O primeiro turno das eleições municipais deste ano será em 6 de outubro. Aqui em Londrina, sete candidatos disputam o comando do Executivo Municipal. Com o objetivo de colaborar com o debate democrático e compreendendo a política como um meio necessário para a consolidação do bem comum, a Rádio Alvorada promove, nesta semana e na próxima, entre os dias 17 e 26 de setembro, o Alvorada Entrevista, das 14h15 às 15h15. Além de conhecer as propostas de cada um dos candidatos, vamos abordar a importância da política para o futuro de Londrina, seguindo a Cartilha de Orientação Política 2024, da CNBB Sul 2.

Todos candidatos à Prefeitura de Londrina confirmaram presença e a ordem foi decidida por sorteio. As entrevistas serão conduzidas pela jornalista Renata de Paula e pelo diretor-presidente da emissora, padre Jefferson Bassetto.

Na abertura do Alvorada Entrevista, nesta terça-feira (17), o convidado será o juiz eleitoral Mauro Ticianelli, da 157ª Zona Eleitoral de Londrina. Entre os temas da conversa estão: a confiabilidade da urna eletrônica, a importância do voto e também detalhes da logística para que cada eleitor possa exercer o seu direito de opinar quanto ao futuro de Londrina.

Na quarta-feira (18), o Alvorada Entrevista recebe o candidato Coronel Villa (PSDB). Na quinta (19), é a vez de Diego Garcia (Republicanos). Para fechar a primeira semana, a entrevistada de sexta-feira (20) será a candidata Isabel Diniz (PT).

Quem reabre a série de entrevistas com os candidatos na segunda-feira (23) é Tiago Amaral (PSD). Na terça-feira (24), a partir das 14h15, Renata de Paula e o padre Jefferson Bassetto conversam com Tercílio Turini (MDB). Na quarta (25) será a vez da Professora Maria Tereza (PP). Para fechar a série, entrevista com o candidato Barbosa Neto (PDT).

Alvorada Entrevista sempre das 14h15 às 15h15 em 106.3 e nas redes sociais. Rádio Alvorada e a política na construção do bem comum.

Rádio Alvorada

Padre conclui mestrado em Mariologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Marianum, de Roma

 

“Quis conhecer mais para amar mais e quanto mais eu amo, mais eu quero conhecer! Isso é muito forte para mim e foi o que me norteou”. É com todo esse sentimento de amor que o padre Valdomiro Rodrigues da Silva, da Paróquia Nossa Senhora da Luz (Decanato Centro), dividiu por anos seu tempo entre as atribuições de pároco e a sua dissertação de mestrado recém-aprovada. Agora ele é mestre em Teologia com especialização em Mariologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Marianum, de Roma, na Itália. Sob o título: “A veneração à Nossa Senhora Aparecida na liturgia e na piedade popular”, ele se debruçou por toda a história de Aparecida, desde o encontro da imagem num período turbulento que foi a escravidão no Brasil, o crescimento da devoção à Virgem, a comemoração dos 300 anos, em 2017, e toda uma simbologia desse que se tornou o maior santuário mariano do mundo. 

 

Como a devoção a Nossa Senhora Aparecida se tornou tão forte?

A devoção à Nossa Senhora Aparecida se passa dentro de um contexto social muito peculiar para a história do Brasil, no período da escravidão. A forma como é encontrada pelos pescadores, os sinais que se sucederam ao evento, o fato de a imagem ser escura, mostrando uma proximidade muito grande com a escravatura. Isso, para os escravos, foi um sinal estupendo. Essa devoção se difundiu muito, não só entre os escravos porque passava muita gente pela região da Vila de Guaratinguetá (SP). Ali é um entroncamento dos que vinham de São Paulo e seguiam para o Rio de Janeiro, mas também que subiam de São Paulo para Minas (Gerais). Passava muita gente por ali. Mas esse aspecto do escravo me chamou muita atenção e a devoção a partir dele, principalmente após a libertação do escravo Zacarias, que era do Paraná, fugiu e foi capturado por aquela região. Ele pediu para rezar diante da imagem de Nossa Senhora na capelinha e as correntes se soltaram [milagre representado numa pintura na sala dos milagres, no Santuário de Aparecida]. Foi a libertação diante da imagem da Imaculada Conceição. Ele conseguiu a graça da libertação das correntes. A partir daquele evento, abre-se um precedente porque todos os escravos queriam ser libertos e, quando permitido por seus donos, passaram a rezar diante da imagem por sua libertação. O amor por aquela Mãe que estava atenta às necessidades deles é muito grande porque ela sempre aparece diante de uma necessidade específica, muito próxima da realidade social do lugar.

 

Em Aparecida não é uma aparição, porque ela não apareceu, ou algum tipo de mariofania, que é quando um quadro ou imagem apresenta algum sinal extraordinário como verter sangue, lacrimejar, ou tem algum sinal nos olhos, isso tudo são manifestações de Maria. Em Aparecida não ocorre nenhuma das duas coisas, é uma imagem que é encontrada. E a partir dessa imagem começa a acontecer os sinais. Em Aparecida se vê o carinho da Mãe pelos seus filhos, com esses sinais muito próximos, muito concretos, sensíveis à realidade das pessoas.  

