A Arquidiocese de Londrina recebeu, nesta quarta-feira, 24 de maio, no Centro de Pastoral Jesus Bom Pastor, a celebração ecumênica da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC). Padre Alexandre Alves Filho, coordenador da Ação Evangelizadora da arquidiocese, presidiu a celebração, que teve a participação da reverenda Selma Rosa, da Igreja Anglicana; pastor Telmo Noé Emerich, da Igreja Luterana.

Com o tema “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça”, trecho do livro do profeta Isaías (Is 1,17) que inspira a Semana de Oração pela Unidade Cristã deste ano, a celebração contou com momentos de acolhida, música, oração e leitura da bíblia. A temática visa refletir sobre o racismo e como as religiões cristãs podem contribuir para solucionar o problema. “Destacou-se que mais importante que não ser racista é ter atitudes antirracistas, não permitindo que essa cultura se espalhe e denunciar atitudes racistas”, explicou o padre Alexandre.

Oração SOUC 2023

Deus, justo e compassivo, sopra em nós o Espírito da justiça e da consolação, para que nossos laços sejam fortalecidos para viver em comunhão contigo e com as pessoas. 

Guia-nos com mão forte e amorosa pelos caminhos da vida. Que da tua companhia amiga, aprendamos a fazer o bem e a buscar relações justas e pacíficas. 

Envolva-nos com tua graça para que tenhamos coragem para vencer as barreiras e a violência do racismo, dos preconceitos e dos pecados que geram divisões. Dá-nos a Tua ternura para que o nosso coração esteja aberto a acolher a beleza da diversidade de Tua criação. 

Anima-nos para o encontro com as diferentes culturas, tradições religiosas, etnias, línguas e cores. Deus de amor e misericórdia, sopra em nós a vida que vence a morte. Ajuda-nos a ver nas outras pessoas a Tua face, para vencermos o racismo e os preconceitos.

Dá-nos a tua paz, hoje e sempre.

Amém.

Pascom Arquidiocesana

Fotos: Desiele Mendes

Depois de dois anos de distanciamento, uma ação necessária para nos reconectar com Deus e com o próximo

A pandemia da COVID-19 trouxe inúmeras restrições e adaptações em todos os aspectos da sociedade. Não foi diferente nas igrejas. Missas e reuniões apenas on-line, comunhão espiritual, suspensão de atendimentos e atividades paroquiais e pastorais, enfim, muitas interrupções. Tivemos como aliada nestes tempos difíceis, a tecnologia. Com ela pudemos estar “perto”, de alguma forma, das celebrações e atividades realizadas em nossas paróquias, como as lives, terços, formações e novenas. A Igreja se fez nas casas, e sim, foram momentos de união e de exaltação da fé. Essa realidade tecnológica deverá permanecer e continuar a enriquecer nossa caminhada, mas se faz necessário voltar.

É nos encontrando com os irmãos, escutando a palavra, na graça da reconciliação, refletindo a homilia e recebendo a Eucaristia que mantemos o coração aquecido no amor do Senhor. Foi Deus quem nos sustentou nesses tempos desafiadores e agora nos alegramos em poder retomar às atividades tão necessárias em nossas comunidades. Estamos vivendo um tempo especial em nossa Igreja, o Tempo Pascal, e acabamos de viver a Páscoa do Senhor, que, após dois anos, tivemos a alegria de participar das programações tradicionais em comunidade.

Para o frei Wainer Queiroz, FMM, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, no Decanato Oeste, o Tempo Quaresmal fez ressoar um forte convite: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração…” (Jl 2, 12). “Urge refletir dois aspectos dessa convocação do Senhor, desse VOLTAR. Primeiramente, o apelo que é próprio da Quaresma, voltar para o Senhor de todo coração, com as práticas quaresmais, jejuns, orações, esmolas e todos os exercícios benéficos para a nossa conversão.” O frei cita o exemplo das procissões de penitência, vias-sacras, que neste ano foram possíveis devido à baixa da pandemia.

Frei Wainer ainda chama a atenção para outro aspecto a ser refletido, “voltai para mim…” diz a Palavra de Deus, “seria um voltar não só de coração, mas, também fisicamente. Com a pandemia, tivemos que praticar o distanciamento social, que em muitos casos se transformou num verdadeiro isolamento social-comunitário.” Esse isolamento pode ter gerado uma reaproximação do núcleo familiar, mas causou um distanciamento e uma certa indiferença pelo outro que não fazia parte do núcleo familiar, causado pelas precauções e cuidados que deveriam ser tomados para com a COVID-19.

“O distanciar-se do outro, estabelecendo um fechamento e uma restrição ao pequeno grupo de relacionamentos presenciais, esse fechamento precisa ser superado nesse momento de retorno. É necessário se abrir ao próximo. Retornar às atividades gerais e também retornar à Igreja, já estamos percebendo a possibilidade concreta de um voltar a participar das missas, dos encontros, da vida cotidiana da comunidade de modo presencial; na alegria de reencontrar o irmão de comunidade”, reforça o frei. 

Como bem conhecemos a parábola do filho pródigo em Lc 15,11-32, podemos nos reconhecer nesse filho, claro que por motivos distintos, mas o Pai nunca nos abandonou, entendeu as nossas razões, ouviu nossas angústias e pedidos e agora nos espera ansioso de braços abertos. Cuidemos do nosso coração e não nos acomodemos, um cristão não pode se acomodar. Assim como precisamos continuar cuidando da nossa saúde, do trabalho, das pessoas que amamos, é necessário cuidar da nossa espiritualidade, nos reconectar com a mãe Igreja, tão rica nos ensinamentos que nos aproxima do plano de Deus.

Segundo o frei, a comunidade paroquial é um elo de comunhão e de ligação com Deus. Na comunidade reunida encontramos com o Senhor e com os irmãos de caminhada em direção a Deus. “Parece urgente retornar. É tempo de se encher de esperança, retomar as reuniões pastorais, projetos suspensos e olhar o próximo. Tudo com amor, com a certeza em Jesus de que novas coisas têm o Senhor para nós.”

E você, pronto para voltar ao encontro do Senhor?

Gisely Siena Leite
Pascom Arquidiocesana

Foto: Terumi Sakai

Nestes tempos difíceis que estamos vivendo, convém uma palavra sobre a Esperança. Ela está estreitamente ligada à fé e à caridade. É uma virtude teologal, visto que tem em Deus a sua origem e a sua meta. É, também, uma atitude profundamente humana, uma dimensão antropológica fundamental, pois em cada ser humano há uma essencial confiança na vida, uma espera de seguir vivendo e o desejo de viver melhor.

 

Na Sagrada Escritura, especialmente o Novo Testamento, a esperança se refere à história de Abraão para indicar que a nova aliança é o cumprimento pleno da religião de Israel (Rm 4,7-18; Hb 11,8-19). A categoria central das expectativas e esperanças no tempo de Jesus era a do Reino de Deus. No anúncio feito por Jesus aparece um paradoxo da esperança neotestamentária: o Reino é, de uma só vez, boa notícia já realizada e promessa aberta a um futuro melhor. Em Jesus, o Reino se faz presente já (Lc 11,20; Mt 12,28); dizem os textos que preciso pedi-lo (Mt 6,10) porque ainda não chegou em plenitude. A ressurreição de Cristo não anula a esperança mas lhe confere um novo vigor e a plenifica.

 

Ainda a esperança de Jesus sobressai de textos que dizem respeito aos dois momentos decisivos de sua vida. As parábolas do Reino (Mc 4; Mt 13) fazem entrever que a vinda deste Reino se deu no meio de inúmeras vicissitudes (a semente), mas que, por modestos que tenham sido seus começos, esta vinda tende inelutavelmente para seu fim (o grão de mostarda), um fim certo pois é obra de Deus (o grão que cresce sozinho).

 

O Apocalipse é o livro da esperança cristã. Encontra-se no meio de uma situação dramática para a qual contribuem diversas dificuldades externas, como a hostilidade das autoridades públicas que chegam a culminar na perseguição, e dificuldades internas, como a negação da fé de alguns irmãos, os cristãos da Ásia são convidados a contemplar o triunfo do Cordeiro imolado e ressuscitado, celebrado no céu (Ap 5,11-14). Viver na esperança quer dizer suportar a perseguição das potências do mal (6,10-11), na expectativa da felicidade perfeita dos novos céus e da nova terra (Ap 21-22).

 

No Antigo e no Novo Testamento a esperança vive da memória da intervenção libertadora de Deus para tirar Israel da escravidão do Egito (Dt 6,12; 8,11); e memória da Cruz e Ressurreição de Cristo (2Tm 2,8). A teologia contemporânea destaca que a memória da cruz e ressurreição é uma “recordação perigosa” que desperta uma esperança transformadora do presente. J.B. Metz assim expressa: “A memória de Jesus Cristo implica uma determinada antecipação do futuro, como futuro dos que não tem esperança, dos fracassados e injustiçados. É pois uma memória perigosa e libertadora que questiona o nosso presente, porque que não nos traz um futuro aberto qualquer, mas, precisamente este futuro concreto, e porque obriga os crentes a transformar-se constantemente, para dar a razão deste futuro”.

 

A esperança não elimina as tarefas do dia a dia, mas proporciona novos motivos de apoio para cumprir estas tarefas (GS 21). Esta esperança transformadora do mundo presente e essa “recordação perigosa” que nutre a esperança se apoiam, iluminam e reforçam mutuamente. No meio de todos os problemas que vivemos, continuemos cumprindo bem a nossa missão. Fé, Esperança e Caridade caminham juntas. Na vida de fé temos que alimentar as três virtudes teologais, fé, esperança e caridade, pois todas são centrais para o seu equilíbrio.

 

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitana de Londrina

Foto: Pixabay