Evento reuniu 400 comunicadores de todo Brasil para refletir sobre comunicação e cultura do encontro
Entre os dias 13 e 15 de julho, representantes da Pastoral da Comunicação (Pascom) da Arquidiocese de Londrina participaram do 13º Muticom Nacional – Mutirão de Comunicação, na cidade de João Pessoa (PA). A coordenadora arquidiocesana, Terumi Sakai; o secretário, Tiago Queiroz, que também é vice-coordenador regional; e a jornalista, Juliana Mastelini Moyses, se juntaram aos cerca de 400 comunicadores de várias partes do Brasil que participaram do evento na cidade mais oriental das Américas.
Do Estado do Paraná participaram 15 agentes e 2 bispos: dom Reginei José Modolo, bispo auxiliar de Curitiba e referencial da Pascom no Paraná; e dom Amilton Manoel da Silva, bispo de Guarapuava e membro da Comissão Episcopal para Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A coordenadora Terumi Sakai destaca as experiências vividas no encontro, que possibilitaram aprendizado, oração, partilha de experiências e novas amizades com pessoas de várias partes do Paraná e do Brasil. “Venho renovada e fortalecida para seguir a missão com motivação e unção. Que Senhor nos guie a novos projetos na Pascom.”
Todas as atividades do encontro convergiram para o tema central: “Comunicar para a cultura do encontro”. A partir do pensamento do Papa Francisco e do documento “Rumo à presença plena”, publicado pelo Dicastério de Comunicação, os conferencistas deram pistas de como construir a cultura do encontro numa sociedade midiatizada, polarizada e descristianizada como a atual. Qual o papel dos cristãos e, especificamente, dos comunicadores católicos, diante dessa realidade que nos impõe, para construir pontes entre as pessoas e não muros.
“Um ponto que me marcou foi a fala de dom Valdir, que disse que o comunicador tem que ser humilde, levar a Boa Nova a todos através dos meios de comunicações, mas com humildade, para que a Palavra se concretize na vida das pessoas”, destacou Tiago Queiroz.
Segundo ele, a Pascom, além de ser a pastoral da “comunhão”, também deve ser a pastoral da humildade. “Isso ficou muito visível: ir ao encontro, estar em saída, ser ferramenta de evangelização, mas, sobretudo, com o espírito de humildade”, ressaltou. “Foram dias incríveis, de grandes trocas de experiências, de novas amizades e de, principalmente, comunhão. O Muticom sempre proporciona esse encontro de realidades diferentes, mas, sobretudo, por um bem comum que é a evangelização através dos meios de comunicação”, finaliza.
Para a jornalista Juliana, o encontro como um todo reforçou o papel que cada comunicador católico tem individualmente, como cristão, de fazer a diferença e promover a cultura do encontro. “No fim das contas não são grandes mudanças que nós podemos fazer, e nem é isso que o Papa Francisco nos pede, a cultura do encontro é promovida muito mais no ambiente onde nós vivemos, com as pessoas que estão ao nosso redor, do que com ações grandiosas. Por isso o encontro tocou muito no papel que cada um deve assumir como construtor da comunhão”, ressalta.
Comunicar para a cultura do encontro
Diálogo e discernimento são os segredos do comunicador da cultura do encontro, destacou Austen Ivereigh na palestra de abertura, por videoconferência. Austen é escritor e jornalista britânico, biógrafo do Papa Francisco. Diálogo, fala Austen, não quer dizer homogeneidade, mas conversa entre diferentes. E mais do que isso: com discernimento. Como cristãos, nós debatemos ideias à luz do Espírito Santo, para discernir a realidade, optando pelos caminhos e atitudes que Deus inspira. “Do prisma da fé, o que e como comunicar não é só uma questão prática, mas também espiritual”, falou Austen.
Um estilo cristão no ambiente virtual
“Rumo à presença plena” foi o tema da segunda conferência, ministrada pelo bispo de Campo Limpo e presidente da Comissão para a Comunicação da CNBB, dom Valdir José de Castro, SSP. Com base no recente documento do Dicastério para a Comunicação do Vaticano: “Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais”, o bispo instigou os comunicadores a exercerem seu papel nas redes sociais. “Cada cristão é um evangelizador, a partir de sua experiência pessoal com Jesus”, falou dom Valdir, chamando a atenção para a responsabilidade que os cristãos têm no mundo.
Citando o Papa Bento XVI, dom Valdir destacou que evangelizar nos meios de comunicação não é apenas falar do Evangelho explicitamente, mas também se evangeliza através de um jeito cristão dentro do ambiente digital, a partir do testemunho. “Mesmo se estou sozinho, existe toda uma caminhada de Igreja atrás de mim.” Evangelizar, continua ele, é viver à luz do que viveu Jesus.
Para o bispo, não basta estar presente nos meios e se conectar com as pessoas, é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro. “A comunicação começa com a conexão, passa pela comunidade e gera comunhão”, explica.
Nesse caminho, os influenciadores digitais têm um papel muito importante, não só aqueles que têm milhares ou milhões de seguidores, mas aqueles que, com poucos seguidores exercer também influência para um número pequeno de pessoas. “Todos nós deveríamos encarar a nossa influência, seja uma microinfluência, ou uma macroinfluência. Todos os cristãos são microinfluenciadores”, afirmou referindo-se ao documento do Dicastério de Comunicação.
Nesse sentido, dom Valdir sintetizou a palestra em quatro atitudes do artesão da comunhão: humildade, escuta, diálogo e discernimento. E finalizou com alguns questionamentos: 1) Como está a nossa presença, como Igreja, no ambiente digital?; e 2) Que contribuição real estamos dando para uma efetiva construção da cultura do encontro?
Influenciadores digitais
Na terceira conferência, os pesquisadores Aline Amaro, Alzirinha Rocha, Fernanda Medeiros, Moisés Sbardelotto e Vinícius Borges apresentaram seu estudo sobre influenciadores digitais católicos. O trabalho analisa como se manifesta, no âmbito católico brasileiro, o fenômeno dos influenciadores digitais da fé e as possíveis consequências socioeclesiais. Elenca cinco aspectos para uma evangelização digital: 1) a primazia do Evangelho; 2) a primazia da Caridade; 3) a primazia da Graça; 4) a primazia da Sinodalidade; e 5) a primazia da Unidade. O artigo com o resultado da pesquisa será publicado e divulgado até o final deste ano.
Amizade Social
A vaticanista correspondente da Globonews em Roma Mirticeli Medeiros falou sobre a amizade social e diálogo na era da desinformação, a partir da encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, que, segundo ela, é um resumo do pontificado de Francisco. No documento, endereçado não só aos cristãos, mas a todas as pessoas de boa vontade, o Papa fala de um novo sonho de fraternidade e amizade social que vá além das palavras. “Embora a tenha escrito a partir das minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade”, escreve o Papa.
Francisco se fundamenta na teoria aristotélica sobre a amizade, que elenca três tipo de amizade: 1) útil; 2) pelo prazer; e 3) virtuosa/bondosa. Esta última é a amizade cristã, que deve ir além da simples relação cordial e que aparece na encíclica como amizade social. É esse tipo de amizade que o Papa propõe às pessoas de boa vontade. Citando o Pontífice, Medeiros destaca que a amizade social é o caminho para a cultura do encontro: olhar o próximo como um amigo, numa relação virtuosa.
Ecologia Integral
A quarta conferência do encontro abordou a ecologia integral e a cultura do bem viver, baseada na encíclica Laudato Si. A palestrante Marcia Oliveira explicou que refletir com o Papa sobre a ecologia integral é destacar que tudo estar interligado, percebendo a atuação do cristão no mundo de uma forma mais ampla. “Eu cuido [do meio ambiente] porque amo, porque Deus confiou a mim a criação”, falou Marcia.
A ecologia integral retoma a teologia da criação: “Deus viu que tudo era bom”. Ao fim da palestra os participantes assistiram ao documentário A Carta, baseado na encíclica Laudato Si.
Santa Missa de encerramento
A programação do evento encerrou com a Santa Missa presidida por dom Valdir Castro, no dia 15. “Terminamos com esta Eucaristia o 13º Mutirão Brasileiro de Comunicação, que, podemos dizer, não é um ponto de chegada, mas de partida”, destacou. “O tema deste encontro, que é justamente o encontro: comunicação para cultura do encontro, continuará sendo um desafio para todos nós. Urge da parte de cada um construir pontes, melhorar a convivência, dar a nossa parte, seja no ambiente digital, seja nas relações presenciais físicas.”
Comentando a evangelho do Semeador, dom Valdir exortou os comunicadores a assumirem o compromisso de, por meio de palavras e gestos, semear a verdade, a compreensão, a paciência, a harmonia, a bondade, a ternura, a amabilidade e a fraternidade para construir a cultura do encontro. “O semeador por excelência, Jesus, Ele se encarregará que a semeadura seja eficaz e produza frutos, não nós. A nossa missão de comunicadores é semear sem medo de desperdiçar sementes.”
Dom Valdir fez o convite a não desanimar. “A nossa missão é semear com constância e generosidade.” Mesmo que haja contrariedade, mesmo em uma sociedade e cultura polarizada, às vezes dividida dentro da própria Igreja, continua. “Vamos acreditar que é possível melhorar o nosso mundo, a nossa sociedade, começando a construir a cultura do encontro a partir de nós, a partir de dentro da Igreja”, finalizou dom Valdir agradecendo a Diocese da Paraíba pela realização do 13º Muticom Nacional.
Ao final, foi lida a carta compromisso do 13º Muticom e anunciada a cidade sede do 14º Mutirão de Comunicação: Manaus (AM) em 2025. Veja aqui a carta na íntegra.
Pascom Arquidiocesana
Fotos: Divulgação