“Sal da terra, luz do mundo”
Entusiasmada em valorizar o papel do leigo, a Arquidiocese de Londrina promoveu curso sobre o Documento 105 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade – Sal da Terra e Luz do Mundo”, entre os dias 12 e 16 de março. O documento foi aprovado pelos bispos do Brasil durante a 54ª Assembleia Geral da CNBB, em abril do ano passado, em Aparecida (SP).
O curso foi ministrado pelo assessor do setor Leigos da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato (CEP) da CNBB, Laudelino dos Santos Azevedo, que está viajando o Brasil para levar o conteúdo do documento aos Regionais da CNBB. Em Londrina, no período da manhã e da tarde, o curso foi voltado para os padres, reunidos na Casa de Encontros Emaús. À noite, na Catedral Metropolitana, participaram os leigos. Reuniu cerca de 90 padres e 300 leigos da arquidiocese.
O Documento 105 da CNBB coloca os cristãos leigos e leigas como verdadeiros sujeitos eclesiais. “São Igreja de fato”, explica o assessor. Para que compreendam a sua vocação e missão de atuarem nas diferentes realidades em que vivem: na sociedade, no trabalho, na família.
O assessor explica que, na prática, o documento busca uma compreensão dos padres de acolherem os leigos como sujeitos eclesiais, e dos leigos entenderem o seu serviço como membros ativos da Igreja, não porque prestam um serviço suplementar. “O documento quer colocar as coisas nos seus devidos lugares: que todos os sujeitos eclesiais, seja padre, bispo, religioso, religiosa, diáconos consagrados, e, em especial, leigos e leigas atuem conscientemente no corpo eclesial. Os leigos têm que sair de uma atitude apenas de serviço. Nós, leigos, prestamos muitos serviços, e isso é ótimo, mas não só como tarefeiros. Temos que entender que como membro do corpo eclesial, pois no batismo somos incorporados a Cristo, nós somos Igreja todo dia, fazemos isso porque é parte da nossa vocação”.
Com o documento nas mãos
No curso, cada participante tinha o documento em mãos, para estudar, aprofundar e discutir a aplicação. Um oportunidade de tomar posse do conteúdo do documento, explica Laudelino, que destaca que muitos leigos nunca tinham pegado um documento da Igreja.
“É bonito ver as pessoas dispostas a aprenderem seu verdadeiro papel na Igreja e na sociedade. E ser, verdadeiramente, Sal da Terra e Luz do Mundo”, comenta o aspirante a diácono, Ivan Marcelo Rodrigues, da Paróquia Santa Rita de Cássia. As pessoas devem se abastecer de Cristo e sair em missão na realidade em que vivem, atuando principalmente frente aos problemas políticos e sociais que o Brasil enfrenta, acrescenta.
A leiga Isabel Cristina Ferreira, da Paróquia São José Operário, saiu do curso entusiasmada em aplicar o que foi discutido.
“Os leigos precisam verdadeiramente conhecer e viver o que Jesus nos ensinou para transmitir para toda sociedade. O leigo não pode ficar omisso, parado no comodismo, tem que ser atuante. Ir atrás daqueles que precisam de ajuda, de uma palavra. Como fala o papa Francisco, uma Igreja em saída mesmo”, explica Isabel.
O leigo e a Igreja
A discussão a respeito do papel do leigo não é novidade, mas vem desde o Concílio Vaticano II, explica o padre Alexandre Alves dos Anjos Filho, da Paróquia Santa Cruz, decano do Decanato Norte. “O que precisava era de algo que fomentasse uma estrutura para trazer maior discussão entre os leigos e a hierarquia da Igreja”.
Por isso, ele diz que o debate que o curso trouxe sobre o documento é essencial para juntar clero e leigos, não como entidades opostas, mas na busca do mesmo ideal. “É importante os leigos se verem como sujeitos da ação. Nós estávamos acostumados a ver os leigos como destinatários deste trabalho e na verdade eles fazem acontecer a evangelização.”
Já o padre Cristiano Bento dos Santos, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida – Km 9, destaca que o Concílio Vaticano II superou a visão em pirâmide da Igreja: primeiro papa, segundo bispos e cardeais, terceiro clero e por último leigos. “A Igreja é Povo de Deus, comunidade de batizados. O foco não é mais a hierarquia, e sim, os ministérios, serviços. O leigo é sujeito da ação eclesial na própria Igreja e na sociedade”.
Padre Cristiano ainda faz um alerta: o Documento 105 da CNBB não pode ser engavetado pelo clero, é preciso colocá-lo nas mãos e na consciência dos leigos.
Juliana Mastelini
PASCOM Arquidiocesana
Fotos Wellington Ferrugem / Luiz Vianna PASCOM Arquidiocesana