No próximo domingo, segundo da Páscoa, no mundo inteiro, nós católicos estaremos celebrando O Domingo da Divina Misericórdia, instituído pelo Papa São João Paulo II em maio do ano 2000.
“Ser misericordioso é próprio de Deus e é pela misericórdia que ele principalmente manifesta a sua onipotência” (São Tomás de Aquino em sua obra máxima, intitulada Suma Teológica II-II,30,4).
O Papa Francisco expressa esta mesma doutrina da seguinte forma: “Misericórdia é a atitude divina que abraça, é o doar-se de Deus que acolhe, que se dedica a perdoar. Jesus disse que não veio para os justos, mas para os pecadores. Não veio para os sadios, que não precisam de médico, mas para os doentes. Por isso, pode-se dizer que a misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus. Deus de misericórdia. Deus misericordioso. Para mim esta é de fato a carteira de identidade do nosso Deus”.
Tão importante é a misericórdia de Deus que, ainda segundo o Papa Francisco, sem ela o mundo não existiria. Mesmo assim, “a mentalidade contemporânea tende a tirar do coração humano a idéia de misericórdia”. Em seu lugar, prefere a palavra “justiça”. No entanto, “a justiça sozinha não basta. A experiência ensina que quando se apela somente à justiça corre-se o risco de destruí-la”. Daí se conclui o quanto é importante que, neste domingo da misericórdia, acolhamos a mensagem proposta pela Palavra de Deus.
O Papa São João Paulo II, em 2001, comentando o Evangelho deste domingo assim se expressou: “O Evangelho que há pouco foi proclamado, ajuda-nos a compreender plenamente o sentido e o valor deste dom. O evangelista João nos faz partilhar a emoção sentida pelos Apóstolos no encontro com Cristo depois da ressurreição. A nossa atenção detém-se no gesto do Mestre que transmite aos discípulos receosos e admirados a missão de serem ministros da Misericórdia divina. Ele mostra as mãos e o lado com os sinais da paixão e comunica-lhes: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21). Imediatamente a seguir, “soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23). Jesus confia-lhes o dom de “perdoar os pecados”, dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado trespassado. Dali sai uma vaga de misericórdia para toda a humanidade. Revivemos este momento com intensidade. Também hoje o Senhor nos mostra as suas chagas gloriosas e o seu coração, fonte ininterrupta de luz e de verdade, de amor e de perdão”.
Em 2004, comentando o mesmo Evangelho, de novo, o Papa São João Paulo II assim se expressou: “Hoje, Domingo in Albis, celebramos o Domingo da Misericórdia Divina. O Senhor envia-nos também para levar a todos a sua paz, fundada no perdão e na remissão dos pecados. Trata-se de um dom extraordinário, que ele quis unir com o sacramento da penitência e da reconciliação. Quanta necessidade tem a humanidade de conhecer a eficiência da misericórdia de Deus nestes tempos marcados por crescente incerteza e conflitos violentos!
Ainda na homilia de 2001, o Papa chama a atenção para Salmo Responsorial. “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; eterna é a sua misericórdia!” (Sl 117, 1). Para compreendermos profundamente a verdade destas palavras, disse o Papa, deixemo-nos conduzir pela liturgia ao centro do acontecimento da salvação, que une a morte e a ressurreição de Cristo à nossa existência e à história do mundo. Este prodígio de misericórdia mudou radicalmente o destino da humanidade. É um prodígio em que se abre em plenitude o amor do Pai que, pela nossa redenção, não se poupa nem sequer perante o sacrifício do seu Filho Unigênito. Em Cristo humilhado e sofredor, crentes e não-crentes podem admirar uma solidariedade surpreendente, que o une à nossa condição humana para além de qualquer medida imaginável. Também depois da ressurreição do Filho de Deus, a Cruz fala e não cessa de falar de Deus Pai, que é absolutamente fiel ao seu eterno amor para com o homem. Crer neste amor significa acreditar na misericórdia.
Neste domingo da misericórdia somos convidados a fazer da misericórdia uma de nossas virtudes cotidianas. Não esqueçamos nunca que “da acolhida ao marginalizado que está ferido no corpo e da acolhida ao pecador que está ferido na alma, depende a nossa credibilidade como cristãos”. Recordemos sempre as palavras de São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”.
Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio