A Agenda latino-americana assinala o dia 14 de fevereiro como o “Dia da Amizade”. Sabe-se, no entanto, que, no Brasil, existem várias datas para celebrar a amizade, entre elas 18 de abril, 20 de julho e 30 de julho.
Provocado pela Agenda que uso, achei que nossa reflexão nesta semana podia ser a respeito desta que é uma das experiências mais necessárias e significativas no relacionamento entre as pessoas – a amizade. De fato, como lembra o Papa Francisco: “não se pode viver sem amigos, eles são importantes”. Neste sentido, o Papa não diz nada de novo. A Palavra de Deus é muito clara. Afirma com todas as letras que um “amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. Ao amigo fiel não há nada que se compare, pois nada equivale ao bem que ele é. Amigo fiel é bálsamo de vida” (Eclo 6,14-16).
Acontece que existem também as amizades ilusórias. É preciso estar atento para não nos deixarmos enganar. A este respeito também somos alertados pela Palavra de Deus. “Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; mas não te apresse em confiar nele. Porque há amigo de ocasião, que não persevera no dia da desgraça. (…). Há amigo que é companheiro de mesa, mas que não persevera no dia da necessidade” (Eclo 6,7-10).
Uma verdadeira amizade nasce com o tempo e com muita paciência. Vai acontecendo, sem programação e sem prazo. No dizer do Papa Francisco “as verdadeiras amizades não se explicitam, dão-se e vão se cultivando, a tal ponto que a outra pessoa já entrou em minha vida como preocupação, como bom desejo, como sã curiosidade de saber como vai, como vai sua família, seus filhos”.
O verdadeiro amigo não guarda segredos, partilha com o amigo suas alegrias, certezas, inseguranças e dores. Amizade de verdade é capaz de doar a própria vida pelo amigo (Jo 15,13-15). Será isso possível? Jesus é nosso exemplo maior. Entregou sua vida, até a última gota de sangue. Depois de Jesus, muitos de seus seguidores assumiram a mesma atitude. São Maximiliano Kolbe é um dos mais conhecidos. Morreu no campo de concentração nazista de Auschwitz no lugar de outro prisioneiro, seu amigo. Há outros exemplos menos conhecidos, mas com igual intensidade. É o caso do menino vietnamita cuja história passo a narrar.
Os americanos estavam em guerra com o Vietnã. “Um orfanato dirigido por um grupo de missionários foi atingido por um bombardeio. Os missionários e duas crianças morreram. As outras ficaram gravemente feridas. Entre elas, uma menina de oito anos ficou à beira da morte. Era preciso chamar com urgência um socorro médico.
Com a ajuda de uma rádio, um médico e uma enfermeira da marinha dos EUA ficaram sabendo e acorreram ao local com certa rapidez. Deviam agir rapidamente. Os traumatismos e a perda de sangue punham a criança em grave risco de vida. Era urgente fazer uma transfusão sanguínea. Após alguns testes rápidos perceberam que eles mesmos não podiam doar o sangue. Não era compatível com o da menina.
Com gestos e o pouquinho da língua local que conseguiam falar, explicaram às crianças a gravidade da situação e a necessidade de alguém doar o próprio sangue para salvar a coleguinha. Depois de um rápido, mas profundo silêncio, um braço magrinho e tímido apresentou-se. Era um menino chamado Heng. Verificado que tinha o mesmo tipo de sangue, ele foi preparado às pressas ao lado da menina agonizante. Espetaram-lhe uma agulha na veia. Ele se manteve quietinho com os olhos fixos no teto. Passado um pouco de tempo, ele soltou um soluço e tapou o rosto com a mão que estava livre. O médico perguntou se estava doendo? Ele disse que não. Mas, não demorou muito e de novo soltou alguns soluços, contendo as lágrimas. O médico preocupado, novamente perguntou se doía. Novamente ele negou. Em seguida, os soluços deram lugar a um choro silencioso, mas ininterrupto. Alguma coisa estava errada.
Neste momento, uma enfermeira vietnamita chegou de outra aldeia. O médico pediu para que ela verificasse o que estava acontecendo com Heng. A enfermeira, com voz doce e meiga foi conversando com o menino e explicando algumas coisas. O rosto dele foi se aliviando. Minutos depois estava novamente tranqüilo. A enfermeira explicou então aos americanos que o menino estava achando que ia morrer. “Ele não entendeu direito o que vocês disseram. Pensou que devia doar todo o seu sangue para a menina não morrer. O médico com a ajuda da enfermeira perguntou: Se era assim, porque então você se ofereceu para doar seu sangue? O menino simplesmente respondeu: Ela é minha amiga. (manoeljesus.ucpel.tche.br/amizade.htm).
Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio