Jovem de Alvorada do Sul teve a vida transformada após um encontro de jovens e morreu em estado de graça, deixando legado de busca pela santidade

“Para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1, 21). A frase bíblica que expressa a convicção de São Paulo de que a existência, tanto em vida, quanto em morte, está ligada a Jesus foi usada pelo jovem Ângelo Duarte Brussolo, de 27 anos, em uma carta que escreveu para familiares e amigos antes da sua Páscoa Eterna. O rapaz morreu em 17 de maio vítima de um tumor. Mas a morte, que para a maioria das pessoas é motivo de pânico e medo, foi tratada por ele como um encontro rumo ao Pai, com leveza, serenidade e, acima de tudo, fé.

O Setor Juvenil da Arquidiocese de Londrina declarou Ângelo “como grande inspiração e exemplo para a juventude” por sua história. Ele faleceu em estado de graça, tendo recebido dias antes os sacramentos da Confissão, Unção dos Enfermos e Eucaristia. Natural de Alvorada do Sul, e formado em educação física, Ângelo teve no “Encontrão”, realizado pelo grupo de jovens Jucras (Juventude Católica Reunida), uma verdadeira experiência com Cristo, que mudou a trajetória que passaria a escrever a partir do evento, no ano passado.

“Desde que fiz meu Encontrão, em 2017, sonhava em trabalhar e levar meus amigos para participarem. O Ângelo foi o mais resistente, pois, sempre foi o mais afastado da Igreja e da fé. Ele vivia um momento bem complicado, andou se excluindo. Quando marcamos o Encontrão em 2024 eu e mais dois amigos insistimos para ele fazer o encontro. No dia que decidiu aceitar me lembro muito bem das palavras: ‘vou em busca de uma paz que nem sei se existe”, conta Matheus Bento, amigo de infância de Ângelo.

Além de conhecer a paz que procurava, fez dela uma rotina, que encantou amigos e também dentro de casa. “Ângelo sempre foi católico, participou da catequese, recebeu a Crisma, mas não foi tão atuante. Depois de participar do Encontrão foi profundamente tocado. Até testemunhou na época o contato mais íntimo com Nossa Senhora neste encontro, ao sentir cheiro de rosas acompanhado da música, em que mais ninguém sentiu. A mudança dele era nítida ao amor de Deus. A partir de então começou a servir na Igreja, participando de Missas, vida em comunidade, trabalhar em encontros”, relata a família, Vera, Eduardo, Juliana e Aline – mãe, pai, irmã e namorada, respectivamente.

CONFIANÇA NO AMOR DE DEUS

Foi durante um encontro que sentiu fortes dores e resolveu ir atrás de um médico. Descobriu um câncer no testículo, porém, que já estava em metástase. Apesar da gravidade do caso, não se abateu e seguiu servindo a Deus e aos irmãos. “Ele foi inspirador. Até dizia que era o melhor momento para descobrir, pois, conhecia o amor de Deus e confiava plenamente nEle. Algumas vezes até pensávamos que ele evitava murmurar para que não nos preocupássemos, mas aos poucos foi ficando claro o quanto estava entregue ao amor de Deus e confiava qual fosse Sua vontade”, destacam os familiares.

Devoto de Santo Agostinho, Ângelo lidou com a possibilidade da partida com coragem, foi fiel ao Evangelho e a oração durante as internações, cirurgias e sessões de quimioterapia. “Ele buscava consolo na oração, com seu terço, em louvores, livros e conhecimento da Palavra”, afirma a família. “O Ângelo sempre foi o mais medroso dos amigos, porém, isso não causou medo em momento algum. Nenhum dia se via ele preocupado. Ele enfrentava tudo com confiança e paciência. Essa paz e tranquilidade foi transmitida para muitos de nós”, completa Matheus.

REALIZANDO O SONHO

Um dos sonhos que Ângelo fez questão de realizar foi pregar no “Encontrão” deste ano, em abril, para que deixasse a mensagem de alguém que foi moldado ao se entregar ao Senhor. Mudou a data de uma cirurgia delicada que iria fazer para poder estar presente. “Ele estava cheio do Espírito Santo. Pregou para 90 pessoas, incluindo a mãe dele. Vimos a entrega dele. Sonhava com aquele momento e serviu como todo servo deve servir, disposto a todo tipo de serviço”, lembra Matheus.

DESPEDIDA

O procedimento cirúrgico foi em maio. Ângelo faleceu horas depois. “Ele realmente amou a Deus sobre todas as coisas. Em seu celular achamos uma carta de despedida e em uma conversa um testemunho de fé, no qual dizia sentir que a cirurgia daria errado. Disse para o padre da nossa paróquia, alguns amigos, menos para família, pois, o medo era sempre de preocupar a mãe”, enaltece a família. “Na semana em que aconteceu a cirurgia nos reunimos para rezar e no dia da cirurgia fizemos o propósito de visitarmos Jesus no sacrário e rezar por ele. Nunca vi tantas pessoas irem até lá, toda a comunidade acolheu a ideia”, cita o amigo.

‘ELE GARANTIU O CÉU’

Inspirado pelo beato Carlo Acutis, que em setembro será declarado santo pelo Papa Leão XIV, Ângelo representa a personificação da busca pela santidade, tendo mostrado dos pequenos aos grandes gestos que é possível vivenciar Deus em sua plenitude. “Sinto que ele é parte da profecia de São Francisco de Assis [em sonho] para mãe de Carlo Acutis, um novo santo jovem para nossa Igreja. Devemos acreditar nisso e mudar nossa visão para as pessoas. Temos muito o costume de procurar pecado no outro. Devemos procurar a santidade. Como todo o santo, Ângelo teve seus pecados mas decidiu enfrentá-los quando necessário. Ele garantiu o céu. Seu legado é de que não existe nada nessa vida que seja motivo para desistir da santidade, pois, como Cristo também devemos aceitar a nossa cruz”, avalia Matheus Bento.

“O Ângelo viveu não somente a fé, mas a busca pelo conhecimento das escrituras, da vida dos santos, a presença nas Missas, confissão frequente e o amor pela eucaristia. Ele foi um servo sempre disposto e atuante na comunidade. Sua vida e entrega com certeza é um exemplo para os jovens, até os que o conheciam há pouco tempo”, frisa a família.

Pedro Marconi
Pascom Arquidiocesana

Matéria publicada na edição de julho e agosto de 2025 da Revista Comunidade