Dia mundial das águas …” a criação abriga a esperança, pois ela também será libertada da escravidão da corrupção (Rm8,20b-21ª)
O Dia Mundial das Águas foi celebrado na Arquidiocese de Londrina no dia 20 de março, na Terra Indígena Apucaraninha, área de retomada. Essa celebração foi realizada pela Comissão Pastoral da Terra e o Núcleo das Pastorais Sociais.
A data é comemorada todo ano no dia 22 de março. A mesma foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992 e visa à conscientização da população sobre a importância do cuidar dos mananciais. O tema deste ano é: “Águas subterrâneas: Tornando o invisível visível”.
Para o padre Dirceu Luiz Fumagalli, coordenador regional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o intuito de realizar a celebração na terra indígena em torno de uma nascente está na lógica da retomada das terras indígenas. “A retomada das terras indígenas não é só a retomada da terra, eles estão retomando uma terra utilizada para o agronegócio, então estão recuperando uma terra desnudada. Recuperar o território indígena é recuperar a terra, as matas e as águas. A terra é algo determinante para esse processo”, afirmou. Por isso celebrar numa reserva, apesar do tema de 2022, ser águas subterrâneas.
Fumagalli explicou que a retomada dessa área indígena é fruto de um movimento insurgente dentro da própria comunidade indígena, principalmente dos mais jovens que não querem mais arrendar as terras. Eles querem retomar o cuidado e o cultivo com a terra. Dentro dessa lógica a CPT se recoloca na solidariedade. “Fomos lá no início do processo solidariamente, para oferecer alimentos, lonas, num segundo momento levamos sementes para o início do plantio de sementes de um tempo mais curto de produção, ajudamos com a estrutura mínima para que pudessem ter água com as mangueira e dentro desse contexto de diálogo achamos prudente, juntamente com eles, fazer essa celebração e, sendo solidários e no desdobramento dessas ações, além da celebração das águas, fazer um gesto simbólico um plantio em torno da nascente, dialogando entre terra, água e mata”, concluiu.
De acordo com a integrante da CPT Isabel Diniz, o local onde se realizou a celebração das águas possui quatro minas d’água, sendo que uma delas foi limpa para que a celebração ali fosse realizada. Nesse local foram plantadas 50 mudas de variedades específicas para reflorestamento em torno de nascente de água. Isabel comentou pontos importantes da celebração realizada.
Celebração, compromisso e partilha
“A celebração teve como ponto central a retomada da terra, não somente da terra, mas do território em que a fauna, a flora, a terra e a espacialidade é considerada passível de recuperação. É uma área bastante degradada e poluída por conta do uso abusivo de agrotóxicos no monocultivo, então a retomada dessa área para o povo Kaigang é a retomada de uma área saudável com qualidade de vida, com a água recuperada”, disse. Durante a celebração os indígenas cantaram no idioma Kaigang, manifestando assim a sua cultura.
Participaram da celebração aproximadamente 150 pessoas, entre indígenas, apoiadores e integrantes da CPT, do coletivo popular de Londrina, jovens universitários, pessoas de diversas comunidades e também um grupo de religiosas Claretianas de Londrina e as Irmãs de Santana, que trabalham em Tamarana, juntamente com o diácono Cirço, representante da Pastoral Indigenista.
Os participantes da celebração fizeram um gesto de compromisso, bebendo da água da mina que foi colhida com um balde e distribuída. Em seguida foi feito um gesto de partilha de frutas da época.
Ao final, os participantes foram convidados a realizar o plantio das mudas em torno da nascente.
Preservar a água, a terra, a mata, o povo
O coordenador do Setor Cultural Indígena Kaigang da Reserva Apucaraninha, Israel Kanh Ru Marcolino, explicou porque essa retomada se dá nesse momento. “O nosso pensamento é cuidar da cabeceira das minas, reflorestar a áreas pois a minas estão secando. Em primeiro lugar está a água, precisamos reflorestar com mata nativa mesmo. Precisamos fazer parcerias para produzir alimentos, para o sustento das nossas famílias pois muitas delas passam necessidades. A retomada para nós é importante porque a nossa população está crescendo demais. Para a retomada nós temos a documentação para isso então não é dúvida, é certeza”, disse Marcolino.
De acordo com o coordenador, esta terra pertence a essa comunidade desde 1955, mas estava arrendada para plantio de comodities. Devido ao aumento das famílias indígenas ele percebeu a necessidade de as famílias terem um pedaço da terra para plantar e preservar seus costumes e se autossustentarem.
Os indígenas estão organizados e deram um prazo de 90 dias para que as autoridades façam a regularização da terra que pertence a essa comunidade. Ele ressaltou a importância do trabalho da CPT apoiando a jornada de luta e de alguma maneira orientando, subsidiando com sementes, equipamentos a permanência desse povo e preservação da sua cultura.
Irene Alves Oliveira dos Santos
PASCOM Arquidiocesana
Fotos: Divulgação