Por Dom Orlando Brandes
Arcebispo Metropolitano de Londrina
Neste dia 8 de dezembro (2015), o Papa Francisco abre solenemente a Porta Santa – a
Porta da Misericórdia em Roma. Com esta cerimônia inicia-se oficialmente o Ano Santo da
Misericórdia (8/12/2015 – 20/11/2016). O gesto simbólico da abertura da porta é muito
profundo. Em todas as catedrais do mundo, santuários e outras igrejas designadas pelo
Bispo diocesano deve acontecer a mesma ação litúrgica.
Eis alguns significados da Porta Santa. Primeiro, Jesus é a porta (cf. Jo 10,7). Passar por
esta porta significa mudar de vida, buscar uma conversão mais profunda, crescer na
santificação, prosseguir na cristificação do todo o nosso ser. Jesus com o coração
transpassado na cruz, abriu a porta da salvação para todos e derrubou as muralhas da
inimizade. Trouxe a paz ao mundo. Ele mesmo está à porta do nosso coração e bate (cf.
Apoc. 3,26).
Segundo, somos convidados e interpelados a abrir a porta dos nossos corações a Cristo e
aos irmãos. Ter o coração aberto para amar e servir significa estar aberto à mística e à
missão, à contemplação interior e à transformação da realidade.
Terceiro, a porta do perdão. O Ano Santo da Misericórdia é antes de tudo um apelo à
reconciliação. Perdoar é um “imperativo do Ano Santo” (Papa Francisco). Perdoar sempre,
logo, de todo coração e com alegria. Quarto, a porta do diálogo. Comunicar-se,
relacionar-se, acolher, saber ouvir, entrar em comunhão são modalidades de diálogo
interpessoal e social. O Papa pede a “cultura do diálogo”.
Quinto, a porta das casas. Quantas portas blindadas, trancadas, fechadas, cerradas.
Quanto medo, isolamento, separação, distância que precisam ser superadas. É necessário
abrir as portas da hospitalidade, das fronteiras, dos condomínios, dos edifícios para ver o
lado de fora e ir ao encontro do irmão. Sexto, as portas dos hospitais, dos presídios, das
repartições públicas, das secretarias paroquiais, como também a portaria dos edifícios,
precisam ser mais abertas para as pessoas entrar e sair. Quando fechamos as portas da
frente, as portas de trás correm perigo de serem arrombadas.
Sétimo, as portas da justiça. Através das sete obras de misericórdia corporais e espirituais
abrem-se as portas da justiça. A sete obras de misericórdia corporais são: dar de comer, de
beber, de vestir o nu, acolher o forasteiro, assistir os presos, visitar os doentes, sepultar os
mortos. As obras espirituais são: dar bom conselho, ensinar os analfabetos, corrigir os que
erram, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar os defeitos, rezar pelos vivos e
mortos.
Oitavo, as portas da igrejas são as portas dos templos e das secretarias paroquiais, mas,
principalmente o acolhimento, a boa recepção, a gentileza, o atendimento dos fiéis.
Nossos rigidismos, legalismos e moralismos fecham as portas aos sacramentos, à
participação na vida da Igreja, à partilha dos bens.
Nono, a porta da fé (cf. Atos 14,27). Esta é a “porta das portas” que introduz na vida de
comunhão com Deus e permite a entrada na Igreja, isto é, a porta do batismo. Atravessar
esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira.
Décimo, referindo-se à “Grande Porta da Misericórdia”, O Papa Francisco convida-nos a ter
coragem para passar por esta porta porque temos dentro de nós coisas que pesam. Por
outro lado, todos que têm incumbência da “gestão da porta” como os recepcionistas, os
telefonistas, os guardiões, os ascensoristas, tenham paciência, bondade e gentileza com
todos. Isso vale em primeiro lugar para nossas secretarias paroquiais. Ser porteira(o) não é
ser patroa, nem patrão, mas recepcionista. Hóspede vem, Cristo vem, ensinava São Bento.
Abrir as portas das estruturas humanas e eclesiásticas é uma urgência, diz o Papa.
Lembremos que Deus, em sua misericórdia, não se cansa de nos acolher de braços
abertos, pois a porta do seu coração está sempre aberta.
Por fim, Jesus nos convida a entrar no quarto, fechar a porta, para rezar ao Pai. Na oração
silenciosa, com as portas fechadas, abrem-se as portas da nossa mente, nosso coração, ou
seja, as portas da esperança.
Dom Orlando Brandes