No dia 3 de Outubro de 2020 o Papa Francisco publicou a Carta Encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social. É uma reflexão sobre os ensinamentos de vida que a pandemia da Covid -19 sugere a todas as pessoas, “pois que deixou a descoberto as nossas falsas seguranças (n.7). 

 

Logo no primeiro número cita São Francisco de Assis, em quem se inspira, para propor uma “forma de vida com sabor a Evangelho”. Aprofundando a expressão Fratelli Tutti insiste: “Com poucas e simples palavras, explicou o essencial duma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada uma nasceu ou habita” (n. 1). O Santo de Assisque se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos” (n.2). Cita dois encontros importantes que o Santo Padre teve e que o inspiraram fortemente: “Se na redação da Laudato si tive uma fonte de inspiração no meu irmão Bartolomeu, o Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, agora senti-me especialmente estimulado pelo grande Ímã Ahmad Al-Tayyeb, com quem me encontrei, em Abu Dhabi, para lembrar que Deus «criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos” (n.5). 

 

Foto Vatican Media

Após todas estas inspirações tão amplas, o Papa mostra claramente o seu objetivo com a encíclica: “Neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos o anseio mundial de fraternidade” (n.8). 

 

O conteúdo da encíclica é desenvolvido em oito capítulos: I. As sombras de um mundo fechado; II. Um estranho no caminho; III.Pensar e gerar um mundo aberto; IV. Um coração aberto ao mundo inteiro; V. A política melhor; VI. Diálogo e amizade social; VII. Percursos de um novo encontro; VIII. As religiões ao serviço da fraternidade no mundo. 

 

No primeiro capítulo, o papa faz uma exaustiva análise sobre as sombras no mundo que dificultam uma cultura de fraternidade melhor pronunciada. Lembra que nos últimos anos o mundo está voltando para trás nas questões de integração, dando sinais de regressão e reacendendo conflitos que se esperavam superados; favorece uma perda do sentido da história que desagrega ainda mais; denuncia que não há um projeto para todos e que acontece um verdadeiro descarte mundial em que uns têm mais direitos que outros, especialmente os direitos humanos que não são suficientemente universais. 

 

Ainda no primeiro capítulo, o papa cita a problemática das migrações, das fronteiras, do meio ambiente, etc. Mas ele quer falar, sobretudo, de Esperança: Ela “é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna” (n.55). No segundo capítulo faz uma reflexão sobre o Evangelho do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37). Ali busca a base para falar sobre a fraternidade e a amizade social. Descreve com calma todos os detalhes da parábola colocando a inspiração de tudo o que vai dizer no agir de Jesus Cristo.  Nos capítulos restantes busca indicar caminhos para a construção de um mundo mais aberto para todos e que possam usufruir das muitas possibilidades que a tecnologia avançada nos oferecem.

 

Enfim, a pandemia da COVID-19 nos colocou a todos no mesmo barco. Temos nas mãos uma oportunidade histórica de darmos um salto de qualidade na fraternidade e nas relações sociais entre todos os povos do mundo. No último número o Santo Padre sugere uma oração ao Criador, muito rica em conteúdo e rezando pela causa que propõe na nova Encíclica:

Oração ao Criador

Senhor e Pai da humanidade,
que criastes todos os seres humanos com a mesma dignidade,
infundi nos nossos corações um espírito fraterno.
Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo, de justiça e de paz.
Estimulai-nos a criar sociedades mais sadias e um mundo mais digno,
sem fome, sem pobreza, sem violência, sem guerras.

Que o nosso coração se abra
a todos os povos e nações da terra,
para reconhecer o bem e a beleza
que semeastes em cada um deles,
para estabelecer laços de unidade, de projetos comuns,
de esperanças compartilhadas. Amém.

 

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

 

Fotos:  Vatican Media

Artigo publicado na Revista Comunidade da Arquidiocese de Londrina, Edição Novembro de 2021.

 

A Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e a Verbo Filmes estão produzindo uma série de vídeos sobre a Exortação Apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia’’. O projeto consiste em apresentar o Documento do Papa Francisco, em vídeos curtos, segundo sua estrutura.

O primeiro vídeo cujo título é “Querida Amazônia: Os sonhos do Papa Francisco para a Pan-Amazônia” apresenta o sonho social do pontífice para a região e seus povos. Nesta edição, catorze pessoas de seis países da Pan-Amazônia (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) gravaram suas reflexões: sete mulheres e sete homens.

Devido à pandemia, o formato do programa é especial: as próprias pessoas que deram depoimento foram encarregadas de fazer a gravação, utilizando a câmera do celular. Houve, ainda, uma interação direta quanto a captação de imagens.

Confira o vídeo na íntegra:

Os sonhos do Papa

Com a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”, o Santo Padre abre uma janela para o futuro da Amazônia formulando quatro sonhos: social, cultural, ecológico e  eclesial. Sonhos para um “todo plurinacional interligado” que inclui Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Perú, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa.

O primeiro sonho do Santo Padre para a Amazônia é o social. Diz o Papa na sua Exortação: “Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida”.

Nele, Francisco propõe o “diálogo social” como o método “para encontrar formas de comunhão e luta conjunta”. Um diálogo que comece “pelos últimos”, pois são eles os “principais interlocutores”. “A sua palavra, as suas esperanças, os seus receios deveriam ser a voz mais forte em qualquer mesa de diálogo sobre a Amazônia”, declara o Papa.

CNBB

Direto da Gruta de Lourdes, nos Jardins Vaticanos, o Papa Francisco rezará o Terço na conclusão do mês mariano para pedir a consolação de Nossa Senhora para enfrentar a pandemia.

 

No próximo dia 30 de maio, os católicos têm um encontro marcado com o Papa Francisco.

 

No encerramento do mês mariano, como é tradição, o Papa rezará o terço nos Jardins Vaticanos às 17h30 locais (12h30 em Brasília). Mas, desta vez, o evento será transmitido em streaming, com comentários em português, diretamente da Gruta de Lourdes. A duração prevista é de uma hora.

 

Os fiéis rezarão para pedir o auxílio e o consolo de Nossa Senhora para enfrentar a pandemia do coronavírus, inspirados pelo trecho dos Atos dos Apóstolos 1,14 “Todos se uniram constantemente em oração, juntamente com Maria”.

 

As dezenas serão rezadas por homens e mulheres representando as várias realidades tocadas pelo vírus: um médico, uma enfermeira, um paciente curado, uma pessoa que perdeu um familiar, um sacerdote, um capelão hospitalar, um farmacêutico, uma freira enfermeira, um representante da Defesa Civil, uma família cujo filho nasceu em meio à pandemia.

 

Adesão dos santuários

A iniciativa é do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. O presidente, Dom Rino Fisichella, escreve:

“Aos pés de Maria, o Papa Francisco depositará as aflições e as dores da humanidade, ulteriormente agravadas pela difusão da Covid-19.”

 

Para o Arcebispo, trata-se de mais um “sinal de proximidade e de consolação para aqueles que, de algum modo, foram atingidos pelo vírus, na certeza de que a Mãe Celeste não desatende os pedidos de proteção”.

 

Santuários dos cinco continentes já deram sua adesão: Lourdes, Pompeia, Fátima, Częstochowa. Na América Latina, Guadalupe e Luján, entre outros. O Santuário de Aparecida também confirmou sua participação.

 

O evento poderá se seguido através do site e das redes sociais do Vatican News.

Bianca Fraccalvieri
Cidade do Vaticano

 

O Papa Francisco reza nesta sexta-feira, às 18h de Roma, 14h pelo horário de Brasília, elevando orações a Deus diante das ameaças da pandemia causada pelo novo coronavírus. A intenção é responder à pandemia com a universalidade da oração, da compaixão e da ternura.

 

“Permaneçamos unidos. Façamos com que as pessoas mais sozinhas e em maiores provações sintam a nossa proximidade”, disse Francisco. O momento poderá ser acompanhado pelas redes sociais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e emissoras de rádio e televisão de inspiração católica e será oportunidade de receber indulgência plenária concedida pelo Papa.

 

De acordo com comunicado da sala de imprensa da Santa Sé, a oração do Santo Padre será concluída com a Bênção Eucarística que será concedida “Urbi et orbi” (à cidade e ao mundo) através dos meios de comunicação. “A todos aqueles que se unirão espiritualmente a este momento de oração através da mídia será concedida a indulgência plenária de acordo com as condições estabelecidas no recente decreto da Penitenciária Apostólica”.

 

“Ouviremos a Palavra de Deus, elevaremos a nossa súplica, adoraremos o Santíssimo Sacramento, com o qual ao término darei a Bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo), a qual será acompanhada a possibilidade de receber a indulgência plenária”, disse Francisco no último domingo durante a oração do Angelus.

 

Sobre a indulgência plenária, o texto da Penitenciária Apostólica, publicado no dia 20 de março, prevê, entre outras indicações, que fiéis enfermos com coronavírus, profissionais de saúde, familiares e ‘todos aqueles que, a qualquer título, cuidam deles, até mesmo com a oração” poderão lucrar a indulgência ao recitar o Credo, o Pai-Nosso e uma oração a Maria.

 

Além de elevar a súplica a Deus, Francisco faz um chamado à unidade e à proximidade aos médicos, profissionais da saúde, enfermeiros e enfermeiras, voluntários, às autoridades “que devem tomar medidas duras, mas para o nosso bem”. Também aos policiais e aos soldados. “Proximidade a todos”.

 

O Decreto da Penitenciária Apostólica sobre Indulgência Plenária em tempo de coronavírus

 

 

CNBB

No dia 13 de março de 2013 Francisco era eleito Papa. Entre novas Exortações e Cartas Apostólicas, obras de reforma, Sínodo dos Bispos, viagens e visitas pastorais; ele continua o seu ministério missionário a serviço da Igreja e da humanidade.

“Peço-lhes como irmão, permaneçam na paz, imploro a vocês”. Era o dia 11 de abril de 2019 quando Francisco surpreendeu o mundo com um gesto humilde e poderoso. No final do retiro espiritual pela paz no Sul do Sudão, realizado na Casa Santa Marta e marcado por momentos de oração e perdão, o Papa deixa de lado as palavras, curvando-se diante do presidente da República, Salva Kiir Mayardit, e de dois dos vice-presidentes designados, Riek Machar e Rebecca Nyandeng De Mabio. Visivelmente cansado, o Pontífice sussurra: “Permitam-me que o faça” e depois ajoelha-se para beijar-lhes os pés, tal como, seguindo o exemplo de Cristo, fará dali a uma semana, na celebração da Quinta-feira Santa.

 

O Servo dos Servos de Deus indica assim aos líderes do Sul do Sudão o caminho a percorrer, o do serviço, para se tornarem, uma vez depostas as armas, pais de uma nação e pastores de um povo, dilacerado pelo conflito, que tem urgente necessidade de reconciliação. Neste último ano, de 13 de março de 2019 a 13 de março de 2020, entre viagens, audiências e sexta-feira da Misericórdia, Francisco nos surpreendeu e nos comoveu novamente com suas ações, sinais e testemunho de um pontificado inspirado na caridade: o “dom de Deus”, capaz de curar o coração.

 

O sopro da esperança

Assim, durante sua visita à localidade de Camerino, cidade italiana da região das Marcas entre as mais atingidas pelo violento terremoto de 2016, quando no ano passado, 16 de junho, o Papa entrou nas casas das vítimas do terremoto, instalações de emergência que depois de quase 4 anos, no entanto, ainda são suas casas, e abraçou os idosos um pouco perdidos, levou novamente aos jovens a esperança e a coragem de ver além das feridas.

 

Durante a sua viagem à África, de 4 a 10 de setembro passado, muitas pessoas o esperavam nas praças, nos estádios, nas ruas, mas é ainda com a ternura que o Papa cumpre os cerimoniais, quando, visitando em Maputo, o hospital de Zimpeto, que acolhe pessoas que sofrem de HIV/SIDA, encontra os olhos das crianças e das mães soropositivas, abraça os doentes, acolhidos no centro por incansáveis “bons samaritanos” e convidou todos a ouvirem o grito, soprando de todas as maneiras possíveis vida e esperança ali onde abundam morte e sofrimento.

 

Evangelização e promoção humana

Mas há outro grito que o Servo dos Servos decide ouvir neste sétimo ano do seu pontificado, cheio de gestos capazes de abalar as consciências. É o dos muitos povos indígenas que vivem na Querida e maravilhosa terra da Amazônia, que hoje é afetada pelo câncer dos incêndios, pela exploração e criminalidade. E fez isso durante o Sínodo dos Bispos, realizado no Vaticano e aberto com a Missa em São Pedro, no dia 6 de outubro de 2019. Um grande acontecimento eclesial para buscar, com fé, novos caminhos de evangelização, de atenção aos pobres e descartados, de cuidado da criação.

 

Acolhimento dos pobres e migrantes

A proximidade do Papa para com aqueles que mais precisam é bem expressa nas palavras de Elena, 75 anos, da Romênia, que depois de perder seu trailer em um incêndio foi recebida com outros convidados no Palazzo Migliori, o novo Centro de acolhida noturno e diurno, realizado em um antigo edifício de propriedade da Santa Sé, que o Papa doa aos favoritos de Deus. “Obrigada Papa porque você é bom para nós”, disse a mulher com os olhos brilhantes, encontrando-se com Francisco no dia da inauguração do edifício, numa sexta-feira da Misericórdia, 15 de novembro.

 

Outro sinal forte é a cruz feita com o colete salva-vida de um migrante que desapareceu no mar, que desde 19 de dezembro do ano passado grita silenciosamente do Pátio Belvedere, no Vaticano, onde Francisco acolhe os 33 refugiados que chegaram de Lesbos graças aos corredores humanitários. E é novamente neste encontro que o Bispo de Roma faz um apelo sincero tanto aos crentes como aos não crentes: salvem cada vida humana, a todo o custo, porque Deus nos pede e porque a indiferença perante as mortes no mar é um pecado grave.

