Após quatro semanas de XVI Assembleia Geral Ordinária no Vaticano, Francisco concluiu os trabalhos na noite deste sábado (28), na Sala Paulo VI. O último dia foi de leitura, aprovação e apresentação do Relatório de Síntese, que passou por votação eletrônica e secreta

O Papa Francisco participou da Congregação Geral da tarde deste sábado (28) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos naquele que foi o último dia após quatro semanas de trabalho. Dia também de leitura e aprovação do Relatório de Síntese, que passou por votação eletrônica e secreta, com apresentação do documento de 40 páginas – em versão oficial em italiano e inglês – em coletiva de imprensa. Essa foi a primeira vez que os não bispos tiveram o direito de voto, como as mulheres.

A conclusão dos trabalhos do Sínodo foi feita pelo próprio Papa Francisco na noite desse sábado (28), na Sala Paulo VI. Em espanhol, agradeceu pela dedicação de todos e disse:

“Quero recordar que o protagonista do Sínodo é o Espírito Santo. Sugiro que levem consigo os textos de São Basílio, que nos preparou o Padre Davide Piras, e continuem meditando-o, porque isso pode ajudá-los. Quero agradecer o trabalho de todos e de cada um: cardeal Grech, não dormiu à noite; cardeal Hollerich, mestre dos noviços; Nathalie Becquart e Luis Marín de San Martín, Giacomo Costa, Riccardo Battocchio, Giuseppe Bonfrate, Irmã Maria Grazia Angelini, Timothy Radcliffe, que nos manifestaram um saber espiritual conosco, e aos escondidos, aqueles que estão aqui atrás, que não vemos e que possibilitaram tudo isso. Obrigado de coração a todos. Muchas gracias.”

Missa de encerramento neste domingo

O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística de conclusão do Sínodo dos Bispos no Vaticano no domingo, 29 de outubro, e exortou cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos a crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo: “é aqui que está o coração de tudo” para fazer “a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama. Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia”.

Cerca de 5 mil fiéis estiveram na Basílica São Pedro para rezar com o Papa Francisco. A homilia foi especialmente dirigida aos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e leigos que, durante um mês, se viram empenhados na Sala Paulo VI, no Vaticano, para a XVI Assembleia Geral Ordinária. O pedido do Pontífice, segundo a reflexão do Evangelho do dia (Mt 22, 36) sobre “o princípio inspirador de tudo”, foi de “crescer na adoração a Deus e no serviço do próximo”.

De fato, quando nos interrogamos sobre «Qual é o maior mandamento?» (Mt 22, 36), explica o Papa, a resposta de Jesus é clara: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 37-39). Com a conclusão do Sínodo, “é importante fixar o «princípio e fundamento», do qual uma vez e outra tudo começa: amar a Deus com toda a vida e amar o próximo como a si mesmo”. Mas, questiona o próprio Papa, como traduzir tal impulso de amor? Francisco propõe “dois verbos, dois movimentos do coração”: adorar e servir.

A adoração é essencial na Igreja

A adoração “é a primeira resposta que podemos oferecer ao amor gratuito” de Deus e, infelizmente, neste momento, disse o Papa, “perdemos o hábito da adoração”: “esta maravilha própria da adoração é essencial na Igreja”.

“Que esta seja uma atividade central para nós, pastores: dediquemos diariamente um tempo à intimidade com Jesus, Bom Pastor, diante do sacrário. Adorar. Que a Igreja seja adoradora! Adore-se o Senhor em cada diocese, em cada paróquia, em cada comunidade! Porque só assim nos voltaremos para Jesus, e não para nós mesmos.”

Mas, alerta Francisco, na Sagrada Escritura, o amor ao Senhor aparece frequentemente associado à luta contra toda a idolatria, porque os ídolos são obra do homem: “quem adora a Deus rejeita os ídolos, pois, enquanto Deus liberta, os ídolos tornam-nos escravos”.

