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Vamos voltar a cerca de 3250 anos atrás. O povo de Deus, depois de ter migrado por causa de uma grande fome, acabou sendo escravizado no Egito. Debaixo do domínio do Faraó o povo teve que trabalhar nas construções e grandes obras do império. A vida tornou-se “dura e amarga” (Ex 1,11.14).

Sem liberdade e sem condições de vida digna, o povo gemia enquanto a escravidão aumentava a cada dia e o sistema criava novos métodos de exploração (Ex 1,10-14; 1,16-22; 5,7-18). Ao povo só restou a sua voz. E então entre as dores e o sofrimento um grito elevou-se. Foi este grito que chegou aos ouvidos de Deus (Ex 2,23). O Deus que havia chamado os Pais e Mães e Fé e com eles havia feito a Aliança, ouviu este clamor: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi seu grito por causa dos seus opressores, pois eu conheço as suas angústias. Por isso, desci para libertá-lo para mão dos egípcios…” (Ex 3,7-8a).

O texto revela o verdadeiro rosto do Deus da Bíblia. É um Deus que (porque não é cego); que ouve (porque não é surdo); que conhece (porque é parceiro e faz Aliança) e um Deus que desce (porque quer caminhar com o seu povo). Porém, não faz tudo sozinho; Ele quer ser parceiro; faz sua parte e quer que o povo faça a sua parte. Então do meio do povo, Deus suscita um líder, chamado Moisés, e age para cumprir a promessa: libertar o povo e fazê-lo subir para uma nova terra, onde corre leite e mel (Ex 3,9). Terra nova, lugar da doçura do mel (bem ao contrário do amargo da escravidão), lugar de sonhos e de esperança.

A libertação não foi fácil. Foi preciso organização, muitas lutas e alimentar a certeza de que Deus estava junto na caminhada. Esta foi a garantia que Ele mesmo deu “Eu estarei convosco!” (Ex 3,12). Mesmo durante a caminhada pelo deserto surgiram inúmeras dificuldades: mar pela frente (Ex 14,15-31); sede (15,22-27; 17,1-7); fome (16,1-35); inimigos (17,8-16); divisões internas (18,13-27); desânimo e gente querendo voltar atrás (Nm 11,4-6; 14,1-9); cobras venenosas (21,6)… Foi fazendo caminho, passo a passo, superando as dificuldades, que o povo chegou finalmente à Terra prometida e ali começou uma nova vida e uma nova sociedade.

Hoje continuamos caminhando. Não estamos mais debaixo da escravidão do Egito, mas outras opressões pesam sobre os ombros do povo, tornando a nossa vida “amarga e dura”. O povo grita por causa do desemprego, da falta de condições de saúde, problemas de moradia, de saneamento básico, migrações, discriminações, stress e depressões, drogas e violência, e agora a ameaça de nunca se aposentar com a “reforma da Previdência”. São tantos gritos sobem até Deus, e mais uma vez nossa certeza é esta: o mesmo Deus que ouviu os gritos, continua hoje escutando nossos lamentos, nossas dores e sofrimentos. Continua também querendo descer para fazer caminhada.

O 14º Intereclesial das CEBs está chegando. Em janeiro de 2018 de todas as partes do Brasil, da América Latina, e até de outros continentes, virão a Londrina pessoas das CEBs que chegarão gritando em nome do povo oprimido de hoje. Nosso Deus continua fiel à sua promessa e permanece sempre coerente. Seu olhar e seu ouvir estão sempre atentos aos clamores do seu povo sofrido. Ele vê, ouve, conhece e desce para libertar. Desce e vem até nós para fazer caminhada, para ser o Deus Conosco nos convidando a evangelizar o mundo das cidades! Não é um Deus que fará tudo sozinho. No Egito Ele disse a Moisés: “Vá eu hoje te envio…” (Ex 3,10). E hoje Ele escuta nosso grito, mas também continua nos enviando: “Vão às cidades e anunciem e boa notícia do Evangelho!”.

Frei Ildo Perondi

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