 

Depois, a própria princesa Isabel também era muito devota de Nossa Senhora Aparecida porque não podia ter filhos e após ter feito promessa teve três filhos, agraciando a imagem com o manto e a coroa como gratidão. Embora não haja documento oficial, estudiosos acreditam que esses acontecimentos tiveram influência na assinatura da Lei Áurea (13 de maio de 1888) pela abolição da escravatura. Os escravos atribuíram à imagem a interferência pela libertação. Há autores que relatam outro escravo que não teve as correntes rompidas diante da imagem. Mas, ao percorrer o cortejo da princesa que passava pelo santuário, implorou diante dela por sua libertação. A princesa se compadeceu e mandou soltá-lo. A intercessão da santa também foi atribuída nesse gesto.    

 

Tudo isso para mim mostra como começa a devoção à Nossa. Senhora no Brasil, com esses sinais muito próximos e concretos, sensíveis às necessidades das pessoas. A santa milagreira como chamavam, possivelmente teve influência na princesa. Aqui vemos as raízes dessa devoção social, amorosa, piedosa em que muitas pessoas puderam se colocar ali, diante da Mãe. É a devoção mais forte, popular e evidente. E essa é a devoção que permanece 300 anos depois, como a Mãe encontra o filho e um filho que vai ao encontro da Mãe, em peregrinações e romarias.

 

A devoção continua forte mesmo depois de 300 anos?

Do ponto de vista devocional houve um esfriamento. Temos outros lugares de devoção no Brasil, mas que não recebem tantos devotos. Talvez o evento mais próximo seja o do Círio de Nazaré [que ocorre em Belém, no Pará], que concentra milhares pessoas para um evento específico, mas Aparecida tem visitas o ano inteiro. O católico conserva essa devoção. O Brasil ainda é de maioria católica e ele sente por Maria uma devoção filial, sente que tem o dever de visitá-la. Todo católico quer ir à Aparecida ao menos uma vez na vida. Eu vejo isso extremamente positivo, a devoção mariana não caiu em decadência, mas se sustenta.

 

A devoção a Aparecida é regionalizada. As aparições, onde quer que aconteçam, são em geral regionalizadas, mas podem tornar-se mundialmente conhecidas, como Fátima, Lourdes, Salete. Em outros países existem muitos eventos marianos. Na Itália há uma infinidade de eventos. Na África, por exemplo, e nem sequer tomamos conhecimento. Como Guadalupe que é uma festa local, para a América Latina. Qualquer devoção é sempre local, podendo ser difundida para o mundo.

 

Depois de tanto tempo estudando Maria, como fica o sentimento ao final do trabalho? E quais são os planos futuros?

Por incrível que pareça não tenho a sensação de ter terminado algo porque antes de ir para Roma, em 2014, já dava aulas para leigos de Mariologia há 12 anos. Quando cheguei lá me dei conta que não sabia nada (risos). Na Mariologia não existe todas as questões fechadas, ainda há muito em aberto, por isso quero continuar lendo, estudando, conhecendo. Estudei, aprendi, adquiri conhecimento, foi um caminho de descoberta, mas ainda há muito por conhecer. A sede continua. Sobre livros, pretendo publicar a dissertação, estou vendo contatos e como fazê-lo. Preciso adaptá-la para um livro popular de modo que outros também possam mergulhar um pouquinho na história de Aparecida.

 

O estudo foi muito rico, foi um aprendizado maravilhoso, estando em Roma, no berço do cristianismo, ter acesso a tantas coisas maravilhosas da nossa Igreja. Isso enriquece muito a gente. E é isso que procuro fazer em cada curso ou formação. Quero levar as pessoas a esse conhecimento, se aproximarem mais de Maria. Que ninguém esqueça que temos uma Mãe, que nos foi dada por Jesus aos pés da cruz e por meio dela chegamos a Jesus. “Faça tudo o que Ele vos disser” é o único pedido de Maria na Bíblia, quer dizer: Escuta o que Ele diz, presta atenção às palavras Dele. O papa Paulo VI escreve em seu documento que Maria nos ajuda a nos aproximarmos de Jesus. 

 

Luciana Maia Hessel
Pascom Arquidiocesana

Entrevista publicada na edição de agosto – setembro da Revista Comunidade. <Clique aqui> para acessar a revista completa.

Monsenhor Joseph Agius foi um dos cinco seminaristas vindos de Malta em 1961 a convite de dom Geraldo Fernandes para concluir a formação para o sacerdócio e atuar na Igreja de Londrina. Neste mês ele completa 55 anos de ordenação presbiteral, junto com monsenhor Bernard Gafá, e conta à Revista Comunidade sobre a sua caminhada vivida na arquidiocese e na cidade de Rolândia 

 

 

 

Revista Comunidade – Como o senhor veio para Londrina? E por que vir para o Brasil?

Monsenhor Agius – No ano de 1957, eu estudava na ilha de Gozo, uma ilha vizinha de Malta. Sempre alimentei o desejo de não querer ser padre lá em Malta porque tinha muitos padres. Não havia razão, o que fazer pastoralmente falando como padre lá. E naquela época na minha terra natal tinha muito fervor missionário. Diversos seminaristas já tinham ido como missionários em outros países, tinha vindo alguns pra Argentina, outros foram pra Índia, outros tinham ido para África, Kênia, Tanganika. E lá pelo ano de 1959 eu fui pedir para o bispo de minha terra natal que eu queria ir como missionário na África, ainda estava no segundo ano de Filosofia. Ele olhou assim pra mim meio assustado: -“Mas pra África onde?” Falei: -“Olha, Tanganika, Zâmbia ou Rodésia”. Ele disse: -“Não conheço ninguém nesses lugares. Como vou te mandar pra lá?”. Eu era muito novo, não tinha nem 19 anos completos. E de repente ele saiu: -“Por que não vai ao Brasil?”. -“Brasil, nunca ouvi falar. Brasil é que nem África mais ou menos?”. -”Eu acho que é, também não conheço, mas deve ser”. -”Mas porque o senhor tá falando do Brasil?” -”É porque alguns meses atrás esteve aqui em Malta um bispo do Brasil procurando seminaristas, ele não queria padres, ele queria seminaristas para durante a teologia poder entrar em contato com a cultura, a mentalidade, o jeito do Brasil”. E falei: “tá bom, interessante”.

