A arquidiocese celebrou em julho o aniversário de 41 anos da morte da Serva de Deus Madre Leônia Milito, aquela que os londrinenses esperam e rezam, para que seja a “Santa de Londrina”

 

Na Igreja, à exceção da Virgem Maria e de São João Batista, faz-se memória do dia de falecimento de um santo. Esta é a data do seu nascimento para a vida eterna, quando ele, de junto do Pai, intercede pelos fiéis. É por isso que a Arquidiocese de Londrina se une às irmãs clareatianas e aos fiéis para celebrar os 41 anos da morte da Serva de Deus Madre Leônia Milito, fundadora da Congregação das Missionárias Claretianas, junto com dom Geraldo Fernandes, primeiro bispo de Londrina.

 

A Igreja ensina que apenas aqueles que morreram na amizade com Deus e estiverem purificados viverão com Cristo para sempre. No céu só se encontram os felizes e bem aventurados que combateram o bom combate e não se desviaram da fé em Jesus Cristo.

 

Dom Geraldo Fernandes e Madre Leônia fundaram em Londrina a Congregação das Missionárias Claretianas, presente hoje nos cinco continentes/ Foto: Arquivo geral MSAMC

Desde a sua morte, em 1980, em um acidente de carro, Madre Leônia foi reconhecida pelo então bispo dom Geraldo Fernandes, como uma mulher de bem-aventuranças. Na missa de Sétimo Dia, dom Geraldo falou da Madre a partir do Sermão da Montanha, destacando na religiosa as qualidades que o próprio Jesus aponta. “Permiti-me que este texto evangélico (Mt. 5, 3-12) eu o aplique à Madre Leônia.(…) Nosso Senhor não promete a felicidade a seus filhos só depois da morte. Ele como bom Pai nos promete a felicidade terrena”, falou dom Geraldo.

 

“Bem-aventurada Madre Leônia – começa o bispo – pobre e desprendida de tudo, só teve que fazer um testamento espiritual, pois não tinha absolutamente nada de terreno para deixar às suas filhas. Deixou-nos a sua alma, o seu exemplo, a sua virtude, a sua santidade.” E segue descrevendo as bem-aventuranças da Madre. <Clique aqui> para ler a homilia completa de dom Geraldo na missa de Sétimo Dia de Madre Leônia.

 

Convívio
A irmã Aparecida de Lourdes Arado, MC, conheceu Madre Leônia em 1959, um ano após a fundação da Congregação das Missionárias Claretianas, quando irmã Aparecida ingressou na congregação em São Paulo.

 

“Em meu primeiro encontro com Madre Leônia ela disse: ‘Minha filha, você está recebendo de Deus uma dupla vocação, a de consagrar-se totalmente a Ele e aos irmãos e a de ajudar a construir esta Congregação.’ Senti uma grande confiança e responsabilidade naquela fala da Madre, que até hoje levo muito a sério, pois tive a graça de acompanhar todo o desenvolvimento da Congregação das Missionárias Claretianas nestes 62 anos, aqui no Brasil e além fronteiras”, conta irmã Aparecida, que conviveu com Leônia até o dia de sua morte em 22 de julho de 1980, em decorrência de um acidente de trânsito na BR-369, na saída para Cambé, onde hoje está a Capela Nossa Senhora do Caminho.

 

Desde que a conheceu, irmã Aparecida viu em Madre Leônia uma mulher extraordinária, de uma sensibilidade fora do comum em relação às coisas de Deus e às necessidades dos irmãos, especialmente os mais pobres e sofridos, a quem muito amou e serviu.

 

“O que muito me marcou em meu convívio com Madre Leônia foi o seu ardor missionário, fecundado pelo seu amor a Jesus na Eucaristia e ao Coração de Maria, modelo de seu coração consagrado e totalmente doado ao serviço do Evangelho. Uma religiosa sempre a caminho, tanto que morreu a caminho. Eu a defino como uma mulher de fé e oração, uma missionária contemplativa, ou uma contemplativa missionária”, destaca a irmã.

 

Ela conta que a Madre sempre começava seu dia bem cedo, ainda na madrugada, aos pés de Jesus no sacrário, “onde buscava energias e luzes para seu dinamismo apostólico gigante”.
“Eu tive a oportunidade de fazer uma viagem missionária com Madre Leônia por seis meses, visitando nossas comunidades claretianas em vários países da África e da Europa. O que me impressionava era como amava e se comunicava com todos de forma espontânea e natural, respeitando as diferenças de raça, classe e cultura, se adaptando às realidades e acolhendo a todos sempre de braços abertos e com um largo sorriso nos lábios. Seu testemunho já era evangelizador. Para as irmãs nas missões, era a mãe que animava, orientava, apoiava, pronta a ajudar”, recorda.

 

Missionárias Claretianas
De Londrina para o mundo, a congregação fundada por Madre Leônia e dom Geraldo hoje está presente nos cinco continentes, evangelizando nos lugares mais pobres a Palavra de Deus e servindo através das obras de misericórdia os irmãos, particularmente os mais sofridos e necessitados.

