Por Dom Orlando Brandes
Arcebispo Metropolitano de Londrina
O Natal é também festa da criança. Jesus fez a experiência de ser criança pobre, na
periferia, com submissão aos pais, crescendo em idade, sabedoria e graça numa família.
Deus veio ao mundo não como guerreiro, nem como rei ou imperador. Escolheu o caminho
da família, acolhemos o Menino Jesus.
Benditos são as casais estéreis que tudo fazem para engravidar. Reconhecidos e
agradecidos sejam todos que praticam a adoção de adultos e crianças. Bem-aventurados
os que não impedem a criança de nascer e respeitam este direito fundamental dos
nascituros. Nossa gratidão se estenda à Pastoral da Criança, do Menor, dos Coroinhas, da
Infância Missionária, do Apoio às Gestantes, da Primeira Eucaristia.
Hoje, o mundo nos surpreende com a diminuição de nascimentos e a “síndrome do filho
único”. As famílias estão tendo menos filhos. Todos fomos enganados pelo mercado e pelo
consumismo. A criança se tornou um sinal dos tempos”. De um lado, vemos as crianças-
ídolo perigoso. Cria a dependência doentia das crianças. Criança precisa de precisa de
presença e não só de presentes.
O menino encontrado morto numa praia da Turquia chocou o mundo inteiro. Qual será o
futuro das crianças migrantes? O Papa Francisco fala da “via-sacra dolorosa” das crianças:
pedofilia, tráfico, trabalho escravo, agressão. O mundo civilizado ainda repete a crueldade
de Herodes. As crianças são vitimas dos adultos, do sistema econômico, das guerras e de
um mundo sem coração, sem vergonha, sem compaixão, sem Deus.
Uma sociedade é julgada pelo modo como tratas as crianças. Toda criança nasce para
tornar o mundo melhor, para enriquecer o encontro das gerações, para ser um bem da
família, da comunidade e do mundo. Uma sociedade sem criança é doentia, triste e
cinzenta, diz o Papa Francisco. Estamos pagando muito caro pela adesão à mentalidade
anti-natalista. Sem esquecer que o filho único não é a melhor solução, assim dizem os
psicólogos e estudiosos.
Criança quer dizer vida, esperança, futuro, alegria. Ela é memória de um amor que a gerou.
Um adulto não entra no reino de Deus se não tiver um coração de criança. Não proibamos
as crianças de nascer, de conhecer Jesus, de ser carregadas ao colo, de receber o leite
materno, de ter irmãozinhos. “Deixai vir a mim as criancinhas” ordenou Jesus.
Ele nos ensina que os anjos das crianças contemplam o rosto do Pai que está nos céus. O
melhor que podemos dar às crianças é o carinho, a disciplina, a fé, a educação, a presença
e o amor. Cresce saudável a criança que percebe o amor entre o pai e a mãe. Não
esqueçamos que a vida intrauterina e a infância são as etapas que mais marcam nossas
vidas. Que seja também curada a criança ferida que mora dentro de cada um de nós.
O Natal é uma excelente chance de evangelização das crianças através do presépio e do
Menino Jesus. Papai Noel é para o mercado, o Menino Jesus nasceu pobre, humilde e na
periferia. Ele é o centro e a estrela do Natal. Filho de Deus está entre nós. Veio por
intermédio da família se fez feto, embrião, nascituro, criança.
O tempo do Advento simboliza o tempo da gestação de Jesus no seio de Maria. Sejam
acompanhadas, ajudadas, abençoadas as mães grávidas. Natal é a festa da vida, é o
aniversário natalício de Jesus em Belém, o salvador do mundo. É hora de renascer, de
começar sempre de novo, de refazer nossa vida. A infância espiritual é sinal da maturidade
da fé. Entendemos por infância espiritual a humildade, o desapego, a pobreza evangélica,
a pureza do coração.
Tornar-se pequeno como uma criança é a exigência central do reino de Deus. Trata-se de
abdicar do poder, da arrogância, da fama, das aparências, dos interesses egoístas. Ser
como criança que dizer antes de tudo humildade da qual brotam atitudes de
descentralização, desapego, pobreza evangélica. Longe de nós a mentalidade de
privilégio, autoritarismo, exclusão, dominação. A manjedoura de Jesus abalou o trono de
Herodes. Herodes caiu, Jesus permanece.
Orlando Brandes