 

Por que dom Geraldo não foi até Gozo para convidá-los a vir para Londrina?

Acontece que o bispo dom Geraldo Fernandes estava em Roma na preparação do Concílio Vaticano II, em 1959. E ele ficou sabendo que Malta tinha muitos padres, enquanto que na recém diocese formada, a Diocese de Londrina, só tinha três padres diocesanos, então ele pensou em ir pra Malta para convidar seminaristas a ficarem padres em Londrina, aqui era tudo começo. [Quando dom Geraldo visitou Malta] era o mês de fevereiro. Lá em Malta nessa época é inverno, muita tempestade, lá é uma ilha, então o mar estava muito agitado. Ele foi de avião até a cidade da Arquidiocese de Malta. O reitor do seminário maior,  uma pessoa formidável, falou pra ele: -“Olha, excelência, também aqui tem outra diocese, outra ilha chamada Gozo, podemos ir até lá também”. E o bispo dom Geraldo Fernandes estava indo para Gozo. Passando pela baía onde tinha naufragado o apóstolo Paulo, de acordo com os Atos dos Apóstolos, capítulo 28, o reitor falava: -“olha excelência, ali que naufragou o apóstolo Paulo”. E o mar estava agitado. Ele falou: -”Ah, não vou não, eu não sou o apóstolo Paulo não”. Voltou para o seminário de Malta e ligou para o seminário de Gozo [e explicou a situação]. O bispo de Gozo falou: -”não se preocupa não, se tiver alguém interessado eu indico”. E de fato, o bispo de Gozo me indicou. O reitor do seminário [de Malta] me respondeu naquele tempo por carta, não tinha nem telefone decente, era tudo primitivo ainda, como aqui, logo depois da Segunda Guerra Mundial, também passávamos por necessidade de tudo. O monsenhor me mandou uma carta muito gentil, simpática, e me disse: -“olha, daqui são três que estão querendo ir para o Brasil, e já estão para terminar a Filosofia. Eu vou dar o nome de um, você faz contato com ele”. E foi o nome do monsenhor Bernardo Gafá, eu fiz contato por carta primeira vez e no fim acabamos nos combinando muito bem, nos encontrando frequentemente. Então éramos cinco, eu e mais um colega do Gozo, e três do seminário de Malta. E acabamos vindo para cá em 1961, isso é dois anos depois.

 

O senhor terminou a filosofia no Seminário de Gozo?

Todos nós, os cinco terminamos Filosofia lá e viemos para iniciar a Teologia aqui no Brasil. Chegamos aqui no Brasil no dia 18 de novembro de 1961. Aí veio época de Natal. Dom Geraldo Fernandes nos mandou os cinco ficar aqui em Rolândia, porque já tinha as irmãs franciscanas maltesas, que já tinham vindo quatro anos antes, já sabiam falar português, portanto. Não sabíamos falar uma palavra, nem sabíamos que a língua era portuguesa. Ficamos sabendo em Roma quando fomos pegar o visto de entrada no Brasil, na embaixada brasileira, que tinha um formulário para preencher em italiano e em outra língua, não sabíamos que língua era. Quando estávamos preenchendo, tinha uma palavra que não sabíamos nem como escrever em italiano perguntando estado civil: -“que que é estado civil?” E a moça, era uma tal de dona Cordeiro, eu me lembro bem dela, era uma carioca, a secretária do embaixador, ela começou a gritar: -“solteiro, solteiro”. -”Que língua é essa aqui?”. -“É portuguese.” -”Português, porque português?” –“Porque é a língua do Brasil: português.” Então acabamos vindo os cinco.

 

Então vocês aprenderam português com essas irmãs que eram de Malta?

Com essas irmãs, com o padre Carlos Boneta, pároco de Rolândia, que era italiano e nós falávamos italiano. Mas depois acabamos aprendendo português melhor no seminário em Curitiba, no ano seguinte, isso é dois meses depois que chegamos. Acabaram as férias e fomos para Curitiba estudar teologia, e ali aprendemos português com os colegas de seminários. Os professores eram tão gentis que nos permitiram fazer as provas ou em latim, ou em italiano, que a maioria tinha estudado na Itália, em Roma.

 

Vocês sentiram muita diferença do estudo, da formação lá em Malta e da formação aqui no Brasil?