 

Filhas de Madre Leônia, as Missionárias Claretianas ajudaram na fundação de diversas paróquias de Londrina/Foto: Arquivo geral MSAMC

Na Arquidiocese de Londrina, desde 1958, Madre Leônia é presença nas suas filhas espirituais, as missionárias claretianas, que estão aqui presentes, “abrindo caminhos, com seu trabalho evangelizador, por vezes anônimo e silencioso, no início de muitas paróquias como: Nossa Senhora das Graças, Coração de Maria, São Vicente, Nossa Senhora do Rocio, Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do Carmo (Ouro Branco), Nossa Senhora de Lourdes, Santa Cruz, além das paróquias dos distritos de São Luiz, Guaravera, Irerê, Paiquerê, Guairacá”, descreve.

 

Na dimensão pastoral, caritativa, social e educacional as irmãs estão presentes no Asilo São Vicente e Lar Santo Antônio, em parceria com os Vicentinos; no Colégio Pio XII; Creche Dom Geraldo Fernandes; Casa de Apoio Madre Leônia, para acolher doentes de câncer em tratamento; CEI Menino Deus, no Jardim João Turquino; Nazaré Santuário da Família, presença solidária no bairro União da Vitória; Projeto Esperança, para crianças e adolescentes; e Abrigo Padre Manoel, para acolher moradores em situação de rua, ambos em Cambé; além de muitas outras obras que são dirigidas por leigos.

 

Para as irmãs, Madre Leônia era a mãe que animava e orientava, pronta a ajudar/Foto: Arquivo geral MSAMC

“Por tudo louvamos ao bom Deus pela vida e missão de Madre Leônia, fiel discípula e missionária de Jesus, em processo de beatificação, por seu testemunho de santidade, graças a esse Deus que opera maravilhas nos pequenos e simples”, continua a irmã. “Madre Leônia é intercessora, co-padroeira das missões populares em Londrina e protetora da vida no trânsito, assim a definiu dom Orlando Brandes, por sua história de vida e missão.”

 

 

Conhecer Madre Leônia
Aqueles que desejam conhecer melhor a vida, espiritualidade e missão de Madre Leônia, pedir sua intercessão para graças ou deseja participar de seu carisma missionário na Igreja pode visitar o Santuário Eucarístico Mariano e falar com as irmãs Claretianas, pessoalmente ou pelo telefone (43) 3339-0808, solicitando folhetos ou livretos sobre seus dados biográficos, orações, novenas. “Que o exemplo de fidelidade alegre e generosa nos ajude a vivermos nossa vocação batismal à santidade”, conclui irmã Aparecida.

 

Santuário Eucarístico Mariano/Foto: Marilene Maria de Souza

Santuário Eucarístico Mariano
(Avenida Madre Leônia Milito, 575)

Aberto todos os dias para adoração e oração
Missas diárias às 7h da manhã
Quintas-feiras e domingos: missa às 17h
Sextas-feiras: missa da saúde às 15h

 

 

Devoção
Foi no velório de Madre Leônia que Maria Inêz Marques da Silva a conheceu. Foi ao funeral representando o patrão e, sem saber por que, seu coração ficou tocado. “Coincidentemente, seis meses depois fui morar no mesmo bairro onde fica o instituto das irmãs claretianas e comecei a frequentá-lo. Especialmente optei pelo Asilo São Vicente de Paulo que as irmãs são responsáveis. Assim conheci várias irmãs e comecei a ajudá-las”, recorda Maria Inêz.

 

Aos poucos, foi conhecendo o Instituto Coração de Maria e o Santuário Eucarístico Mariano. “Quando percebi estava bem familiarizada com várias irmãs.” Hoje a relação dela e da família com a Madre Leônia “é muito chegada”.

 

A relação de Maria Inêz Marques da Silva e da família com Madre Leônia é “bem chegada”/ Foto: Arquivo Pessoal

Maria Inêz conta que a primeira graça que recebeu foi a venda da casa onde morava e a compra do apartamento onde mora hoje. “Com certeza teve a ajuda da Madre, porque não tínhamos nenhuma previsão para vender nossa casa, onde morávamos há 30 anos. No entanto, surgiu um negócio casado em que vendemos a casa e compramos o apartamento do jeito que eu queria, porque fica de frente para o Santuário [Eucarístico Mariano]”, destaca. “Levou 30 anos para conseguirmos ficar pertinho de Madre Leônia e ficamos muito felizes. Temos uma foto especial dela na nossa sala.”

 

No ano 2000, Maria Inêz também recorreu à intercessão de Madre Leônia pela cura de um câncer de mama de sua irmã. Foi um ano bem pesado para a família. A começar pelo médico que deu a notícia do câncer de forma brusca, informando que ela teria que aguardar uma vaga para fazer cirurgia, e teria que decidir se retiraria a mama inteira ou metade.

 

As duas irmãs saíram do consultório apavoradas e foram direto para o Santuário, onde pediram a intercessão de Madre Leônia. “Choramos muito e acreditamos na bondade de Deus.”
A resposta veio rápido. Saindo do Santuário, encontraram uma médica amiga que a encaminhou para outro médico. “[Ele] recebeu-nos com outra postura, ele nos disse o que deveria ser feito. E assim foi realizada a cirurgia e ela está conosco aqui também. Isso há mais de 20 anos”, comemora.

