Missionários de Londrina evangelizam e são evangelizados nas Ilhas de Abaetetuba, no Pará
Uma missão e tanto! A mais longínqua dentre as que a Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora já realizou no Norte do país. A primeira participação da Paróquia São Vicente de Paulo em terras distantes. Foram 2.800km cruzando os estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão e Pará em mais de 50 horas de viagem. Era grande o temor pelo risco de estar constantemente sobre as águas, de ter o barco como único veículo de transporte, de subir e descer escadas e andar sobre palafitas a todo o tempo sem qualquer lugar para se apoiar. Famílias até então desconhecidas e com um modo de vida bem distinto aguardavam um tanto receosas os forasteiros sulistas que, em nome da fé, se hospedariam em suas casas. Da mesma forma, quem chegava, por mais que já tivesse ou não participado de outras missões, também levava consigo uma grande expectativa de como tudo se sucederia. A entrega nas mãos de Deus de tudo o que com muito amor e carinho fora preparado para os dias que estavam por vir foi o melhor a fazer.
Os missionários londrinenses provaram na prática a verdade de uma afirmação do Papa Francisco: “Não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo e permitindo que Ele nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser. O Espírito Santo bem sabe o que faz falta em cada época e em cada momento” (Evangelii Gaudium nº 280). Qualquer obra conduzida por Deus é sempre surpreendente. Tudo o que parecia constituir obstáculo ou dificuldade na região das Ilhas de Abaetetuba não se confirmou. Nem o mais otimista do lado de lá ou de cá poderia prever uma obra evangelizadora tão feliz e abençoada. Marcou muito o coração dos missionários, desde o início, o caloroso acolhimento, a verdadeira alegria estampada em todos os rostos, a total ausência de lamúria ou reclamação do que quer que seja; o cuidado que enfermos, idosos e deficientes recebem da própria família.
A realidade encontrada foi de muita simplicidade, de recursos materiais limitados e carente de políticas públicas que beneficie a população em suas necessidades básicas, sobretudo quanto à saúde e ao saneamento, entretanto, com corações repletos de muita bondade e disposição em servir. A poluição dos rios, a dependência de uma única cultura agrícola (o Açaí) e a falta de oportunidade e de alternativas que possibilitem uma vida mais próspera à população constituem grandes desafios a serem um dia superados, mas não roubam o amor que as pessoas têm ao seu habitat. No campo pastoral também há desafios, tais como um grande número de famílias que se declaram católicas, mas estão afastadas da Igreja, outras que se tornaram evangélicas, a baixa participação dos jovens na Igreja e muitos casais amasiados. Porém, as comunidades das ilhas, que somam 68, estão bem organizadas e ativas, inseridas com bom êxito no processo da Iniciação à Vida Cristã, viabilizado por leigos muito bem preparados que lideram os trabalhos.
Os 44 missionários foram divididos em seis grupos, ficando cada grupo numa ilha durante os 9 dias que lá estiveram. O dia começava com a oração na sede da comunidade às 6h30. Em seguida era servido um café comunitário partilhado pelas famílias e, em duplas, já partiam para as visitas domiciliares guiados por um líder local, que também pilotava o barco. Assim passavam o dia navegando de uma família para outra. No fim da tarde ou no começo da noite os missionários ou grupos locais ministravam um tema específico. Todos ensinaram e também aprenderam. Os de Londrina falaram sobre o amor de Deus, liderança, dízimo e família. Os ribeirinhos mostraram como a Iniciação Cristã funciona na prática e como acontecem os encontros de Leitura Orante da Bíblia realizados semanalmente nas casas. Foi um aprendizado recíproco bastante enriquecedor. Também aconteceram reuniões com os jovens.
Na quarta-feira (18/07) houve uma celebração penitencial ecológica durante toda manhã, que na primeira parte refletiu sobre os cinco sentidos da vida humana e incluiu um delicioso café partilhado. O objetivo foi trabalhar a consciência de respeito e cuidado do Meio Ambiente como obra de Deus e autopreservação. A segunda parte da Paraliturgia consistiu no recolhimento de todo lixo pelos rios e quintais, levando tudo o que foi juntado à Igreja e concluído com um pedido de perdão a Deus pelo desrespeito humano a toda criação. A limpeza como gesto concreto penitencial impactou e sensibilizou muito a todos.
A parceria da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora com a São Vicente de Paulo foi uma agradável surpresa. A união, a cumplicidade e a preocupação recíproca prevaleceram. Não havia qualquer tipo de separação nem muros entre os dois grupos missionários entre si nem com o pessoal das Ilhas de Abaetetuba. A fraternidade evangélica prevaleceu, ninguém se olhava com diferença e todos se sentiam muito bem e a vontade independentemente de onde estavam e com quem se encontravam. Foi uma convivência tão fraterna que lembrava São Paulo aos Gálatas 3,28: “Não há judeu nem grego… todos vós sois um em Cristo Jesus”.
O encerramento da missão ocorreu no domingo (22/07) de manhã, com um Círio (procissão fluvial) em honra a Santa Maria Madalena, padroeira do setor onde estávamos. Diversas embarcações lotadas de fiéis alegres e entusiasmados partiram de suas respetivas ilhas rumo à comunidade Nossa Senhora Aparecida, onde os missionários voltaram a se encontrar, e todos celebraram a Santa Missa presidida pelo Pe Romão e concelebrada pelo Pe Adamor. Em seguida foi servido um almoço comunitário preparado pelos missionários: um delicioso Yakssoba, prato totalmente desconhecido na região. Cláudio Nonaca coordenou a cozinha, levou de Londrina quase tudo preparado e congelado, na festa foi auxiliado por outros missionários e felizmente não faltou comida para aproximadamente 400 pessoas, apreciada pela grande maioria. Por fim vieram os agradecimentos permeados com música animada, muita dança, oração e a despedida regada a muitas lágrimas de emoção e alegria. Afinal, estava tudo tão bom, os corações tão aquecidos, porque se separar?
Dentre os ensinamentos que os missionários trouxeram na bagagem destacam-se: o de um laicato forte, preparado e comprometido que faz a vida comunitária e celebrativa acontecer mesmo na ausência do padre; a força e a eficácia do projeto da Iniciação à Vida Cristã assumido há 10 anos, proposto pela CNBB para toda Igreja no Brasil; a acolhida sempre feliz; a farta partilha de alimentos; a certeza de que a bondade é o principal requisito para quem deseja ser missionário e o segredo de uma boa missão é lançar-se ao chamado de Deus de coração aberto, confiante e sem restrições.
Numa avaliação realizada pelos missionários sobressaíram as expressões: Foi uma maravilhosa e transformadora experiência. Me desapeguei da própria imagem. Desconectei do celular e vivi 100% a missão. Um grande sentimento de gratidão a Deus e às pessoas invade o meu coração. Essa missão foi um divisor de águas na minha vida. Aprendi muito com eles. Fiquei apaixonado pela Iniciação Cristã. A missão me ajuda a ser melhor. Aprendi mais sobre mim mesma. Faria qualquer sacrifício pela missão. É na simplicidade que Deus fala e age. Vi em cada família o amor de Deus. É impossível deixar de notar a diferença em cada um de nós e em cada um deles.
Padre Romão Antonio Martini Martins
Pároco da Paróquia São Vicente de Paulo – Decanato Centro
Veja o vídeo com a chegada dos Missionários de Londrina nas Ilhas de Abaetetuba PA (14/07/2018):