrumentos sagrados na sua relação com Deus, além de constituir crime previsto no Código Penal”.
Vamos reforçar sempre mais a “cultura do diálogo e do encontro”. Através deles é possível respeitar e exigir respeito e sentir as riquezas e dons que encontramos no outro para o bem de todos.