Sem desmerecer a pessoa do meu pai, que me ensinou muitas coisas, destaco a pessoa de minha mãe, como grande inspiradora da minha fé. Assim como tantas mulheres o fazem, minha mãe me ensinou a rezar o terço, a participar da missa com respeito e a viver uma devoção. Creio que o sacerdócio que exerço hoje tem muito a ver com aquilo que aprendi dela. Pela Bíblia, sabemos que homem e a mulher são imagem de Deus criador e pelos filhos que geram são mediadores da vida. Entretanto, a maioria das mulheres de fé geram a vida corporal de seus filhos dentro de si e geram a vida de fé dentro de seus filhos. Ao cuidar dos filhos, a mulher deve os ajudar no desenvolvimento humano-espiritual. Alguns estudos antropológicos mostram que as mulheres têm essa facilidade porque possuem uma propensão mais intensa para a fé, em razão da sensibilidade feminina. 

 

Embora a Bíblia não tenha livros escritos por mulheres, o Antigo Testamento possui alguns livros com nomes femininos: Rute e Judite. Outros livros elogiam a mulher, dizendo ser ela a alegria e a coroa do marido, comparando-a à sabedoria (Pr 31,10-31). Ao mencionar Abrão, Isaac e Jacó, a Bíblia também fala de Sara, Rebeca, Raquel e Lia. Ao falar de Moisés e Aarão, destaca Miriam e Séfora. Vemos a importância das parteiras, que salvam as vidas dos meninos, de Ester, e tantas outras. 

 

Na tradição cristã, Jesus inova, tendo mulheres que o seguiam. O evangelista Lucas, por exemplo, diz que um grupo de mulheres seguia Jesus: Maria Madalena, Joana, Suzana, dentre outras (Lc 8,1-3). As primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus foram as mulheres, mostrando sua importância na vida de fé. Maria, a Mãe de Jesus, tem grande importância na obra da redenção, sendo considerada Corredentora. O evangelista Marcos diz que uma mulher anônima unge Jesus com óleo perfumado, que era uma prática típica dos profetas, que ungiam os reis. Agradecido, Jesus a valoriza dizendo que onde o Evangelho for proclamado, esse episódio será lembrado (Mc 14,9). 

 

No início da Igreja, a mulher aparece desempenhando muitos papéis importantes. O evangelista João, por exemplo, fala da estrangeira sírio-fenícia, que foi encontrar Jesus e o faz ver que os cachorrinhos também precisam de pão que cai das mesas, ajudando Jesus a alargar sua visão de missão sobre todos os povos (Mt 15,26). As irmãs de Lázaro, em Betânia, têm uma relação importante com Jesus. Muitas mulheres colaboram com o apóstolo Paulo em sua missão. Na Primeira Carta a Timóteo, Paulo afirma que a mulher será salva pela maternidade, mas, igualmente à condição do homem, ela deve permanecer na fé, no amor e na santidade (cf. 1Tm 2,15). Na história da Igreja, encontramos muitas mulheres fundadoras de grandes obras como Santa Clara, Santa Tereza de Ávila, Irmã Dulce e tantas outras. As “beguinas”, moças leigas que viviam a castidade e vida de oração, sem serem monjas ou religiosas, no século XII influenciaram muitos místicos e difundiram devoções que são a base do catolicismo popular de hoje. 

 

Como colaboradora do criador, gerando filhos no corpo e no espírito a mulher aparece na história como protagonista de tantos feitos. Hoje, vemos tantas mulheres mães que protagonizam a transmissão da fé aos seus filhos, outras que, com seus ministérios, transmitem a fé aos filhos que a Igreja lhes confia com fé. O teólogo José Comblin observa que em toda a Idade Média, diante de vários lapsos evangelizadores da Igreja, se não fossem as mulheres transmitirem a fé em suas famílias, o cristianismo teria enfraquecido muito e que as milhões de mulheres simples, missionárias em seus lares, é que o cristianismo subsiste e avança. Mulheres que carregam uma força divina inexplicável, mostrando que a força de Deus está na fé dos que parecem fracos, não no poder dos que se dizem fortes. 

 

Pe. Gelson Luiz Mikuszka, C.Ss.R
Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro – Decanato Leste
Professor do Curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)

 

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