Na sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco apela ao envolvimento da comunidade cristã no compromisso com a caridade.

No XXXIII Domingo do Tempo Comum, 15 de novembro, celebra-se o Dia Mundial dos Pobres que já vai na sua quarta edição. Foi na memória litúrgica de Santo António, 13 de junho, que o Papa Francisco publicou a sua Mensagem para esta celebração.

 

Oração e solidariedade são inseparáveis

“Estende a tua mão ao pobre”, é o lema deste dia especial que procura chamar a atenção para a condição dos pobres. Partindo desta frase retirada do Livro de Ben-Sirá, no Antigo Testamento, o Santo Padre refere que o texto de onde retirou o título da sua Mensagem revela como “são inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos”.

O Papa lembra que é difícil “manter o olhar voltado para o pobre”, mas assinala que isso é “tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social”. “Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina” – afirma o Santo Padre.

 

Em pobreza evangélica apoiar na pandemia

O Papa recorda que encontrar “uma pessoa em condições de pobreza não cessa de nos provocar e questionar”. E lança algumas pistas de reflexão: “Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual?”. Neste particular, Francisco frisa a importância do envolvimento da “comunidade cristã” nesta “experiência de partilha”. “E, para servir de apoio aos pobres, é fundamental viver pessoalmente a pobreza evangélica” – diz o Papa.

“Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida. Quantas mãos estendidas se veem todos os dias!” – escreve o Santo Padre.

Para o Papa, “estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor”. E Francisco recorda o sofrimento da atualidade que estamos a viver, assinalando que são muitas as mãos estendidas prontas a ajudar em tempo de pandemia: “Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas!”.

 

Agir por amor, dizendo não à indiferença

Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, declara a necessidade de “ações concretas para apoiar os mais vulneráveis”. Lembra a palavra de S. Paulo: “Pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra: ama o teu próximo como a ti mesmo”.

“«Estende a mão ao pobre» faz ressaltar, por contraste, a atitude de quantos conservam as mãos nos bolsos e não se deixam comover pela pobreza, da qual frequentemente são cúmplices também eles. A indiferença e o cinismo são o seu alimento diário” – diz o Papa.

O Santo Padre apela à atenção para com o pobre pedindo “mãos estendidas” não para beneficiarem “a riqueza de restritas oligarquias” que fazem “a miséria de multidões”, mas para lutarem contra a “globalização da indiferença”. Mãos estendidas que sejam ajuda e partilha com o pobre.

Na homilia do primeiro Dia Mundial dos Pobres, em novembro de 2017, o Santo Padre referiu a necessidade de se afirmar um não concreto à indiferença. Recordemos as palavras de Francisco sobre o pecado da omissão na reportagem da Rádio Vaticano:

“E a omissão é também o grande pecado contra os pobres. Aqui assume um nome preciso: indiferença. É dizer: «Não me diz respeito, não é problema meu, é culpa da sociedade». É virar-se para o outro lado quando o irmão está em necessidade, é mudar de canal, logo que um problema sério nos indispõe, é também indignar-se com o mal, mas sem fazer nada. Deus, porém, não nos perguntará se sentimos justa indignação, mas se fizemos o bem” – afirmou o Papa.

“Como podemos, então, concretamente, agradar a Deus?” – perguntou o Papa ensaiando, desde logo, uma resposta:

“Quando se quer agradar a uma pessoa querida, por exemplo dando-lhe uma prenda, é preciso primeiro conhecer os seus gostos, para evitar que a prenda seja mais do agrado de quem a dá do que da pessoa que a recebe. Quando queremos oferecer algo ao Senhor, os seus gostos encontramo-los no Evangelho. Logo a seguir ao texto que ouvimos hoje, Ele diz: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).”

“Estes irmãos mais pequeninos, seus prediletos, são o faminto e o doente, o forasteiro e o recluso, o pobre e o abandonado, o doente sem ajuda e o necessitado descartado. Nos seus rostos, podemos imaginar impresso o rosto d’Ele; nos seus lábios, mesmo se fechados pela dor, as palavras d’Ele: «Isto é o meu corpo» (Mt 26, 2 6). No pobre, Jesus bate à porta do nosso coração e, sedento, pede-nos amor.”

“Quando vencemos a indiferença e, em nome de Jesus, nos gastamos pelos seus irmãos mais pequeninos, somos seus amigos bons e fiéis, com quem Ele gosta de Se demorar” – disse o Santo Padre.

 

Dia Mundial dos Pobres, segundo Francisco

O “Dia Mundial dos Pobres” foi instituído pelo Papa Francisco no âmbito da Carta Apostólica ‘Misericordia et misera’ e recolhe inspiração no Jubileu Extraordinário da Misericórdia que teve lugar entre 2015 e 2016. Um texto no qual o Santo Padre decidiu que este momento de atenção especial para com os pobres seria celebrado no penúltimo domingo do ano litúrgico.

Segundo Francisco, o “Dia Mundial dos Pobres” é para ajudar as comunidades e cada batizado a “refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho”.

Na sua Carta Apostólica Francisco convoca os cristãos para uma “revolução cultural” dos pequenos gestos “a partir da simplicidade”. Intenções que se aplicam bem ao atual tempo de pandemia e de sofrimento que a humanidade está a viver. Mais uma razão para viver com maior fé e intensidade este Dia Mundial dos Pobres.

Laudetur Iesus Christus

Rui Saraiva
Vatican News