Não, pelo contrário. Aqui nós nos sentimos um pouco mais à vontade no sentido de que Malta o seminário era muito fechado naquele tempo. Aqui já tinha um pouco mais de liberdade, por exemplo, podíamos sair toda quinta-feira para passear um pouco na cidade livres. Podíamos sair por três horas, podíamos até ver algum cinema bonito na cidade, podíamos ir numa lanchonete comer um bauru e tomar um guaraná, que não conhecíamos. Tínhamos também toda aquela coisa de conversar entre os seminaristas, só tinha o seminário maior de Curitiba no Paraná, que atendia também Santa Catarina, então éramos muitos seminaristas. Mas as dioceses eram menores, é claro, só tinha a Diocese de Londrina, Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Jacarezinho. As outras dioceses são mais novas.

 

Vocês vivenciaram a Diocese de Londrina bem no começo, ainda nascendo?

Tava nascendo, ainda não tinha nem seminário de Londrina. O seminário menor foi inaugurado com a nossa ordenação. A festa da nossa ordenação foi lá. Dom Geraldo Fernandes, que era um pai para nós, que organizou. Porque nós não tínhamos família, não tínhamos ninguém, conhecíamos também poucas pessoas.

 

E como era a caminhada da Igreja nessa época em que a diocese estava praticamente nascendo?

Tudo era novo, também tinha a renovação do Concílio, era coisa linda naquele tempo. Muito fervor religioso, muita crise também, crise nas ordens religiosas, crise nas freiras, crise nos frades, crise nos seminários. Começou aquele movimento dos seminários de Santa Catarina, por exemplo, não queriam ficar no seminário grande, todos juntos, cada diocese queria criar a sua comunidade, alugar uma casa em Curitiba, ficar lá os seus seminaristas com um padre da respectiva diocese para cuidar. Aos poucos foi mudando, foram criando comunidades, depois do nosso último ano de Teologia. E depois era um tempo de grande fervor religioso. Tinha saído um tal de Catecismo Holandês, que era um furor naquela época, a renovação da liturgia, eu me lembro que no seminário cantávamos cantos todos traduções do alemão, do italiano, cantos antigos, bonitos. Aí começaram a surgir os cantos feitos no Brasil. Era um tempo bonito. O padre José Alves, um padre carioca, tinha feito uma missa completa com entrada, ofertório, final, o final da missa era o hino que hoje às vezes é cantado. Mas era bonito. Fazia sentido. “A missa terminou já nós vamos retirar. Senhor que tua bênção nos venha acompanhar.” Muito bonito.

 

E como que as pessoas receberam essas mudanças que aconteceram com o Concílio Vaticano II? Mudou muita coisa?

A Igreja daquela época não desprezou aquilo que era tradicional. A Igreja continuou permitindo, digamos, as devoções, novenas, estátuas, mas tinha uns padres também que exageravam. Também aqui na diocese, encostaram as estátuas na sacristia para colocar apenas a cruz. Coisas assim. Depois tinha a mudança dos altares, não tinha altares versum populum, porque a missa era rezada de costas pro povo, então tinha que adaptar. Tinha que tirar os altares da parede para colocar mais ou menos no meio. É claro custou porque tinha igrejas mais antigas, por exemplo em Curitiba, aqui não tem tanta, mas em Minas Gerais, na Bahia, para quebrar aquilo que já era tradição do estilo barroco colonial, não era tão fácil não, tinha que fazer tudo não por capricho de padre mas com ajuda de arquitetos. Mas a renovação pastoral, a renovação litúrgica, renovação da catequese, o surgimento de movimentos mais atuais. Movimentos antigos foram diminuindo, como marianos, marianinhos, filhas de Maria, Apostolado da Oração permaneceu. Mas  foi surgindo depois Pastoral Familiar, Movimento Familiar Cristão, Cursilho, Catequese mais prolongada com as crianças.

 

E porque essa questão que o senhor comentou que alguns padres tiravam as estátuas da Igreja só deixava o crucifixo?

Porque achavam que era muita devoção, muita piedade, e não tinha muita fundamentação doutrinária, teológica. Então parecia superstição. Mas bastava criar, pregar, instruir o povo com relação a isso.

 

Quando o senhor veio para cá e também nos primeiros anos de ordenado, quais foram os principais desafios que enfrentou?

Quando fui ordenado, logo depois da ordenação, dom Geraldo me mandou como pároco em Pitangueiras, que naquele tempo fazia parte do município de Rolândia. Não tinha nem asfalto ainda, hoje tem um pouco mais. Não tinha energia elétrica, não tinha nada. Pra mim era um desafio muito grande, até de adaptação. Mas eu achava tudo diferente. Era terra de missão. E foi ali também que comecei com essa renovação litúrgica, doutrinária, catequética. E com a ajuda de dom Geraldo Fernandes comecei formando as primeiras comunidades de base rurais.

 

Dom Geraldo Fernandes me tinha pedido para, com o padre Semprebom, que era o coordenador de pastoral naquela época e morava com dom Geraldo, era um dos poucos padres que tinha na diocese, fomos juntos em Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, onde os padres belgas já faziam esse tipo de trabalho com as comunidades rurais através do rádio, associação de catequese pela rádio. Fiquei hospedado três dias lá no interior do município de Francisco Beltrão, para conhecer a vida da comunidade. Eram comunidades muito interessantes que trabalhavam muito com aqueles lavradores, a maioria era imigrante do Rio Grande do Sul.

 

Eu comecei depois esse trabalho em Pitangueiras, pelas águas, porque lá no interior os riachos são chamados águas, água disso, água daquilo, então em cada água moravam tantas famílias, então formava uma comunidade. Dom Geraldo Fernandes chegou a vir algumas vezes de jipe com o padre que tinha na catedral naquele tempo, padre Bernardo Greis, de noite para participar dessas reuniões e dar palpite, eu com ele.

