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Arquidiocese de Londrina
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Homilia de dom Geremias na Missa de abertura do Jubileu 2025

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31 dezembro, 2024
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Aos 29 de Dezembro de 2024

JUBILEU DE ESPERANÇA – 2025

TEMA: PEREGRINOS DE ESPERANÇA

LEMA: A ESPERANÇA NÃO DECEPCIONA (Rm 5,5)

A Primeira Leitura desenvolve o quarto mandamento. Amar, acolher e respeitar os pais, além de ser um dever, traz benefícios aos filhos. Cuidar dos pais idosos e valorizá-los é especialmente importante. Cada vez mais eles são abandonados e entregues a instituições. A leitura convida para o bom relacionamento na comunidade e na família. Como Deus nos ama, devemos o amor uns aos outros. Cada membro da família pode fazer a sua parte para viver no respeito e na paz. Como todo adolescente, Jesus dá seus primeiros passos de independência, perturbando o sossego familiar. Esse episódio já revela o caminho que ele irá seguir: de atenção constante à vontade do Pai.

Neste último domingo do ano, o evangelho descreve a viagem da Sagrada Família para Festa da Páscoa. Na volta, os pais percebem que o filho de 12 anos não está na caravana.

Retornam e, depois de três dias, encontrando-o no templo, ficaram admirados que Jesus está debatendo com os doutores, mas também manifestam a admiração e angústia. Em qual família, especialmente entre as pobres, não ocorrem sentimentos de admiração diante do êxito alcançado por algum de seus membros? Diante do inesperado, no entanto, também ocorre a experiência da angústia. A família de Nazaré vivenciou concretamente essa realidade contrastante.

Ingressando no Ano Jubilar, ocorre-nos o quanto o nosso povo valoriza as peregrinações aos Santuários. Famílias inteiras costumam peregrinar às Igrejas de referência para agradecer e pedir graças. É muito importante para as famílias católicas cultivar essa dimensão de avivamento da fé por meio de gestos que requerem sacrifício, mas também trazem conforto ao coração.

Ao final da peregrinação, a Família de Nazaré retorna para suas atividades diárias, pondo em prática os frutos espirituais da experiência feita. O presente Ano Jubilar é excelente oportunidade para fazermos, nós também, essa experiência de peregrinação. Aliás, a peregrinação é uma prática da maioria das religiões, é um costume muito anterior à tradição bíblica. É numa viagem dos crentes para um local consagrado por uma manifestação divina ou pela atividade dum mestre religioso, para aí apresentar a sua prece num contexto particularmente favorável. Habitualmente a visita de um lugar santo, que é o seu termo, é preparada com os ritos de purificação e se realiza numa assembleia que manifesta aos fiéis a comunidade religiosa de que fazem parte. A peregrinação é, assim, uma procura de Deus e um encontro com Ele em um ambiente cultural. A casa, a comunidade são os lugares onde se vivencia Deus: “retornou com eles e crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens”.

Curiosamente no Antigo Testamento, antes de realizar-se a unicidade de santuário graças à reforma de Josias, constatamos em Israel a existência de numerosos centros de peregrinação, de lugares sagrados, relacionados com a História Sagrada, aos quais o povo vem “em busca de Deus”. A reforma de Josias procura congregar o povo diante de seu Deus e preservá-lo das contaminações idolátricas locais. Pouco a pouco o Templo de Jerusalém se torna o Santuário Único. É para lá que, nas grandes festas do ano os peregrinos vêm de toda a Palestina e também da diáspora que começa a se estender. Essa experiência, frequentemente vivida em Israel, proporciona à esperança escatológica uma comovente expressão: o “Dia da Salvação é concebido – à imagem das peregrinações – como assembleia do povo e dos pagãos enfim reunidos (Is. 2,2-5; Zc 14, 16-19). No Novo Testamento, um texto apresentado como exemplo de peregrinação é o texto que acabamos de ouvir: Jesus, aos doze anos “sobe” a Jerusalém com seus pais, para obedecer à Lei, e no decurso de toda a sua missão, para lá sobe ainda para as diversas festas. O próprio Paulo, mais de vinte e cinco anos depois da cruz, faz questão de fazer a peregrinação de Pentecostes (At 20,6; 24,11).

A Igreja vive na história e valoriza as peregrinações aos lugares da vida terrena de Cristo ou aos de suas manifestações nas vidas dos santos: ela vê nessas peregrinações para os lugares da atuação de Cristo uma ocasião de os fiéis comungarem na fé e na oração; ela procura, sobretudo, fazer com que eles aí se lembrem de que estão a caminho para o seu Senhor, e sob sua guia. Este é um ponto importantíssimo para o Ano Jubilar: compreendermos a nossa vida como uma peregrinação para Jesus Cristo, para o Pai, para a eternidade.