Servir

O segundo verbo proposto pelo Papa é o servir, como acontece no mandamento maior, já que “Cristo liga Deus e o próximo, para que não apareçam jamais separados. Não existe uma experiência religiosa que seja surda ao grito do mundo, uma verdadeira experiência religiosa. Não há amor a Deus sem envolvimento no cuidado do próximo”. Assim, a reforma da Igreja deve ser conduzida através da adoração e do serviço:

“Adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor, esta é a grande e perene reforma. Ser Igreja adoradora e Igreja do serviço, que lava os pés à humanidade ferida, acompanha o caminho dos frágeis, dos débeis e dos descartados, sai com ternura ao encontro dos mais pobres. […] Irmãos e irmãs, penso naqueles que são vítimas das atrocidades da guerra; nas tribulações dos migrantes, no sofrimento escondido de quem se encontra sozinho e em condições de pobreza; em quem é esmagado pelos fardos da vida; em quem já não tem mais lágrimas, em quem não tem voz.”

Assim, com a conclusão da Assembleia Sinodal, nesta «conversação do Espírito», disse o Papa, a experiência foi rica da “terna presença do Senhor”, da “beleza da fraternidade”, sempre “à escuta do Espírito. Hoje não vemos o fruto completo deste processo”, comentou ainda o Pontífice, mas o Senhor deverá guiar e ajudar todos “a ser Igreja mais sinodal e missionária, que adora a Deus e serve as mulheres e os homens do nosso tempo, saindo para levar a todos a alegria consoladora do Evangelho”:

“Esta é a Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, serva dos últimos. Uma Igreja que acolhe, serve, ama, sem nunca exigir antes um atestado de «boa conduta». Uma Igreja com as portas abertas, que seja porto de misericórdia.”

Andressa Collet
Vatican News

Foto: Vatican Media

Na abertura dos trabalhos da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo sobre a Sinodalidade, que começou na quarta-feira (4) no Vaticano, o Papa Francisco recordou que “se o Espírito Santo estiver no comando, será um bom sínodo, e se Ele não estiver, não será”

Na tarde dessa quarta-feira, 4 de outubro, na Sala Paulo VI, no Vaticano, teve inicio a primeira Congregação Geral da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com a presença do Papa, que de forma espontânea discursou aos participantes.

Francisco iniciou recordando “que foi São Paulo VI quem disse que a Igreja no Ocidente tinha perdido esta ideia de sinodalidade, e por isso criou o secretariado do Sínodo dos Bispos, que realizou muitos encontros, muitos sínodos sobre temas diferentes”.

Ao discorrer sobre o conceito de sinodalidade, o Santo Padre observou que este ainda não atingiu pleno amadurecimento e não é amplamente compreendido dentro da Igreja. No entanto, ele destacou que ao longo de quase seis décadas, a Igreja tem gradualmente trilhado esse caminho, “e hoje podemos chegar a este Sínodo com este tema”. De acordo com o Pontífice, esse enfoque surgiu através dos bispos de todo o mundo. Após o Sínodo da Amazônia, um questionário foi enviado às dioceses, e a questão da sinodalidade emergiu como um tema amplamente evidenciado e apoiado pela grande maioria dos bispos.

Não somos um parlamento

“O Sínodo não é um parlamento, é outra coisa; o Sínodo não é uma reunião de amigos para resolver algumas questões atuais ou dar opiniões, é outra coisa. Não esqueçamos, irmãos e irmãs, que o protagonista do Sínodo não somos nós: é o Espírito Santo”, enfatizou Francisco.

O Papa então sublinhou a importância da presença do Espírito Santo, que traz harmonia a comunidade eclesial, e que deve guiar o Sínodo. E em seguida fez um alerta aos participantes: “se entre nós houver outras formas de avançar pelos interesses humanos, pessoais, ideológicos, não será um Sínodo, será uma reunião parlamentar”.

A harmonia do Espirito Santo

“Se neste Sínodo chegarmos a uma declaração que é tudo igual, sem nuances , o Espírito não está aqui, ficou do lado de fora” destacou o Santo Padre ao afirmar que  a Igreja é composta de uma única harmonia de vozes que são conduzidas pelo Espírito Santo: “é assim que devemos conceber a Igreja, cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades devem ser incluídas na sinfonia da Igreja, e esta sinfonia é criada somente pelo Espírito”.

Francisco destacou ainda que o Espírito Santo nos conduz pela mão e nos consola: “a presença do Espírito é assim – permitam-me a palavra – quase materna, como uma mãe nos conduz, nos dá esta consolação. Devemos aprender a ouvir as vozes do Espírito: são todas diferentes. Aprendamos a discernir”.

Atenção às palavras

Outro alerta do Papa foi sobre as palavras vazias e mundanas: “a tagarelice é contrária ao Espírito Santo e é uma doença muito comum entre nós. Palavras vazias entristecem o Espírito Santo, e se não permitirmos que Ele nos cure dessa enfermidade, será difícil seguir um caminho sinodal adequado. Pelo menos aqui: se você discorda do que um bispo, uma freira ou um leigo estão dizendo, seja franco com eles. Isso é o que significa um Sínodo: falar a verdade, não ter conversas por baixo da mesa.”

“Cuidado com isso: não devemos ocupar o lugar do Espírito Santo com coisas mundanas, mesmo que sejam boas, como o bom senso. Isso é útil, mas o Espírito Santo vai além. Devemos aprender a viver em nossa Igreja com a orientação do Espírito Santo.”

Mensagem aos jornalistas

Francisco relembrou como a controvérsia e a pressão da mídia se sobrepuseram às discussões em Sínodos anteriores. “Quando ocorreu o Sínodo sobre a família, houve uma opinião pública de que a comunhão deveria ser concedida aos divorciados, e isso influenciou o Sínodo. Quando aconteceu o Sínodo para a Amazônia, havia pressão e opiniões públicas sobre a ordenação de homens casados.”

Agora”, disse o Papa, “existem algumas suposições sobre este Sínodo: ‘O que eles vão fazer? Talvez permitir o sacerdócio para as mulheres.’ Eu não sei, essas são as coisas que estão sendo ditas lá fora. E essas coisas são ditas com tanta frequência que os bispos às vezes têm medo de comunicar o que está acontecendo.” Por isso, o Pontífice se dirigiu diretamente aos “comunicadores”, pedindo que desempenhem bem o seu papel, com integridade e imparcialidade.

“Portanto, peço a vocês, comunicadores, que cumpram bem o seu papel, com integridade, para que a Igreja e as pessoas de boa vontade, compreendam que também na Igreja a prioridade é a escuta. Transmitam essa mensagem, pois é de extrema importância.”

Francisco encerrou seu discurso expressando profunda gratidão a todos que contribuem para este momento de pausa e reflexão, onde a Igreja se dedica à escuta durante o Sínodo, enfatizando que, em sua perspectiva, isso representa o aspecto mais significativo e essencial do processo sinodal.

Thulio Fonseca
Vatican News

Foto: Vatican Media

No dia 11 de março, os diáconos permanentes da arquidiocese participaram de sua primeira formação do ano, ministrada pelo arcebispo dom Geremias Steinmetz, no Centro Pastoral Jesus Bom Pastor. O encontro foi aberto também à participação das esposas. A primeira formação do ano é sempre conduzida pelo arcebispo, que, em 2023, tratou sobre a reflexão do Sínodo: “Comunhão Participação e Missão”, a partir do Etapa Continental que ele fez parte em Brasília nos dias 6 a 10 de março, reunindo representantes da Igreja dos países do Cone Sul. Esse encontro teve também a participação de cinco diáconos permanentes, entre eles o presidente da Comissão Nacional dos Diáconos (CND), diácono Francisco, da Arquidiocese de Manaus.

A espiritualidade do Sínodo fala em “alargar a tenda” para conseguirmos nos encontrar com todos, destacou dom Geremias. Com maior abertura um espaço que, por exemplo, é ampliado em 4m², quantas pessoas a mais caberiam, quantas pessoas diferentes dentro do mesmo local, continua.

A Palavra de Deus como experiência iluminadora leva ao diálogo e, consequentemente, à participação. O Sínodo também caminha, nas palavras do Papa Francisco, para uma Igreja em saída, em estado permanente de missão, ir ao encontro do outro, a espiritualidade do abraço, ou seja, a tenda alargada é uma Igreja itinerante, que pode estar em qualquer lugar. Como Igreja, a opção preferencial é pelos pobres e mais necessitados e pela abertura do diálogo com o diferente. O arcebispo também apresentou a síntese das 183 dioceses brasileiras.

No final dom Geremias deixou uma reflexão aos diáconos: “como agir para ser mais sinodal?”

Foi apresentado também o Fundo de Auxílio Fraterno dos diáconos, que consta no regulamento da Comissão Arquidiocesana dos Diáconos, no título IV do documento.

Diácono Anderson Okada

Fotos: Guto Honjo

Iniciamos hoje uma caminhada com padre Rafael Solano sobre a espiritualidade sinodal. Serão quatro artigos, publicados ao longo das próximas semanas, nos quais o vigário geral da arquidiocese falará da experiência de um santo doutor da Igreja que ilumina a nossa vivência sinodal. O primeiro fala sobre Santa Teresinha do Menino Jesus, que ensinava “a alegria inefável de carregar nossa cruz debilmente”.


Quero aproveitar a grandeza espiritual de alguns grandes doutores e doutoras da Igreja, para juntos realizarmos nosso caminho sinodal guiados da sua experiência. Para esta primeira meditação gostaria de oferecer um ponto central da espiritualidade de Teresinha do Menino Jesus. Fazendo honra aos seus 150 de nascimento.


Santa Teresinha do Menino Jesus tinha o costume de dizer: “Sintamos a alegria inefável de carregar nossa cruz debilmente”.
A sintonia teologia da debilidade e da fragilidade nos remete imediatamente ao que somos. Carregar a cruz debilmente é aceitar plenamente que quem dirige nossas vidas é o Senhor. Não existe força espiritual para quem não se reconhece suficientemente pequeno. Desde sempre ouvimos as Palavras de Jesus: “Quem não se faz pequeno não entrará no Reino dos céus”. A debilidade dos pequenos não é falta de forças e simplesmente reconhecimento atual é real de que dependemos de Deus totalmente.


Falamos muito nas nossas debilidades, mas quase nunca na alegria que elas nos produzem. Carregar a cruz nos deve produzir uma alegria inefável. Alegria que brota de um coração sensato, de um coração disponível, de um coração limitado.


Sabemos que a doutora da Igreja Santa Teresinha pode nos ajudar na nossa vida espiritual vivendo esta alegria. No início do seu caminho, Teresinha pensava que a santidade se conquistava de forma violenta e agressiva. Aos poucos foi encontrando o caminho da alegria inefável que, com o passar do tempo, mostrou-lhe a grandeza de uma experiência que ela mesma chamará de “mãos vazias”. Estar de mãos vazias em tempos como os que vivemos pareceria algo catastrófico, mas só quem vive a sua espiritualidade de mãos vazias sabe que esta dependência do amor de Deus gera uma verdadeira alegria.


Em tempos sinodais como os que vivemos, torna-se quase que uma primeira atitude reconhecer alegremente o significado desta carregar alegremente as nossas debilidades. O sínodo nos coloca a todos e a todas diante de uma realidade áspera, por vezes traumática. Penso que muito mais do que números que apresentam o nosso fracasso ou o nosso sucesso, o sínodo deve-nos apresentar com grande gozo o que significa viver na liberdade do que o Espírito vem realizando.


Percebi neste último encontro sobre a sinodalidade, coordenado para um grupo de religiosas, no qual abordamos o tema da promessa, do seu significado e da sua atualidade, como, mesmo sem pensar, há entre nós um ambiente de “tristeza” e “desânimo”. O sínodo não é um render contas para o patrão, é, às vezes, reconhecer que nas mãos vazias também está a expressão de Pedro quando Jesus lhe propõe a ele e aos seus companheiros uma Nova pesca.


Alegria inefável das nossas debilidades não só porque temos pontos fracos, se não também porque enxergamos um ambiente hostil e mesmo ali teremos só a oportunidade de manifestar quão felizes somos.


Para vivermos em sintonia com a proposta do Sínodo, a alegria deve ocupar um lugar privilegiado no caminho e no jeito de caminhar. Vale a pena lembrar as palavras do Papa Francisco quando em 2021 falava para um grupo de monjas de clausura sobre a sua proximidade com Santa Terezinha. Santa Teresinha é “uma amiga fiel, por isso, não quis falar-lhes de teorias, quis falar-lhes da minha experiência com uma santa e dizer-lhes o que uma santa é capaz de fazer e qual é o caminho para ser santa”, contou o papa. Logo após apresentou dez conselhos de grande valia para levar Teresinha do Menino Jesus no nosso caminho (Cf. Audiência geral 30/09/21).


Na caminhada Sinodal, Santa Teresinha vai nos ajudar a compreender o valor de entender o ritmo do caminho, as alegrias do caminho. Precisamente por isto podemos dizer que a primeira padroeira do nosso sínodo sobre a sinodalidade é Santa Teresinha do Menino Jesus. Sua intercessão nos assista. Próxima reflexão sobre a segunda padroeira do sínodo: Santa Hildegarda de Bingen.

Padre Rafael Solano
Vigário geral da arquidiocese e cura da Catedral de Londrina

Nessa segunda-feira, 6 de março, mais de 180 representantes da Igreja dos países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile) participaram do primeiro dia da etapa continental do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade, convocado pelo Papa Francisco. A assembleia segue até sexta-feira em Brasília, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Os participantes darão suas sugestões para aquilo que deve ser levado adiante nas próximas etapas do sínodo. O arcebispo dom Geremias é um dos representantes da Igreja do Brasil.

Na abertura, falas de autoridades presentes, como de dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário executivo da CNBB; da irmã Eliane Cordeiro, presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB); e do presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), dom Miguel Cabrejos Vidarte.

Num primeiro momento os participantes se concentraram na leitura do documento da etapa continental do Sínodo para se inserirem nas grandes questões que serão debatidas até sexta-feira. A seguir, padre Agenor Brighenti, doutor em Ciências Teológicas e Religiosas, ministrou palestra sobre os documentos da Igreja Latino-Americana.

Houve também um tempo dedicado à exposição do método a ser utilizado nos trabalhos: a “conversa espiritual”. “A conversa espiritual é um instrumento para animar o discernimento comunitário”, explica dom Geremias. Essa metodologia engloba três aspectos: 1) escuta ativa; 2) escuta receptiva; e 3) partilha daquilo que toca cada um. . “No final da tarde fizemos um pequeno treino para entender como se desenvolve esse método.” Os grupos, cada um com cerca de 10 pessoas respondeu à questão: “quais as dores que temos sentido na Igreja da América Latina hoje?”.

“No grupo, cada um falou das suas dores, esperanças e depois fomos fazendo exercício com silêncio, com oração em que a gente foi discernindo enquanto grupo o nós iríamos dizer”, explicou o arcebispo. Ele aponta que muitas coisas interessantes saíram dessa conversa. Entre elas a experiência pessoal com Jesus; a diminuição abrupta dos católicos; a catequese de iniciação cristã, entre outros.

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

O arcebispo dom Geremias Steinmetz participa, entre os dias 6 e 10 de março, em Brasília (DF), da etapa continental do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade: “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”. A chamada Assembleia Regional do Cone Sul tem a participação de 186 representantes da Igreja Católica da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Brasil e retoma os apontamentos feitos durante a fase diocesana do sínodo.

Em Londrina, como nas demais dioceses do mundo, a fase arquidiocesana foi realizada de outubro de 2021 a julho de 2022. Nesse período foram ouvidas as lideranças e comunidades, que responderam a um questionário enviado pelo Santo Padre. A partir das respostas das comunidades, uma síntese foi enviada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que elaborou uma nova síntese, levando em consideração as contribuições das 279 dioceses e prelazias do Brasil, além de congregações religiosas, escolas, comissões, pastorais e organismos. “Todas essas sugestões foram resumidas e a síntese brasileira foi enviada para Roma”, explica dom Geremias.

Em Roma uma nova síntese foi feita a partir dos mais de 110 relatórios do mundo, provenientes tanto das conferências episcopais, como de organizações e também outras igrejas cristãs Por um pedido do Papa Francisco, essa síntese feita por Roma volta às bases para ser discutida em âmbito continental.

Devido à grande extensão da América Latina, o território foi dividido em 4 lugares de trabalho: 1) países da América Central e México; países do Caribe; países bolivarianos; e países do Cone Sul.

Dom Geremias pede aos fiéis de Londrina que estejam em oração pelos trabalhos que irão realizar. “Nesta semana, a gente estará dando opiniões e analisando com essas 186 pessoas, guiados pelo Espírito, e para isso peço orações da Igreja londrinense, para que a gente possa de fato indicar questões importantes que precisam ser analisadas nesta última etapa do sínodo, que ocorrerá em duas datas: outubro de 2023 e outubro de 2024.”

Temas

Entre os temas que serão abordados, dom Geremias destaca alguns: papel das mulheres na Igreja; juventude; meio ambiente; anúncio querigmático; análise da atuação da Igreja no mundo. E conclui: “O Papa sempre ressalta que a evangelização deve ser analisada sob a inspiração do Espírito, que é o grande detentor do trabalho de evangelização.” A Igreja é do Espírito Santo e é Ele quem a guia, finaliza dom Geremias.

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

Convocado pelo Papa Francisco, processo sinodal começou em 2021 nas dioceses de todo mundo e culminará com assembleia no Vaticano em 2023. Na celebração, dom Geremias lançará carta pastoral destinada aos fiéis da arquidiocese

Na sexta-feira, 29 de julho, padres, diáconos, religiosos e lideranças de todas as paróquias da Arquidiocese de Londrina se reúnem na Catedral para o encerramento da fase arquidiocesana do Sínodo dos Bispos 2021-2023, convocado pelo Papa Francisco. A celebração será presidida pelo arcebispo dom Geremias Steinmetz, com a presença de padres de Londrina e região, às 19h30. A assembleia do Sínodo dos Bispos é realizada desde 1965 pela Igreja Católica, reunindo bispos do mundo todo para discutir juntos os rumos que a Igreja vai tomar a respeito de determinado assunto. Os últimos sínodos trataram sobre a família, os jovens e a evangelização na região amazônica.

Esta é a primeira vez que essa assembleia está sendo realizado de forma descentralizada, não só no Vaticano, mas a partir das dioceses, se dará em três etapas: arquidiocesana, continental e universal. O tema tratado é o modo como a Igreja realiza o seu trabalho expresso na palavra “sinodalidade”, que quer dizer o processo de autoridades eclesiásticas e fiéis leigos caminharem juntos.

A fase arquidiocesana do Sínodo dos Bispos começou em outubro do ano passado e envolveu um grande processo de consulta e discernimento nas 83 paróquias e 16 cidades que compõem a arquidiocese. Os fiéis responderam um questionário enviado pelo papa que resultou numa síntese a ser entregue na sexta-feira e seguirá para as próximas fases que culminarão com a assembleia de 2023 no Vaticano, com o Papa Francisco e os padres sinodais.

