[dropcap]O[/dropcap] dia 01 de Janeiro, além de ser o início de um novo ano é, também, celebrado como o DIA MUNDIAL DA PAZ. Todos os anos o Papa publica uma mensagem para este dia que é celebrado com bastante consciência na Igreja Católica. Para o ano de 2018 o Papa Francisco escolheu o tema MIGRANTES E REFUGIADOS: HOMENS E MULHERES EM BUSCA DE PAZ. Recorda primeiramente que “a paz, que os anjos anunciam aos pastores na noite de Natal, é uma aspiração profunda de todas as pessoas e de todos os povos, sobretudo de quantos padecem mais duramente pela sua falta”. Na mensagem são lembrados os mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados.
Num segundo ponto da Mensagem trata-se do porquê de tantos refugiados e migrantes no mundo. Lembra da Mensagem de São João Paulo II no ano 2000 que falava de uma “sequência infinda e horrenda de guerras, conflitos, genocídios, limpezas étnicas que caracterizaram o século XX”. O Papa Francisco lamenta que “infelizmente, o novo século, não registrou uma verdadeira viragem: os conflitos armados e as outras formas de violência organizada continuam a provocar deslocações de populações no interior das fronteiras nacionais e para além delas”. A maioria migra seguindo um percurso legal, mas há quem tome outros caminhos, sobretudo por causa do “desespero, quando a pátria não lhes oferece segurança nem oportunidades, e todas as vias legais parecem impraticáveis, bloqueadas ou demasiado lentas”. Diante da tendência de vermos as migrações, simplesmente, como negativas, o Papa convida a “vê-las com um olhar repleto de confiança, como oportunidade para construir um futuro de paz”.
Além disso somos provocados a um olhar contemplativo que deve ser alimentado pela sabedoria da fé. Esta indica que “todos pertencemos a uma família, migrantes e populações locais que os recebem, e todos tem o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja. Aqui encontram fundamento a solidariedade e a partilha”. Os migrantes e refugiados sempre trazem algo consigo: coragem, capacidades energias e aspirações para além dos tesouros de suas culturas nativas. Nisto podem-se reconhecer “rebentos de paz que já despontam e precisam ser cuidados”.
O Santo Padre apresenta, ainda, “quatro pedras miliárias para a ação”: acolher, proteger, promover e integrar. O “acolher” faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes. Lembra o texto bíblico: Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos (Hb 13,2). No “proteger” lembrar o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Lembra outro texto bíblico: O Senhor protege os que vivem em terra estranha e ampara o órfão e a viúva (Sl 146,9). No “promover” lembra o apoio para o desenvolvimento humano integral (educação, saúde, esporte, etc). Lembra o texto de Deuteronômio 10, 18-19: “Ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário” e “Amarás o estrangeiro porque foste estrangeiro no Egito”. O “integrar” significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente da vida da sociedade que os acolhe, numa dinâmica de mútuo enriquecimento. Lembra o texto de Paulo aos Efésios: “Já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus” (2,19). Por fim, faz proposta para dois pactos internacionais: um para migrações seguras, ordenadas e regulares, outro referido aos refugiados. “E importante que sejam inspirados por sentimentos de compaixão, clarividência e coragem, de modo a aproveitar todas as ocasiões para fazer avançar a construção da paz só assim o necessário realismo da política internacional não se tornará uma capitulação ao cinismo e à globalização da indiferença”.
Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina