O Papa Francisco insiste sem se cansar a respeito da urgência da missão. A condição indispensável é que a Igreja se coloque em êxodo, abandone a acomodação, e se torne a “Igreja do ide”. A ordem é sair mesmo que o preço seja o martírio. Trata-se de uma “quase impaciente” urgência. Sair da manutenção e da administração para a “missão inadiável”, mas, com discernimento.
Não serve a obsessão por doutrina. Por primeiro seja anunciado o querigma: a beleza do amor de Deus. Falar mais da graça do que da lei, mais de Jesus do que do Papa, mais da misericórdia do que da moral. Não transformar a religião em escravidão. A Igreja missionária é Igreja de portas abertas, a porta da participação, dos sacramentos, do acolhimento. Missão a partir do Evangelho de uma constante conversão pastoral, com consciência das limitações humanas. Sem a opção missionária cairemos numa “introversão eclesial”, isto é, num retrocesso.
Para a Igreja ser missionária ela deve ter antes de tudo um coração de mãe, que cuida dos filhos e não de si mesma. Mais evangelização que autopreservação e autorreferência. A centralização é obstáculo à missão.
Uma Igreja em chave missionária procura despertar a adesão do coração dos fiéis, não tem medo de rever estruturas ultrapassadas, costumes que não tem medo de rever estruturas ultrapassadas, costumes que não servem mais, leis que perderam a razão de ser. Igreja missionária é casa paterna e não “alfândega controladora”. É preferível uma Igreja enlameada, acidentada, ferida por ter saído pelas estradas, que em Igreja enferma por ser acomodada. “Não quero uma Igreja preocupada com o centro, presa em obsessões e procedimentos (Papa Francisco).
Uma Igreja em chave missionária se inquieta com a realidade dos pobres, dos que vivem sem a força, a luz, a consolação da amizade com Jesus, dos que não têm mais sentido na vida. Não basta fazer diagnósticos da realidade e permanecer na fantasia e na imobilidade. O missionário é uma “pessoa cântaro” que dá de beber, sacia a sede, toca nas feridas das pessoas, entra na noite do povo. Não faz bem à Igreja o fechamento dos grupos, que são círculos reduzidos, sofisticados, que se acham melhor que os outros. Preferem um Jesus sem carne e sem cruz, com propostas alienantes. Isso gera individualismo e consumismo espiritual e a tentação de dominar os espaços da Igreja.
Uma Igreja missionária evita exibicionismo na liturgia, na doutrina, no prestígio pessoal. Não fazem bem os grupos de elite, mais preocupados com o tradicionalismo e interesses pessoais, sem deixar-se comover com a realidade sofrida do povo e a necessidade de justiça social. Como é lamentável haver na Igreja, grupos com espírito de contenda porque se sentem diferentes e especiais. “Dói muito saber que há guerras entre nós” (Papa Francisco). Jesus não mandou os apóstolos formar um grupo de elite ou exclusivo. Pelo contrário, deu-lhe a ordem: “Ide pois, fazei discípulos meus todos os povos” (Mt 28,19). O apóstolo Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja “não há judeu nem grupo… porque todos sois um só em Cristo Jesus” (Gal 3,28).
Uma Igreja missionária vê no irmão o prolongamento da Encarnação. “Tudo o que fizestes a um destes pequeninos foi a mim que fizestes” (cf. Mt 25,40). A absoluta prioridade é à saída de si para o irmão. É parte integrante da missão a promoção humana, cuida dos mais frágeis da Terra, assim a Igreja é sem fronteiras e se sente mãe de todos. Missão não se faz por obrigação, mas, por amor, por gratidão, por atração. Missão requer mística. Sem o “pulmão da oração” vem o cansaço, o desânimo, a murmuração. Missão é vivência da “mística da proximidade”.
Missão é questão de amor. Quem se sente amado que falar do amor, falar da pessoa amada, torná-la conhecida. Assim a razão última da missão é tudo fazer para a glória de Deus e a salvação do mundo. Com isso experimentamos a alegria do Evangelho, a alegria missionária. Cada um de nós existe para a missão: “Eu sou uma missão neste mundo” (Papa Francisco).
+Dom Orlando Brandes