App está disponível para download gratuito na Play Store e App Store

 

A Arquidiocese de Londrina abre o Advento, tempo de preparação para o Natal, com uma novidade: o lançamento do seu novo aplicativo. Disponível para Android e iOS, o app integra todo conteúdo do site, das redes sociais e ainda traz um material exclusivo, específico do aplicativo, como Bíblia On-line, meditação do Terço com o arcebispo, e Santo do Dia. A Missa de lançamento será neste domingo, 29 de novembro, presidida pelo arcebispo dom Geremias Steinmetz na Catedral Metropolitana de Londrina, às 10h30.

 

O App Arquidiocese de Londrina é mais um passo na utilização da tecnologia como ferramenta de evangelização, que se mostrou tão necessária durante a pandemia do novo Coronavírus. “Por meio do aplicativo, os leigos e leigas da nossa arquidiocese poderão acompanhar a caminhada da nossa Igreja, as lives em tempo real, todo conteúdo formativo, e, mais que isso, fazer que, pelo celular, as pessoas tenham o exercício espiritual da Leitura Orante, da meditação da Palavra de Deus, da meditação do Santo Terço, e isso com certeza é um passo para a santificação dos fiéis”, acredita padre Dirceu Junior dos Reis, assessor da Pastoral da Comunicação da arquidiocese.

 

Serviço:

Lançamento do App Arquidiocese de Londrina
Santa Missa com o arcebispo dom Geremias Steinmetz
Domingo, 29 de novembro, 10h30
Catedral Metropolitana de Londrina

 

Clique para baixar:

 

Neste mês da Bíblia, os Grupos Bíblicos de Reflexão (GBR) promovem o encontro de formação arquidiocesano sobre o livro do Deuteronômio, tema deste ano do mês de Setembro, dedicado às Sagradas Escrituras.

 

O encontro será realizado por transmissão ao vivo no dia 24/9, às 19h30, com assessoria de Waldir Romero Junior. Você pode acompanhar pelo Facebook ou Youtube da Arquidiocese de Londrina. 

 

Convide os grupos bíblicos da sua paróquia e participe deste momento de encontro com a Palavra de Deus.

 

Igrejas que são Santuários têm muitas características diferentes de uma paróquia convencional. Santuários primam por uma intensa atividade em torno de uma devoção especial. Tudo que se promove e realiza  visa destacar, ressaltar o Santo Padroeiro, a devoção. As liturgias e as grandes celebrações populares dão o tom da vida de um Santuário, com a participação de muitos romeiros e devotos. Santuários são bênçãos de Deus em nossas vidas, sinais claros da manifestação da glória e da graça divina que converte corações, cura feridas, salva. Numa expressão, santuários são lugares de memória e história de uma povo que tem fé, das profecias e das promessas de vida e salvação Deus para toda a humanidade, um caminho para santidade.

 

Sem descuidar da dimensão celebrativa e devocional, os Santuários também têm uma forte presença social. Geralmente onde surgem os Santuários a cidade e toda região sofrem mudanças, tornando-se mais vivas e dinâmicas. Pense na cidade de Aparecida, ou Lourdes, no que aconteceu com elas depois de seus santuários. Além disso, também desenvolvem todo um trabalho de atendimento individual, com manutenção de projetos de promoção humana, como escolas sociais, creches, asilos.  O voluntariado social tem um grande peso e presença nas atividades sociais,  geralmente formado por devotos dos padroeiros de cada santuário.

 

A Paróquia Santa Rita de Cássia, Decanato Leste, começa a dar  passos na direção do trabalho social que envolve os Santuários, trazendo junto também a fé e devoção,  com o cuidado e a promoção das realidades sociais de nossa comunidade, de nossa cidade e região. E como tudo na paróquia liga-se a essa grande Santa, foi implantado no dia 8 de fevereiro de 2020 o Roupeiro de Santa Rita.

 

O Roupeiro de Santa Rita costuma estar vinculado às paróquias ou Santuários dedicados à Santa de Cássia, como tradição que se segue do Mosteiro de Santa Rita em Cássia, Itália. Santa Rita foi um mulher extremamente caridosa, nunca deixou de acolher e ajudar quem a procurasse, precisando socorro para suas necessidades materiais. Fez isso com grande largueza, mesmo depois de entrar no convento. Usou de seus bens, para fazer o bem.

 

 

A generosidade e bondade de Santa Rita de Cássia tem sido inspiradoras para os projetos do Roupeiro de Santa Rita, experiência que tem atravessado o tempo e os mares. E chegou até a paróquia, primeiro para atender urgentemente uma situação pontual, de uma gestante cujo pai era ex- aluno de umas das voluntárias,  depois, em torno da criação e estabelecimento do projeto inteiro do Roupeiro, que consiste basicamente em preparar enxovais para crianças e acompanhar as gestantes e lactantes. Nossa proposta também é dar formações para as mães e famílias, bem como emprestar para noivas mais carentes, vestidos de noivas. Vivemos de doações da comunidades, cujas peças depois são consertadas e doadas para as crianças e es futuras mamães.

 

Nosso Roupeiro de Santa Rita do Futuro Santuário atende crianças de 0 a 12 anos, todas as gestantes são cadastradas e acompanhadas. Hoje, conta com local para receber as doações de roupas infantis, móveis e utensílios para os bebês e crianças, como berços, carrinhos, moisés e até brinquedos. Tem também duas máquinas de costuras para consertos das roupas. O objetivo é colocar as gestante para preparar os kits para seu futuro bebê. Temos no horizonte o desenvolvimento de atividades com as gestantes e suas famílias, como palestras sobre saúde, higiene pessoal e limpeza, bem como cursos  de cozinha e  artesanatos para geração de renda. Também o Roupeiro de Santa Rita quer se tornar uma experiência de convivência fraterna entre gestantes e voluntários, além oferecer atendimento de psicologia, fonoaudiologia, dentista, advocacia.

 

As atividades de nosso roupeiro não cessaram com a pandemia. Os cursos, palestras e atendimentos não puderam começar ainda, mas as doações de kit para gestantes e de móveis para crianças estão acontecendo, graças a Deus.  Nestes poucos meses foram ajudadas 30 famílias e gestantes de nossa paróquia e região. E as doações têm chegado, numa demonstração de grande solidariedade. As voluntárias produziram cerca de 500 máscaras e distribuíram para toda comunidade,  inclusive a máscara que está na imagem em frente à nossa Igreja.

 

Com o começo das atividades do Roupeiro de Santa Rita demos também um passo grande rumo à concretização do nosso Futuro Santuário. Contemplando a caridade, nosso Santuário se fortalece. Dando vida mais digna a quem mais precisa, a fé e devoção a Santa Rita encontram seu justo equilíbrio. O desenvolvimento das atividades do Roupeiro fará, então, do nosso Santuário uma experiência de amor e salvação, vida e graça, imitando na prática Santa Rita de Cássia, mulher de fé, oração e  caridade.

 

Todos os recursos para o trabalho do Roupeiro de Santa de Cássia vem das doações e ofertas do povo de Deus e dos devotos. Se você tiver roupas, calçados e móveis infantis, utensílios para bebês, para doação, deixe na secretaria paroquial ou ligue que vamos buscar: (43) 3336 31 66. 

 

Precisamos também de voluntários, para ajudar na organização, distribuição dos kits, materiais e  no trabalho com as gestantes. Necessitamos de profissionais para dar as palestras e cursos. Fale conosco. Ajude-nos nesta demanda. Graças serão derramadas.

 

Também se você desejar fazer qualquer doação em dinheiro, faça o depósito bancário, ou transferência bancária na conta do nosso futuro santuário. E por gentileza, nos envie um e-mail, informando sua doação para o Roupeiro de Santa Rita: santaritalondrina@sercomtel.com.br

 

Sicredi Banco 748
Agencia 0718 – Conta 44797-4

CNPJ 75228825/0052-07

 

Deus te abençoe e Santa Rita te proteja. Amém!

 

Pe. Edivan Pedro dos Santos
Paróquia Santa Rita de Cássia

 

Fotos: Divulgação

As Santas Missas com a presença de fiéis serão retomadas na Arquidiocese de Londrina a partir do dia 8 de agosto. As celebrações terão número reduzido de pessoas, conforme indica as recomendações sanitárias, e seguirão protocolo a ser elaborado e divulgado pela arquidiocese ainda nesta semana. 

 

A decisão foi tomada pelo arcebispo dom Geremias Steinmetz juntamente com o clero da arquidiocese em reunião na sexta-feira, 24 de julho, e vale para todas as paróquias da cidade de Londrina e dos outros 15 municípios de compõem a arquidiocese.

 

As duas semanas que antecedem a volta das missas presenciais serão um tempo para elaborar o protocolo de segurança para a realização das celebrações e para organizar as comunidades e equipes de celebração para o cumprimento das normas de seguranças, como higienização e distanciamento social.

 

Nesta semana, dom Geremias vai enviar orientações específicas às paróquias de como proceder no retorno das Santas Missas com a presença de fiéis.

 

Pascom Arquidiocesana

 

Monsenhor Joseph Agius foi um dos cinco seminaristas vindos de Malta em 1961 a convite de dom Geraldo Fernandes para concluir a formação para o sacerdócio e atuar na Igreja de Londrina. Neste mês ele completa 55 anos de ordenação presbiteral, junto com monsenhor Bernard Gafá, e conta à Revista Comunidade sobre a sua caminhada vivida na arquidiocese e na cidade de Rolândia 

 

 

 

Revista Comunidade – Como o senhor veio para Londrina? E por que vir para o Brasil?

Monsenhor Agius – No ano de 1957, eu estudava na ilha de Gozo, uma ilha vizinha de Malta. Sempre alimentei o desejo de não querer ser padre lá em Malta porque tinha muitos padres. Não havia razão, o que fazer pastoralmente falando como padre lá. E naquela época na minha terra natal tinha muito fervor missionário. Diversos seminaristas já tinham ido como missionários em outros países, tinha vindo alguns pra Argentina, outros foram pra Índia, outros tinham ido para África, Kênia, Tanganika. E lá pelo ano de 1959 eu fui pedir para o bispo de minha terra natal que eu queria ir como missionário na África, ainda estava no segundo ano de Filosofia. Ele olhou assim pra mim meio assustado: -“Mas pra África onde?” Falei: -“Olha, Tanganika, Zâmbia ou Rodésia”. Ele disse: -“Não conheço ninguém nesses lugares. Como vou te mandar pra lá?”. Eu era muito novo, não tinha nem 19 anos completos. E de repente ele saiu: -“Por que não vai ao Brasil?”. -“Brasil, nunca ouvi falar. Brasil é que nem África mais ou menos?”. -”Eu acho que é, também não conheço, mas deve ser”. -”Mas porque o senhor tá falando do Brasil?” -”É porque alguns meses atrás esteve aqui em Malta um bispo do Brasil procurando seminaristas, ele não queria padres, ele queria seminaristas para durante a teologia poder entrar em contato com a cultura, a mentalidade, o jeito do Brasil”. E falei: “tá bom, interessante”.

 

Por que dom Geraldo não foi até Gozo para convidá-los a vir para Londrina?

Acontece que o bispo dom Geraldo Fernandes estava em Roma na preparação do Concílio Vaticano II, em 1959. E ele ficou sabendo que Malta tinha muitos padres, enquanto que na recém diocese formada, a Diocese de Londrina, só tinha três padres diocesanos, então ele pensou em ir pra Malta para convidar seminaristas a ficarem padres em Londrina, aqui era tudo começo. [Quando dom Geraldo visitou Malta] era o mês de fevereiro. Lá em Malta nessa época é inverno, muita tempestade, lá é uma ilha, então o mar estava muito agitado. Ele foi de avião até a cidade da Arquidiocese de Malta. O reitor do seminário maior,  uma pessoa formidável, falou pra ele: -“Olha, excelência, também aqui tem outra diocese, outra ilha chamada Gozo, podemos ir até lá também”. E o bispo dom Geraldo Fernandes estava indo para Gozo. Passando pela baía onde tinha naufragado o apóstolo Paulo, de acordo com os Atos dos Apóstolos, capítulo 28, o reitor falava: -“olha excelência, ali que naufragou o apóstolo Paulo”. E o mar estava agitado. Ele falou: -”Ah, não vou não, eu não sou o apóstolo Paulo não”. Voltou para o seminário de Malta e ligou para o seminário de Gozo [e explicou a situação]. O bispo de Gozo falou: -”não se preocupa não, se tiver alguém interessado eu indico”. E de fato, o bispo de Gozo me indicou. O reitor do seminário [de Malta] me respondeu naquele tempo por carta, não tinha nem telefone decente, era tudo primitivo ainda, como aqui, logo depois da Segunda Guerra Mundial, também passávamos por necessidade de tudo. O monsenhor me mandou uma carta muito gentil, simpática, e me disse: -“olha, daqui são três que estão querendo ir para o Brasil, e já estão para terminar a Filosofia. Eu vou dar o nome de um, você faz contato com ele”. E foi o nome do monsenhor Bernardo Gafá, eu fiz contato por carta primeira vez e no fim acabamos nos combinando muito bem, nos encontrando frequentemente. Então éramos cinco, eu e mais um colega do Gozo, e três do seminário de Malta. E acabamos vindo para cá em 1961, isso é dois anos depois.

 

O senhor terminou a filosofia no Seminário de Gozo?

Todos nós, os cinco terminamos Filosofia lá e viemos para iniciar a Teologia aqui no Brasil. Chegamos aqui no Brasil no dia 18 de novembro de 1961. Aí veio época de Natal. Dom Geraldo Fernandes nos mandou os cinco ficar aqui em Rolândia, porque já tinha as irmãs franciscanas maltesas, que já tinham vindo quatro anos antes, já sabiam falar português, portanto. Não sabíamos falar uma palavra, nem sabíamos que a língua era portuguesa. Ficamos sabendo em Roma quando fomos pegar o visto de entrada no Brasil, na embaixada brasileira, que tinha um formulário para preencher em italiano e em outra língua, não sabíamos que língua era. Quando estávamos preenchendo, tinha uma palavra que não sabíamos nem como escrever em italiano perguntando estado civil: -“que que é estado civil?” E a moça, era uma tal de dona Cordeiro, eu me lembro bem dela, era uma carioca, a secretária do embaixador, ela começou a gritar: -“solteiro, solteiro”. -”Que língua é essa aqui?”. -“É portuguese.” -”Português, porque português?” –“Porque é a língua do Brasil: português.” Então acabamos vindo os cinco.

 

Então vocês aprenderam português com essas irmãs que eram de Malta?

Com essas irmãs, com o padre Carlos Boneta, pároco de Rolândia, que era italiano e nós falávamos italiano. Mas depois acabamos aprendendo português melhor no seminário em Curitiba, no ano seguinte, isso é dois meses depois que chegamos. Acabaram as férias e fomos para Curitiba estudar teologia, e ali aprendemos português com os colegas de seminários. Os professores eram tão gentis que nos permitiram fazer as provas ou em latim, ou em italiano, que a maioria tinha estudado na Itália, em Roma.

 

Vocês sentiram muita diferença do estudo, da formação lá em Malta e da formação aqui no Brasil?

