Quinta-feira, 23/2/2023

No segundo vídeo da série sobre a Campanha da Fraternidade 2023: “Fraternidade e Fome”, o arcebispo dom Geremias Steinmetz fala da Quaresma como o tempo favorável para a conversão pessoal, comunitário-eclesial e social.

Realização: Pascom Arquidiocesana
Direção: Pe. Dirceu Júnior dos Reis
Produção: Juliana Mastelini Moyses
Edição/Imagens: Tiago Queiroz
Foto: Terumi Sakai

Hoje celebramos a festa da conversão de São Paulo, o apóstolo dos gentios. São Paulo não chegou a conhecer Jesus durante a sua vida pública e não pertenceu ao círculo dos doze apóstolos. Bento XVI, a respeito disso, afirma que só com o coração se conhece verdadeiramente a uma pessoa. É assim que São Paulo conheceu a Cristo, com o coração, e deste modo é que se conhece a pessoa em sua verdade e, em um segundo momento nos seus detalhes.

Tudo o que ele nos transmitiu em seus escritos, não foi fruto do testemunho ocular, senão da transmissão que ele mesmo recebeu: Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras (Cfr. 1 Cor 15,3).

Antes disso, São Paulo tinha sido um dos principais perseguidores da dita seita judaica dos seguidores de Jesus, considerada herética pelo judaísmo.

O encontro com Cristo foi de repente, narra o livro dos Atos dos Apóstolos. Depois de ter recebido poderes do Sumo Sacerdote para perseguir os cristãos, encontrou-se com Jesus no caminho de Damasco. O relato (At 9,1-19) descreve o momento como uma teofania, pois se vê envolvido por uma luz, cai no chão e escuta uma voz do céu com a qual dialoga.

A luz de Cristo transformou toda a sua vida e forma de pensar: ficou cego, e como havia permanecido na escuridão, restaurou a visão graças a essa nova iluminação.

“A vocação para ser apóstolo funda-se não nos méritos humanos de Paulo, que se considera «último» e «indigno», mas na bondade infinita de Deus, que o escolheu e lhe confiou o ministério”. (Papa Francisco – 25 de Janeiro de 2016 – Solenidade da Conversão de São Paulo)

Leia mais sobre o apóstolo São Paulo no <link>.

Santa Mônica provou com sua vida que tudo pode ser mudado pela força da oração. Padroeira dos pais, a história diz que rezou 30 anos pela conversão de seu filho Agostinho, além das dificuldades com seu marido rude e violento e outro filho. A graça foi tanta que Agostinho (354-430) tornou-se filósofo, escritor, bispo e teólogo cristão africano, responsável pela elaboração do pensamento cristão. Grande intelectual, deixou uma gigantesca obra literária: foram 113 trabalhos, 224 cartas e mais de 500 sermões, fundamental para a doutrina da Igreja Católica. Exerceu influência em várias áreas do conhecimento. Teve papel importante na fixação da hierarquia na Igreja Católica e fez a síntese entre a filosofia grega e o pensamento cristão. Faleceu aos 75 anos em Hipona, África, no dia 28 de agosto de 430. Santo Agostinho foi canonizado por aclamação popular e reconhecido como Doutor da Igreja em 1292 pelo Papa Bonifácio VIII.

 

Já Santa Mônica, nascida em 332, na cidade de Tegaste, Argélia, norte da África, deixou para todas as mães o ensinamento de que além de educar os filhos para viverem em sociedade, é preciso educá-los para Deus, desenvolvendo neles a vida espiritual. Ensina que mães e pais devem se preocupar com a salvação e santificação de seus filhos. Santa Mônica faleceu no ano 387, aos 56 anos. Foi canonizada pelo Papa Alexandre lll, por ter sido a responsável pela conversão de Santo Agostinho, ensinado a fé cristã, a moral e a mansidão.

 

A biografia é ampla e impossível de ser apresentada aqui, por isso, Frei Rodrigo Vieira, OSA, agostiniano da Paróquia São Pedro Apóstolo e Nossa Senhora de Fátima, de Rolândia, contextualiza que nos séculos IV e V o Cristianismo estava começando a se fundamentar e fazia pouco tempo que tinha se tornado religião oficial do Império Romano. “É muito importante levar
em consideração isso, que os fundamentos da fé como temos hoje, sua estrutura, era algo muito inicial no tempo de Mônica e Agostinho. Então vemos em Mônica uma grande piedade e devoção, mas não como uma doutrina estipulada, e Agostinho torna-se um dos responsáveis pela elaboração dessa doutrina, por isso ele tem essa grande importância. Existem temas de teologia
e dogma, por exemplo, Trindade e graça que foi Agostinho quem ajudou a fundamentar e, principalmente, ajudou a combater as heresias. Com a fé de Mônica e conhecimento de Agostinho nós vemos a elaboração não só de uma teologia, mas de um pensamento cristão a partir da intelectualidade, mas também com a prática da oração”, explica.

 

O maior legado de Santa Mônica, conta o frei, realmente é a questão da oração e persistência pela conversão do filho e principalmente a educação na fé. Agostinho sempre foi cristão, mas se desviou do caminho e voltou graças ao bispo Ambrósio e às orações de sua mãe e testemunho. Ele não compreendia aquela fé que ela tinha porque era bem devocional, mas conforme ele vai estudando, escutando o bispo Ambrósio e lendo mais os evangelhos, a fé começa a ter sentido, então tudo aquilo que a mãe dele testemunhava, rezava e fazia começa a ter mais peso para ele. “Então a grande marca de Santa Mônica é a oração e, principalmente, a perseverança na fé, sobretudo com um objetivo fixo que era a conversão do filho”, afirma.

 

Para Rodrigo, a questão de Santo Agostinho que marca seu pensamento, sua vida de fé e conversão é a busca por Deus. A princípio ele buscava pela verdade, querendo encontrar na filosofia e nos estudos, mas ele nunca se encontra com isso, tanto que ele parte para seitas, mas chega, enfim, um momento que ele se depara com Deus e percebe que o caminho para Deus
não é sair, como diz nas Confissões (uma de suas obras), contemplando Deus fora, mas olhar para dentro de si. “Tanto que ele tem aquele famoso pensamento que diz: ‘Tarde vos amei, ó beleza tão antiga e tão nova, eis que estavas dentro e fora me lançava e me lançavas sobre as coisas tão lindas que tú criastes, tarde te amei’. Então a gente vê que a beleza de Agostinho, seu pensamento é falar sobre a busca de Deus e o conhecimento de Deus a partir da realidade interior de cada homem. É conhecido como aquele que tinha um coração inquieto, tanto que um dos símbolos da nossa ordem é um coração em chamas, inquieto pela busca da verdade”, elucida.

 

Muitas vezes chamado martelo dos hereges, doutor da graça, águia de Hipona, ele tem vários nomes para falar de sua grande inteligência e possibilidade de ter ajudado a defender
a fé católica contra as heresias, além de ser visto como membro eminente da Igreja.
Frei Rodrigo esclarece ainda que tanto Santo Agostinho quanto Santa Mônica não são santos milagreiros, mas têm suas virtudes e características em questões que revelam a vivência da fé, a prática da oração e a busca por Deus do que propriamente a realização de milagres. “Tanto que quando a gente se refere a Santa Mônica ou a Santo Agostinho é a busca de Deus e a perseverança na oração. Então nós não vemos os dois como milagreiros, a exemplo de Santo Expedito ou Santa Rita. Santo Agostinho é a questão da busca de Deus, a conversão, a possibilidade de uma transformação e Santa Mônica é a perseverança na oração. Isso é muito importante para nós agostinianos. A gente persevera na oração através da nossa busca contínua
por Deus, na interioridade e, principalmente, no serviço à Igreja, a exemplo de Agostinho”, conclui.

 

Mães que oram

Muitas são as mães que, a exemplo de Santa Mônica, intercedem e pedem a Deus por seus filhos. Fruto da fé e devoção, muitas vezes a prática vem de família. Membros do movimento das Equipes de Nossa Senhora, Marli Marques de Andrade e Haroldo Vasconcelos sempre foram um
casal de oração, desde o namoro. Juntos há 25 anos rezam principalmente pelos filhos.

 

Mas foi com a mãe Maria Francisca dos Santos Andrade, falecida há 6 anos, aos 82, que Marli aprendeu a importância da oração. “Minha mãe contava para a gente que meu irmão Brás, seu segundo filho, quando ainda criança ficou doente. Tinha todos os sintomas de paralisia infantil e poderia ficar com sequelas. Moravam no sítio e não havia vacina disponível. Então ela dobrou os joelhos e orou muito, pedindo a Deus que não deixasse-o ficar aleijado. No dia seguinte vazou pelo ouvido dele um líquido verde no travesseiro que até o médico quando viu exclamou que as orações tinham tido efeito porque aquele líquido era o causador do problema. Disse que poderiam ir para casa que meu irmão ficaria bem. A partir desse testemunho da minha mãe eu percebi o poder da oração que a mãe tem sobre os filhos. Então eu rezo todos os dias pelo Francisco e pela Marina (filhos do casal) e tenho conseguido grandes graças. Passamos por momentos de tribulação e revolta na época da adolescência mas, graças a Deus, estamos superando. Então, mães de joelhos filhos em pé!”, testemunha.

