Ao responder o questionário, comunidades vivenciaram o verdadeiro exercício do diálogo. Arquidiocese está na fase decanal do processo de escuta sinodal
A importância da escuta e do diálogo são temas recorrentes nos pronunciamentos do Papa Francisco. Tanto que o processo para o Sínodo dos Bispos que estamos vivendo, convocado pelo Santo Padre, leva a Igreja a pensar sobre o movimento de caminhar juntos na escuta do Espírito Santo e o que Deus quer para o nosso tempo: “Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação e missão”.
Nas palavras do próprio Papa, “a sinodalidade representa o caminho pelo qual a Igreja pode ser renovada pela ação do Espírito Santo, ouvindo juntos o que Deus tem a dizer ao seu povo”. É o caminho, segundo Francisco, da Igreja do terceiro milênio. Conceito fácil de explicar, mas não de colocar em prática. Um apelo a escutar, mas também um apelo à responsabilidade de todo batizado de trabalhar em conjunto com seus pastores.
“A grande descoberta é se escutar, escutar um ao outro”, destaca padre Alexandre Aves Filho, coordenador dos trabalhos do Sínodo na arquidiocese. Para isso, as comunidades responderam, em conjunto, um questionário sobre como enxergam os trabalhos em vista da evangelização na Igreja Particular de Londrina, para contribuir com o processo de escuta convocado pelo Papa. O Papa quer escutar seus fiéis. E o próprio processo de responder o questionário proporciona a experiência do caminhar juntos.
“Temos comunidades muito animadas, que assumiram mesmo o processo de escuta. O que eu tenho dito é: o que é mais importante é o processo que vai sendo feito, o processo de conversa, isso é fundamental para o processo sinodal que a gente está vivendo”, explica padre Alexandre. “Este é o grande fruto e é o que mais me deixa feliz: eles estão conseguindo fazer isso, se escutar”, finaliza.
Paróquia São Roque
Em Tamarana, lideranças da Paróquia São Roque e capelas responderam ao questionário do sínodo no fim do ano passado. O processo paroquial teve início em outubro, com uma celebração conduzida pelo seminarista Juniar Aparecido Padilha, e envolveu cerca de 100 pessoas da comunidade.
A partir da celebração de abertura, pastorais e capelas iniciaram os encontros para responder o questionário em conjunto, assessoradas por uma equipe formada, entre outros, pelo pároco padre Delcides André de Souza e pelo seminarista Juniar.
“Essa equipe foi preparada para auxiliar, dar apoio e suporte… Foram bem produtivos os encontros, e até reencontros, das pastorais, pois devido à pandemia, haviam ficado sem se encontrar”, explica a coordenadora do Conselho de Pastoral Paroquial (CPP), Valdenice Garcia.
O processo de escuta serviu não só para responder o questionário do sínodo, mas também muitas pastorais refletiram sobre sua caminhada pastoral, capelas fizeram celebrações, rezaram junto, discutiram e tiveram maturidade para tratar sobre conflitos que estavam acontecendo na comunidade, explica Valdenice.
Uma das principais dificuldades desse processo foi o entendimento dos termos técnicos apresentados no questionário, sendo fundamental o apoio do padre ou do seminarista. Por outro lado, ela destaca também que a comunidade, entendendo os conceitos e o processo, viu a sinodalidade, um termo até então desconhecido, como importante e necessária para a caminhada de Igreja. E a partir disso, surgiram muitas luzes para o trabalho pastoral. “Várias pastorais voltaram a se movimentar, antes da pandemia muitas situações já estavam delicadas, com a pandemia parou de vez, e desde o encontro para responder o questionário já estamos tendo frutos”, comemora.
Ela conta que as pessoas estão otimistas, confiantes de que as respostas apontadas por eles chegarão até a fase universal do Sínodo dos Bispos. “Que as pessoas que participarão das fases posteriores do Sínodo sejam iluminadas pelo Espírito Santo e façam com que a voz do povo da base chegue ao Vaticano”, espera Valdenice. Só assim haverá, segundo ela: comunhão, participação e missão.
Luzes para o trabalho pastoral
Vilmair Bitencourt atua na Pastoral Litúrgica e Pastoral do Batismo da Paróquia São Roque e participou com os dois grupos das respostas do questionário do Sínodo. Ela conta que à medida que o questionário foi sendo respondido, as pastorais conseguiram fazer uma reflexão sobre seu próprio trabalho. “Percebemos que podemos e necessitamos fazer um trabalho mais amplo, com a participação e união de todos. Percebemos também as falhas que cometemos e muitas vezes nem percebemos”, conta Vilmair. Segundo ela, com a sinodalidade é possível ir além do trabalho já realizado: “Tivemos algumas ideias que vamos desenvolver para melhorar a interação de todos.”
O grupo observou, por exemplo, que na Pastoral Litúrgica é preciso desenvolver um trabalho voltado para os jovens, para melhorar a participação deles. “Também percebemos que os idosos precisam de um olhar diferenciado, pois durante a pandemia teve um afastamento deles nas celebrações e muitos ainda não retornaram.”
Já na Pastoral do Batismo, os agentes chegaram à conclusão de que é necessário dar mais apoio às famílias que batizam seus filhos, fazer visitas e direcionar para que eles se envolvam mais nas atividades pastorais. “Percebemos também que precisamos atuar mais na parte social da nossa comunidade… Vamos também resgatar pessoas que se afastaram das pastorais e tentar inseri-las novamente”, destaca Vilmair.
O desafio de se abrir ao outro
O livro dos Atos dos Apóstolos fundamentou a reflexão para responder o questionário do Sínodo, explica Josilaine de Paula Vieira, da Pastoral da Música e da Catequese. “Foi muito interessante. Cada pastoral trazia as reflexões para sua pastoral, para a vivência da mesma. Após a conclusão desse trabalho, num terceiro momento, os coordenadores levaram as questões ao CPP para ‘fecharmos’ as reflexões.” Ela destaca também a boa participação das comunidades rurais da paróquia durante todo o processo.
Caminhar junto é algo que já se faz na Igreja, destaca Josilaine, mas às vezes de forma mecânica. “Quando paramos, refletimos, vemos o quão importante e o quão difícil é. Muitas vezes precisamos nos abrir ao novo, a entender o outro, a entender a Igreja e acima de tudo abrir mão de conceitos e paradigmas. Caminhar junto com a Igreja, principalmente quando a Igreja é o outro, nos traz desafios, porém também nos traz esperança”, finaliza.
Fase decanal
A arquidiocese vive agora a fase decanal do Sínodo dos Bispos, nela cada decanato está fazendo uma síntese das respostas dadas pelas paróquias ao questionário sinodal. Essas sínteses serão enviadas à Ação Evangelizadora, que fará a síntese arquidiocesana futuramente enviada à CNBB para a síntese nacional.
Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana
Fotos: Pascom Paroquial