Não, pelo contrário. Aqui nós nos sentimos um pouco mais à vontade no sentido de que Malta o seminário era muito fechado naquele tempo. Aqui já tinha um pouco mais de liberdade, por exemplo, podíamos sair toda quinta-feira para passear um pouco na cidade livres. Podíamos sair por três horas, podíamos até ver algum cinema bonito na cidade, podíamos ir numa lanchonete comer um bauru e tomar um guaraná, que não conhecíamos. Tínhamos também toda aquela coisa de conversar entre os seminaristas, só tinha o seminário maior de Curitiba no Paraná, que atendia também Santa Catarina, então éramos muitos seminaristas. Mas as dioceses eram menores, é claro, só tinha a Diocese de Londrina, Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Jacarezinho. As outras dioceses são mais novas.

 

Vocês vivenciaram a Diocese de Londrina bem no começo, ainda nascendo?

Tava nascendo, ainda não tinha nem seminário de Londrina. O seminário menor foi inaugurado com a nossa ordenação. A festa da nossa ordenação foi lá. Dom Geraldo Fernandes, que era um pai para nós, que organizou. Porque nós não tínhamos família, não tínhamos ninguém, conhecíamos também poucas pessoas.

 

E como era a caminhada da Igreja nessa época em que a diocese estava praticamente nascendo?

Tudo era novo, também tinha a renovação do Concílio, era coisa linda naquele tempo. Muito fervor religioso, muita crise também, crise nas ordens religiosas, crise nas freiras, crise nos frades, crise nos seminários. Começou aquele movimento dos seminários de Santa Catarina, por exemplo, não queriam ficar no seminário grande, todos juntos, cada diocese queria criar a sua comunidade, alugar uma casa em Curitiba, ficar lá os seus seminaristas com um padre da respectiva diocese para cuidar. Aos poucos foi mudando, foram criando comunidades, depois do nosso último ano de Teologia. E depois era um tempo de grande fervor religioso. Tinha saído um tal de Catecismo Holandês, que era um furor naquela época, a renovação da liturgia, eu me lembro que no seminário cantávamos cantos todos traduções do alemão, do italiano, cantos antigos, bonitos. Aí começaram a surgir os cantos feitos no Brasil. Era um tempo bonito. O padre José Alves, um padre carioca, tinha feito uma missa completa com entrada, ofertório, final, o final da missa era o hino que hoje às vezes é cantado. Mas era bonito. Fazia sentido. “A missa terminou já nós vamos retirar. Senhor que tua bênção nos venha acompanhar.” Muito bonito.

 

E como que as pessoas receberam essas mudanças que aconteceram com o Concílio Vaticano II? Mudou muita coisa?

A Igreja daquela época não desprezou aquilo que era tradicional. A Igreja continuou permitindo, digamos, as devoções, novenas, estátuas, mas tinha uns padres também que exageravam. Também aqui na diocese, encostaram as estátuas na sacristia para colocar apenas a cruz. Coisas assim. Depois tinha a mudança dos altares, não tinha altares versum populum, porque a missa era rezada de costas pro povo, então tinha que adaptar. Tinha que tirar os altares da parede para colocar mais ou menos no meio. É claro custou porque tinha igrejas mais antigas, por exemplo em Curitiba, aqui não tem tanta, mas em Minas Gerais, na Bahia, para quebrar aquilo que já era tradição do estilo barroco colonial, não era tão fácil não, tinha que fazer tudo não por capricho de padre mas com ajuda de arquitetos. Mas a renovação pastoral, a renovação litúrgica, renovação da catequese, o surgimento de movimentos mais atuais. Movimentos antigos foram diminuindo, como marianos, marianinhos, filhas de Maria, Apostolado da Oração permaneceu. Mas  foi surgindo depois Pastoral Familiar, Movimento Familiar Cristão, Cursilho, Catequese mais prolongada com as crianças.

 

E porque essa questão que o senhor comentou que alguns padres tiravam as estátuas da Igreja só deixava o crucifixo?

Porque achavam que era muita devoção, muita piedade, e não tinha muita fundamentação doutrinária, teológica. Então parecia superstição. Mas bastava criar, pregar, instruir o povo com relação a isso.

 

Quando o senhor veio para cá e também nos primeiros anos de ordenado, quais foram os principais desafios que enfrentou?

Quando fui ordenado, logo depois da ordenação, dom Geraldo me mandou como pároco em Pitangueiras, que naquele tempo fazia parte do município de Rolândia. Não tinha nem asfalto ainda, hoje tem um pouco mais. Não tinha energia elétrica, não tinha nada. Pra mim era um desafio muito grande, até de adaptação. Mas eu achava tudo diferente. Era terra de missão. E foi ali também que comecei com essa renovação litúrgica, doutrinária, catequética. E com a ajuda de dom Geraldo Fernandes comecei formando as primeiras comunidades de base rurais.

 

Dom Geraldo Fernandes me tinha pedido para, com o padre Semprebom, que era o coordenador de pastoral naquela época e morava com dom Geraldo, era um dos poucos padres que tinha na diocese, fomos juntos em Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná, onde os padres belgas já faziam esse tipo de trabalho com as comunidades rurais através do rádio, associação de catequese pela rádio. Fiquei hospedado três dias lá no interior do município de Francisco Beltrão, para conhecer a vida da comunidade. Eram comunidades muito interessantes que trabalhavam muito com aqueles lavradores, a maioria era imigrante do Rio Grande do Sul.

 

Eu comecei depois esse trabalho em Pitangueiras, pelas águas, porque lá no interior os riachos são chamados águas, água disso, água daquilo, então em cada água moravam tantas famílias, então formava uma comunidade. Dom Geraldo Fernandes chegou a vir algumas vezes de jipe com o padre que tinha na catedral naquele tempo, padre Bernardo Greis, de noite para participar dessas reuniões e dar palpite, eu com ele.

 

Depois de passar quatro anos em Pitangueiras, ele me pediu pra vir aqui pra Rolândia pra fazer o mesmo trabalho com comunidades de periferias na cidade, era pequena a periferia naquele tempo, só tinha uns dois três bairros. Comecei aqui [em Rolândia] em 1969, com essa experiência nos bairros formando, naquele tempo se chamava de comunidades eclesiais de base, não apenas para estudar, textos bíblicos ou para estudar religião. Até não tinha nem material, eu formei uma equipe naquela época para produzir materiais para as reuniões, eu me lembro bem, um dos materiais era dos dez mandamentos, para explicar um mandamento em cada reunião. Nós formávamos as reuniões em cada bairro com a ajuda do próprio povo. Desde o começo, o que mais me preocupava era a formação de boas lideranças. E essas lideranças atuavam não somente na parte pastoral, mas também na parte social do local, se preocupando com os problemas do local, do bairro em si, aquilo que hoje se chama de associação de bairro. Mais ou menos era já isso.

 

O senhor considera que a evangelização naquela época era mais fácil do que hoje?

Era mais fácil e também o povo tinha mais tempo livre, mais disposição, as senhoras naquele tempo não trabalhavam fora de casa. Se perguntava para qualquer senhora ou mocinha que vinha para se casar qual era a sua profissão: é do lar. Eu não entendia o que é do lar, mas trabalhava em casa. Hoje em dia quase ninguém fala isso. Todas têm algum trabalho por aí, secretária disso, daquilo. Ou até na indústria. Não tinha indústria naquele tempo, só tinha lavoura, lavoura de café, lavoura de arroz, lavoura de feijão, a maioria das pessoas morava no sítio. No sítio era fácil alcançar o povo. Ia nas capelas, tinha capelas esparramadas por aí, tocava o sino o povo vinha. Eu me lembro algumas tinham serviço de alto-falante e anunciava tudo que acontecia naquele bairro pelo alto-falante da capela. Até oferecia musiquinha para a namorada. Não tinha televisão, não tinha distração nenhuma, a catequese era feita no sítio, as famílias, os pais que ensinavam as crianças a rezar e as primeiras perguntas da catequese.

 

Igual no terreiro de café, de tarde juntava aquele povo todo da colônia, no sítio, na fazenda, juntava pra esparramar o café lá no terreiro, todo sujo, todo vermelho de pó, a criançada suja, mas crianças sadias. E ali rezava o terço de tarde com todo mundo sentado no meio fio do terreiro de café. Depois ia no catecismo no último mês antes da primeira comunhão. Depois foi mudando, é claro. Foi nos primeiros três, quatro anos aqui, depois foi mudando de acordo conforme se pede a cada tempo.

 

 

E como o senhor avalia a caminhada da arquidiocese? A nossa Igreja teve algum trabalho de destaque que foi referência para outras igrejas?

Tem, o trabalho com leigos, que desde o tempo de dom Geraldo Fernandes, o primeiro bispo, eu me lembro bem, que foi uma das primeiras dioceses que tinha ministros extraordinários da Sagrada Eucaristia. Naquela época chamava de ministros da Comunhão. Na verdade não é o termo certo porque ministro da Comunhão, ministro da Eucaristia é o padre, o bispo, nem o diácono é, porque quem faz a Eucaristia é o sacerdócio, mas tinha esse nome. Depois a formação de leigos, o trabalho com o dízimo bem tímido, mas começou muito tempo atrás. O povo não entendia, tava acostumado com campanhas de mantimentos. Muitas igrejas que temos por aí foram construídas com dinheiro do café.

 

Então as pessoas não estavam habituadas com o dízimo, eram mais campanhas para levantar fundos pra igreja?

Isso, campanhas e festas da igreja. Mas a diocese se destacou pela atenção que começou dar aos leigos, trabalho de leigos de fato. Também aqui nesse tempo, eu insisti muito na formação de lideranças leigas, tanto é que hoje aqui em Rolândia, muitos líderes políticos e empresariais estão formados nessa liderança dentro da Igreja.

 

Os seus 55 anos de sacerdócio foram vividos em Rolândia?

Foi a vida inteira aqui, desde seminarista, as férias inteiras eram passadas aqui. Estudava em Curitiba e passava férias aqui. Dom Geraldo sempre me mandou passar as férias aqui.

 

Será que ele já tinha essa visão que o senhor iria ficar aqui em Rolândia?

Pode ser. Acontece que aqui encontrei, eu sou de família de imigrante, minha família toda tinha emigrado para a Austrália, hoje maior parte da minha família mora na Austrália, os meus sobrinhos, sobrinhos netos, primos, são todos australianos. Quando aqui cheguei encontrei muito imigrante, maioria alemães, japoneses, italianos, portugueses, espanhóis, muitos imigrantes de primeira geração aqui. E me identifiquei como imigrante igual a eles. Por isso então eu comecei a me identificar com a cultura de cada povo, ajudar na formação de grupos étnicos, alemão, italiano, japonês também incentivei a manter a cultura japonesa.

 

E tem algum trabalho que o senhor se identifica mais?

Os trabalhos sociais. Desde o começo que estou aqui, com outras pessoas, ficamos muito sensíveis com os adolescentes que podiam trabalhar mas não achavam jeito. Começamos a formar aquilo que era chamada Legião Mirim de Rolândia. Chegamos a ter naquela época 120 meninos, eram só meninos, de uniforme, tudo bonitinho, e trabalhavam como Office boy, tudo regulamentado. Mas depois que foi passando o tempo, fomos mudando, as leis do trabalho foram mudando, aí formamos uma associação que ficou chamada Associação de Voluntários e Voluntárias da Caridade – Avocar, hoje atendemos em torno de 800 crianças e adolescentes de toda periferia, através de projetos, oficinas. Agora com essa pandemia tudo está parado, porque nem escola tem.

 

Qual será o resultado dessa pandemia para nós católicos?

Podemos dizer que temos mais igrejas domésticas pelo jeito, estamos voltando aos primeiros tempos de cristianismo, porque a Igreja começou nas casas, não começou nos templos. Bom, a Igreja vai ter que repensar os seus métodos atuais. Eu não digo que como costumam falar, que vamos ter um novo normal, não vai ter novo normal, vai ser normal, mas diferente daquilo que se fazia até agora. Eu lamento muito porque ter uma igreja cheia de gente como tínhamos para participar ativamente das missas, e agora igreja vazia, é coisa triste. Quando fizemos 50 anos de sacerdócio, a igreja matriz estava lotada, até meus parentes do exterior tinham vindo, 18 pessoas da Austrália mais 10 de Malta.

 

Tem algo que o senhor gostaria de acrescentar?

Eu gostaria de aproveitar para agradecer toda acolhida que me tem dado aqui na arquidiocese desde o primeiro bispo. Dom Geremias já é o quinto. Já passaram quatro bispos. Tanto os colegas do passado e da atualidade, de modo especial a população de Rolândia, que sempre me deu apoio em todas as iniciativas. Todas as igrejas que tem em Rolândia fui eu que iniciei, terminei, preparei. A igreja da Vila Oliveira, Novo Horizonte, da Ressurreição, aqui mesmo [Paróquia São Paulo Apóstolo], uma boa parte da matriz… Não só as igrejas, mas os trabalhos sociais… Eu vejo tudo isso com muito prazer.

 

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

Entrevista publicada na edição de julho da Revista Comunidade, número 362.

 

No mês em que comemora seus 55 anos de sacerdócio, monsenhor Bernard Carmel Gafá, um dos cinco primeiros padres ordenados em Londrina, conta aos leitores da Revista Comunidade sua história de vida construída juntamente com a história da Arquidiocese de Londrina

 

Começando pela sua história na Igreja de Londrina, desde quando o senhor está em Londrina? Já era seminarista em Malta? Pode nos contar como veio para cá? 

Sempre quis ser padre desde criança. Ia para a igreja com meu pai e sentia dentro de mim aquele desejo de levar a pessoa de Jesus às pessoas onde não o conheciam. E esse desejo foi crescendo. Quando tinha 17 anos entrei para o seminário e comecei o estudo da filosofia. Bem neste ano, 1958, dom Geraldo Fernandes chegou em Malta, ao seminário onde eu estava. E ele nos explicou sobre sua diocese, que fazia apenas um ano que ele era bispo em uma diocese nova, no Norte do Paraná, e nos convidou então, seminaristas, futuros padres para podermos vir ajudá-lo. E foi ali que começou dentro de mim aquela semente, aquela vocação que eu já tinha de ser missionário.Mas precisava terminar aquela primeira fase de estudos, da filosofia ainda em meu país. Quando tinha 21 anos eu vim para Londrina com mais outros quatro seminaristas: Monsenhor José Agius, de Rolândia, outros dois padres já falecidos, e um outro que foi depois para os Estados Unidos.

 

Viemos para o Brasil sem saber de nada. Nós viemos como Abraão que foi para a Terra Prometida. “Deixa tua família, tua casa e vai aonde eu vou te mostrar”. Eu imaginava que encontraria aqui um lugar como o Amazonas, mas não, era muito melhor. Era Londrina. Claro, era Londrina no começo, no ano de 1961, tudo muito novo. Nós também éramos muito novos, com 21 anos de idade, era aquele entusiasmo, aquela alegria, povo muito acolhedor.Dom Geraldo era muito bom conosco. Assim começamos. Tínhamos que estudar Teologia. Fomos para Curitiba, no Estúdio Teológico dos padres claretianos. Ali passamos os quatro anos da teologia. Nas férias vínhamos para Londrina. Eu passava minhas férias de dezembro, janeiro e depois em julho na cidade de Santa Fé, perto de Astorga. Cada um de nós, os cinco seminaristas, ficávamos em uma paróquia. E assim vivíamos junto com aqueles párocos até chegar o grande dia em que fomos ordenados sacerdotes. Nossa ordenação foi na Catedral de Londrina, no dia 4 de julho de 1965. Quero dizer que nestes dias estou completando 55 anos de ordenação sacerdotal. Como passou rápido esse tempo!

 

Quantos anos tinha a diocese quando o senhor chegou aqui?

Depois de ordenado padre, Dom Geraldo me colocou aqui na Paróquia Imaculada Conceição. Claro que naquele tempo tinham poucos padres e também poucas paróquias. Londrina contava mais ou menos 150 mil habitantes, mas havia muito movimento, aos domingos tínhamos cinco missas. Eu e um padre japonês, que cuidava da comunidade japonesa, morávamos juntos. Durante todos os dias da semana tínhamos uma missa de manhã e outra à noite. Na Imaculada Conceição realizávamos também muitos casamentos, porque era uma igreja pequena, muito apropriada para essas festas. Eu me lembro de um mês de janeiro no qual fiz 55 casamentos. Num sábado só eu cheguei a fazer 12 casamentos. Tínhamos também muitos batizados, muita vida de paróquia. Tínhamos o grupo de jovens, as senhoras do Apostolado, os Vicentinos. Era muito gostoso, uma vida muito ativa. E assim também a cidade de Londrina, o Norte do Paraná, começaram a crescer. Aliás, é importante saber que Londrina se tornou diocese em 1957 e logo depois Maringá também.

 

O que levou ou promoveu a elevação de Londrina de Diocese para uma Arquidiocese? Houve algum tipo de ciúmes de Jacarezinho, que era mais antiga?

Antes todo o Norte do Paraná pertencia à diocese de Jacarezinho. Não tinha outra diocese. Então veio Londrina e Maringá, logo depois foi Campo Mourão e assim foi crescendo. E veio a necessidade de Londrina se tornar Arquidiocese, abrangendo também as dioceses de Jacarezinho, Apucarana, Cornélio Procópio e Londrina. Quatro dioceses numa Arquidiocese.  Não se estranhava o fato de Jacarezinho não ter se tornado Arquidiocese, pois ficava um pouco distante aqui do centro do Paraná e também não cresceu tanto como Londrina. Aqui era o norte mesmo, pioneiro, e que prometia muito, e de fato cresceu bastante. Então era razoável que de fato Londrina ficasse como a arquidiocese. E até hoje aqui se cresce bastante e Jacarezinho ficou mais no interior.

 

Considera a evangelização naquela época mais fácil do que nos tempos atuais? 

Não digo que era mais fácil, mas quando se começa a crescer a cidade com os prédios, os problemas, as distâncias… Claro que isso começa a ficar mais difícil. Imagina nos grandes centros, nas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, sem dúvida nenhuma a evangelização fica mais difícil. Então, naquele tempo, o ambiente era mais familiar, mais comunicativo, todo mundo se conhecia, se visitava. Tinha aquele ambiente do interior, que facilitava as relações humanas e também a vivência religiosa. Com o tempo então, claro, as cidades começam a se tornar metrópoles, com muitos outros problemas, de distanciamento, criam-se então outras necessidades, outras dificuldades.

 

Como era a caminhada da Igreja nesses primeiros anos? Quais foram os principais desafios?

Londrina teve muita sorte quando Dom Geraldo Fernandes foi escolhido como primeiro bispo. Ele era de uma capacidade extraordinária. E deixou uma infraestrutura fortíssima para nossa diocese até hoje. Naquele tempo vieram os vários movimentos, havia o Cursilho, o movimento dos jovens, as senhoras do Apostolado, o Movimento Familiar Cristão, enfim, havia uma movimentação muito boa, muito grande. Acredito que o que fortaleceu a pastoral aqui na Arquidiocese foram de fato os movimentos. A liturgia se enriqueceu com os ministros extraordinários da Eucaristia, que antigamente não tinha.

 

Passamos também pela a adaptação ao Concílio Vaticano II. Como se sabe, o concílio terminou em 1965 e daí começou a ter as novidades, a participação maior dos leigos na liturgia, a liturgia passou a ser na língua do lugar. Eu mesmo comeceia celebra missas e os outros sacramentos em Latim….Ninguém entedia nada. Depois então com a língua vernácula do povo, nós tínhamos um contato mais direto. A liturgia passou a se tornar mais próxima viva, mais comunicativa, mais participativa e pincipalmente também com o engajamento dos leigos que passaram também a dirigir, a participar ativamente. Antes eram apenas ouvintes, recebiam a mensagem.Houve uma mudança muito grande sim na participação.

 

Outra coisa muito bonita, e que Dom Albano introduziu,foi o Dia da Palavra, ou a dedicação à Palavra de Deus, à Bíblia Sagrada.  Colocar o Evangelho e a Sagrada Escritura nas mãos do povo. Não só pela leitura nas missas, mas pelas reuniões com a leitura da Bíblia, o dia da palavra nos grupos e nas famílias. Então a Palavra de Deus começou a se tornar bem mais participativa. Isso ajudava também na catequese. Quando cheguei aqui a catequese era muito fraca, com apenas um ano de preparação para a primeira Eucaristia. Depois, no tempo de Dom Albano, começou a se organizar, com mais anos de preparação das crianças na catequese.

 

Estes tempos de pandemia, de isolamento social, reforçaram o papel e a importância das Igrejas Domésticas. Em sua avaliação, isso promoverá um crescimento missionário nas pessoas, nas famílias? Quais os principais desafios?

Este tempo de pandemia realmente é um problema. As Igrejas estão fechadas já faz quase quatro meses, e pelo jeito vai até o fim do ano. Isso dificulta. Se fala das Igrejas domésticas, se fala da participação pelos meios de comunicação social.  Muitas paróquias se comunicam ao vivo pelo Dia da Palavra, da missa nos domingos e outras circunstâncias. Mas, como alguém disse recentemente, “Deus não é virtual, o amor não é virtual, a família não é virtual”. Então, sinceramente, acho que vamos sofrer e a recuperação será difícil, gradual e levará tempo até nós retomarmos uma vida ativa, viva, com a força da comunidade que nós tínhamos. Acredito que teremos um trabalho muito grande a ser feito, para refazer tudo das cinzas. Eu digo assim das cinzas porque quando pudermos reabrir nossas igrejas aquelas pessoas da fixa de risco não vão poder participar, terão aquele receio, aquele medo ainda, aquela distância. Vai levar tempo sim, vai levar tempo para que possamos nos sentirmos livres, ter a coragem de voltarmos a construir uma Igreja viva, ativa. Queira Deus que possamos aprender com isso, mas sofreremos também.

 

Qual a importância de Londrina para sua vida sacerdotal?

Londrina significa tudo, pois se sou sacerdote, há 55 anos, tudo começou aqui em Londrina, quando eu tinha 21 anos de idade e já completei 80 anos. Eu sou londrinense, sou cidadão londrinense, sou comendador do Paraná, sou padre de Londrina, o padre mais antigo de Londrina, além do padre Francisco Schneider, que é mais idoso e mais presente m Londrina. Então, sem dúvida nenhuma, eu vi Londrina crescer e sou parte de Londrina. Londrina é tudo para mim, é muito importante.

 

Há um trabalho que o senhor goste mais de fazer e que fortaleça sua vocação?

Meu pai sempre dizia que quando Deus gosta de uma pessoa Ele lhe dá oportunidade de fazer o bem. E Deus me deu muitas oportunidades para fazer isso. Uma das coisas boas que eu fiz, especialmente no tempo que estava na Catedral, foi a oportunidade que tive de ajudar as igrejas-irmãs de Londrina. Fui eu que comecei esta ajuda entre as igrejas. Nunca fiz uma lista das ajudas que eu dava, só Deus é que sabe! Mas, sem dúvida nenhuma, tem ao menos seis igrejas que começaram do nada, e hoje são paróquias organizadas que eu ajudei a construir.

 

Tem uma lista enorme, graças a Deus. Ele me deu esta oportunidade e possibilidade – e o povo participava. Tínhamos condiçõesde fazer este benefício em favor das outras igrejas. Dom Albano gostava tanto desse trabalho que ele determinou às outras paróquias a doação de 1% de suas contribuições para formar um fundo de ajuda paroquial. Dom Albano se inspirou no projeto das Igrejas-Irmãs que comecei e levei adiante. Este fundo se chama Fundo Arquidiocesano de Partilha, e que existe até hoje.

 

Outro trabalho muito importante é o de ajuda aos pobres. Naquele tempo,eu atendia a muitos pobres. Às vezes os vicentinos acompanhavam para ver a realidade das famílias. Muitas famílias ajudei e também construí muitas casas. Ajudamos ainda à Casa do Bom Samaritano, a creches, ao asilo e outros locais de assistência. Um trabalho muito importante, muito bonito de caridade às pessoas e às entidades de assistência.

 

Há algum outro assunto ou história que o senhor considere interessante ou importante, por favor,conte-nos.

Quando vim para o Brasil eu trouxe comigo duas imagens de 30 cm. Uma do Sagrado Coração e outra da Imaculada Conceição, feitas na Espanha, muito bonitas. E nesses 55 anos que estou como sacerdote eu só servi a essas duas paróquias: a Imaculada Conceição e a do Sagrado Coração de Jesus. Parece que foi uma providência, uma iluminação divina. Passei 10 anos na Imaculada logo no início da minha vida sacerdotal, depois passei 10 anos no seminário Paulo VI, como professor. De lá fui para a Catedral onde fiquei por 30 anos. E agora voltei para terminar a minha vida aqui de novo, na casa da Mãe, na casa da Imaculada Conceição. Então, esse parece um projeto que Deus tinha para mim. Eu trouxe isto comigo e estou terminando também a cumprir esta missão, com a graça de Deus.

 

Hoje, completando 55 anos de vida sacerdotal, eu olho para traz erealmente posso ver que foi a mão de Deus que me dirigiu. Alguém me perguntou porque me tornei padre? A resposta é não fui eu que me tornei padre. Foi Jesus, foi Deus que me chamou, foi Deus que me conduziu. Como diz São Paulo de si mesmo: “Deus me chamou e confiou em mim. Deus me chamou, me enviou e confiou em mim”. E graças a Deus, Ele me chamou sim, me enviou e confiou em mim. Espero ter cumprido a minha missão e continuo a cumprir até o dia em que Deus me der vida aqui em Londrina. Dou graças a Deus porque tive realmente uma vida muito bonita, muitas graças, criei muita amizade, muita gente amiga e, realmente, tenho uma família muito grande. Como Jesus diz “quem deixa a própria família recebe cem vezes mais”. Isso eu posso dizer aqui, quantos amigos eu tenho por toda Londrina, graças a Deus. Isso só por causa da minha vocação sacerdotal. Termino dizendo como Maria: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta em Deus meu salvador. Porque ele fez em mim maravilhas, santo é o seu nome”. Obrigado, Senhor!

 

Célia Guerra
Pascom Arquidiocesana

Entrevista publicada na edição de julho da Revista Comunidade – número 362

 

“Falar ‘com’ e ‘de’ Deus em tempos de pandemia” é o tema do encontro de formação arquidiocesano dos Grupos Bíblicos de Reflexão (GBR) deste semestre. O encontro será realizado por transmissão ao vivo na quinta-feira, dia 09/07, às 19h30 pelo Facebook e Youtube da Arquidiocese de Londrina, com assessoria do frei Rogério Goldoni ODMCap.

 

Convide os grupos bíblicos da sua paróquia e participe deste momento de encontro com a Palavra de Deus.

 

No último fim de semana, quatro padres tomaram posse em novas comunidades da arquidiocese. Por conta do isolamento social pela pandemia do novo coronavírus, as Santas Missas presididas pelo arcebispo dom Geremias Steinmetz contaram com equipe de celebração reduzida, diferentemente do que acontece nas missas de posse, quando toda comunidade comparece para acolher o novo pároco.

 

Na sexta-feira, 24 de abril, padre Luciano da Paixão assumiu a Paróquia São João Batista, de Guaravera. No sábado, 25, padre Luciano também tomou posse na Paróquia São Luiz Gonzaga, do distrito de São Luiz. 

Posse do padre Luciano da Paixão na Paróquia São João Batista, de Guaravera / Foto: Tatiane de Souza P. Pedro

 

Também no sábado, o padre Rodrigo Favero Celeste assumiu a Paróquia São Francisco Xavier, em Cambé.

Posse do padre Rodrigo Favero Celeste na Paróquia São Francisco Xavier, de Cambé / Foto: Igor Henrique

No domingo, 26, padre Cleiton Rodrigo de Mello Dias SF tomou posse na Paróquia Nossa Senhora dos Migrantes em Cambé.

Posse do padre Cleiton Dias SF na Paróquia Nossa Senhora dos Migrantes, Cambé / Foto: Igor Henrique

 

padre Marcelo Gonçalves Fritzen assumiu como administrador paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Glória, Decanato Norte.

 

Posse do padre Marcelo Fritzen na Paróquia Nossa Senhora da Glória, Decanato Norte. / Foto: Claudinei Kreisel

 

Pascom Arquidiocesana

 

 

Foto de Destaque: Igor Henrique
Fotos: Claudinei Kreisel, Tatiane de Souza P. Pedro e Claudinei Kreisel

Entenda a parceria entre Igreja Católica e prefeitura que já acolheu 90 pessoas desde o dia 30 de março em três casas de retiro cedidas pela arquidiocese. Número pode chegar a 150 pessoas

 

Cama confortável, alimentação na hora certa e cuidados de higiene garantidos. Espaços amplos, privacidade e atividades durante o dia. É esta a realidade encontrada pelas cerca de 90 pessoas em situação de rua que já foram acolhidas até agora nas três casas de retiro cedidas pela arquidiocese e outras duas congregações religiosas católicas de Londrina para a Secretaria de Assistência Social no combate à pandemia do novo coronavírus. “São espaços destinados ao isolamento social dessa população, são pessoas que não estão infectadas [com o novo coronavírus] e estão ali para ficarem isoladas”, explica Deusa Favero, gerente da Cáritas Arquidiocesana, entidade da Igreja responsável pela parceria com a prefeitura.

 

Casa de acolhida dos homens

A população de rua está dividida em três perfis diferentes: um espaço destinado a idosos, um destinado a homens e outro a mulheres e crianças. A casa de acolhida dos idosos, por se tratar de população prioritária no isolamento social, foi a primeira a receber as pessoas, seguido dos outros dois espaços. A população começou a ser acolhida no dia 30 e está sendo destinada gradativamente.

 

A prefeitura é quem faz o encaminhamento das pessoas a partir da demanda do Centro Pop, serviço municipal que atende população em situação de rua. “São transferidas pessoas que já estavam na Casa do Bom Samaritano e na Casa de Passagem, ficam ali por sete dias para avaliar, ver como estão de saúde e depois vem pra cá”, conta Flávia Angélica Andrease, assistente social coordenadora do Centro Pop e da Abordagem Social, que está atuando na casa de acolhida dos idosos. Esse caminho será feito por todas as pessoas acolhidas nas casas da arquidiocese.