 

Depois de passar quatro anos em Pitangueiras, ele me pediu pra vir aqui pra Rolândia pra fazer o mesmo trabalho com comunidades de periferias na cidade, era pequena a periferia naquele tempo, só tinha uns dois três bairros. Comecei aqui [em Rolândia] em 1969, com essa experiência nos bairros formando, naquele tempo se chamava de comunidades eclesiais de base, não apenas para estudar, textos bíblicos ou para estudar religião. Até não tinha nem material, eu formei uma equipe naquela época para produzir materiais para as reuniões, eu me lembro bem, um dos materiais era dos dez mandamentos, para explicar um mandamento em cada reunião. Nós formávamos as reuniões em cada bairro com a ajuda do próprio povo. Desde o começo, o que mais me preocupava era a formação de boas lideranças. E essas lideranças atuavam não somente na parte pastoral, mas também na parte social do local, se preocupando com os problemas do local, do bairro em si, aquilo que hoje se chama de associação de bairro. Mais ou menos era já isso.

 

O senhor considera que a evangelização naquela época era mais fácil do que hoje?

Era mais fácil e também o povo tinha mais tempo livre, mais disposição, as senhoras naquele tempo não trabalhavam fora de casa. Se perguntava para qualquer senhora ou mocinha que vinha para se casar qual era a sua profissão: é do lar. Eu não entendia o que é do lar, mas trabalhava em casa. Hoje em dia quase ninguém fala isso. Todas têm algum trabalho por aí, secretária disso, daquilo. Ou até na indústria. Não tinha indústria naquele tempo, só tinha lavoura, lavoura de café, lavoura de arroz, lavoura de feijão, a maioria das pessoas morava no sítio. No sítio era fácil alcançar o povo. Ia nas capelas, tinha capelas esparramadas por aí, tocava o sino o povo vinha. Eu me lembro algumas tinham serviço de alto-falante e anunciava tudo que acontecia naquele bairro pelo alto-falante da capela. Até oferecia musiquinha para a namorada. Não tinha televisão, não tinha distração nenhuma, a catequese era feita no sítio, as famílias, os pais que ensinavam as crianças a rezar e as primeiras perguntas da catequese.

 

Igual no terreiro de café, de tarde juntava aquele povo todo da colônia, no sítio, na fazenda, juntava pra esparramar o café lá no terreiro, todo sujo, todo vermelho de pó, a criançada suja, mas crianças sadias. E ali rezava o terço de tarde com todo mundo sentado no meio fio do terreiro de café. Depois ia no catecismo no último mês antes da primeira comunhão. Depois foi mudando, é claro. Foi nos primeiros três, quatro anos aqui, depois foi mudando de acordo conforme se pede a cada tempo.

 

 

E como o senhor avalia a caminhada da arquidiocese? A nossa Igreja teve algum trabalho de destaque que foi referência para outras igrejas?

Tem, o trabalho com leigos, que desde o tempo de dom Geraldo Fernandes, o primeiro bispo, eu me lembro bem, que foi uma das primeiras dioceses que tinha ministros extraordinários da Sagrada Eucaristia. Naquela época chamava de ministros da Comunhão. Na verdade não é o termo certo porque ministro da Comunhão, ministro da Eucaristia é o padre, o bispo, nem o diácono é, porque quem faz a Eucaristia é o sacerdócio, mas tinha esse nome. Depois a formação de leigos, o trabalho com o dízimo bem tímido, mas começou muito tempo atrás. O povo não entendia, tava acostumado com campanhas de mantimentos. Muitas igrejas que temos por aí foram construídas com dinheiro do café.

 

Então as pessoas não estavam habituadas com o dízimo, eram mais campanhas para levantar fundos pra igreja?

Isso, campanhas e festas da igreja. Mas a diocese se destacou pela atenção que começou dar aos leigos, trabalho de leigos de fato. Também aqui nesse tempo, eu insisti muito na formação de lideranças leigas, tanto é que hoje aqui em Rolândia, muitos líderes políticos e empresariais estão formados nessa liderança dentro da Igreja.

 

Os seus 55 anos de sacerdócio foram vividos em Rolândia?

Foi a vida inteira aqui, desde seminarista, as férias inteiras eram passadas aqui. Estudava em Curitiba e passava férias aqui. Dom Geraldo sempre me mandou passar as férias aqui.

 

Será que ele já tinha essa visão que o senhor iria ficar aqui em Rolândia?

Pode ser. Acontece que aqui encontrei, eu sou de família de imigrante, minha família toda tinha emigrado para a Austrália, hoje maior parte da minha família mora na Austrália, os meus sobrinhos, sobrinhos netos, primos, são todos australianos. Quando aqui cheguei encontrei muito imigrante, maioria alemães, japoneses, italianos, portugueses, espanhóis, muitos imigrantes de primeira geração aqui. E me identifiquei como imigrante igual a eles. Por isso então eu comecei a me identificar com a cultura de cada povo, ajudar na formação de grupos étnicos, alemão, italiano, japonês também incentivei a manter a cultura japonesa.

 

E tem algum trabalho que o senhor se identifica mais?

Os trabalhos sociais. Desde o começo que estou aqui, com outras pessoas, ficamos muito sensíveis com os adolescentes que podiam trabalhar mas não achavam jeito. Começamos a formar aquilo que era chamada Legião Mirim de Rolândia. Chegamos a ter naquela época 120 meninos, eram só meninos, de uniforme, tudo bonitinho, e trabalhavam como Office boy, tudo regulamentado. Mas depois que foi passando o tempo, fomos mudando, as leis do trabalho foram mudando, aí formamos uma associação que ficou chamada Associação de Voluntários e Voluntárias da Caridade – Avocar, hoje atendemos em torno de 800 crianças e adolescentes de toda periferia, através de projetos, oficinas. Agora com essa pandemia tudo está parado, porque nem escola tem.

 

Qual será o resultado dessa pandemia para nós católicos?

Podemos dizer que temos mais igrejas domésticas pelo jeito, estamos voltando aos primeiros tempos de cristianismo, porque a Igreja começou nas casas, não começou nos templos. Bom, a Igreja vai ter que repensar os seus métodos atuais. Eu não digo que como costumam falar, que vamos ter um novo normal, não vai ter novo normal, vai ser normal, mas diferente daquilo que se fazia até agora. Eu lamento muito porque ter uma igreja cheia de gente como tínhamos para participar ativamente das missas, e agora igreja vazia, é coisa triste. Quando fizemos 50 anos de sacerdócio, a igreja matriz estava lotada, até meus parentes do exterior tinham vindo, 18 pessoas da Austrália mais 10 de Malta.

 

Tem algo que o senhor gostaria de acrescentar?

Eu gostaria de aproveitar para agradecer toda acolhida que me tem dado aqui na arquidiocese desde o primeiro bispo. Dom Geremias já é o quinto. Já passaram quatro bispos. Tanto os colegas do passado e da atualidade, de modo especial a população de Rolândia, que sempre me deu apoio em todas as iniciativas. Todas as igrejas que tem em Rolândia fui eu que iniciei, terminei, preparei. A igreja da Vila Oliveira, Novo Horizonte, da Ressurreição, aqui mesmo [Paróquia São Paulo Apóstolo], uma boa parte da matriz… Não só as igrejas, mas os trabalhos sociais… Eu vejo tudo isso com muito prazer.

 

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

Entrevista publicada na edição de julho da Revista Comunidade, número 362.

 

No mês em que comemora seus 55 anos de sacerdócio, monsenhor Bernard Carmel Gafá, um dos cinco primeiros padres ordenados em Londrina, conta aos leitores da Revista Comunidade sua história de vida construída juntamente com a história da Arquidiocese de Londrina

 

Começando pela sua história na Igreja de Londrina, desde quando o senhor está em Londrina? Já era seminarista em Malta? Pode nos contar como veio para cá? 

Sempre quis ser padre desde criança. Ia para a igreja com meu pai e sentia dentro de mim aquele desejo de levar a pessoa de Jesus às pessoas onde não o conheciam. E esse desejo foi crescendo. Quando tinha 17 anos entrei para o seminário e comecei o estudo da filosofia. Bem neste ano, 1958, dom Geraldo Fernandes chegou em Malta, ao seminário onde eu estava. E ele nos explicou sobre sua diocese, que fazia apenas um ano que ele era bispo em uma diocese nova, no Norte do Paraná, e nos convidou então, seminaristas, futuros padres para podermos vir ajudá-lo. E foi ali que começou dentro de mim aquela semente, aquela vocação que eu já tinha de ser missionário.Mas precisava terminar aquela primeira fase de estudos, da filosofia ainda em meu país. Quando tinha 21 anos eu vim para Londrina com mais outros quatro seminaristas: Monsenhor José Agius, de Rolândia, outros dois padres já falecidos, e um outro que foi depois para os Estados Unidos.

 

Viemos para o Brasil sem saber de nada. Nós viemos como Abraão que foi para a Terra Prometida. “Deixa tua família, tua casa e vai aonde eu vou te mostrar”. Eu imaginava que encontraria aqui um lugar como o Amazonas, mas não, era muito melhor. Era Londrina. Claro, era Londrina no começo, no ano de 1961, tudo muito novo. Nós também éramos muito novos, com 21 anos de idade, era aquele entusiasmo, aquela alegria, povo muito acolhedor.Dom Geraldo era muito bom conosco. Assim começamos. Tínhamos que estudar Teologia. Fomos para Curitiba, no Estúdio Teológico dos padres claretianos. Ali passamos os quatro anos da teologia. Nas férias vínhamos para Londrina. Eu passava minhas férias de dezembro, janeiro e depois em julho na cidade de Santa Fé, perto de Astorga. Cada um de nós, os cinco seminaristas, ficávamos em uma paróquia. E assim vivíamos junto com aqueles párocos até chegar o grande dia em que fomos ordenados sacerdotes. Nossa ordenação foi na Catedral de Londrina, no dia 4 de julho de 1965. Quero dizer que nestes dias estou completando 55 anos de ordenação sacerdotal. Como passou rápido esse tempo!

 

Quantos anos tinha a diocese quando o senhor chegou aqui?

