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Dom Geremias fala sobre sua trajetória e desafios em Londrina

Quinto arcebispo da Arquidiocese de Londrina, Dom Geremias chega com as marcas do trabalho em sua atuação. Conhece a cidade e tem amigos aqui. Fala com carinho de dom Albano e de dom Geraldo, este último conheceu quando estudava Liturgia em Roma. O bispo recebeu a equipe do JC na Cúria Diocesana de Paranavaí, no dia de sua nomeação para a Arquidiocese de Londrina, 15 de junho. Naquele dia, acordou cedo e antes das 8 horas já atendeu telefonemas da imprensa.

 

JC: Há quanto tempo o senhor sabia da nomeação para a Arquidiocese de Londrina, como foi esse tempo de espera?

Dom Geremias Steinmetz: Bem, existem os boatos e os fatos. Os boatos já vinham de mais tempo, inclusive de pessoas bastante ligadas à Arquidiocese de Londrina. Um tinha me dito que tinha certeza que meu nome estava na lista dos bispáveis para Londrina, e até de uma pessoa que eu considero muito que falou isso. Agora, de fato eu sei desde 5 de junho, quando foi me comunicado pelo Núncio Apostólico, dez dias antes do anúncio oficial. Na ocasião, eu estava me preparando para ir até Maringá para fazer a pregação do retiro, inclusive, para o clero de Londrina, de 5 a 9 de junho. Estivemos lá em 25 padres, e eu já sabia da minha nomeação para Londrina mas eles ainda não sabiam de nada. Foi por isso exatamente que tive tempo de pensar um pouquinho, colocar as ideias em organização e escrever uma mensagem que pudesse ser publicada a partir da nomeação.

 

JC: O senhor já conhece Londrina, conhece o clero, como é a sua relação com a arquidiocese?

Dom Geremias: Eu conheço vários padres de Londrina. Antes mesmo de ir para Paranavaí, já tinha convivência com padres de Londrina. Por exemplo padre Rafael Solano, que é meu amigo. Padre César Braga, padre Joel Medeiros, padre Dirceu, conheço há bastante. Depois que eu vim para Paranavaí, comecei a participar da associação dos bispos do Norte do Paraná que discutem a formação dos seminaristas que se dá na PUC, junto à direção da instituição. Até pouco tempo quem era o presidente era o dom Orlando. Terminando o mandato dele, os bispos me elegeram presidente. Por conta disso, eu tenho estado bastante na PUC em Londrina e em outros lugares onde precisava fazer essa representação. E também em cursos que dei, no subsolo da catedral. Tive também sempre um bom relacionamento com dom Albano, um homem que sempre procurava animar a gente. Além de conhecer também dom Geraldo dos tempos que ele trabalhou em Toledo. Com dom Geraldo convivi também um tempinho pelo menos em Roma, ele trabalhava lá e eu era estudante, então a gente se encontrava pelo menos uma vez por mês.

 

JC: Depois de seis anos trabalhando em Paranavaí, o que o senhor deixa na diocese e o que o senhor leva para o seu trabalho?

Dom Geremias: A gente tem que analisar toda história da gente. Eu tenho um certo orgulho de dizer que eu sempre trabalhei muito. Eu trabalhei muito como padre, em paróquias, depois como estudante mas também como diretor de seminário, como professor, como coordenador da Ação Evangelizadora, como vigário geral. No meio disso tudo também trabalhei na formação dos leigos, principalmente de ministros, catequistas, dos missionários leigos. Então eu sempre tive muita atividade. E vindo para Paranavaí, também encontrei uma diocese que necessita que se trabalhe muito, porque é o trabalho que faz as coisas acontecerem. E os padres e a diocese me deram oportunidade de trabalho, me deram possibilidade de trabalho. Trabalhamos muito e as coisas que agora aparecem foram acontecendo nesses seis anos de trabalho. Por exemplo a formação dos catequistas, era uma grande necessidade aqui e a gente conseguiu dar um formato. A formação dos ministros extraordinários a serviço da comunidade também. Uma outra situação muito interessante foi que no decorrer do tempo, junto com os padres fomos conseguindo discernir e decidir a criação da nossa escola de formação de diáconos. Na diocese de Paranavaí sempre tivemos um certo problema na formação dos nossos estudantes de Filosofia, que ora estudaram em Maringá, ora em Londrina, e assim sempre mudavam de casa. Junto com o clero, decidimos construir a nossa casa para formação no curso de Filosofia dentro da nossa diocese, na cidade Alto Paraná. Todos sabem que os filhos se educam em casa. A partir de julho, também, a diocese entra nos festejos dos 50 anos de criação. Então conseguimos fazer um planejamento e definimos com os padres de não inventar coisas novas, como se tivéssemos que fazer muita festa. Vamos continuar nosso trabalho pastoral normal, com três coisas que queremos levar adiante: 1) a missão, então as SMP; 2) a pastoral vocacional, nós precisamos encher os nossos seminários de seminaristas para que no futuro possamos ter padres; e 3) a sustentabilidade eclesial, como sustentar tudo isso na igreja, como fazer? Essas coisas estão acontecendo, algumas foram se completando e agora podem continuar caminhando mesmo com a ausência do bispo por um tempo e depois com um novo bispo que dará continuidade. Outra questão  importante é que tentamos responder ao desafio do papa Francisco de darmos mais possibilidade na questão da nulidade matrimonial, então hoje em Paranavaí temos nosso tribunal eclesiástico, formado para que a questão de nulidade matrimonial possa ter mais celeridade e ser mais barato. Essa é a síntese dos últimos anos, por isso que digo, pastoral dá trabalho.

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Dom Geremias recebe a equipe do JC em Paranavaí.

JC: Quais os desafios e expectativas agora indo pra Londrina?

Dom Geremias: O primeiro grande desafio é como vai ser trabalhar a igreja numa cidade maior. Paranavaí tem 87 mil habitantes, Londrina tem 550 mil, e ainda tem as cidades ao redor. Outra coisa é dar andamento a questões que estão acontecendo, que são as Santas Missões Populares e a organização do 14º Intereclesial, este último é um trabalho que traz visibilidade nacional e internacional para Londrina. Depois a questão da comunicação, eu vejo com muito agrado, tenho muito interesse que o trabalho da PASCOM se desenvolva para que a comunicação em Londrina possa ser mais eficiente ainda. Outras questões são a formação do laicato, de escolas de teologia, a formação dos futuros padres. Também o acompanhamento dos padres. Em Paranavaí tenho 42, já Londrina tem cerca de 78 padres diocesanos, além dos religiosos que vem a completar cerca de 130, pelo menos o triplo de padres em Londrina. E assim movimentar tudo isso, fazer que a Arquidiocese de Londrina possa responder àquilo que o papa vem pregando, exigindo dos bispos, que a Igreja seja missionária, seja hospital de campanha, seja misericordiosa. Outra questão importante é o Tribunal Eclesiástico que também tem seus desafios, precisa realmente funcionar para que o povo de Deus tenha acesso a essa justiça misericordiosa.

 

JC: Como o senhor vê os grupos bíblicos de reflexão, prioridade da Arquidiocese de Londrina?

Dom Geremias: Eu vejo isso com muito agrado, porque eu, particularmente, sou fruto de grupos de reflexão, eu sou fruto de grupos de família. A minha mãe, por exemplo, foi coordenadora de grupos de família por pelo menos 30 anos. Eu cresci, aprendi a ler nos grupos de família, nas novenas. Depois que entrei no seminário, sempre que estava em casa ia ns grupos e era eu que ajudava. Então pra mim isso é uma coisa muito normal, é um caminho muito interessante. De mais a mais temos o documento da CNBB que trata sobre a Igreja como comunidade de comunidades, nós temos que realmente trabalhar por comunidades menores que sejam mais do tamanho do homem no sentido de que a pessoa possa conhecer, possa ser conhecida e assim ela poder viver a fé um pouquinho mais comunitariamente. Deus queira que a Arquidiocese de Londrina cresça e que esses Grupos Bíblicos de Reflexão realmente se desenvolvam para criar uma formação melhor com o tempo, uma formação bíblica, teológica, uma formação de fé, mas ao mesmo tempo que não esqueça da Palavra de Deus profética e por outro lado a questão da caridade, da ação social, da transformação que deve fazer parte da espiritualidade dos grupos de família.

 

JC: Dom Manoel falava do seu lado acadêmico aliado ao lado pastoral que é muito forte. Como isso faz parte do seu trabalho?

Dom Geremias: Por longos anos eu fui professor, formado em Liturgia, sempre trabalhei nessa área da Teologia. Como professor a gente cresce muito porque tem que aprender a sintetizar. E eu sempre trabalhei com muito gosto, sempre fui, senão pároco, tinha outro trabalho importante que realizava junto com o ser professor. Então ou era pároco, ou era reitor de seminário, ou coordenador da ação evangelizadora. Eu ia para a universidade, dava aula e tinha pressa de voltar para casa porque o escritório me esperava com coisas a resolver. Eu trabalho e gosto de conseguir fazer a pastoral brotar do chão da realidade do nosso povo. Foi minha preocupação em Paranavaí, quando a gente foi consultando as paróquias, os padres, as lideranças para ver o que realmente era necessário fazer para que a evangelização continue acontecendo. Em Londrina com certeza vamos dar passos nesse sentido pra colocar um pouquinho mais a pastoral em discussão, a pastoral não é de cima para baixo ou que brota somente na cabeça do bispo, vamos dizer assim. Ela tem que ser uma opção de uma diocese, de um povo. Por isso que eu dou muito valor ao que é decidido em comum, se foi uma decisão comum, por exemplo, que acontecesse as SMP, então deve ser uma opção pastoral a ser cultivada e levada a diante. Eu gosto da pastoral, gosto de pensar a pastoral, gosto de discutir pastoral, e quanto mais as discussões forem aprofundadas, melhor.

Aqui entra outro termo que é muito importante. Uma arquidiocese deve ver um pouquinho a sua regionalidade, então em Londrina a gente tem que discutir o que vai no Norte Novíssimo do Paraná, aquele jeito, aquele sotaque, aquele povo feliz, aquele jeito pé  vermelho de ser. O que isso tem a ver com a pastoral, com a evangelização, como nós na igreja podemos aproveitar tudo isso para fazer com que a fé seja inculturada na vida do povo de Londrina e de toda aquela região.

Juliana Mastelini
PASCOM Arquidiocesana

Fotos Luiz Vianna 

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