[dropcap]N[/dropcap]o domingo entre Natal e Ano Novo celebra-se a Festa da Sagrada Família. Esta festa recorda que o mistério da encarnação é um mistério de partilha. O Filho de Deus veio partilhar em tudo, exceto no pecado, da nossa condição humana. Veio para fazer parte da família humana, vivendo na obediência e no trabalho dentro de uma família concreta, embora única e irrepetível. Emergem, porém, nessa família os valores e as virtudes que devem caracterizar qualquer família cristã. A Bíblia relembra os deveres dos filhos para com os pais (Eclo 3,3-17) e apresenta a vida familiar segundo o mandamento do amor (Cl 3,12-21). O Evangelho lembra os principais momento da vida da Família de Nazaré: a fuga para o Egito (Mt 2,13-23); a apresentação do Menino Jesus no Templo (Lc 2,22-40); Jesus com 12 anos no templo (Lc 2, 41-52). A Igreja na sua oração pede que “em nossas famílias sejam vividas e floresçam as mesmas virtudes da Família de Nazaré e que os pais venerem o dom da vida”. Ainda lembra “que os pais se sintam participantes da fecundidade do amor de Deus e os filhos cresçam em sabedoria, piedade e graça”.

A Família continua sendo um das grandes questões na pastoral e no trabalho de evangelização. Nestes primeiros quatro meses de trabalho aqui na Arquidiocese de Londrina percebi a existência de vários movimentos, pastorais e grupos que se preocupam com a família promovendo encontros, reuniões, reflexões, etc. Isto, com certeza, deve continuar se avolumando na nossa pastoral. Há sempre uma família precisando da palavra de consolo da Igreja. Esta palavra é bom que venha através de famílias que vivem a alegria de serem seguidoras de Jesus Cristo. Em março de 2016 o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia – sobre o amor na família. Logo no primeiro número o Santo Padre fala dessa alegria: “a alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio, o desejo de família permanece vivo nas novas gerações. Como resposta este anseio, o anúncio cristão que diz respeito à família é deveras uma boa notícia” (n.01).

A Exortação Apostólica Amoris Laetitia fala com positividade da família. Inicia sugerindo uma ótima reflexão sobre o Salmo 128. Levanta vários temas do mundo da família: o relacionamento com a esposa, com os filhos, a presença do sofrimento, do mal, da violência que dilaceram a vida familiar. Sugere também uma reflexão sobre o trabalho e, por fim, sobre a ternura do abraço. Os outros capítulos falam sobre a realidade e os desafios das famílias; a vocação da família; o amor no matrimônio e ali reflete, palavra por palavra, o Hino da Caridade de ICor 13,4-7. O amor que se torna fecundo é objeto do capítulo V. As perspectivas pastorais ocupam os capítulos de VI a VIII. Nesta perspectiva o Santo Padre procura, sobretudo, não fazer julgamentos sobre os muitos obstáculos que a família enfrenta. Quer trabalhar com palavras-chave, ou palavras de ouro: Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade. Quer dizer, nas entrelinhas, que não importa qual é o problema que a família concreta enfrenta, ela sempre tem o direito de ser seguidora ou discípula de Nosso Senhor Jesus. Parece que as palavras de ordem são: Proximidade, discernimento, Misericórdia e Integração com a família de hoje.

dom geremiasDom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

Dom Geremias Steinmetz, arcebispo Metropolitano de Londrina e mais 59 personalidades, foram condecorados com o título da Ordem Estadual do Pinheiro, nesta terça feira 19/12, em cerimônia presidida pelo Governador Beto Richa, realizada no Palácio do Iguaçu em Curitiba.

A Ordem Estadual do Pinheiro é a mais alta honraria do Estado do Paraná. Neste ano receberam a condecoração: empresários, artistas, escritores, lideranças religiosas, lideranças políticas, expoentes dos esportes, do Poder Judiciário e profissionais de diversas áreas.