Finalizando esse processo arquidiocesano do Sínodo dos Bispos, a Igreja de Londrina vai iniciar também na sexta-feira o processo do Sínodo Arquidiocesano, com o objetivo de escutar todos os fiéis, mas também representantes da sociedade civil, para ser construído o planejamento pastoral para os próximos anos na Igreja de Londrina. Na celebração, o arcebispo dom Geremias lançará uma carta pastoral que fundamentará todo processo, com o tema: “No Caminho, guiados pelo Espírito, nos escutamos e formamos comunidade” e o lema: “Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles” (Lc 24,15).

Serviço:

Missa de encerramento da fase arquidiocesana do Sínodo dos Bispos e abertura do Sínodo Arquidiocesano

Lançamento da Carta Pastoral de dom Geremias Steinmetz sobre o Caminho Sinodal na Arquidiocese de Londrina

Sexta-feira, 29 de julho, às 19h30

Local: Catedral Metropolitana de Londrina

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

Foto: Ernani Roberto

No dia 4 de abril, foi realizada a primeira assembleia do Decanato Centro abordando a temática do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade. O encontro foi na Paróquia Nossa Senhora Rainha do Universo e teve a participação de cerca de 70 pessoas, entre padres, diáconos, religiosas e leigos.

O encontro foi dividido em dois momentos. No primeiro, o padre Rafael Solano, cura da Catedral Metropolitana, trabalhou com os participantes sobre a dimensão teológica do sínodo em cinco pontos: fase da escuta, fase de integrar, fase de dinamizar, fase de atualizar e a espiritualidade sinodal.

Em seguida, padre Marcio França, pároco da Nossa Senhora Rainha do Universo, tratou sobre a dimensão canônica e jurídica do sínodo: os fiéis e leigos que confluem para o bem da Igreja e para o anúncio do Evangelho.

Segundo o decano, padre Marcelo Gomes, pároco da Nossa Senhora das Graças, foi um encontro muito rico, de trocas e vivências. Os demais padres do decanato também puderam dar a sua palavra, assim como os diáconos e todo povo. “Visto que no nosso decanato, a maioria dos padres chegamos ou um pouco antes da pandemia ou depois da pandemia, é o primeiro momento que tivemos de estar juntos, foi um encontro muito bonito.”

Comunhão, participação e missão são as três palavras, próprias do sínodo, que, segundo o padre, o decanato está buscando marcar os seus trabalhos. “Nós queremos dar esse pontapé no nosso decanato para poder crescer cada vez mais e sermos uma Igreja anunciadora, uma Igreja fraterna, uma Igreja de comunhão, uma Igreja que seja junto entre si e com as realidades do mundo”, finaliza o padre.

Pascom Arquidiocesana

Fotos: Divulgação

Compreender, condicionar e absorver, três verbos propícios para o tempo sinodal de escuta

No dia em que o Papa Francisco comunicou ao mundo o acontecimento do sínodo; imediatamente me veio a imagem do grande teólogo francês Henri de Lubac. Suas meditações sobre a Igreja pautaram e influenciaram positivamente a vida eclesial antes, durante e depois do Concílio Vaticano II. Me propus então a fazer junto do povo que me foi confiado na Catedral de Londrina uma reflexão sobre cinco destas meditações elaboradas por De Lubac. Podemos nos perguntar qual o alcance destas reflexões, sobretudo a sua atualidade diante do evento sínodo.  Temos diante de nós uma das maiores exigências já propostas: abordar um tema na sua complexidade e compreender a riqueza do mesmo. Evitarei definições que já foram feitas por outros teólogos sobre o tema sinodalidade e me limitarei a refletir à luz do pensamento de Henri de Lubac sobre o caráter de uma experiência sinodal.

Muitos perguntam-se qual deve ser o ritmo do sínodo? Outros já tentam responder sobre quais devem ser as conclusões do sínodo; outros se questionam sobre o poder decisivo do sínodo. Enfim, são inúmeras as reflexões e visões que sobre ele se podem ter. Gostaria de trazer uma reflexão do próprio Henri de Lubac, teólogo jesuíta e cardeal da Igreja. Reflexão que ele mesmo realizou e que eu considero a coluna vertebral do sínodo sobre a sinodalidade.

De Lubac assim se expressou numa das suas meditações sobre a Igreja:

“A Igreja não só é a primeira entre as obras do Espírito santificador, mas também compreende, absorve e condiciona todas as outras. Todo o processo da salvação se realiza nela. Para dizer a verdade, identifica-se com ela. Mais ainda: o mistério da Igreja é um resumo de todo o Mistério. É por excelência nosso próprio mistério! Abraça-nos por completo. Rodeia-nos por todos os lados, já que Deus nos vê e nos ama em sua Igreja, já que ele nos quer nela e nela é onde nós o encontramos e nela é também onde nós aderimos a ele e onde ele nos faz felizes”.

Compreender, absorver e condicionar. Três verbos que garantem o significado daquilo que já tinha sido dito por ele quando foi perguntado sobre a profissão de fé na Igreja. Naquela ocasião De Lubac disse: “A confissão de fé no Símbolo (o Credo) se pronuncia sempre como que em nome de toda a Igreja”. Este é o primeiro passo na etapa da escuta. Pronunciar e proclamar a fé em nome de toda a Igreja. É isto que nos ajuda a compreender que somos uma Igreja “semper reformanda”. O exercício epistemológico de elaborar um caminho de compreensão é muito mais do que um simples passo cognitivo. Quem compreende escuta com atenção aquilo que faz parte do mundo sensível da realidade. Para escutar precisamos compreender; compreender que somos chamados e sobretudo convocados a proclamar aquilo que na fé recebemos.

Vejamos agora o segundo dos verbos. Absorver. É um verbo que num certo sentido tem se tornado pejorativo, mas que na sua raiz traz uma das atitudes humanas mais profundas e significativas. Empapar-se, fazer com que algo desapareça por pura incorporação e assimilação. A sua etimologia nos ajuda a vivenciar uma realidade própria do Espírito. Ele nos embebe do seu amor; a sua ação direta nos transforma e a igreja vive a sua caminhada por assimilação constante. Na V conferência do episcopado Latino Americano; conferência de Aparecida se declara: “A missão não se limita a um programa ou projeto, mas é compartilhar a experiência do acontecimento do encontro com Cristo, testemunhá-lo e anunciá-lo de pessoa a pessoa, de co-munidade a comunidade e da Igreja a todos os confins do mun-do (cf. At 1,8)”. Só podemos viver a riqueza da comunidade por absorção. A vida missionária nos empapa da ação do Espírito e por isso mesmo nós tornamos discípulos e missionários.

O último e terceiro dos verbos. Condicionar. É um verbo que tem duas características, de um lado quando utilizado de maneira transitiva direta diz respeito a um comportamento; num certo sentido um fator determinante. Quando é utilizado de maneira bitransitiva tem uma conotação persuasiva. Poderíamos dizer com um autor do século XVII, Blaise Pascal, que só a persuasão ajuda-nos a compreender a plenitude da realidade. A evangelização num certo sentido acontece por persuasão no sentido de ser uma oferta gratuita a ser seguida. Nesta bela reflexão de Henri de Lubac encontrei uma proposta a ser seguida neste tempo sinodal e acredito que a todos nós pode nos contribuir a sermos mais atentos ao tempo de escuta. Deste primeiro momento dependerá a continuidade da nossa caminhada. Tempo de escuta, aprendamos e compreendamos a escutar atentamente.

Padre José Rafael Solano Durán

Cura da Catedral Metropolitana de Londrina e Vigário Geral da Arquidiocese