 

Café da tarde no refeitório da casa de acolhida dos idosos

Para a assistente social, a parceria com a Igreja é importante pois possibilita um acolhimento com dignidade à população de rua. “Se não tivesse [a parceria] não sei como seria. Aqui eles estão sendo bem acolhidos. Alguns municípios estão acolhendo população de rua em estádios, ginásios, lugares que são insalubres. Mas é preciso acolher com dignidade, não é qualquer lugar. Os três lugares que a Igreja cedeu são ótimos, tem toda estrutura, cozinha, equipamentos, imagine se tivéssemos que levá-los para o Moringão, por exemplo, não ia ter condição”, destaca Flávia.

 

Trabalham nas casas oito educadores sociais divididos em turnos de 4 horas, um auxiliar de serviços gerais, duas merendeira e uma equipe técnica composta por três pessoas, entre coordenador, assistentes sociais, psicólogos e orientadores sociais. A equipe de educadores sociais também é responsável por ministrar oficinas como jogos, música, teatro e dança.

 

Segundo Flávia, até agora não foi preciso fazer abordagem da população nas ruas, as casas de acolhida estão recebendo a demanda das pessoas que ligam ou vão até o Centro Pop. “Esta é uma rede de serviços que já é feita no município, e agora foi ampliada.”

 

Ação da Prefeitura

Na parceria entre arquidiocese e prefeitura, a Igreja cede os espaços e a secretaria arca com as despesas. Na primeira semana de acolhimento, entre os dias 30 de março e 6 de abril, todo material utilizado, como alimentos, roupa de cama e banho e materiais de higiene, foi fornecido pelas doações recebidas pela Igreja Católica no Espaço Dom Bosco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, ponto que a arquidiocese montou para arrecadação de doações.

 

Merendeiras das escolas municipais estão cozinhando nas casas de acolhida

A partir desta semana a prefeitura vai enviar produtos comprados por licitação. “Todos os trabalhadores e a responsabilidade é da Secretaria de Assistência. Então quando acabar esse período, o que vai ser feito, para onde as pessoas serão encaminhadas, os encaminhamentos finais é responsabilidade da secretaria”, explica Josiane Nogueira, diretora da proteção social especial do município.

 

 

 

Estrutura das casas de acolhida

A população está sendo acolhida em casas utilizadas pela Igreja Católica para promover retiros de padres, religiosos e leigos. São lugares ondeas pessoas estão divididas em quartos duplos, com banheiro no quarto, ou quartos coletivos amplos com camas espaçadas para garantir o distanciamento social. Os espaços possuem refeitórios e cozinhas equipadas e duas das casas disponibilizaram também lavanderia. Os espaços externos são amplos, com gramado, quadra e varanda. “As pessoas estão comparando, dizem que antes [no outro abrigo em que estavam] estava 70%, agora está 100%”, conta Flávia.

 

Casa de acolhida dos homens

Em cada uma das casas, além dos profissionais da prefeitura, há uma pessoa de referência que trabalha ali. Duas das casas também contam com o trabalho voluntário de irmãos da Toca de Assis, congregação religiosa que atua diretamente com a população de rua em Londrina há 17 anos.

 

Maria José de Lima Prado é funcionária da Mitra Arquidiocesana de Londrina e trabalha numa das casas de acolhida. O acolhimento trouxe mudanças na sua rotina, mas, segundo ela, a convivência é tranquila. “Eu saio aqui eles me chamam pelo nome”, diz Maria. Ela conta também que ter a presença dos irmãos da Toca de Assis a deixou bem tranquila.

 

Para ela, é um tempo de quaresma vivido profundamente. “É um olhar de misericórdia, ver o rostinho de Jesus em cada rosto dessas pessoas. Não estou podendo receber a Eucaristia, cheguei a chorar. Mas aqui é Jesus de uma outra forma. É Jesus que fala: ‘estive preso e não foi me visitar, estive doente…, e Ele está aqui agora, na pessoa que fala um bom dia pra mim: ‘Oi, dona Maria’”, conta.

 

O toque especial da Igreja Católica

As duas casas de acolhida que recebem, uma os homens e outra as mulheres, contam com o reforço da Toca de Assis. São dois irmãos na casa dos homens e duas irmãs na casa das mulheres, que chegaram antes mesmo da população em situação de rua para fazer a acolhida. “Estamos em unidade Igreja e município. O trabalho aqui é desafiador, porém já temos o jeito de lidar pois trabalhamos diretamente com os irmãos mais pequeninos que se encontram em situação de rua. Podemos levar o que temos de experiência e vejo que a casa está caminhando muito bem, há uma harmonia, unidade”, conta irmão Israel do Santíssimo Sacramento, que está atuando na casa de acolhida dos homens.

Junto com o irmão Israel, homens fazem horta na casa de acolhida

 

“A gente chegou, foi conhecendo o perfil de cada um. O primeiro impacto foi de conhecer para ver até onde pode ir com eles e como lidar com cada pessoa. Sabemos que aqui não é lugar terapêutico, é para isolamento por conta da pandemia do coronavírus, então o tratamento é um pouco diferente, mais aberto a escutá-los, porque não estão aqui para se tratar”, conta irmão Israel se referindo ao fato de que grande parte da população de rua é dependente químico.

 

O irmão explica que eles atuam dando ofícios para as pessoas. “Cada pessoa tem um lugarzinho específico, seja varrer, seja recolher [o lixo] no carrinho, outro vai escrever o cronograma. Para ele se sentir bem, se sentir contribuindo”, conta. Inclusive, por proposta do irmão, os homens acolhidos montaram uma horta, já plantaram alface, cebolinha e rúcula. A ideia agora é criar algumas galinhas.

Irmã Israel do Santíssimo Sacramento, da Toca de Assis, atua junto à casa de acolhida dos homens

 

O trabalho é fundamental, explica o irmão, e eles mesmo sabem. “É a chamada laborterapia. Muitos me falam: ‘irmão, hoje vou dormir bem porque a gente fez alguma coisa e isso vai gerar frutos’. E eles estão pensando também nos irmãos que estão sendo acolhidos nas outras casas, porque quando tiver produzindo a gente manda para lá.”

 

“Combinei com eles também de fazer um mutirão, me coloquei junto também, 30 minutos por dia. Falo da importância de manter o lugar bonito, zelar pelo ambiente. Eles mesmo enxergam a graça e o amor de Deus estando aqui. Em cada quarto tem duas pessoas e cada quarto tem seu banheiro.

 

É um carinho de Deus em meio à pandemia, literalmente, imagina de onde vieram, viviam e chegam aqui, não tem como não ver que é graça e é amor nas nossas vidas, para mim também”, conta o irmão.

 

O irmão fala que algo muito impactante para eles foi o fato de terem seis refeições por dia: café da manhã, um cafezinho às 10, almoço, café da tarde, janta e ceia. “Parecia que estavam na final da Copa do Mundo e o Brasil tinha sido campeão, foi bonito de ver o brilho nos olhos.” Israel lembra que antes de cada refeição, rezam por aqueles que doaram os alimentos.

 

O trabalho, apesar de ser na Igreja Católica, independe de religião. “Para nós isso é muito normal, antes da gente ver qual é a religião a gente vê a pessoa, o ser humano, é um filho de Deus, e se é um filho de Deus precisamos estar juntos”, fala irmão Israel.

 

Num dos dias, o irmão conduziu um momento de catequese e adoração. Foi tão bem recebido que eles pediram para fazerem diariamente. “O Rafa [um dos acolhidos] falou que é testemunha de Jeová, perguntou se eu me importava se ele não fosse. Falei: ‘Meu irmão, de maneira alguma, não é por isso que você vai ter tratamento diferente’. Temos alguns irmãos evangélicos que participam também. Algumas músicas que cantamos, inclusive, são evangélicas. Não tem essa coisa de excluir, temos que incluir”, conclui.

 

Na casa dos idosos também, a pedido dos acolhidos, o padre Eric Vinícius Pinheiro Barbosa SAC, celebrou a missa no domingo, dia 5.

 

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

No decorrer da história, a mulher vem conquistando seu espaço na Igreja, mas sua participação de forma mais incisiva ainda está no debate

 

A participação feminina na vida da Igreja Católica é crescente, especialmente no trabalho leigo frente às pastorais paroquiais, e pelas congregações religiosas consagradas. Não há números oficiais, estima-se que as mulheres representem dois terços dos fiéis, contra um terço dos homens. 

 

Porém, a participação mais efetiva, em cargos de direção ainda não é uma realidade, apesar de a discussão sobre esse espaço não ser recente. O assunto vem ganhando mais força com o Papa Francisco, cuja defesa da necessidade de valorização da participação feminina na Igreja está quase que constante em suas falas, desde o início de seu pontificado. 

 

Na exortação apostólica Evangelii gaudium, ele escreve: “Ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja. Porque ‘o gênio feminino é necessário em todas as expressões da vida social; por isso deve ser garantida a presença das mulheres também no âmbito do trabalho’ e nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais”.

 

E seu discurso já se concretiza em ações, no último mês de janeiro Francisco nomeou pela primeira vez uma mulher para um cargo de alto escalão no Vaticano. Francesca Di Giovanni assumiu a função de vice-ministra da Secretaria de Estado da Santa Sé, órgão equivalente ao governo central do Estado. 

 

NA HISTÓRIA

Vale lembrar que o Papa Paulo VI, ao término do Concílio Vaticano II, escreveu uma mensagem na qual dizia: “Mas a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire na cidade uma influência, um alcance, um poder jamais conseguidos até aqui. É por isso que, neste momento em que a humanidade sofre uma tão profunda transformação, as mulheres impregnadas do espírito do Evangelho podem tanto para ajudar a humanidade a não decair”.

 

São João Paulo II, durante seu pontificado, escreveu o primeiro documento do Magistério pontifício dedicado à temática da mulher, a Carta Apostólica Mulieri Dignitatem, publicada em 15 de agosto de 1988. 

 

Irmãs Maria de Schoenstatt atuam em escola e hospitais em Londrina / Foto: Guto Honjo

A IGREJA DE LONDRINA

Essa presença feminina também é forte e atuante em toda a Arquidiocese de Londrina, não só entre as leigas, mas também no trabalho das congregações religiosas. Segundo dados da Ação Evangelizadora, de 2019, na Arquidiocese trabalham 22 congregações femininas que totalizam 450 freiras. 

 

Mas afinal, o que essas mulheres de Deus pensam sobre seu papel na Igreja? Para isso, a reportagem da Revista Comunidade conversou com algumas religiosas que atuam em Londrina e cidades da arquidiocese. 

 

Irmãs de Santa Marta desenvolvem trabalho educacional em ibiporã. / Foto: Guto Honjo

“Em forma geral pensamos que a ação feminina dentro da Igreja é forte, constante, perseverante e é testemunho de doação e alegria, e as mulheres têm uma credibilidade forte por parte da comunidade. Presenciamos que dentro da Igreja a participação e presença da mulher nos movimentos, pastorais, missas, etc”, avaliam as religiosas da Congregação das Irmãs de Santa Marta, que trabalham em Ibiporã. 

 

Elas acreditam que, com o passar dos anos, pouco a pouco a mulher tem ganhado mais espaço nas paróquias e dioceses. “Mas o protagonismo delas poderia ser maior, porque têm muito que aportar desde seu ser mulher. A mulher tem ainda muita capacidade, sensibilidade para se inserir nas diferentes realidades e coragem frente aos desafios do mundo atual”, reforçam. O protagonismo feminino, lembram elas, aparece desde o Antigo Testamento com personagens como Débora, Ester, Ruth. No Novo Testamento esse protagonismo vem de Maria e as Marias que acompanhavam Jesus. 

 

Irmãs da Reparação têm espiritualidade centrada em quatro dimensões: cristocêntrica, eucarística, reparadora e mariana. / Foto: Guto Honjo

Para as Irmãs da Reparação, de Cambé, “a presença feminina aparece nitidamente na dimensão do fazer e do ser, no trabalho e na missão da Igreja. De modo geral a mulher tem encontrado mais espaço e tem sido uma presença significativa de renovação, de comunhão e de fidelidade ao projeto comum da Igreja”, ressaltam.

 

“Nos alegramos muito com a presença da mulher na Igreja, não somente como reconhecimento, mas pela função e posição que temos, vamos ser atuantes e ocupar nosso lugar”, defende Irmã Jacinta Donati, assessora regional da Coluna Feminina, do Instituto Secular das Irmãs de Maria de Schoenstatt, em Londrina. 

 

 

Sobre a recente nomeação de mulheres para cargos na Igreja, Irmã Jacinta não considera um ato de reconhecimento, mas de um papel que realmente cabe à mulher e que por muitas razões ela ainda não está inserida. “Existem muitos espaços que a mulher deve ocupar, não para tirar o lugar ou competir com o homem, mas são espaços que para haver harmonia e equilíbrio, convém à mulher ser essa presença de Maria na Igreja”, defende.

 

Irmã Luiza Belli, das Irmãs da Reparação, reforça que para que aconteça um maior protagonismo feminino é preciso que as mulheres tenham mais voz nas decisões e discussões dos pontos fortes da Igreja e não apenas na execução. “O que define a presença de uma pessoa em cargos e funções de poder é a competência e a experiência e não ser homem ou mulher. Cremos em uma Igreja que se abre para a novidade do espírito que sopra onde quer (Jo 3,8), reafirmando  as palavras do papa durante sua homilia em 1º de janeiro, assegurando que ‘as mulheres são doadoras e mediadoras da paz e devem estar totalmente envolvidas no processo de tomada de decisões’.”

 

Francisco é elogiado também pelas Irmãs de Santa Marta. “O papa é um homem aberto e visionário que enxerga a importância da atuação feminina nas decisões importantes no interior da Igreja. Soube reconhecer e valorizar a dignidade, seriedade e compromisso da mulher. A mulher tem muita capacidade, sensibilidade para se inserir nas diferentes realidades e coragem frente aos desafios do mundo atual.” As religiosas concordam com o papa sobre a necessidade de terem voz e vez no âmbito das decisões. 

 

“A mulher tem a missão de colocar um novo ‘hálito’, isto é, um realce em âmbitos até então ocupado por homens, ou podemos dizer a mulher deve ser a alma, que pode colaborar para que a Igreja em seus muitos trabalhos sejam mais plenos de vida”, resume em metáfora Irmã Jacinta Donati.

 

NÃO CLERICALIZAR AS MULHERES

Em sua recém publicada Exortação Apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia” (ver página 6), o Papa Francisco fala da força e dom das mulheres como indispensáveis à Igreja Católica. Contudo, diz o papa, é necessário evitar pensar que só se daria às mulheres uma participação maior na Igreja se recebessem o sacramento da Ordem. “Na realidade, este horizonte limitaria as perspetivas, levar-nos-ia a clericalizar as mulheres, diminuiria o grande valor do que elas já deram e sutilmente causaria um empobrecimento da sua contribuição indispensável”, escreve.

 

 “As mulheres prestam à Igreja a sua contribuição segundo o modo que lhes é próprio e prolongando a força e a ternura de Maria, a Mãe.” Isso leva, segundo Francisco, a uma compreensão da estrutura íntima da Igreja e não meramente funcional. Daqui resulta também que as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na guia das comunidades, mas sem deixar de o fazer no estilo próprio do seu perfil feminino”, conclui o papa.

 

Célia Guerra

Pascom Arquidiocesana

Foto de Destaque: Guto Honjo