Indicados por organizações da sociedade civil, os nomes dos homenageados passam por uma comissão do Governo do Estado e são formalizados por decreto do governador. “São pessoas dos mais distintos setores, que fazem a diversidade, a pluralidade e a riqueza de nosso Estado e de nosso País”, afirmou o governador. 

Dom Geremias recebeu a honraria por serviços prestados nas cidades que compõe a Diocese de Paranavaí e também pelo trabalho realizado na Cáritas Paraná no qual ele é bispo referencial.

A homenagem foi criada em 1972 com o objetivo de honrar pessoas de destaque, do âmbito estadual ou nacional, nos mais variados setores de atuação, desde políticos, empresariais, ciências, artes e/ou religião, mas que tenham contribuído para o desenvolvimento econômico e social do Estado do Paraná.

Tiago Queiroz
PASCOM Arquidiocesana

campanha da evangelizacaoCristãos leigos e leigas comprometidos com a Evangelização

[dropcap]D[/dropcap]esde há alguns anos a Igreja do Brasil realiza, no terceiro domingo do Advento, a Coleta Nacional da Evangelização. Ela nasceu da necessidade de conscientizarmos as comunidades brasileiras a contribuírem mais e melhor com os projetos de evangelização que se realizam de norte a sul do país. Por muitos anos dependemos de outras nações, tais como a Alemanha, Áustria, França, Espanha, Bélgica, Estados Unidos da América, Canadá, etc. Todas elas contribuíram muito com a construção de Igrejas, Centros Catequéticos, Casas Paroquiais, compra de veículos, salões de festas, etc. Está implícito que nós crescemos muito eclesialmente, culturalmente e economicamente, e já podemos contribuir melhor com os trabalhos de evangelização aqui no nosso país. Já podemos ser mais independentes. Outro aspecto importante é que crescemos na compreensão da missionariedade. É muito importante que contribuamos com a semeadura do evangelho em tantos lugares em que ele ainda não chegou e a outras realidades que ainda não foram iluminadas pela sua luz. Em síntese, já temos condições de partilhar mais e contribuir para que o trabalho de evangelização avance em nosso país. A campanha visa arrecadar recursos para apoiar inúmeras iniciativas da Igreja no Brasil, de sul a norte.

Este ano a Campanha da Evangelização tem sintonia com o Ano do Laicato o que reforçará a necessidade da Igreja de despertar novos discípulos missionários para a evangelização e para a responsabilidade da sustentação das atividades pastorais no Brasil. O tema é justamente “Cristãos leigos e leigas comprometidos com a Evangelização”. O lema “Sal da Terra e Luz do mundo” (Mt 5,13-14), objetiva avivar os leigos para o compromisso evangelizador. Tal iniciativa considera a ajuda para dioceses de regiões mais desassistidas e necessitadas. Podemos até dizer, pela experiência, que pela situação privilegiada de Londrina, nós temos algumas paróquias que possuem um giro financeiro maior do que grande número de dioceses do Brasil. Penso que estes dados devem nos mover para a partilha mais intensa do que somos e temos.

O documento 100 da CNBB: “Comunidade de Comunidades – Uma nova paróquia” diz que “o estado permanente de missão supõe que a comunidade cristã tenha consciência de que ela é por sua natureza missionária e precisa ser constantemente missionada, isto é, precisa renovar-se sempre diante dos novos desafios que enfrenta no confronto com o mundo e na relação entre seus membros” (n. 189). Já na preparação para esta campanha as comunidades rezam que Deus “suscite em nós o compromisso com a Evangelização, para que todos conheçam a vida que de vós provém”. Acrescenta ainda “despertai em nossas comunidades e em toda a Igreja no Brasil o senso da partilha e que, por meio da Coleta para a Evangelização e do testemunho de comunhão, todas as comunidades recebam a força do Evangelho”. A coleta da Evangelização será no próximo final de semana, 16 e 17 de dezembro, em todas as comunidades eclesiais.

dom geremiasDom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

[dropcap]N[/dropcap]o início do ano de 2017, com certeza, tínhamos muitos planos e expectativas que almejávamos realizar no decorrer dos seus doze meses. Muitas coisas aconteceram a partir do programa e muitas outras aconteceram fora dos nossos planejamentos e vontades. Para mim, pessoalmente, aconteceu uma mudança abrupta: ser nomeado arcebispo de Londrina; organizar-me para deixar a diocese de Paranavaí onde havia todo um programa a ser executado, inclusive, o seu Jubileu de Ouro; tomar posse em Londrina e, efetivamente, iniciar os trabalhos por aqui. Isto significou muito trabalho e dedicação.

Nestes meses tenho gasto o meu tempo ouvindo pessoas e grupos e dedicando-me, também, a pensar algumas questões um pouco mais estruturais para a continuidade do trabalho de evangelização. Tenho ouvido, em primeiro lugar, grande número de padres. Todos eles, em grupos dos decanatos e, por duas vezes, em reuniões de todo o Presbitério da Arquidiocese. Muitos também ouvi de maneira particular onde expunham os seus sonhos e desejos também os seus dissabores e fadigas. Digo com alegria que encontrei muitos sinais e expressões de fidelidade a Deus e à Igreja entre eles. Ouvi, também, grande número de religiosas, das várias congregações, que atuam diretamente aqui na Arquidiocese. Elas relataram os muitos trabalhos na área da educação, assistência social, evangelização nas periferias, prestação de serviços, oração, etc. Trato especial foi dado à questão da formação dos futuros padres. É uma área que enfrenta muitos desafios, inclusive, o de se adaptar à nova RatioFundamentalis que apresenta caminhos bem concretos para os quais devemos nos organizar. Outros departamentos da Mitra Diocesana também precisaram de tempo, tais como, a economia, a catequese, o Tribunal Eclesiástico, a Chancelaria, a Cáritas Diocesana e Regional, a Coordenação Diocesana da Ação Evangelizadora, a formação e direção do Diaconato Permanente, a Pastoral Juvenil, as Escolas Decanais de Teologia para os Leigos, Formação Permanente do clero e os cuidados com a sua saúde e bem estar, etc.

Se até aqui nos detivemos em questões “Ad intra” da Igreja é, porém, necessário dizer que a dimensão “Ad Extra” também foi objeto das preocupações. Cito os encontros e diálogos com Deputados Estaduais e Federais, Prefeitos, Vereadores, empresários, organizações sociais, tais como sindicatos, ONGs, Partidos Políticos, grupos organizados ao redor de questões sociais prementes em Londrina e região. Tive a honra de conversar com juristas, advogados, Promotores Públicos, jornalistas e os Meios de Comunicação Social. Também nos alegraram com a sua presença e apoio Pastores de várias igrejas cristãs e também representantes de religiões não cristãs. Importante foi o envolvimento em algumas causas urgentes que estão presentes neste rol: a Pastoral dos Migrantes que acolhe e ajuda muitas pessoas a se instalarem em nossa região e a ajuda, inclusive política, prestada a comunidades em necessidade.

Além disso estão muito presentes os trabalhos das Santas Missões Populares e também de organização do 14º Intereclesial de Ceb´s que deverá ocorrer de 23 a 27 de Janeiro de 2018 em Londrina. As SMP foram objeto de muitas celebrações nas paróquias e comunidades por muitas razões: formação, abertura ou encerramento de Semanas Missionárias, encontros de avaliação, etc. O 14º Intereclesial de CEB´s provocou muitos encontros de organização e planejamento, especialmente. Assim termina o Ano do Senhor de 2017. Ele começou com sua natural dependência dos anos anteriores e termina exercendo forte influência sobre o ano de 2018 e os anos vindouros. Obrigado, Senhor, pelo grande ano de 2017.

Desejo a todos um Ano Novo repleto de graças, conquistas e realizações. Deus seja louvado pela vida e pelas boas perspectivas que o ano de 2018 nos traz.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

 

[dropcap]T[/dropcap]odos nós acompanhamos com uma certa tristeza o retorno da discussão sobre o trabalho escravo em nosso país. Fez-se da questão uma moeda de troca com a Câmara Federal e com políticos corruptos fortemente interessados nela, na busca de apoio político para as votações que iriam ocorrer nos dias seguintes.  O governo publicou a Portaria 1129 do Ministério do Trabalho, que foi explicada pela Agência Brasil da seguinte forma: “Há uma semana, o Ministério do Trabalho publicou no Diário Oficial da União (DOU) a Portaria 1.129, assinada pelo ministro Ronaldo Nogueira, na qual dispõe sobre os conceitos de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições análogas de escravo, com o objetivo de disciplinar a concessão de seguro-desemprego a pessoas libertadas”. Ainda, segundo a Agência Brasil, “além de acrescentar a necessidade de restrição da liberdade de ir e vir para a caracterização da jornada exaustiva, por exemplo, a portaria também aumentou a burocracia da fiscalização e condicionou à aprovação do ministro do Trabalho a publicação da chamada lista suja, com os nomes dos empregadores flagrados reduzindo funcionários a condição análoga à escravidão”. A portaria gerou reações contrárias de entidades como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liminar (decisão provisória) na terça-feira, 24 de outubro, suspendendo os efeitos da Portaria.

Vários pontos mereceriam análise mais profunda para melhor compreensão das consequências nefastas que brotam da sua efetivação. O Conselho Permanente da CNBB emitiu nota oficial repudiando com veemência a Portaria 1129 considerando que ela elimina proteções legais contra o trabalho escravo. A CNBB cita palavras do Papa Francisco, no dia Mundial da Paz de 2015: “hoje, na sequência de uma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravatura – delito de lesa-humanidade – foi formalmente abolida no mundo. O direito de cada pessoa não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi reconhecido, no direito internacional, como norma inderrogável” Os bispos continuam denunciando que, infelizmente, este flagelo continua sendo uma realidade inserida no tecido social.


O trabalho escravo é um drama e não podemos fechar os olhos diante dessa realidade” CNBB.


A crueldade da Portaria do Ministério do Trabalho é chamada de “desumana” e que “faz fechar os olhos dos órgãos competentes do Governo Federal que têm a função de coibir e fiscalizar esse crime contra a humanidade”. Ao final da nota é feito, mais uma vez, um chamamento ao País. Todos conhecemos a história “onde vigorou a chaga da escravidão de modo legalizado”. Temos o dever de “repudiar qualquer retrocesso ou ameaça à dignidade e liberdade da pessoa humana”. Nosso povo não merece mais ser tratado assim. É justo que possamos esperar o mínimo de respeito do governo do país. Os direitos conquistados a duras penas não podem ser leiloados por troca de favores entre quem quer que seja. Não podemos pensar em um país que se desenvolve às custas da escravidão de alguém.

dom geremiasDom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

[dropcap]O[/dropcap] momento histórico que estamos vivendo, por diversas razões, é carregado de muita intolerância e também de fundamentalismos. Nos dicionários que consultei, Intolerância “é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. No mesmo dicionário, fundamentalismo “é a estrita adesão a um conjunto específico de doutrinas teológicas tipicamente em reação à teologia do modernismo. Estes dois termos, porém, denotam reações e conceitos na área da religião, da política, da economia, da cultura, da educação, etc. É, portanto, um movimento mundial muito amplo.

Motivados por acontecimentos recentes envolvendo a utilização de símbolos religiosos da fé católica em manifestações e exposições “artísticas”, “que, em nome da arte e da cultura, desrespeitaram a sexualidade humana e vilipendiaram símbolos e sinais religiosos, dentre eles o crucifixo e a Eucaristia, tão caros à fé dos católicos”. Os bispos que integram o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) elaboraram a mensagem ao povo brasileiro, divulgada em Coletiva de Imprensa, realizada na sede da entidade, dia 26/10. No documento, os bispos reconhecem que “em toda sua história, a Igreja sempre valorizou a cultura e a arte, por revelarem a grandeza da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fazendo emergir a beleza que conduz ao divino”. Contudo, recentemente, a mensagem destaca que “crescem em nosso meio o desrespeito e a intolerância que destroem esta harmonia, que deve marcar a relação da arte com a fé, da cultura com as religiões. Se, por um lado, a arte deve ser livre e criativa, por outro, os artistas e responsáveis pela promoção artística não podem desconsiderar os sentimentos de um povo ou de grupos que vivem valores, muitas vezes, revestidos de uma sacralidade inviolável”.

Os bispos chamam a atenção de toda a sociedade, dizendo: “o desrespeito e a intolerância, por parte de artistas para com esses valores, fecham as portas ao diálogo, constroem muros e impedem a cultura do encontro. Preocupam, portanto, o nível e a abrangência destas intolerâncias que, demasiadamente alimentadas em redes sociais, têm levado pessoas e grupos a radicalismos que põem em risco o justo apreço pela arte, a autêntica liberdade, a sexualidade, os direitos humanos, a democracia do País”.

Penso que é necessário dizermos claramente que: vivemos numa sociedade pluralista, por isto, precisamos saber conviver com os diferentes. Isso, contudo, não subtrai à Igreja o direito de anunciar o Evangelho e as verdades nele contidas, a respeito de Deus, do ser humano e da criação. Em desacordo com ideologias como a de gênero, é nosso dever ressaltar, sempre mais, a beleza do homem e da mulher, tais como Deus os criou, bem como os valores da fé, expressos também nos símbolos religiosos que, com sua arte e beleza, nos remetem a Deus. Desrespeitar estes símbolos é vilipendiar o coração de quem os considera instrumentos sagrados na sua relação com Deus, além de constituir crime previsto no Código Penal”.

Vamos reforçar sempre mais a “cultura do diálogo e do encontro”. Através deles é possível respeitar e exigir respeito e sentir as riquezas e dons que encontramos no outro para o bem de todos.

dom geremias
Dom Geremias Steinmetz

Arcebispo Metropolitano de Londrina

semana do pobre (4)

[dropcap]T[/dropcap]odos nós estamos lembrados que no ano de 2015 até novembro de 2016 o Papa Francisco promoveu para toda a Igreja o Ano Santo da Misericórdia. Publicou a Bula MISERICORDIAE VULTUS – O rosto da misericórdia – e com ela convocou a Igreja a anunciar, compreender e viver a misericórdia de Deus. Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Ele é a síntese do Mistério da Fé. Anunciado desde o Antigo Testamento Jesus veio a nós na plenitude do tempo (Gl 4,4) e com sua palavra, os seus gestos e toda a sua pessoa, revelou a misericórdia de Deus.

Precisamos contemplar o mistério da misericórdia. Ela é condição de nossa salvação e que revela o mistério da Santíssima Trindade. É possível, inclusive, definir a misericórdia:

  1. É o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro;
  2. É a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida;
  3. É o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.

O Papa João XXIII (1959 – 1963), ao abrir o Concílio Vaticano II assim falou da misericórdia: “Nos nossos dias, a Esposa de Cristo (Igreja) prefere usar mais o remédio da misericórdia que o da severidade”. O Papa Beato Paulo VI também falou da misericórdia durante o Concílio Vaticano II: “Desejamos notar que a religião do nosso concílio foi, antes de mais, a Caridade (…) aquela antiga história do bom samaritano foi exemplo e norma segundo os quais se orientou o nosso Concílio …. (MV 4)… Toda esta riqueza doutrinal orienta-se apenas para isto: servir o homem em todas as circunstâncias da sua vida, em todas as suas fraquezas, em todas as suas necessidades”. De maneira especial o Santo Padre lembra da vivência das obras de misericórdia corporais: dar de comer aos famintos; dar de beber aos sedentos; vestir os nus; acolher os peregrinos; dar assistência aos enfermos, visitar os presos; enterrar os mortos. Recorda ainda as obras de misericórdia espirituais: aconselhar os indecisos; ensinar os ignorantes; admoestar os pecadores; consolar os aflitos; perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas; rezar a Deus pelos vivos e defuntos. Ao término deste Ano Santo o Papa publicou a Carta “A Misericórdia e a mísera” onde oferece à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, “para que as comunidades cristãs se tornem, em todo mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e mais carenciados”.

semana do pobre (2)Nela o Papa chama a todos: “Convido a Igreja inteira e os homens e mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia em todos aqueles que estendem suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São nossos irmãos e irmãs criados e amados pelo único Pai celeste. Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos. Foram os homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão” (n. 6).

