No dia 27 de dezembro de 2020, o Papa Francisco convocou o Ano “Família Amoris Laetitia” para celebrar os primeiros cinco anos deste documento que veio para revolucionar a Pastoral Familiar na Igreja. Ele começou justamente no aniversário de cinco anos da Exortação Apostólica do Papa Francisco, ou seja, em 19 de março de 2021 com encerramento marcado para 26 de junho de 2022, em Roma. É uma iniciativa para “se reencantar” pela mensagem do pontífice, para “beber novamente da fonte da exortação”, em apoio às famílias, para que se tornem cada vez mais missionárias, abertas à humanidade, dando a sua contribuição para que o mundo seja melhor. 

Dezenove de março é o Dia de São José. Também ele interessa muito e nos conduz a repensar e a colocar novamente a família no centro da nossa preocupação. A missão de José foi ser pai, foi ser chefe de família, foi ser esposo. Que ele também nos ajude e ajude todas as famílias a nos reencantarmos. A grande pergunta é como a Exortação Apostólica Amoris Laetitia está sendo aproveitada e vivida na Igreja pelo mundo afora? Como tem sido aplicada nos diferentes países, quantas iniciativas surgiram a partir disso, como a pastoral de preparação ao matrimônio e o acompanhamento de casais foi revitalizada através desta exortação.

 

É tempo de propor novamente o valor do matrimônio como projeto de Deus para os esposos cristãos, como fruto da sua Graça e como chamada a ser vivida com totalidade, fidelidade e gratuidade

 

Na mensagem de abertura deste evento, o Papa Francisco foi bem enfático. “A principal intenção é comunicar, num tempo e numa cultura profundamente alterados, que hoje é necessário um novo olhar sobre a família por parte da Igreja. Não basta reiterar o valor e a importância da doutrina, se não nos tornarmos guardiões da beleza da família e se não cuidarmos com compaixão da sua fragilidade e feridas”. A questão é a franqueza do anúncio evangélico e a ternura do acompanhamento.

O anúncio é uma “Palavra que os ajude a compreender o significado autêntico da sua união e do seu amor, o sinal e a imagem do amor trinitário e da aliança entre Cristo e a Igreja. É a Palavra sempre nova do Evangelho a partir da qual todas as doutrinas, incluindo a da família, podem tomar forma”. O Evangelho é sempre exigente. Ele propõe “libertar as relações humanas da escravidão que muitas vezes desfigura o seu rosto e as torna instáveis: a ditadura das emoções, a exaltação do provisório que desencoraja os compromissos ao longo da vida, a predominância do individualismo, o medo do futuro”. É tempo de propor novamente o valor do matrimônio como projeto de Deus para os esposos cristãos, como fruto da sua graça e como chamada a ser vivida com totalidade, fidelidade e gratuidade. O reencantamento deve vir por esta via.

 

É uma iniciativa para “se reencantar” pela mensagem do pontífice, para “beber novamente da fonte da exortação”, em apoio às famílias

 

A ternura do acompanhamento é necessária porque “a Igreja encarna-se na realidade histórica como fez o seu Mestre, e também quando proclama o Evangelho da família, o faz mergulhando na vida real, conhecendo de perto o trabalho diário dos cônjuges e dos pais, os seus problemas, os seus sofrimentos, todas aquelas situações pequenas e grandes que pesam e por vezes dificultam o seu caminho”. 

O Papa lembra o tempo de pandemia que evidenciou muitas fragilidades na vida das famílias. Dificuldades psicológicas, econômicas, de saúde, de relacionamento, etc.  Conclui afirmando que “os laços familiares foram e continuam a ser duramente provados mas, ao mesmo tempo, permanecem o ponto de referência mais firme, o apoio mais forte, o guardião insubstituível para a estabilidade de toda a comunidade humana e social”.

A Pastoral Familiar recebeu um grande chamado com o Ano “Família Amoris Laetitia”. Lembra as grandes verdades sobre o amor, o matrimônio, a família, os casos especiais, educação dos filhos, etc. Vivamos com intensidade esta indicação concreta do Papa Francisco. De fato, a Amoris Laetitia precisa ser reproposta para não perdermos as ideias e proposições fundamentais que ela indica.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

 

Artigo publicado na Revista Comunidade edição junho 2021
Foto destaque: divulgação