[dropcap]N[/dropcap]o dia de Todos os Santos e de Finados, convém recordar alguma coisa a respeito da escatologia, ou o discurso sobre as últimas coisas. A palavra “escatologia” designa as coisas que dizem respeito ao futuro da Comunidade e ao seu fim. A Bíblia, sem deixar de considerar o fim do grupo, se interessa também pelo fim de cada um de seus membros, ou seja, escatologia individual. No Antigo testamento este conceito tem em vista o futuro do povo de Israel. Olhando os patriarcas chega-se à conclusão de que Israel está convencido de que a promessa de uma felicidade futura, feita por Deus, remonta aos primeiros tempos de sua história, especialmente as promessas feitas por Deus a Abraão. Os profetas também são riquíssimos ao falar sobre o futuro em Deus. Com Jesus a promessa se realiza: O Reino de Deus já está aqui. Os milagres mostram um povo curado, vivo, purificado. A caminhada continua e a este “já realizado” do Reino acrescenta-se um “ainda não” realizado. Paulo também insiste no futuro, no “ainda-não”, portanto na parusia, em 1 e 2Ts e em 1Cor 15.
Nós rezamos no Credo: “Creio na vida eterna”. Também sobre este quesito da nossa fé é possível refletir. Palavras como Juízo Particular, Céu, Purificação final ou Purgatório, Inferno, Juízo final, esperança de novos céus e nova terra, fazem parte do vocabulário do discurso sobre a escatologia cristã. O Catecismo da Igreja Católica diz no nº 1021: “A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo. O Novo Testamento fala do juízo principalmente na perspectiva do encontro final com Cristo na segunda vinda deste, mas repetidas vezes afirma também a retribuição, imediatamente depois da morte, de cada um em função das suas obras e da sua fé”. Neste sentido é importante perceber que quando se fala de escatologia é preciso falar, em primeiro lugar sobre a seriedade da vida cristã que manifesta a esperança que nos alimenta. No número do Catecismo da Igreja Católica citado acima mostra-se o tempo do “acolhimento” ou “recusa” da graça divina. Talvez aí esteja o centro da questão. Recusar a Deus ou seguir os seus princípios? Recusar Jesus Cristo ou fazer-se d´Ele um seguidor, discípulo? Num número anterior o Catecismo lembra que “A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir o seu destino último” (n. 1013).
“A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo” C.I.C. nº 1021
Esta é a nossa esperança. Ela alimenta em nós a certeza de que não caminhamos para um vazio, ou para o nada. Nós caminhamos na busca da realização final em Deus. Quem morre está nas mãos de Deus. Para, ainda, citar o Catecismo da Igreja Católica apelo para as seguintes palavras: Quando tiver terminado o único curso da vida terrestre, não voltaremos mais a outras vidas terrestres. Os homens devem morrer uma só vez (Hb 9,27). Não existe ´reencarnação´ depois da morte. (n. 1013). Esta é a paz que esperança cristã nos oferece. É esta paz que desejo a você, meu caro leitor.
Dom Geremias Steinmetz
Arcebispos Metropolitano de Londdrina