A convicção do aumento do número de pessoas sofrendo com a pobreza e passando fome em nosso país, e no mundo, é visto como um fator para afirmar a relevância dessa iniciativa. É visível o aumento do número de refugiados, migrantes, desemprego no nosso país, corte de verbas para políticas públicas, exclusão social, etc.  É importante promover rodas de conversa com os diferentes grupos de empobrecidos. Aproximar o povo destas pessoas, quebra preconceitos e gera solidariedade. Promover gestos concretos em favor de projetos que promovam a vida. É importante começar sabendo que a primeira edição do Dia Mundial dos Pobres talvez não alcance grandes resultados, mas é uma consciência que precisa se desenvolver. Assim fica estabelecido que em todos os anos, no 33º domingo do Tempo Comum, neste ano em 19 de novembro, o Dia Mundial dos Pobres.

dom geremiasDom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

[dropcap]I[/dropcap]númeras vezes a CNBB tem se pronunciado sobre diferentes momentos políticos, questões políticas mais relevantes e sobre problemas mais decisivos para a democracia, a justiça, os direitos dos mais pobres, etc. O necessário diálogo que a política sempre exige, supõe que se possa trabalhar com a verdade dos fatos, das análises, e também do interesse sincero pelo todo da nação que deve dirigir os interesses de todos. A nota à qual me refiro é do Conselho Permanente da CNBB que esteve reunido de 24 a 26 de Outubro, curiosamente no dia em que a Câmara dos Deputados, livrou, pela segunda vez o Presidente da República de ser investigado. A presidência da CNBB manifestou mais uma vez sua apreensão e indignação com a grave realidade político-social vivida pelo país, que afeta tanto a população quanto as instituições brasileiras. No texto, a entidade repudia a falta de ética que se instalou nas instituições públicas, empresas, grupos sociais e na atuação de inúmeros políticos que “traindo a missão para a qual foram eleitos, jogam a atividade política no descrédito”.

nota momento politico cnbb
Dom Murilo S. Krieger/Vice-Presidente, Cardeal Sergio da Rocha/Presidente, Dom Leonardo U. Steiner/Secretário-Geral

 A Conferência criticou a desilusão que vem, sistematicamente, tomando conta da população. Diz claramente: “A apatia, o desencanto e o desinteresse pela política, que vemos crescer dia a dia no meio da população brasileira, inclusive nos movimentos sociais, têm sua raiz mais profunda em práticas políticas que comprometem a busca do bem comum, privilegiando interesses particulares. Tais práticas ferem a política e a esperança dos cidadãos que parecem não mais acreditar na força transformadora e renovadora do voto. É grave tirar a esperança de um povo”. Manifesta a preocupação com o futuro político do país, especialmente com relação a “salvadores da pátria” e “radicalismos e fundamentalismos” que têm chão fértil em situações como a que estamos vivendo: “Urge ficar atentos, pois, situações como esta abrem espaço para salvadores da pátria, radicalismos e fundamentalismos que aumentam a crise e o sofrimento, especialmente dos mais pobres, além de ameaçar a democracia no País”.


“A apatia, o desencanto e o desinteresse pela política, que vemos crescer dia a dia no meio da população brasileira” CNBB.


Há, contudo, no olhar sobre o futuro, a responsabilidade de um chamamento para a esperança e o bom exercício da cidadania capaz de purificar a política e a esperança: “Apesar de tudo, é preciso vencer a tentação do desânimo. Só uma reação do povo, consciente e organizado, no exercício de sua cidadania, é capaz de purificar a política, banindo de seu meio aqueles que seguem o caminho da corrupção e do desprezo pelo bem comum”. Todos, enfim, são convocados a demonstrar o seu amor pela nossa pátria, participando dos momentos decisivos que teremos pela frente. Assim manifesta-se a CNBB: “Incentivamos a população a ser protagonista das mudanças de que o Brasil precisa, manifestando-se, de forma pacífica, sempre que seus direitos e conquistas forem ameaçados”. Cremos que nem todos são corruptos e que nem tudo está perdido, por isso continuamos manifestando a nossa esperança na nossa “amada pátria, Brasil!”: “Chamados a ‘esperar contra toda esperança’ (Rm 4,18) e certos de que Deus não nos abandona, contamos com a atuação dos políticos que honram seu mandato, buscando o bem comum”. Enfim, seja esta a razão da nossa torcida e objetivo do nosso trabalho.

dom geremiasDom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

Os Encontros Intereclesiais das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), de acordo com o Documento 92 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) intitulado “Mensagem ao povo de Deus sobre as comunidades eclesiais de base” são definidos como patrimônio teológico e pastoral da Igreja no Brasil. Desde a realização do primeiro, em 1975, em Vitória (ES) reúnem-se diversas dioceses para troca de experiências e reflexão teológica e pastoral sobre a caminhada das CEBs. O evento congrega bispos, religiosos, assessores e animadores das comunidades.

Com o tema “CEBs e os desafios no mundo urbano” e o lema “Eu ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-los” (Ex 3,7), o 14º Intereclesial das CEBs ocorrerá em Londrina (PR), nos dias 23 a 27 de janeiro de 2018. O evento pretende reunir representantes de todas as regiões do Brasil, de países da América e de outros lugares para celebrar a diversidade e a beleza de viver o Evangelho de Jesus de Nazaré. Nele também se objetiva a expressão da comunhão entre os fiéis e seus pastores.

Segundo o arcebispo de Londrina, dom Geremias Steinmetz, anfitrião do próximo encontro, a iniciativa já conta com mais de duas mil pessoas inscritas. Para ele, a temática do evento, que trata a questão da realidade urbana, é necessária e urgente e, por isso, atraiu um grande número de participantes. “Hoje já temos um percentual de mais de 80% dos brasileiros vivendo em cidades, os que nelas não habitam vivem a cultura urbana de qualquer jeito, seja através da televisão, do rádio, da internet, e isso está tomando conta do nosso país”, afirma.

Para dom Geremias, a Igreja vem de encontro à temática, uma vez que quer debater junto à sociedade a questão dos direitos. “Queremos debater o assunto para que de fato o povo que vive nas cidades possa ter a sua dignidade humana respeitada e acima de tudo possa viver bem e para que isso aconteça entra a questão de uma série de direitos a ser conquistados, como é o caso do acesso à educação, ao transporte, à segurança pública, então são essas as questões que nós estamos enfrentando hoje”, complementa.

Subsídios

Rumo ao 14º Intereclesial das CEBs, o secretariado do evento apresentou os subsídios que irão animar a caminhada das comunidades em 2018. O texto-base que tem como título “CEBs e os Desafios do Mundo Urbano” é dividido no método ver, julgar e agir e, como o próprio nome indica, oferece uma reflexão sobre os desafios vividos no mundo urbano.

O primeiro capítulo do livro traz uma abordagem do processo de urbanização no Brasil, contextualizando a origem das cidades brasileiras, suas dinâmicas e culturas. No segundo capítulo, o texto-base traz uma fundamentação teológica para a ação das CEBs em relação aos desafios da cidade. Já no último capítulo são apontados os problemas mais graves ou mais urgentes pelos animadores de CEBs no Brasil, como a questão da moradia, violência, saúde, educação.

Além do texto-base, também já estão disponíveis para download o cartaz do evento, o cancioneiro e a oração que conduzirá o 14º Intereclesial. Confira no site www.cebsdobrasil.com.br.

CNBB