A festa de hoje convida-nos a pensar sobre a realidade de nossas famílias nestes tempos de tantas divisões, potencializadas pelas redes sociais. Importa lembrar que os seres humanos, habitantes da Casa Comum, formam uma única e grande família. Embora as famílias enfrentem desafios de toda ordem, a Fé que nos move não nos deixa perder a esperança. De muitos lugares nos vem o testemunho de vidas construídas com enorme dedicação, expressa por gestos somente explicados pela generosidade e pela fé, pela Esperança.

As famílias têm importante missão a exercer na sociedade. A Igreja e o mundo necessitam da seiva que delas vem, tal qual a árvore da água. Que a Família de Nazaré seja fonte e inspiração para as nossas famílias neste Ano Jubilar!

Na intenção de oração para este mês de dezembro, o Papa Francisco afirma que “a esperança cristã é um presente de Deus que enche de alegria nossa vida”.

“Ajudemo-nos uns aos outros a descobrir este encontro com Cristo que nos dá a vida e coloquemo-nos a caminho como peregrino de esperança para celebrar a vida e dentro da vida está também o próximo Jubileu, como uma etapa”.

Ultimamente estamos percebendo que muitas pessoas estão desconsiderando a fé. Deixam de acompanhar e participar da sua comunidade; não querem mais ouvir a Palavra de Deus; até mesmo rejeitam os Sacramentos, especialmente o batismo, a Eucaristia, a Reconciliação, Matrimônio, etc. O Santo Padre afirma que “a esperança cristã é um presente de Deus que enche de alegria nossa vida. E hoje, necessitamos tanto dela. O mundo a necessita tanto”. Ele nos convida a sermos testemunhas da “esperança cristã” num mundo onde predominam a desesperança e a desconfiança. A esperança é uma âncora. “Uma âncora que se joga com a corda e afunda na areia. E nós temos de estar agarrados à corda da esperança. Bem agarrados.”

O Jubileu 2025, cujo tema é “Peregrinos de esperança”, será um tempo de celebração e de profunda reflexão. O também chamado “Ano Santo” não é somente uma etapa no caminho da fé, mas é um chamado a reconhecer a Cristo no dia a dia.

“Vamos encher nosso dia a dia com o dom da esperança que Deus nos dá e permitamos que através de nós ela chegue a todos que a procuram. Não se esqueçam: a esperança não decepciona nunca”, diz o Santo Padre.

No início de sua pregação, na Sinagoga de Nazaré, Jesus retoma o horizonte judaico do Jubileu, dando-lhe um novo e último significado: Ele mesmo é o rosto de Deus que desceu à terra para redimir os pobres e libertar os cativos, para manifestar a compaixão do Pai para com aqueles que estão feridos, caídos ou sem esperança.

Jesus, de fato, vem para libertar de toda escravidão, para abrir os olhos dos cegos, para libertar os oprimidos (cf. Lc 4,18-19). Em tal programa messiânico, o Jubileu se expande para abranger todas as formas de opressão na vida humana, tornando-se assim uma ocasião de graça para a libertação daqueles que se encontram na prisão do pecado, da resignação e do desespero, para a cura de toda cegueira interior que não nos permite encontrar Deus e ver o próximo, para despertar novamente a alegria do encontro com o Senhor e, assim, poder retomar o caminho da vida no sinal da esperança.

Portanto, “é claro que a vida cristã é um caminho, que também precisa de momentos fortes para alimentar e robustecer a esperança, a companheira insubstituível que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus” (Spes non confundit, n° 5). Este é o grande objetivo do Ano Jubilar. Na peregrinação da vida, centrarmos a fé no Senhor Jesus e aderir à proposta do Reino de Deus que precisa do nosso esforço para ser construído. O jubileu é, portanto, uma solenidade da Igreja Católica, hoje realizada a cada 25 anos, onde se concede, através da Indulgência Plenária, a remissão das penas temporais devidas pelos pecados mortais já perdoados na confissão. Insere-se no desejo e na necessidade de corrigir o próprio caminho e na contribuição de cada um para ajudar a construir o Reino de Deus.

Confio a programação do Jubileu de Esperança ao Sagrado Coração de Jesus. Rezo para que muitos possam refazer a sua fé e fazer um encontro pessoal com Jesus Cristo, Nossa Esperança. Que todos possam viver a alegria do Jubileu e consigam viver a Esperança que não decepciona. Aproveitem o mais possível este Ano de Graça.

Aproveitem individualmente, em família, em comunidade, em paróquia e como Arquidiocese que somos. Planejem sua participação mais intensa nas datas mais importantes da sua vida: no dia do batismo, da sua Primeira Eucaristia, dia da sua Crisma, dia do seu casamento, etc. Que a força da esperança encha o nosso presente, aguardando com confiança o regresso do Senhor Jesus Cristo, a Quem é devido o louvor e a glória agora e nos séculos futuros.

Que aproveitemos a oportunidade que nos é oferecida em vista da reconciliação, da Eucaristia, da Indulgência Plenária e também da nossa colaboração do renascimento da Fé de muitos e muitas,

Amém!

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

Foto: Guto Honjo

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