Por Dom Orlando Brandes
Arcebispo Metropolitano de Londrina
O tempo do Advento nos prepara para o Natal de Jesus. Sempre chegamos atrasados,
pois, o mercado já antecipa o “advento do consumo”. O Papa Francisco alertou sobre o
“Natal falso”, isto é, sem Jesus, pois Ele é o advento, a chegada, a expectativa da nova
humanidade. Ele é a boa noticia para o mundo. Na realidade, passamos pelo Advento e
pelo Natal, muitas vezes sem Jesus. Estamos na época do “pós-Jesus”.
O Advento de 2015, é marcado pelo Ano Santo da Misericórdia e pela esperança de uma
“nova ecologia” com a Conferência Mundial sobre a Ecologia em Paris. Estes
acontecimentos pretendem renovar a face da terra. Querem trazer remédios eficazes para
o mundo inteiro tão ferido pelas atentados e pela depredação da natureza. Queremos o
advento da vida e da paz.
A misericórdia tem a força de criar reconciliação entre os povos e promover a elevação dos
pobres. O amor misericordioso é visceral, materno, cheio de ternura e de perdão. “É
preciso acreditar na revolução da ternura” (Papa Francisco). É urgente a “cultura da
misericórdia” como limite ao mal, à violência e à pobreza. Enfim, misericórdia é o nome
mais bonito de Deus e a melhor medicina para a proximidade humana.
As obras de misericórdia corporais e espirituais são em si mesmas um projeto sócio-
politico-econômico. Elas são uma “política da caridade”. São mensagens de confiança e
propostas de esperança. O orvalho, o bálsamo, o perfume e o remédio da misericórdia vão
transformar os desertos em jardins. A misericórdia é a chave que abre a porta de uma nova
mentalidade social, um novo estilo de vida, um novo modelo de existência. A misericórdia
não é intimista, pelo contrário, tem influência e eficácia social.
Todos esperamos também o a advento de uma nova ecologia. O atual sistema é
insustentável. Mas, acreditamos na capacidade que o homem tem de mudar. O homem
pode superar-se. Não podemos deixar depois de nós ruinas, desertos e lixo para as futuras
gerações. São muitos os pecados que cometemos contra a criação e a vida. A natureza
geme, sofre e se revolta. Chegou a hora de decidir em prol da vida na terra.
A deterioração ecológica tem suas raízes na deterioração ética e cultural. Os homens de fé
e de boa vontade não olham as previsões catastróficas com desprezo e ironia. Não
escondem este problema grave debaixo do tapete. Clamam por mudanças radicais e
globais.
O advento de uma nova ecologia tem alto preço. Crescemos na sensibilidade ecológica,
mas, a política e a indústria se fazem de surdas. Cúpulas Mundiais, Protocolos,
Convenções, Declarações, Conferências já se pronunciaram, apontaram rumos e soluções.
A política e a indústria, porém, reagem com lentidão. O planeta é nossa pátria, nossa casa
comum, nosso chão. É preciso pois um consenso mundial em favor da vida no cosmos,
uma nova solidariedade universal.
O Papa Francisco brindou-nos com a carta-encíclica Laudato Si sobre o cuidado da casa
comum. É uma contribuição, um grito, um clamor para uma conversão, uma
espiritualidade, uma cultura pela salvação da criação e o advento de um mundo novo.
Que sua voz não se perca no deserto. Cada pessoa do planeta é convidada participar deste
mutirão mundial em favor da nossa sobrevivência na terra. Quem impede as mudanças
são os poderosos e os desinteressados. Sem cuidados ecológicos somos vitimas até do
mosquito da dengue, do zika, do chikungunya.
Estamos diante de uma “destruição sem precedentes”. A espiritualidade do Advento e do
Natal muito contribuem pela paz e a vida no mundo. Nossas espadas, carros armados,
aviões de ataques aéreos podem ser substituídos por armas de paz. Nossas armas são o
amor, a verdade, a justiça, a liberdade. O Ano Santo sobre a misericórdia e a Conferência
Mundial sobre a Ecologia são chaves que podem abrir as portas dos corações, a porta da
justiça, e as portas do perdão e do diálogo, em vista novos horizontes para o mundo
inteiro. Ou mudamos ou perecemos. O tempo do Advento é um convite à mudança do ódio
para a misericórdia, da depredação para a preservação do meio ambiente, do pecado para
a graça, do consumismo para a partilha, das trevas para a luz. Vem Senhor Jesus, vem nos
salvar.
Orlando Brandes
Muito sábias as palavras do nosso Bispo Dom Orlando Brandes.
Bom Don Orlando!!! Palavras profundas, verdadeiras….Obrigada. Saudades!
Bacana.