 

Nunca se resignar à guerra

Francisco reza em silêncio no Memorial de Hiroshima, durante sua viagem ao Japão, carregando sobre seus ombros a dor de Deus e da humanidade por aqueles inúmeros inocentes mortos pelo desastre nuclear de 9 de agosto de 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. E afirma firmemente que é imoral não só o uso, mas também a posse de armas atômicas. Pouco antes do Museu da Bomba Atômica de Nagasaki, hipocentro da explosão da bomba lançada pelos estadunidenses, o Papa Bergoglio havia invocado um mundo livre da ameaça das armas nucleares.

 

Outro pecado grave é o da hipocrisia, denuncia Francisco, quando em convenções internacionais, muitos países “falam de paz e depois vendem suas armas aos países que estão em guerra”. Onde quer que vá, ele promove a cultura do encontro, seja no campo ecumênico, inter-religioso, social e político ou simplesmente no plano humano. Avança para a unidade, mas sem aniquilar as diferenças, reiterando o forte não à retórica do choque entre civilizações. Isto pode ser visto claramente em Bari, quando participa do encontro “Mediterrâneo fronteira de Paz”, e falando aos bispos de Mare Nostrum, juntos pela primeira vez, o Papa afirma que a guerra é uma loucura à qual nunca se pode resignar.

 

Estes são apenas alguns momentos do “ministério dos gestos” do Papa, que veio do outro lado do mundo. Gestos talvez ainda mais importantes hoje quando todo sinal e proximidade foram proibidos por uma ameaça invisível, que força o ser humano à abstinência do mais simples sinal de afeto. Mas a Igreja, e não somente, está esperando para redescobrir com Francisco o contágio da proximidade.

Cecilia Sepia, Silvonei José – Cidade do Vaticano
Vaticannews

Foto: Vaticannews

Segue ao longo de 2020 a visita ad limina apostolorum da Conferência Episcopal do Brasil ao Vaticano. Depois dos bispos do regional centro-oeste, que já estiveram com o Papa essa semana, na próxima segunda-feira, 17, será a vez dos bispos do Paraná visitarem o Vaticano e se reunirem com o Pontífice. Eles ficarão 12 dias em Roma.

Quem conduzirá os bispo do Regional Sul 2 da CNBB é o presidente do grupo, Dom Geremias Steinmetz, arcebispo de Londrina. Esta será a primeira vez dele em uma visita ad limina, já que foi nomeado bispo meses após a última visita, realizada em novembro de 2010. “Para mim é uma novidade, será um grande prazer”, revela.

Dom Geremias explica o que é e como é realizado este momento de visitação: “A Visita ad Limina Apostolorum é uma visita que os bispos são convidados a fazer a cada cinco anos em Roma. É uma visita ao Santo Padre e a outros dicastérios e congregações que sejam do interesse do episcopado. É uma visita obrigatória, todos os bispos fazem”.

O arcebispo esclarece que faz 10 anos que os bispos do Brasil não realizam esta visita devido a mudanças no papado ocorridas após a renúncia de Bento XVI e a eleição de Francisco. “Em 2013 o Papa Bento XVI renunciou, e a última visita havia sido feita em 2010. Depois veio o Papa Francisco com suas ocupações e uma agenda muito lotada e então ele não pôde iniciar as visitas pastorais. Então, agora, em 2020, tudo foi pensado e planejado para irmos até lá. Todos os bispos do Brasil farão essa visita no ano de 2020”.

 

Encontro com o Papa
O encontro com o Papa Francisco, a passagem pelos Sepulcros de São Pedro e São Paulo, pelas quatro basílicas principais de Roma e pelos diversos departamentos da administração central da Igreja fazem parte da programação da visita. Sobre o encontro com o Santo Padre, Dom Geremias comenta que é um dos pontos altos das atividades que serão realizadas pelos bispos do Regional Sul 2 da CNBB.

Para o arcebispo de Londrina, é muito bom poder conhecer, cumprimentar e estar com o Pontífice. “Ele é a cabeça da Igreja. (…) É uma pessoa muito agradável. Então essa visita traz o sentido de unidade do Papa com os bispos do mundo inteiro. Também é uma oportunidade de podermos ouvi-lo, fazer perguntas, para que ele possa responder de modo mais livre, sem tanto aparato teológico que seus pronunciamentos precisam ter. Esperamos que o momento dure aproximadamente duas horas”, contou.

É tradição que os bispos sejam recebidos pelo Papa e um cardeal, explica Dom Geremias. O arcebispo de Londrina afirma que na sequência uma apresentação é feita pelo cardeal que acompanha o grupo – com duração de 7 a 10 minutos –, que coloca o Santo Padre a par de quem são os bispos presentes na visita. Como presidente do Regional Sul 2 da CNBB, Dom Geremias também fará uso da palavra.

“Falarei sobre três pontos: primeiro irei agradecê-lo pelos documentos que publicou e que tanto têm iluminado o caminho da Igreja, principalmente na América Latina, e também por seu magistério, que tem sido de grande valia. Depois colocarei os positivos e avanços da Igreja no Brasil e em sequência explanarei sobre os pontos negativos, o que prejudica o trabalho da Igreja”. Sobre os pontos negativos, Dom Geremias esclareceu que não levará fofocas, mas questões culturais e reais que se apresentam na realidade da Igreja, como a cultura urbana, individualista e erotizada vivida no mundo atual. “Tudo isso fará com que ele reflita junto conosco”, complementou.

 

Visita aos túmulos de São Pedro e São Paulo e aos Dicastérios Vaticanos
Durante sua estadia em Roma, os bispos do Regional Sul 2 da CNBB passarão pelos túmulos dos apóstolos Pedro e Paulo. Os apóstolos são, para Dom Geremias, uma inspiração. “Entregaram suas vidas, mesmo que de forma diferente, como mártires, por causa da fé em Jesus Cristo. Pedro e Paulo têm uma grande importância na constituição da Igreja institucionalizada, ou seja, a Igreja enquanto instituição (que tem sua doutrina, orientações, organização no mundo inteiro)”.

 

Momento de Unidade
A Visita Ad Limina Apostolorum é um momento de ser Igreja e seu resultado será a unidade, afirma o arcebispo de Londrinha. “Somos igreja e queremos caminhar em unidade, queremos caminhar com o Santo Padre e ele certamente quer nos orientar. É um momento eclesial, mas também de cultura e encontro. Levaremos notícias da Igreja no Paraná para que o Papa saiba, conheça, e para que nós, apesar da distância do centro da cristandade (Roma), conheçamos sempre o que ele fala, o que ele pensa, para nos orientar na missão pastoral”, complementou.

O presidente do Regional Sul 2 da CNBB destacou, de modo particular: “É o momento de dizer claramente que estou com a Igreja, quero caminhar com ela, estou com o Papa e quero caminhar com ele”.

Julia Beck
Canção Nova

Foto destaque: Dom Geremias Steinmetz/Catedral de Londrina

“A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério.” Assim tem início a Exortação apostólica pós-sinodal, Querida Amazônia. O Pontífice, nos primeiros pontos, (2-4) explica “o sentido desta Exortação”, rica de referências a documentos das Conferências episcopais dos países amazônicos, mas também a poesias de autores ligados à Amazônia. Francisco destaca que deseja “expressar as ressonâncias” que o Sínodo provocou nele. E esclarece que não pretende substituir nem repetir o Documento final, que convida a ler “integralmente”, fazendo votos de que toda a Igreja se deixe “enriquecer e interpelar” por este trabalho e que a Igreja na Amazônia se empenhe “na sua aplicação”. O Papa compartilha os seus “Sonhos para a Amazônia” (5-7), cujo destino deve preocupar a todos, porque esta terra também é “nossa”. Assim, formula “quatro grandes sonhos”: que a Amazônia “que lute pelos direitos dos mais pobres”, “que preserve a riqueza cultural”, que “que guarde zelosamente a sedutora beleza natural”, que, por fim, as comunidades cristãs sejam “capazes de se devotar e encarnar na Amazônia”.

O sonho social: a Igreja ao lado dos oprimidos

O primeiro capítulo de Querida Amazônia é centralizado no “Sonho social” (8). Destaca que “uma verdadeira abordagem ecológica” é também “abordagem social” e, mesmo apreciando o “bem viver” dos indígenas, adverte para o “conservacionismo”, que se preocupa somente com o meio ambiente.Com tons vibrantes, fala de “injustiça e crime”(9-14). Recorda que já Bento XVI havia denunciado “a devastação ambiental da Amazônia”. Os povos originários, afirma, sofrem uma “sujeição” seja por parte dos poderes locais, seja por parte dos poderes externos. Para o Papa, as operações econômicas que alimentam devastação, assassinato e corrupção merecem o nome de “injustiça e crime”. E com João Paulo II, reitera que a globalização não deve se tornar um novo colonialismo.

