No próximo domingo a Igreja católica do mundo todo celebra a solenidade da Ascensão do Senhor. Vamos reafirmar o que todos os domingos rezamos na profissão de fé: “(Jesus) subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Esta celebração é também mais uma oportunidade para, de novo, expressar nosso júbilo e nossa esperança. Na oração do dia (coleta) rezamos: “A ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar de sua glória”.
Segundo o testemunho de Etéria, a monja espanhola que, por volta de 385, peregrinou para Jerusalém, naquela cidade, a Ascensão do Senhor era celebrada no dia de Pentecostes à tarde. Mais ou menos na mesma época, São João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, em seus sermões, refere-se à Ascensão do Senhor como uma solenidade antiga. Santo Agostinho, no norte da África, fala da Ascensão, no contexto das grandes festas da Igreja, celebradas no mundo inteiro: Paixão, Ressurreição, Ascensão e Pentecostes. O Concílio de Agda, (506) em seu cânon 21, põe a solenidade da Ascensão entre os dias mais importantes da liturgia da Igreja.
No século VIII, em Jerusalém, a solenidade da Ascensão do Senhor, já não era mais celebrada no dia de Pentecostes, mas no 40º dia após a Páscoa, de acordo com o relato dos Atos dos Apóstolos. No entanto, deste o século IV, esta já era a prática em outras Igrejas. São Leão Magno, que morreu em 461, começa o seu primeiro sermão da Ascensão do Senhor, dizendo: “Hoje, caríssimos, completam-se os quarenta dias santificados, dispostos segundo um plano sagrado e empregados para a nossa instrução, a contar da bem-aventurada e gloriosa ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando o poder divino reergueu no terceiro dia o verdadeiro templo de Deus, destruído pela impiedade dos judeus”.
São Máximo de Turim, na metade do século IV, em quatro de seus sermões, fala da solenidade da Ascensão do Senhor, dizendo que “o Senhor, depois de sua ressurreição, permaneceu com os Apóstolos, durante quarenta dias, no fim dos quais subiu à direita do Pai. Durante quarenta dias, o Salvador permitiu que os seus discípulos gozassem da sua presença, para que também nós nos alegrássemos com a sua ressurreição, durante um tempo igual ao que tínhamos ocupado meditando no sofrimento as dores de sua paixão”.
Segundo São Leão Magno, Jesus subiu ao céu quarenta dias após a ressurreição para fortalecer a fé dos apóstolos. “A morte de Cristo turbara muito os corações dos discípulos; certo torpor de desconfiança havia se insinuado nos espíritos opressos de tristeza, por causa do suplício da cruz, do último suspiro e do sepultamento do corpo exânime. Por isso, quando as santas mulheres, como narra a história evangélica, anunciaram que a pedra havia sido rolada do túmulo, o sepulcro estava vazio e os anjos tinham testemunhado que o Senhor vivia, suas palavras pareceram aos apóstolos e aos outros discípulos uma espécie de delírio. (…). Durante o tempo, caríssimos, decorrido entre a ressurreição e a ascensão do Senhor, a Providência de Deus estabeleceu, ensinou diante dos olhos e dos corações dos seus, que reconhecessem ter o Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como verdadeiramente havia nascido, sofrido e morrido”.
Em nossos dias, a liturgia também nos ensina que Jesus, “após a ressurreição, apareceu aos discípulos e, à vista deles, subiu aos céus, a fim de nos tornar participantes da sua divindade”. Ensina a ainda que a ascensão do Senhor não foi para se afastar de nós, mas para dar-nos a certeza da imortalidade gloriosa.
O Papa Francisco, falando sobre a Ascensão do Senhor diz que ao ir para o céu Jesus leva ao Pai um presente: as suas chagas. “Quando o Pai olha para as chagas de Jesus, perdoa-nos sempre, não porque somos bons, mas porque Jesus pagou por nós. Olhando para as chagas de Jesus, o Pai se torna misericordioso. Este é o grande trabalho de Jesus hoje no céu: fazer ver ao Pai o preço do perdão, as suas chagas”.
Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo Diocesano de Cornélio Procópio