Neste quarto domingo da Páscoa celebramos em nossa liturgia o domingo do Bom Pastor. Em cada ano, Jesus o enviado do Pai, nos convida a estarmos atentos à sua voz para segui-lo às verdes pastagens que Ele preparou para cada um de nós. Por isso, no evangelho de João diz: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10, 27). Este é o verdadeiro chamado que todos somos convocados: seguir a voz do Senhor e conhecê-lo cada dia mais, para assim viver a vida plena que Ele mesmo nos dá. Todos os anos o Papa Francisco sempre traz uma mensagem, nos animando a essa escuta da palavra do Senhor. Por isso, neste ano, o tema para o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, é “Chamados para construir a família humana”, tema este ligado profundamente ao processo de sinodalidade que estamos vivendo.

O Papa nos chama a atenção para os quatros “tipos de chamados” que precisamos colocar em prática em nossa vida: Chamados à sinodalidade, ao cuidado, a olhar as potencialidades dos outros e principalmente a deixar-se olhar pelo amor misericordioso do Senhor. Sim, somos primeiramente chamados a viver o imenso amor misericordioso do Senhor, e assim, vivendo à sinodalidade, sempre descobrir e valorizar as mais variadas formas de realizar nossa vocação na Igreja e no mundo. Tudo isso se dá porque, a partir do batismo, todos somos membros do corpo de Cristo e, portanto, discípulos missionários do Senhor. Ser batizado nos torna os sujeitos ativos da evangelização, logo, sacerdotes e leigos formam um único povo de Deus, cada um exercendo seu ministério próprio, mas sempre unidos, para que o Reino de Deus se manifeste cada vez mais no mundo.

A partir da unidade, da sinodalidade, somos convidados a sermos guardiões uns dos outros, isto porque todos somos criaturas queridas e amadas por Deus, chamados a desenvolver a centelha divina existente em cada um de nós, contribuindo sempre para o desenvolvimento humano e o cuidando de nossa casa comum. Por isso, olhar para as potencialidades existentes em cada pessoa é um chamado importante a despertar em nós. Como bem nos recorda o Papa, fazemos isso inspirados no próprio Senhor que na “jovem de Nazaré viu a mãe de Deus; no pescador Simão, filho de Jonas, viu Pedro, a rocha sobre a qual podia construir sua Igreja; no publicano Levi, entreviu o apóstolo e evangelista; em Saulo, cruel perseguidor dos cristãos, viu Paulo, o apóstolo dos gentios”.

Como vocacionados do Pai e desejosos de ouvir e cumprir sua Palavra em nossa vida, precisamos nos questionar: Deus tem um olhar que sempre alcança a todos, vendo as potencialidades que todos têm, e nós, o que observamos nos irmãos e irmãs que estão ao nosso lado? O que vejo em mim? Será que me deixo alcançar pelo olhar de Deus que sempre nos chama? Estas e outras inquietações são suscitadas em nosso coração para que possamos deixa-lo ser cada vez mais moldado segundo o coração de Jesus, manso e humilde. Portanto, somos todos chamados a deixar-se olhar pelo Senhor e permitir fazer parte do mosaico que Ele mesmo monta com cada um de nós.

Cada um de nós, sendo parte deste mosaico de Deus, temos nosso brilho próprio, somos fundamentais para a construção de algo. Sabemos que cada peça do mosaico é de uma forma diferente, mas quando colocados juntos, podemos vislumbrar a imagem que surge dele. Assim sendo, a imagem que deve surgir da nossa união é justamente a imagem do Cristo, o nosso Bom Pastor. Deixar-se conduzir por Jesus é permitir que o Espírito Santo nos faça um com Ele, é permitir que a brisa suave do Senhor nos una sempre mais. Como bem nos recordou o Papa Francisco: a vocação se realiza, quando cada um de nós, olhados pelo amor misericordioso de Deus, realizamos com nossas vidas um diálogo vivido com profundidade, tornando nossa Igreja cada vez mais ministerial, mais humana e mais parecida com aquilo que o próprio Jesus, por meio do Espírito Santo desejou; temos vários dons, mas um só Espírito. Neste dia mundial de oração pelas vocações, rezemos cada vez mais para que sejamos um e permitamos que o Senhor, Bom Pastor, transforme sempre nossas vidas.

Padre Renato Aparecido Pelisson