Depois de ordenado padre, Dom Geraldo me colocou aqui na Paróquia Imaculada Conceição. Claro que naquele tempo tinham poucos padres e também poucas paróquias. Londrina contava mais ou menos 150 mil habitantes, mas havia muito movimento, aos domingos tínhamos cinco missas. Eu e um padre japonês, que cuidava da comunidade japonesa, morávamos juntos. Durante todos os dias da semana tínhamos uma missa de manhã e outra à noite. Na Imaculada Conceição realizávamos também muitos casamentos, porque era uma igreja pequena, muito apropriada para essas festas. Eu me lembro de um mês de janeiro no qual fiz 55 casamentos. Num sábado só eu cheguei a fazer 12 casamentos. Tínhamos também muitos batizados, muita vida de paróquia. Tínhamos o grupo de jovens, as senhoras do Apostolado, os Vicentinos. Era muito gostoso, uma vida muito ativa. E assim também a cidade de Londrina, o Norte do Paraná, começaram a crescer. Aliás, é importante saber que Londrina se tornou diocese em 1957 e logo depois Maringá também.

 

O que levou ou promoveu a elevação de Londrina de Diocese para uma Arquidiocese? Houve algum tipo de ciúmes de Jacarezinho, que era mais antiga?

Antes todo o Norte do Paraná pertencia à diocese de Jacarezinho. Não tinha outra diocese. Então veio Londrina e Maringá, logo depois foi Campo Mourão e assim foi crescendo. E veio a necessidade de Londrina se tornar Arquidiocese, abrangendo também as dioceses de Jacarezinho, Apucarana, Cornélio Procópio e Londrina. Quatro dioceses numa Arquidiocese.  Não se estranhava o fato de Jacarezinho não ter se tornado Arquidiocese, pois ficava um pouco distante aqui do centro do Paraná e também não cresceu tanto como Londrina. Aqui era o norte mesmo, pioneiro, e que prometia muito, e de fato cresceu bastante. Então era razoável que de fato Londrina ficasse como a arquidiocese. E até hoje aqui se cresce bastante e Jacarezinho ficou mais no interior.

 

Considera a evangelização naquela época mais fácil do que nos tempos atuais? 

Não digo que era mais fácil, mas quando se começa a crescer a cidade com os prédios, os problemas, as distâncias… Claro que isso começa a ficar mais difícil. Imagina nos grandes centros, nas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, sem dúvida nenhuma a evangelização fica mais difícil. Então, naquele tempo, o ambiente era mais familiar, mais comunicativo, todo mundo se conhecia, se visitava. Tinha aquele ambiente do interior, que facilitava as relações humanas e também a vivência religiosa. Com o tempo então, claro, as cidades começam a se tornar metrópoles, com muitos outros problemas, de distanciamento, criam-se então outras necessidades, outras dificuldades.

 

Como era a caminhada da Igreja nesses primeiros anos? Quais foram os principais desafios?

Londrina teve muita sorte quando Dom Geraldo Fernandes foi escolhido como primeiro bispo. Ele era de uma capacidade extraordinária. E deixou uma infraestrutura fortíssima para nossa diocese até hoje. Naquele tempo vieram os vários movimentos, havia o Cursilho, o movimento dos jovens, as senhoras do Apostolado, o Movimento Familiar Cristão, enfim, havia uma movimentação muito boa, muito grande. Acredito que o que fortaleceu a pastoral aqui na Arquidiocese foram de fato os movimentos. A liturgia se enriqueceu com os ministros extraordinários da Eucaristia, que antigamente não tinha.

 

Passamos também pela a adaptação ao Concílio Vaticano II. Como se sabe, o concílio terminou em 1965 e daí começou a ter as novidades, a participação maior dos leigos na liturgia, a liturgia passou a ser na língua do lugar. Eu mesmo comeceia celebra missas e os outros sacramentos em Latim….Ninguém entedia nada. Depois então com a língua vernácula do povo, nós tínhamos um contato mais direto. A liturgia passou a se tornar mais próxima viva, mais comunicativa, mais participativa e pincipalmente também com o engajamento dos leigos que passaram também a dirigir, a participar ativamente. Antes eram apenas ouvintes, recebiam a mensagem.Houve uma mudança muito grande sim na participação.

 

Outra coisa muito bonita, e que Dom Albano introduziu,foi o Dia da Palavra, ou a dedicação à Palavra de Deus, à Bíblia Sagrada.  Colocar o Evangelho e a Sagrada Escritura nas mãos do povo. Não só pela leitura nas missas, mas pelas reuniões com a leitura da Bíblia, o dia da palavra nos grupos e nas famílias. Então a Palavra de Deus começou a se tornar bem mais participativa. Isso ajudava também na catequese. Quando cheguei aqui a catequese era muito fraca, com apenas um ano de preparação para a primeira Eucaristia. Depois, no tempo de Dom Albano, começou a se organizar, com mais anos de preparação das crianças na catequese.

 

Estes tempos de pandemia, de isolamento social, reforçaram o papel e a importância das Igrejas Domésticas. Em sua avaliação, isso promoverá um crescimento missionário nas pessoas, nas famílias? Quais os principais desafios?

Este tempo de pandemia realmente é um problema. As Igrejas estão fechadas já faz quase quatro meses, e pelo jeito vai até o fim do ano. Isso dificulta. Se fala das Igrejas domésticas, se fala da participação pelos meios de comunicação social.  Muitas paróquias se comunicam ao vivo pelo Dia da Palavra, da missa nos domingos e outras circunstâncias. Mas, como alguém disse recentemente, “Deus não é virtual, o amor não é virtual, a família não é virtual”. Então, sinceramente, acho que vamos sofrer e a recuperação será difícil, gradual e levará tempo até nós retomarmos uma vida ativa, viva, com a força da comunidade que nós tínhamos. Acredito que teremos um trabalho muito grande a ser feito, para refazer tudo das cinzas. Eu digo assim das cinzas porque quando pudermos reabrir nossas igrejas aquelas pessoas da fixa de risco não vão poder participar, terão aquele receio, aquele medo ainda, aquela distância. Vai levar tempo sim, vai levar tempo para que possamos nos sentirmos livres, ter a coragem de voltarmos a construir uma Igreja viva, ativa. Queira Deus que possamos aprender com isso, mas sofreremos também.

