No dia 14 de junho comemora-se o dia Universal de Deus, uma data para celebrar a fé nas diferenças crenças. A paz entre as nações depende da paz entre as religiões que depende do diálogo entre elas, mas tudo isso depende do acolhimento sadio das diferenças, sem anulá-las. Jesus acolheu as diferenças da samaritana, do centurião romano (cf. Mt 8, 5-13) e de tantos outros. É certo que a história do cristianismo produziu conflitos religiosos sangrentos; um erro que ensinou que discordar das diferenças não é produzir discórdia, mas promover diálogo. A tolerância religiosa se traduz no respeito às diferenças, é uma necessidade humana.

 

O poeta inglês John Donne diz que ninguém é uma ilha. O ser humano tende para a união e para a verdade. A união requer relações humanas maduras, mas o individualismo golpeia as relações humanas e tolhe o respeito. Por outro lado, tolerar não significa aceitar tudo, isso seria relativismo. A preocupação sobre o limite do que pode ser tolerado se faz presente nas relações humanas sadias, promovidas pelo diálogo, e não dos discursos vazios e sem fundamento.

 

Na tolerância religiosa é preciso refletir. O respeito passivo se refere a conviver com o diferente apenas por não poder evitar tal convívio: na família, no trabalho ou na escola. Essa convivência “imposta” abafa o diálogo sobre a religião para evitar conflitos, mas gera relações imaturas, pois tema é ocultado. O respeito ativo, ao contrário, trata da convivência baseada no acolhimento e no diálogo sobre as diferenças usufruindo das riquezas que a diversidade de pensamento proporciona. O apóstolo Pedro mostrou respeito ativo quando dialogou com o oficial romano Cornélio e viu nele uma profunda piedade (cf. At 10, 28-29).

 

A maioria das famílias reúne diferentes tipos de fé entre seus membros, sendo indispensável promover o respeito, sem ignorar ou menosprezar as diferenças. O respeito ativo promove relações sadias, frutos de atitudes maduras e de amor diante das diferenças do outro. O apóstolo Paulo lembra que o amor é tolerante (1Cor 13, 4), assim o respeito ativo às diferenças mostra caridade, um ensinamento do Evangelho. A opção religiosa diferente não gera discórdia, mas o diálogo e traz riquezas a serem apreciadas por todos.

 

Tolerância na comunidade

O artigo 5° da Constituição Federal brasileira, que trata dos Direitos e das Garantias Fundamentais à crença religiosa, no termo VI, diz que a liberdade de crença é inviolável. O termo VIII prescreve que ninguém seja privado de seus direitos por motivo de crença religiosa em todas as esferas, inclusive no trabalho. Em 2017, numa reunião com empresários, o Papa Francisco destacou que toda empresa existe para servir o ser humano, não para excluí-lo ou discriminá-lo. Acolher, respeitar e preservar o espaço de crença do outro é fundamental.

 

Na escola também convergem diferentes universos culturais. Ofensas a credos e crianças isoladas por colegas ou professores em razão de sua fé são um problema grave que parece invisível para a sociedade. A escola deve suscitar cidadãos respeitosos, capazes de conviver com o diferente, sem ameaças e sem promover discórdia. O professor tem sua própria opção religiosa, mas seu papel não é impor sua crença, e sim auxiliar os estudantes sobre a convivência madura com os colegas. Os professores não podem resolver todos os problemas e nem dar todas as respostas aos estudantes, mas precisam abrir um diálogo respeitoso sobre esse tema para que todos compreenderem melhor as riquezas que vêm das diferenças religiosas.

 

O assunto religião é de interesse de toda a comunidade e está presente nas famílias, na escola, no trabalho e na sociedade em geral. Por isso, o desrespeito religioso pode nutrir uma cadeia de conflitos e tirar a paz de todos. O conceito de Deus não se refere à guerra, mas sim à paz. O ser humano deve buscar a maturidade nas relações, então pode coexistir com um diálogo respeitoso e ativo aberto entre as religiões. O caminho da tolerância é acolher as diferenças e promover relações saudáveis, preservando vidas.

Padre Gelson Luiz Mikuszka
Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Decanato Leste)
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (1996), mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2011) e doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2016). É professor do curso de Teologia da PUCPR Câmpus Londrina. Atua na área de teologia pastoral.

 

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