“A quem procurais?” (Jo 18,4) é a pergunta de Jesus àqueles que mesmo tendo ouvido d’Ele quem É ainda são incapazes de conhecê-lo e compreendê-lo, mesmo tendo o Deus vivo diante dos olhos são aos humildes que se revela. A tradição da Igreja condensa a profundidade da espiritualidade quaresmal dentro dos ritos vividos pelos cristãos na Semana Santa, ou Semana Maior, a fim de que “purificados por esses ritos anuais, nos preparemos reverentes para gozar os dons pascais”. Ocorrerá nos dias 14, 15 e 16 a celebração do Tríduo Pascal onde comemoraremos a Ceia do Senhor, sua Paixão e a Vigília Pascal, que entendendo esses três dias que são como um volvamos nossas almas ao clarear do novo e eterno dia.
A Quinta-feira Santa é a celebração onde foi-nos dado o Sacramento da Eucaristia, é tamanha a grandeza deste mistério que faz-se presente na Sagrada Liturgia na palavra do Senhor a Moisés: “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do Senhor, que havei de celebrar por todas as gerações como instituição perpétua”. Não somente isso, mas também há o ato pelo qual foi intitulada de Missa do Lava-Pés. O serviço é parte necessária da vida cristã e da Igreja, a responsabilidade de uns com os outros e de ambos com Deus pelo próximo, faz com que possamos ser acolhidos mais intimamente em Cristo. Mesmo sobre quaisquer argumento disse Jesus: “Se eu não te lavar os pés, não terás parte comigo”. E enfim, tendo traçado o sinal da cruz, tomado parte com o Senhor pelo serviço e a comunhão, podemos juntos com Ele adentrar a santíssima e salvífica agonia.
O profundo silêncio da noite que se abate sobre o mundo, entre a quinta e a sexta, quando o seu Criador foi ferido por causa de nossos pecados, Ele que sendo Senhor, aprendeu a ser obediente até a morte, e morte de cruz, tornando-se causa de salvação para todos os que lhe obedecem. Prostrado em silêncio fica o sacerdote, ao entrar no templo. Tão expressivo som das matracas, que já quase não se ouve, em seu som direto, profundo e um tanto incômodo lembra a Igreja que é pela lança que abre o lado de Nosso Senhor, pelos pregos que perfuram mãos e pés, doloroso amor do Deus que se encarnou ouvindo incessantes vozes de blasfêmias e zombarias. Não há Missa neste dia, não há consagração, o único do ano, pois adoramos ao Senhor crucificado, o lenho da Cruz do qual pendeu a salvação do mundo. Alguém acaso pode questionar se é esta adoração maior que a Santa Missa. Não, mas uma parte da única Santa Missa do Tríduo Pascal. Ainda pode tornar com a pergunta “Mas se é uma só Missa, acaso permanece fora do templo?”, digo-te cristão que até os protestantes, ateus e iníquos sentem o peso da culpa que abate-se sobre nós nestes dias, ainda que não saibam de onde vem. Mantenha-se penoso é seu Senhor que foi sacrificado, e por você.
Eis que surge uma chama acesa, benzida, a luz do Cristo ressurreto, uma pequena chama no meio da escuridão que se levantou com o crepúsculo. Ouve atento essa silêncios, pequena e clara chama que na Palavra com que Deus criou o céu e a terra (cf. Gn 1-2) acendeu-se, que no cordeiro durante o sacrifício do nosso pai Abraão (cf. Gn 22,1-18) inflamou-se mais, na libertação da terra do Egito e a passagem no mar a pés enxutos (cf. Ex 14,15-15,1) inflamou-se mais, que chama e se compadece com misericórdia eterna (cf. Is 54,5-14) e num pacto eterno que sacia o homem integralmente (cf. Is 55,1-11) inflamou-se mais, que faz marchar até o esplendor do Senhor (cf. Br 3,9-15.32 – 4, 4) que nos promete derramar uma água pura e dar-nos um novo coração (Ez 36,16-17a.18-28) onde essa chama inflamou-se mais e seu objeto de iluminação fez-se carne, e habitou entre nós (Jo 1,14). Essa chama acesa frente a nossos olhos, a luz da fé que portamos e com ela dizemos “A minh’alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo”, d’Ele que ressuscitado dos mortos não morre mais e nos permite morrer com Ele para vivermos com Ele, mortos para o pecado e vivos para Deus (cf. Rm 6,3-11) e enfim junto ao alto brado dos santos de Deus cantar “Aleluia, Aleluia, Aleluia; Dai graças ao Senhor, porque ele é bom! ‘Eterna é a sua Misericórdia’”. E por fim, a semelhança do Senhor Jesus, vos pergunto, neste túmulo escuro e frio, penoso de morte onde vem chorar as lágrimas lastimosas, “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou!” (cf. Lc 24,1-12). Olhe para frente, veja nas mão do sacerdote que se elevam, ali, ali está quem procura, o Deus Vivo, que encerra em si toda a graça. O Cristo que não nos deixou com sua morte às 15h da Sexta-feira da Paixão, mas vivificou sua Igreja, nós, nessa única e perfeita renovação incruenta de seu sacrifício na cruz, a Santa Missa do Tríduo Pascal.
Seminarista Matheus Petrachin Fernandes