 

Outra mãe dedicada à oração e que já experimentou muitas graças é Marilza Dolfini, consagrada desde 2015 ao Apostolado Eucarístico da Divina Misericórdia, em Cambé (PR). Ela conta que sua caminhada de Igreja começou com os pais que viviam em área rural e reuniam os vizinhos para rezar o terço, já que missa era só uma vez por mês. “Lembro do meu pai puxando o terço, da
minha mãe e meu pai sendo catequistas e já na cidade eu também fui catequista por 16 anos na Paróquia Santo Antônio. A gente vai caminhando e Deus vai pondo o que quer da gente”, reflete.

 

Uma das missões do apostolado é levar caravanas ao Santuário de São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes (PR). No ano passado, mesmo achando-se sem preparo físico e saúde adequada, ela reuniu um grupo de dez pessoas e partiram a pé numa peregrinação de 3 dias até o santuário, chegando lá dia 29 de setembro, festa de São Miguel. “No cajado e no coração, levei várias intenções – até mesmo a questão física – mas a principal delas foi o pedido que minha filha Larissa fosse aprovada no mestrado da Universidade de Campinas (Unicamp – SP). E ela conquistou a vaga, pela graça de Deus e intercessão de São Miguel Arcanjo”, afirma.

 

Marilza atribui à oração e graça divina também o fato de ter respondido ao tratamento médico e gerado duas filhas mesmo tendo endometriose, com trompas e útero comprometido. Quando a primeira filha Thaís tinha uns 2 anos ela começou a sentir muitas dores até que foi descoberta uma gravidez tubária de 4 meses que necessitou de intervenção de urgência por cesárea, sob risco de morte. “Sentia dor, mas não se via o feto no ultrassom, por isso demorou a descobrir a gravidez. Pouco tempo após a cesariana, ainda com o corpo se recuperando, engravidei de novo e o médico avisou dos riscos, então comecei a rezar com o terço na barriga. Por obra e graça já não tinha dor e tudo transcorreu perfeitamente até o nascimento da Larissa. Tudo foi graça. A
oração dissipa o mal de livramento”, crê. 

 

A próxima peregrinação ao Santuário de São Miguel Arcanjo, em Bandeirantes, sairá de Londrina no dia 26 de setembro, quinta-feira, e chegará em bandeirantes no dia 29, domingo. Interessados em participar da peregrinação podem entrar em contato pelos telefones: 43 99848-2306 / 43 99148-2251

 

Rosário é tradição na Rainha todo dia 27

O Grupo de Oração da Paz, da Renovação Carismática da Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, Decanato Centro, tem no rosário uma atividade de mães que rezam pelos filhos. É rezado há dez anos, todo dia 27 com intercessão de Santa Mônica. A coordenadora do grupo Rosângela Cassitas Lombardi, afirma que a tradição do rosário na Rainha já fez embriões em outras paróquias e até mesmo cidades e que embora o lema seja Mães de joelhos, filhos em pé, uma atitude de fé e perseverança, o rosário é aberto a participação de todos, não somente mães e avós. “Quando o dia 27 cai no final de semana os encontros são realizados na segunda-feira, das 14h às 16h. Rezamos os 4 terços, totalizando um rosário, tendo a devoção de Santa Mônica como nossa intercessora”, explica. A Igreja Rainha dos Apóstolos fica na Av. Tiradentes, 43 Jd. Shangri-Lá.

 

 

Luciana Maia Hessel
Pascom Arquidiocese

Reportagem publicada na edição de agosto do Jornal da Comunidade (JC)

Irmã Elza Brogeato, missionária xaveriana no Chade (África) conta sobre o interesse da juventude na conversão ao cristianismo e os desafios de evangelizar em um país de maioria mulçumana

Considerado um dos países mais pobres da África e de maioria mulçumana, a República do Chade, na região Centro-Norte africana, está vivendo um aumento da população cristã, principalmente católica, um fenômeno que vem se replicando pelo continente africano, segundo o Anuário Pontifício 2018 (leia mais na página 10). Mas também tem sido motivo de preocupação pelas religiosas e padres missionários que atuam no país.

“A preocupação é como acompanhar esse pessoal que está se batizando. Quando eram menos pessoas, o acompanhamento era mais adequado, individual”, comentou a irmã Elza Brogeato, Xaveriana Missionária de Maria. A espiritualidade da população ainda é arraigada nas crenças dos antepassados de espíritos malignos e feitiçarias.

Por isso, no Chade, para ser batizada, a pessoa tem que passar por quatro anos de preparação. “Não se batiza crianças. Só a partir dos 12 anos, porque o ambiente lá ainda não é cristão. Como batizar uma criança se o pai ainda é totalmente envolvido na cultura deles? Então vai ser devagar”, disse a irmã.

Irmã Elza é missionária desde 2012 na comunidade de Beren, distante 400km da capital Jamena. Ela já esteve em missão lá em 1991 e 2004. De férias em Londrina, a missionária conversou com o JC sobre a sua missão e os desafios de evangelizar em um lugar tão diferente da realizada brasileira. 

Ela conta que há pouco tempo eram adultos e idosos que queriam ser batizados. Em média 30 batizados por ano. Hoje, são jovens. “Este ano, 500 jovens se inscreveram para fazer o catecumenato”, disse.  Eles fazem catequese nos vilarejos e sessões de formação nas paróquias. A catequese também é diferente do método brasileiro. “É uma catequese diferente, pela tradição oral. Proclama-se o Evangelho ou quando eles sabem ler o Evangelho é lido, a Palavra é refletida e pensada como vivenciar. Lá é tudo rude, tudo direto”, relata a irmã. O batizado ocorre no Sábado de Aleluia.

Outro fenômeno que está ocorrendo no Chade é a ida de protestantes para a Igreja Católica. “Cada missa, o padre apresenta uns dois ou três protestantes que estão vindo para a Igreja

Católica. Também há os católicos que mudaram para os 

protestantes e agora estão voltando”, comentou.

As religiosas ainda não conseguiram identificar o que tem fomentado essa busca pela fé cristã.

 

Uma realidade totalmente diferente

O pequeno país africano vive da agricultura e, recentemente, começou a exploração de petróleo. As condições climáticas, falta de infraestrutura e a cultura ainda freiam o desenvolvimento do país.

Ao longo do ano são oito meses sem chuva, energia elétrica ainda não chegou aos povoados e a população ainda acredita que uma pessoa bem-sucedida é um “comedor de almas”.

A irmã Elza Brogeato, Xaveriana Missionária de Maria, afirma que a realidade cultural no país é tão diferente da brasileira ou européia que há até uma certa dificuldade de entender o conceito de pobreza.  Ela conta que quando as Irmãs de Madre Tereza, que trabalham com os pobres mais pobres, chegaram no país, tinham dificuldade de identificar quem eram esses pobres.

“Tem que olhar pela cultura. Uma mulher que não tem filhos não vale nada. É excluída. Uma pessoa que tenha alguma deficiência física também é excluída e é taxada de feiticeira. Quando sentem essa etiqueta aí é que está a pobreza. É outro estilo, não é a aparência”, explica irmã Elza.

As crenças também dificultam o crescimento financeiro pessoal. “Quando alguém melhora de vida, eles dizem que a pessoa é feiticeiro “comedor de almas”, por isso ele ficou rico. Daí as pessoas têm medo”, conta a irmã.

Essa é uma questão difícil dos missionários abordarem. “A gente respeita, porque é inútil falar. Eles são amarrados com essas ideias, mesmo as pessoas que foram para universidade. Isso só vai mudar quando eles forem se aprofundando no cristianismo”, afirma a missionária.

Outro ponto que também emperra a evolução pessoal, segundo a irmã, é que quem é funcionário e ganha salário também precisa sustentar a família toda – pai, mãe, filhos, esposas, sobrinhos. “Eles são atormentados pela família e isso não estimula o crescimento da pessoa. Cria barreiras”, diz a missionária. 

Apesar de ser um país de maioria mulçumana, irmã Elza afirma que a convivência com eles é tranquila e respeitosa. Eles convidam as missionárias para suas festas religiosas e participam das celebrações especiais das irmãs. 

 

Aline Machado Parodi
Pascom Arquidiocesana

Reportagem publicada na edição de abril de 2019 no Jornal da Comunidade (JC).

Fotos: Arquivo Pessoal