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Estamos novamente por viver a Quaresma. Sempre é importante nos questionarmos sobre o seu significado porque de ano a ano nós precisamos nos aprofundar no seu sentido, pela própria dinâmica da vida e da vida cristã. Não é uma simples repetição automática e sem sentido, mas é dinâmica de aprofundamento e crescimento na fé e na opção por Jesus Cristo.

São quarenta dias de preparação para as festas pascais. Inicia-se com a Quarta Feira de Cinzas. Consta de cinco domingos, mais o domingo de Ramos e da Paixão. Vai até o inicio do Tríduo Pascal. Tradicionalmente é caracterizado pela observância do jejum, da esmola e da oração. Na prática atual, o jejum ficou bastante diluído; a oração vem completada com círculos bíblicos, vias-sacras e reuniões de aprofundamento sobre temas relacionados com a conversão pessoal e social por ocasião da Páscoa. No Brasil é muito forte a vivência da Campanha da Fraternidade. Em lugar da “esmola” caritativa, são propostas ações de solidariedade e organização dos pobres. É tempo de “deserto”, de purificação, de revisão de vida, de renovação da opção de fé que iremos expressar na Vigília Pascal: “Renuncio…, Creio...”. É um tempo muito rico para aprofundar a Iniciação à Vida Cristã. Inclusive os textos bíblicos do Ano A e os Prefácios correspondentes realçam essa característica e preparam-nos para a renovação das promessas batismais. As celebrações da Semana Santa são o auge e o ponto alto de toda a Liturgia Cristã por recordar o Mistério da Ressurreição, central e único na vida da Igreja.

A Quaresma teologicamente deve ser interpretada a partir do Mistério Pascal celebrado no Tríduo Sagrado e com os sacramentos pascais que tornam presente esse Mistério para que seja vivido e participado. Não é resíduo arqueológico de práticas ascéticas de outros tempos, mas é o tempo de experiência mais viva da participação no Mistério Pascal de Cristo: “participamos dos seus sofrimentos para participarmos também da sua glória” (Rm 8,17). Os meios sugeridos para a prática quaresmal são: a escuta mais freqüente da Palavra de Deus; a oração mais intensa e prolongada; o jejum; as obras de caridade (cf. SC 108-110).

A pastoral deve ser criativa a fim de atualizar as obras típicas da quaresma adaptando-as à sensibilidade do homem contemporâneo mediante iniciativas que, sem desviar-se da natureza e do objetivo próprios desse tempo litúrgico ajudem os fiéis a viver o batismo em dimensão individual e comunitária e a celebrar com mais autenticidade a páscoa. De fato, a vida cristã é essencialmente guiada pela dinâmica pascal.

Em 2023 lemos no Texto Base da Campanha da Fraternidade na página 07: “Que esta Quaresma seja vivida em forte espírito de solidariedade. Que nosso jejum abra o nosso coração aos irmãos e irmãs que sofrem com a fome. Que nossa solidariedade seja intensificada. Que saibamos encontrar soluções criativas para a superação da fome, seja no nível imediato, assistencial, seja no nível de toda a sociedade… Que o Senhor Jesus nos possa um dizer: “Vinde (…) eu estava com fome, e me destes de come; todas as vezes que fizestes isso a um destes mínimos que são meus irmãos, foi a mim que fizestes” (Mt 25,34.40). Boa Quaresma a todos!

Dom Geremias Steinmetz

Arcebispo de Londrina

Foto: Cathopic

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