 

Hoje, Maria Inêz participa da Santa Missa diariamente e faz parte do grupo de leigos ICLEM (Instituto Claretiano de Leigos Missionários), “que nos dá a oportunidade de conhecermos mais profundamente a vida de Madre Leônia e vivermos os seus ensinamentos. Ela aponta que os principais aprendizados que teve com Madre Leônia é adorar Jesus Eucarístico sempre, o amor a Maria e amar e doar-se ao próximo.

 

Uma página dedicada à Madre

Sidnei Barbosa Junior: “Minha relação é diária, sempre peço a intercessão dela na minha vida. Sei que recebo graças diariamente sem me dar conta”/ Foto: Arquivo Pessoal

A devoção e carinho de Sidnei Barbosa Junior por Madre Leônia é mais recente. Em 2013 ele visitou a Casa da Memória e conheceu a fundo a história da Madre. Desde lá, o jovem pede a intercessão para suas necessidades e se aprofunda no seu carisma.

 

“Já li o diário dela, sua biografia e sempre em minhas orações peço o auxílio dela. Tenho-a como uma amiga e sei que posso contar com sua ajuda”, destaca Sidnei. “Madre Leônia transmite amor missionário. Não se pode passar por ela sem se sentir incendiado pelo desejo de levar Deus às pessoas.”

 

Contagiado por esse amor, Sidnei criou uma página na rede social Instagram para divulgar frases, pensamentos e fatos sobre a vida e a congregação da serva de Deus. Acesse: @servadedeusleonia.

 

 

 

Processo de canonização
A postuladora da canonização de Madre Leônia, irmã Terezinha de Almeida, MC, explica que é muito importante os londrinenses conhecerem e rezarem pela causa de canonização da Serva de Deus. “Penso que se trata de um momento muito significativo para todos nós. O santo é um dom de Deus para a Igreja e para a nossa arquidiocese e sem dúvida nossa intercessão junto a Deus é muito importante, demonstra o apreço do povo de Deus, a voz do povo que se confirma com a voz da Igreja, que escuta a voz de Deus por meio das ações e eventos prodigiosos que as pessoas relatam por intercessão da Serva de Deus. Por isso eu lhe dizia que precisava dedicar mais à animação da causa, sobretudo na nossa arquidiocese, que move junto com a congregação essa causa”, destaca. Os fiéis que desejarem conhecer mais sobre a Madre Leônia podem ler, mensalmente, Irmã Terezinha mantém uma coluna mensal na Revista Comunidade, onde destaca a vida de Madre Leônia.

 

Túmulo de Madre Leônia no Santuário Eucarístico Mariano recebe a visita de devotos que pedem a intercessão da Serva de Deus/ Foto: Marilene Maria de Souza

 

O processo de canonização de Madre Leônia iniciou em Londrina em 1998, com a fase arquidiocesana, concluída em 2003. Nesse ano, deu-se início à fase romana, que se intensificou em 2005, com a ida da irmã Terezinha para Roma.

 

Madre Leônia é considerada Serva de Deus, título concedido pela Igreja àqueles que tiveram o processo de canonização aberto oficialmente. Os próximos passos são: venerável (em que o Papa decreta que a pessoa em vida destacou-se pelas virtudes heróicas), beato (depois de confirmado um possível milagre pela intercessão do venerável) e santo (após comprovado um possível segundo milagre ocorrido depois da beatificação).

 

Irmã Terezinha está finalizando os materiais que serão entregues para a comissão de análise. “Elaborei a Informação das Virtudes Heróicas da Serva de Deus e estamos revisando a Positio para a impressão e estudo da vida, missão, espiritualidade e virtudes heróicas da Serva de Deus, pela comissão dos Cardeais e teólogos.”

 

A partir da entrega dos materiais, o Vaticano reserva o direito de estudar aquilo que foi apresentado. São três livros: o sumário (uma síntese dos depoimentos de todas as pessoas que foram chamadas para dizer quem era Madre Leônia); a biografia documentada; e o livro com a informação das virtudes.

 

“A partir desses três livros, vai-se então emitir a definição se Madre Leônia teve ou não virtudes heróicas. Eu, como postuladora, que trabalho com isso, fiz esses três livros, digo assim: da minha parte, eu não vi uma ou duas virtudes heróicas, mas ela viveu com heroicidade todas as virtudes. E o fato de ter vivido com heroicidade todas as virtudes a gente pode provar porque ela foi uma pessoa que viveu de forma incondicional a fé, a esperança, a caridade, de forma incondicional as virtudes teologais; os votos religiosos; a humildade, a simplicidade e a verdadeira caridade, a generosidade, a bondade e a alegria. E, sobretudo, essa dimensão da vida missionária, que fez com que ela entregasse a vida pelo Reino de Deus, pela Igreja, amando, sobretudo, os mais pobres”, conclui irmã Terezinha.

 

Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana

 

Reportagem publicada na edição de julho da Revista Comunidade. A edição completa pode ser acessada <clicando aqui>