 

Qual a importância de Londrina para sua vida sacerdotal?

Londrina significa tudo, pois se sou sacerdote, há 55 anos, tudo começou aqui em Londrina, quando eu tinha 21 anos de idade e já completei 80 anos. Eu sou londrinense, sou cidadão londrinense, sou comendador do Paraná, sou padre de Londrina, o padre mais antigo de Londrina, além do padre Francisco Schneider, que é mais idoso e mais presente m Londrina. Então, sem dúvida nenhuma, eu vi Londrina crescer e sou parte de Londrina. Londrina é tudo para mim, é muito importante.

 

Há um trabalho que o senhor goste mais de fazer e que fortaleça sua vocação?

Meu pai sempre dizia que quando Deus gosta de uma pessoa Ele lhe dá oportunidade de fazer o bem. E Deus me deu muitas oportunidades para fazer isso. Uma das coisas boas que eu fiz, especialmente no tempo que estava na Catedral, foi a oportunidade que tive de ajudar as igrejas-irmãs de Londrina. Fui eu que comecei esta ajuda entre as igrejas. Nunca fiz uma lista das ajudas que eu dava, só Deus é que sabe! Mas, sem dúvida nenhuma, tem ao menos seis igrejas que começaram do nada, e hoje são paróquias organizadas que eu ajudei a construir.

 

Tem uma lista enorme, graças a Deus. Ele me deu esta oportunidade e possibilidade – e o povo participava. Tínhamos condiçõesde fazer este benefício em favor das outras igrejas. Dom Albano gostava tanto desse trabalho que ele determinou às outras paróquias a doação de 1% de suas contribuições para formar um fundo de ajuda paroquial. Dom Albano se inspirou no projeto das Igrejas-Irmãs que comecei e levei adiante. Este fundo se chama Fundo Arquidiocesano de Partilha, e que existe até hoje.

 

Outro trabalho muito importante é o de ajuda aos pobres. Naquele tempo,eu atendia a muitos pobres. Às vezes os vicentinos acompanhavam para ver a realidade das famílias. Muitas famílias ajudei e também construí muitas casas. Ajudamos ainda à Casa do Bom Samaritano, a creches, ao asilo e outros locais de assistência. Um trabalho muito importante, muito bonito de caridade às pessoas e às entidades de assistência.

 

Há algum outro assunto ou história que o senhor considere interessante ou importante, por favor,conte-nos.

Quando vim para o Brasil eu trouxe comigo duas imagens de 30 cm. Uma do Sagrado Coração e outra da Imaculada Conceição, feitas na Espanha, muito bonitas. E nesses 55 anos que estou como sacerdote eu só servi a essas duas paróquias: a Imaculada Conceição e a do Sagrado Coração de Jesus. Parece que foi uma providência, uma iluminação divina. Passei 10 anos na Imaculada logo no início da minha vida sacerdotal, depois passei 10 anos no seminário Paulo VI, como professor. De lá fui para a Catedral onde fiquei por 30 anos. E agora voltei para terminar a minha vida aqui de novo, na casa da Mãe, na casa da Imaculada Conceição. Então, esse parece um projeto que Deus tinha para mim. Eu trouxe isto comigo e estou terminando também a cumprir esta missão, com a graça de Deus.

 

Hoje, completando 55 anos de vida sacerdotal, eu olho para traz erealmente posso ver que foi a mão de Deus que me dirigiu. Alguém me perguntou porque me tornei padre? A resposta é não fui eu que me tornei padre. Foi Jesus, foi Deus que me chamou, foi Deus que me conduziu. Como diz São Paulo de si mesmo: “Deus me chamou e confiou em mim. Deus me chamou, me enviou e confiou em mim”. E graças a Deus, Ele me chamou sim, me enviou e confiou em mim. Espero ter cumprido a minha missão e continuo a cumprir até o dia em que Deus me der vida aqui em Londrina. Dou graças a Deus porque tive realmente uma vida muito bonita, muitas graças, criei muita amizade, muita gente amiga e, realmente, tenho uma família muito grande. Como Jesus diz “quem deixa a própria família recebe cem vezes mais”. Isso eu posso dizer aqui, quantos amigos eu tenho por toda Londrina, graças a Deus. Isso só por causa da minha vocação sacerdotal. Termino dizendo como Maria: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta em Deus meu salvador. Porque ele fez em mim maravilhas, santo é o seu nome”. Obrigado, Senhor!

 

Célia Guerra
Pascom Arquidiocesana

Entrevista publicada na edição de julho da Revista Comunidade – número 362

O arcebispo dom Geremias Steinmetz participou, próximo do Natal, do programa Folha Entrevista, da MultiTV, com o jornalista Diego Prazeres. Em pauta, o balanço dos dois anos de Londrina, as visitas pastorais, as ações sociais desenvolvidas pela Igreja, o Sínodo da Amazônia e o planejamento para 2020. Confira o bate-bate:

 

Parte 1:

 


Parte 2: