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[dropcap]A[/dropcap]lém dos tempos litúrgicos que possuem características próprias, como é o caso do Advento, Natal, Quaresma ou Páscoa, existem trinta e três ou trinta e quatro semanas, durante o curso do ano, nas quais não se celebram aspectos particulares do mistério de Cristo. Nelas o mistério é venerado em sua globalidade, especialmente nos domingos. Este é chamado de “tempus per annum” ou Tempo Comum. Julian Lopez Martin diz muito bem que estamos diante de “um tempo importante, tão importante que, sem ele, a celebração do mistério de Cristo e a sua progressiva assimilação pelos cristãos seriam reduzidas a episódios isolados, ao invés de impregnar toda a existência dos fiéis e das comunidades”. É um tempo indispensável que desenvolve o mistério pascal de modo progressivo e profundo. Dar atenção unicamente aos “tempos fortes” significa esquecer que o ano litúrgico consiste na celebração, com sagrada lembrança no curso de um ano, de todo o mistério de Cristo e da obra da salvação. O Tempo Comum começa na segunda-feira que segue o domingo após o dia 6 de janeiro e se estende até a terça-feira antes da Quaresma. Retoma na segunda-feira depois de Pentecostes e termina nas Vésperas do primeiro domingo do Advento.

Neste longo período do ano litúrgico devemos prestar especial atenção às leituras tanto dos domingos como dos dias de semana. É o tempo em que a comunidade cristã aprofunda na fé o mistério pascal e sublinha as exigências da vida cristã. A liturgia é, antes de tudo, culto santificante, todavia contém rica instrução e ensino ao Povo de Deus, para a qual é importantíssima a leitura da Sagrada Escritura. O Concílio Vaticano II estabeleceu que houvesse nas celebrações litúrgicas uma mais abundante, variada e mais adequada leitura da bíblia (cf SC 24,33,35). A recuperação da leitura da maior parte dos livros da Sagrada Escritura acontece durante o Tempo Comum. O anúncio da Palavra é parte integrante da liturgia de todos os sacramentos para dar mais leveza e agilidade a toda a vida cristã em contínua conversão. É realmente muito rico e profundo o esquema com o qual a Igreja anuncia o Mistério de Cristo na sua liturgia.

Assim o cristão, de ano em ano vai vivendo e aprofundando a sua fé. A Liturgia lhe permite a perseverança na fé e o esclarecimento e fundamentação da sua esperança.

Neste período, deve ser lembrado e cultivado o sentido do domingo como Páscoa semanal e dia da assembleia. A leitura semi contínua dos evangelhos sinóticos permite, através da homilia, uma profunda educação à fé, fundada na teologia das atividades históricas de Jesus, como é apresentada pela narrativa de cada evangelista. É preciso estar muito atento a esse aspecto, para ajudar os fiéis a perceberem, de domingo em domingo, a continuidade da narrativa evangélica e fazer com que aflore a característica da mensagem de cada evangelista ao apresentar o mistério de Cristo. Além disso, não se deverá esquecer a referência ao texto do antigo testamento, cuja escolha é sempre determinada pelo texto do evangelho. Os textos bíblicos anunciados na liturgia que caracterizam os anos A, B e C são testemunho da consciência de um itinerário de amadurecimento na Igreja primitiva. Percorrer este caminho significa ir em direção a uma consciência plena da vontade de Deus, “com toda sabedoria e inteligência espiritual” (Cl 1,10), também para as nossas assembleias dominicais. Assim o cristão, de ano em ano vai vivendo e aprofundando a sua fé. A Liturgia lhe permite a perseverança na fé e o esclarecimento e fundamentação da sua esperança.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina

Foto destaque: Canção Nova

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