Na mensagem para o 55º Dia Mundial da Paz, o Papa Francisco propôs o que considera instrumentos eficazes para a construção de uma paz duradoura: o diálogo entre gerações, Educação e Trabalho. Afirma que “nos últimos anos, diminuiu sensivelmente a nível mundial o orçamento para a instrução e a educação, vistas mais como despesas do que como investimentos; e, todavia, constituem os vetores primários dum desenvolvimento humano integral: tornam a pessoa mais livre e responsável, sendo indispensáveis para a defesa e promoção da paz”. Por outras palavras, instrução e educação são os alicerces duma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso. Cita ainda a “promoção de uma cultura do cuidado”.
Mesmo que a publicação do Texto Base da Campanha da Fraternidade 2022 tenha sido planejada a mais tempo, trata igualmente da Fraternidade e Educação, trazendo como Lema “fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). O objetivo geral da CF – 2022 é: “Promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário”. Há vários objetivos específicos. Os principais são: Analisar o contexto da educação na cultura atual, e seus desafios potencializados pela pandemia; Identificar valores e referências da Palavra de Deus e da Tradição cristã em vista de uma educação humanizadora na perspectiva do Reino de Deus; Pensar o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo educativo, com a colaboração dos educadores e das instituições de ensino, etc.
O primeiro ponto do Texto Base analisa o texto de São João da Mulher Adúltera levada a Jesus (Jo 8,1-11). É um episódio da vida de Jesus que manifesta o amor e a sabedoria do divino Mestre. Diz que “à luz da Palavra de Deus, a Campanha da Fraternidade quer nos ajudar a compreender duas lições sobre o ato de educar: a primeira diz respeito ao valor da pessoa como princípio da educação. A segunda se refere ao ato de correção que é conduzir ao caminho reto. Não é repressão, mas é orientar a pessoa no caminho de uma vida transformada, verdadeiramente convertida à luz da verdade…” (n.25).
Outro ponto trata do “Escutar”. A escuta é fundamental, é mais que ouvir. É uma condição para as nossas relações, para a compreensão do que se passa, para o diagnóstico dos caminhos que devemos tomar. Escutar é uma condição para podermos falar com sabedoria e ensinar com amor. Jesus nos demonstrou em toda a sua pedagogia que é o ponto de partida para acolher, compreender, problematizar e transformar a realidade (cf. n. 27). Reflete sobre a questão da pandemia da COVID-19; a cultura do encontro, a formação humana e o papel da educação, educação formal, educação básica, educação católica, etc.
Ouvida a realidade da educação é hora de discernir a partir da Palavra de Deus e da Palavra da Igreja. Observa a vida de Jesus, sua pedagogia e seus ensinamentos e como se interpretou tais realidades em vista da pastoral e da educação das pessoas. Trata também do horizonte próprio da educação cristã: educação integral, a vida em família como processo educativo, educação para todos, educação para a fé, para o diálogo, para o belo, o bom e o verdadeiro. Por fim, trata do agir. Escutar e discernir conduz para o agir. As propostas giram em torno de um projeto de vida como fonte para uma nova sociedade; o Pacto Educativo Global, educar para um novo humanismo e a educação vista como iniciação de processos. Por fim, a realidade da educação nos interpela e exige profunda conversão de todos. Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania. Que esta Quaresma e a CF 2022 nos conduzam a uma mudança muito realista.
Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina