Um Sínodo dos Bispos sobre a juventude II
[dropcap]E[/dropcap]m continuidade ao artigo anterior sobre o Sínodo dos Bispos sobre a Juventude que acontecerá em Outubro de 2018, faz-se necessário acrescentar que a segunda parte trata das questões da Fé, do Discernimento e da Vocação. A Igreja quer reiterar o seu desejo de encontrar, acompanhar e cuidar dos jovens. Ela crê na importância de cada pessoa encontrar o seu caminho, em outras palavras, realizar a sua vocação. O Papa Francisco chama atenção sobre o cuidado que a Igreja deve ter com as pessoas, especialmente os jovens: “O cuidar, o guardar, requer bondade, requer que seja praticado com ternura. Nos evangelhos, São José aparece como um homem forte, corajoso, trabalhador, mas no seu íntimo sai uma grande ternura, que não é a virtude dos fracos; antes, pelo contrário, denota fortaleza de espírito e capacidade de solicitude, de compaixão, de verdadeira abertura o outro, capacidade de amor (Homilia, 01 de março de 2013).
O texto relaciona “Fé e vocação”. Primeiro explica que Vocação é a alegria do amor, é o apelo fundamental que Deus inscreve no coração de cada jovem, a fim de que sua experiência possa dar fruto. Em seguida explica o que é a fé: “Não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida. Faz descobrir uma grande chamada – a vocação ao amor – e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte que toda a nossa fragilidade” (Lumen fidei, 53). Ela torna-se luz que ilumina todas as nossas relações sociais e, por fim, contribui para construirmos o mundo dos “sonhos de Deus”.
A Bíblia apresenta numerosas narrações de vocação e de respostas de jovens. Vale a pena citar alguns: Moisés (Ex 3, 1-14); Samuel (ISm 3,1-21); Isaías (Is 6,1-13); Jeremias (Jr 1, 4-19); os primeiros discípulos (Mt 4, 18-22); Escolha dos Doze (Mt 10,1-15), etc. À luz da fé, eles tomam gradualmente consciência do projeto de amor apaixonado que Deus tem para cada um. Acreditar significa colocar-se à escuta do Espírito e em diálogo com a Palavra, que é caminho, verdade e vida e com toda a própria inteligência e afetividade aprender a dar-lhe confiança encarnando-a na própria vida. O espaço para este diálogo é a consciência que “é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser” (Gaudium et Spes, 16).
Outro elemento importante é o discernimento. O texto explica que o discernimento é “tomar decisões e orientar as ações pessoais em situações de incerteza e perante impulsos interiores contrastantes”. Aparece a necessidade do conhecimento da Palavra de Deus através da escuta e da oração. Como viver a Boa Notícia do Evangelho e responder ao chamamento que o Senhor dirige a todos aqueles dos quais vai ao encontro através do casamento, do ministério ordenado, da vida religiosa, no serviço aos últimos, no compromisso na política? Os trechos evangélicos que narram o encontro de Jesus com as pessoas do seu tempo evidenciam elementos que nos ajudam a traçar o perfil ideal de quem acompanha o jovem no discernimento vocacional: o olhar amoroso (Jo 1,35-51), a palavra autorizada (Lc 4,32), a capacidade de se fazer próximo (Lc 10, 25-37), a escolha de caminhar ao lado e o testemunho de autenticidade (Lc 24,13-34), sem medo de ir contra os preconceitos ( Jo 13,1-20).
Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina