A conferência solicita ajuda para manter ações de apoio aos migrantes. O principal desafio é oferecer alimentação às famílias que procuram a Diocese de Roraima, que depende de doações e projetos

Atendendo aos apelos do bispo de Roraima, dom Mário Antônio da Silva, uma comitiva, composta por 19 pessoas e coordenada pela Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) visitou o estado de Roraima, entre os dias 1 e 4 de março, para conhecer a realidade dos migrantes venezuelanos, principalmente nas cidades Boa Vista e Pacaraima, que, devido à crise política e econômica da Venezuela, buscam apoio em território brasileiro.

Segundo o bispo, nos primeiros meses de 2018, estima-se que   entraram no Brasil cerca de 18 mil migrantes venezuelanos, cerca de 400 novas pessoas por dia cruzando a fronteira Venezuela Brasil. Hoje, estima-se a presença de cerca de 50 mil venezuelanos em Roraima, segundo dados da Polícia Federal sobre pedidos de Residência Temporária e Solicitações de Refúgio, aponta reportagem publicada pelo site da CNBB: cnbb.net.br.

“Sabemos que é uma realidade delicada, uma situação emergente, humanitária e de muita necessidade de acolhida, como nos ensina o papa Francisco. É nossa obrigação estender a mão, acolher e fazer aquilo que o Evangelho nos aconselha, como o próprio Jesus nos pediu: ‘Amar uns aos outros, como Ele nos amou’”, disse o bispo.

Situação dos venezuelanos

Foto: Amazônia Real/Yolanda Simone | Indígenas warao da Venezuela nas ruas de Boa Vista
Foto: Amazônia Real/Yolanda Simone | Indígenas warao da Venezuela nas ruas de Boa Vista

Em Pacaraima e Boa Vista, cerca de 1500 pessoas estão abrigados provisoriamente em dois ginásios esportivos, um deles um pouco mais estruturado para atendimento de indígenas. O outro ginásio é precário e sem estrutura para ser considerado abrigo, apresentando falta de água, de alimentação e de acomodação segura, cabendo à sociedade civil e à Igreja a manutenção e alimentação dos migrantes.

“Fora estes que estão, bem ou mal, abrigados, existe uma multidão de pessoas que alugam pequenas casas (quitinetes) de quarto, sala e cozinha, onde ficam entre 15 e 20 pessoas, que se alternam para o descanso, pois a casa não cabe todos ao mesmo tempo. Outras vezes, mulheres e crianças ficam dentro da casa e homens dormem fora. Outra realidade é daqueles que se encontram em situação de rua. São famílias inteiras que chegam diariamente à cidade e não encontram nenhum abrigo, nenhuma referência, nenhum amparo. Vivem, exclusivamente, de bicos e da generosidade de pessoas que vão às praças e sinais de trânsito para lhes fornecer alimento, alguma roupa, itens de higiene, etc”, descreve a reportagem.

Ajuda das paróquias

CNBB/reprodução | Dom Mário Antônio da Silva
CNBB/reprodução | Dom Mário Antônio da Silva

A Igreja tem sido um suporte importante para os migrantes. A Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Pacaraima, oferece 900 cafés da manhã por dia, de segunda a sábado. A ação é coordenada pelo padre Jesus Lopes Fernadez de Bobadilla. Para muitas pessoas, esta é a única refeição do dia. A paróquia também abriu o Centro de Pastoral dos Imigrantes, que faz o atendimento diário às pessoas que chegam, distribuindo cestas básicas, orientando questões de documentação e encaminhamentos necessários. Aos domingos, a celebração é em espanhol para atender os imigrantes, explica a reportagem.

Em Boa Vista, a Paróquia Nossa Senhora da Consolata oferece cerca de 300 refeições quatro vezes na semana, além de acolher e encaminhar as pessoas de acordo com as necessidades. A partir deste mês, uma sala será cedida para o trabalho das Irmãs Scalabrinianas com mulheres imigrantes.

Ações

Dom Mario Antônio explica que o maior desafio da Diocese de Roraima é a manutenção econômica das ações desenvolvidas, já que a diocese não dispõe de recursos suficientes devido à alta demanda. Outro desafio é o atendimento humano, que carece de estrutura para os atendimentos, armazenamento e distribuição de doações.

Mas o principal aspecto é oferecer alimentos às famílias que buscam ajuda. “Temos uma demanda diária e não conseguimos atender, visto que dependemos de doações e projetos, que não suprem as necessidades.
Mais um desafio é a incidência junto ao Poder Público, em busca da implementação de Políticas Públicas que atendam à realidade que estamos vivendo.
Recursos financeiros são o maior desafio, afinal. Embora busquemos projetos que sustentem tantas ações, muitas vezes nos falta a possibilidade de concretizar os projetos, por falta de recursos.

Nossas ações concretas serão a busca de parcerias para a continuidade de todo o trabalho, bem como o início das atividades da Pastoral do Migrante, que está sendo implementada na Diocese. Nossa missão é transformar a sociedade, superando a violência contra o imigrante que, como o Papa Francisco afirma, “não é um perigo, mas está em perigo”. Continuaremos despertando as comunidades para o desempenho de seu papel como cristãs”, afirmou dom Mário.

(com informações de: cnbb.net.br) 

Juliana Mastelini
PASCOM Arquidiocesana


Para doações em dinheiro, a diocese disponibilizou uma conta:

DIOCESE DE RORAIMA
CNPJ 05.936.794/0001-13
BANCO DO BRASIL
Agência: 2617-4
Conta Corrente: 20.355-6


Foto destaque: Amazônia Real/Yolanda Mêne | Migrantes venezuelanos dormem ao relento na Praça Simón Bolívar em Boa Vista (RR)