 

Os pobres sejam ouvidos sobre o futuro da Amazônia

Diante de tanta injustiça, o Pontífice fala que é preciso “indignar-se e pedir perdão” (15-19). Para Francisco, são necessárias “redes de solidariedade e de desenvolvimento” e pede o comprometimento de todos, inclusive dos líderes políticos. O Papa ressalta o tema do “sentido comunitário” (20-22), recordando que, para os povos amazônicos, as relações humanas “estão impregnadas pela natureza circundante”. Por isso, escreve, vivem como um verdadeiro “desenraizamento” quando são “forçados a emigrar para a cidade”. A última parte do primeiro capítulo é dedicado às “Instituições degradadas” (23-25) e ao “Diálogo social” (26-27). O Papa denuncia o mal da corrupção, que envenena o Estado e as suas instituições. E faz votos de que a Amazônia se torne “um local de diálogo social” antes de tudo “com os últimos. A voz dos pobres, exorta, deve ser “a voz mais forte” sobre a Amazônia.

 

O sonho cultural: cuidar do poliedro amazônico

O segundo capítulo é dedicado ao “sonho cultural”.Francisco esclarece que “promover a Amazônia” não significa “colonizá-la culturalmente” (28). E recorre a uma imagem que lhe é cara: “o poliedro amazônico”(29-32). É preciso combater a “colonização pós-moderna”. Para Francisco, é urgente “cuidar das raízes” (33-35). Citando Laudato si’ Christus vivit, destaca que a “visão consumista do ser humano” tende a “a homogeneizar as culturas” e isso afeta sobretudo os jovens. A eles, o Papa pede que assumam as raízes, que recuperem “a memória danificada”.

 

Não a um indigenismo fechado, é preciso um encontro intercultural

A Exortação se concentra depois sobre o “encontro intercultural” (36-38). Mesmo as “culturas aparentemente mais evoluídas”, observa, podem aprender com os povos que “desenvolveram um tesouro cultural em conexão com a natureza”. A diversidade, portanto, não deve ser “uma fronteira”, mas “uma ponte”, e diz não a “um indigenismo completamente fechado”. A última parte do segundo capítulo é dedicada ao tema “culturas ameaçadas, povos em risco” (39-40). Em qualquer projeto para a Amazônia, esta é a recomendação do Papa, “é preciso assumir a perspectiva dos direitos dos povos”. Estes, acrescenta, dificilmente podem ficar ilesos se o ambiente em que nasceram e se desenvolveram “se deteriora”.

 

O sonho ecológico: unir cuidado com o meio ambiente e cuidado com as pessoas

O terceiro capítulo, “Um sonho ecológico”, é o mais relacionado com a Encíclica Laudato si’. Na introdução (41-42), destaca-se que na Amazônia existe uma relação estreita do ser humano com a natureza. Cuidar dos irmãos como o Senhor cuida de nós, reitera, “é a primeira ecologia que precisamos”. Cuidar do meio ambiente e cuidar dos pobres são “inseparáveis”. Francisco dirige depois a atenção ao “sonho feito de água” (43-46). Cita Pablo Neruda e outros poetas locais sobre a força e a beleza do Rio Amazonas. Com suas poesias, escreve, “ajudam a libertar-nos do paradigma tecnocrático e consumista que sufoca a natureza”.

 

Ouvir o grito da Amazônia, o desenvolvimento seja sustentável

Para o Papa, é urgente ouvir o “grito da Amazônia” (47-52). Recorda que o equilíbrio planetário depende da sua saúde. Escreve que existem fortes interesses não somente locais, mas também internacionais. A solução, portanto, não é “a internacionalização” da Amazônia; ao invés, deve crescer “a responsabilidade dos governos nacionais”. O desenvolvimento sustentável, prossegue, requer que os habitantes sejam sempre informados sobre os projetos que dizem respeito a eles e auspicia a criação de “um sistema normativo” com “limites invioláveis”. Assim, Francisco convida à “profecia da contemplação” (53-57). Ouvindo os povos originários, destaca, podemos amar a Amazônia “e não apenas usá-la”; podemos encontrar nela “um lugar teológico, um espaço onde o próprio Deus Se manifesta e chama os seus filhos”. A última parte do terceiro capítulo é centralizada na educação e hábitos ecológicos” (58-60). O Papa ressalta que a ecologia não é uma questão técnica, mas compreende sempre “um aspecto educativo”.

 

O sonho eclesial: desenvolver uma Igreja com rosto amazônico

O último capítulo, o mais denso, é dedicado “mais diretamente” aos pastores e aos fiéis católicos e se concentra no “sonho eclesial”. O Papa convida a “desenvolver uma Igreja com rosto amazônico” através de um “grande anúncio missionário” (61), um “anúncio indispensável na Amazônia” (62-65). Para o Santo Padre, não é suficiente levar uma “mensagem social”. Esses povos têm “direito ao anúncio do Evangelho”; do contrário, “cada estrutura eclesial transformar-se-á em mais uma ONG”. Uma parte consistente é dedicada ainda à inculturação. Retomando a Gaudium et spes, fala de “inculturação (66-69) como um processo que leva “à plenitude à luz do Evangelho” aquilo que de bom existe nas culturas amazônicas.

 

Uma renovada inculturação do Evangelho na Amazônia

O Papa dirige o seu olhar mais profundamente, indicando os “Caminhos de inculturação na Amazônia”. (70-74). Os valores presentes nas comunidades originárias, escreve, devem ser valorizados na evangelização. E nos dois parágrafos sucessivos se detém sobre a “inculturação social e espiritual” (75-76). O Pontífice evidencia que, diante da condição de pobreza de muitos habitantes da Amazônia, a inculturação deve ter um “timbre marcadamente social”. Ao mesmo tempo, porém, a dimensão social deve ser integrada com aquela “espiritual”.

 

Os Sacramentos devem ser acessíveis a todos, especialmente aos pobres

Na sequência, a Exortação indica “pontos de partida para uma santidade amazônica” (77-80), que não devem copiar “modelos doutros lugares”. Destaca que “é possível receber, de alguma forma, um símbolo indígena sem o qualificar necessariamente como idolátrico”. Pode-se valorizar, acrescenta, um mito “denso de sentido espiritual” sem necessariamente considerá-lo “um extravio pagão”. O mesmo vale para algumas festas religiosas que, não obstante necessitem de um “processo de purificação”, “contêm um significado sagrado”.

 

Outra passagem significativa de Querida Amazônia é sobre a inculturação da liturgia (81-84). O Pontífice constata que já o Concílio Vaticano II havia solicitado um esforço de “inculturação da liturgia nos povos indígenas”. Além disso, recorda numa nota do texto que, no Sínodo, “surgiu a proposta de se elaborar um «rito amazônico»”. Os Sacramentos, exorta, “devem ser acessíveis, sobretudo aos pobres”. A Igreja, afirma evocando a Amoris laetitia, não pode se transformar numa “alfândega”.

 

Bispos latino-americanos devem enviar missionários à Amazônia

Relacionado a este tema, está a “inculturação do ministério” (85-90) sobre a qual a Igreja deve dar uma resposta “corajosa”. Para o Papa, deve ser garantida “maior frequência da celebração da Eucaristia”. A propósito, reitera, é importante “determinar o que é mais específico do sacerdote”. A resposta, lê-se, está no sacramento da Ordem sacra, que habilita somente o sacerdote a presidir a Eucaristia. Portanto, como “assegurar este ministério sacerdotal” nas zonas mais remotas? Francisco exorta todos os bispos, especialmente os latino-americanos, “a ser mais generosos”, orientando os que “demonstram vocação missionária” a escolher a Amazônia e os convida a rever a formação dos presbíteros.

 

Favorecer um protagonismo dos leigos nas comunidades

Depois dos Sacramentos, Querida Amazonía fala das “comunidades cheias de vida” (91-98), nas quais os leigos devem assumir “responsabilidades importantes”. Para o Papa, com efeito, não se trata “apenas de facilitar uma presença maior de ministros ordenados”. Um objetivo “limitado” se não suscitar “uma nova vida nas comunidades”. São necessários, portanto, novos “serviços laicais”. Somente através de “um incisivo protagonismo dos leigos”, reitera, a Igreja poderá responder aos “desafios da Amazônia”. Para o Pontífice, os consagrados têm um lugar especial e não deixa de recordar o papel das comunidades de base, que defenderam os direitos sociais, e encoraja em especial a atividade da REPAM e dos “grupos missionários itinerantes”.

 

Novos espaços às mulheres, mas sem clericalizações

Francisco dedica um espaço à força e ao dom das mulheres (99-103). Reconhece que, na Amazônia, algumas comunidades se mantiveram somente “graças à presença de mulheres fortes e generosas”. Porém, adverte que não se deve reduzir a Igreja a “estruturas funcionais”. Se assim fosse, com efeito, teriam um papel somente se fosse concedido a elas acesso à Ordem sacra. Para o Pontífice, deve ser rejeitada a clericalização das mulheres, acolhendo, ao invés, a contribuição segundo o modo feminino, que prolonga “a força e a ternura de Maria”. Francisco encoraja o surgimento de novos serviços femininos, que – com um reconhecimento público dos bispos – incidam nas decisões para as comunidades.

 

Os cristãos devem lutar juntos para defender os pobres da Amazônia

Para o Papa, é preciso “ampliar horizontes para além dos conflitos” (104-105) e deixar-se desafiar pela Amazônia a “superar perspectivas limitadas” que “permanecem enclausuradas em aspetos parciais”. O quarto capítulo termina com o tema da “convivência ecumênica e inter-religiosa” (106-110), “encontrar espaços para dialogar e atuar juntos pelo bem comum”. “Como não lutar juntos? – questiona Francisco – Como não rezar juntos e trabalhar lado a lado para defender os pobres da Amazônia”?

 

Confiemos a Amazônia e os seus povos a Maria

Francisco conclui a Querida Amazônia com uma oração à Mãe da Amazônia(111). “Mãe, olhai para os pobres da Amazônia – é um trecho da sua oração –, porque o seu lar está a ser destruído por interesses mesquinhos (…) Tocai a sensibilidade dos poderosos porque, apesar de sentirmos que já é tarde, Vós nos chamais a salvar o que ainda vive”.

 

<Clique aqui> para acessar a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, do Papa Francisco.

 

Alessandro Gisotti – Vatican News

O terceiro domingo do Tempo Comum, celebrado no próximo dia 26 de janeiro, será o primeiro Domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Papa Francisco com a recente Carta Apostólica, na forma de Motu Proprio, Aperuit illis: “É bom que não venha jamais a faltar na vida do nosso povo esta relação decisiva com a Palavra viva, que o Senhor nunca Se cansa de dirigir à sua Esposa, para que esta possa crescer no amor e no testemunho da fé”, escreveu Francisco, que às 10 horas (horário italiano) presidirá a Santa Missa na Basílica de São Pedro, com transmissão do Vatican News com comentários em português. Ao final da Celebração Eucarística, o Santo Padre entregará uma particular edição da Bíblia aos fiéis presentes.

 

Dom Cristiano Sousa OSB Cam*, monge Beneditino da Congregação de Camaldoli, nos propõe uma reflexão sobre esta iniciativa do Santo Padre:

“O Domingo da Palavra de Deus, instituído pelo Papa Francisco, em sua Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Aperuit Illis, de 30 de setembro de 2019, reassume todo um percurso de maturação que a Igreja fez nos últimos séculos, tendo como expressão a Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, publicado em 18 de novembro de 1965. Não podemos esquecer a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, ocorrido em Roma em outubro de 2008, que frutificou na Exortação Apostólica pós sinodal Verbum Domini, do Papa Bento XVI (30 de setembro de 2010).

 

Como bem sublinha o Papa Francisco, ao concluir sua Carta Apostólica, “Possa o domingo dedicado à Palavra fazer crescer no povo de Deus uma religiosa e assídua familiaridade com as sagradas Escrituras, tal como ensinava o autor sagrado já nos tempos antigos: ‘esta palavra «está muito perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a praticares’ (Dt 30, 14).”

 

assídua familiaridade com o Santa Palavra não é um acréscimo virtuoso imposto à vida espiritual ou um comportamento a ser instalado com finalidade sobrenatural. Mas é, antes de tudo e acima de tudo, a substância e a identidade de cada cristã e de cada cristão.

 

Com a inserção temática na Liturgia do III Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus é evidenciada em modo celebrativo/comunitário, em todo o orbe cristão, com abertura e acolhimento às diversas igrejas, também as provenientes da Reforma do Século XVI e com toda a Ortodoxia. Abre-se também ao já percorrido caminho de Dialogo Hebraico – Cristão.

 

“Portanto estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus. Este Domingo da Palavra de Deus colocar-se-á, assim, num momento propício daquele período do ano em que somos convidados a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos. Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecumênica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida. (APERUIT ILLIS, Papa FRANCISCO, n. 3).”

 

Essa celebração, fruto de muita reflexão do Magistério Universal (Pastores, ministros, teólogos e todo o Povo de Deus), é uma manifestação propícia, com o fim de fortalecer e recuperar a identidade cristã, que se consolida no processo de “familiarização” com a Palavra de Deus. E para isso, a dimensão celebrativa só pode ser frutuosa se for o cume e fonte de uma vida “frequentada na Sagrada Escritura”, cuja “Sacramentalidade” (Bento XVI, Verbum Domini, 56) nos motiva à uma “Primazia da Palavra”, qualquer que seja nosso status, nossas escolhas e nosso cotidiano.

 

A história foi testemunha de muitos desacertos e desentendimentos entre os fiéis. Muitas vezes, o Texto Sagrado, foi instrumentalizado e reduzido, seja para fundamentar as ideologias, seja também para mera apologética. Também hoje nos confrontamos com uma “utilização” supersticiosa e moralista da Santa Palavra, subordinando-a às fantasias individuais e coletivas, e até mesmo – com triste e indignada constatação – com o objetivo de domínio político, econômico e social.

 

Quando a vida não é alicerçada, alimentada e iluminada pela Palavra, cuja “Primazia” é fundamental, incorremos nos mesmos erros que a história ainda nos narra, e que se encontram presentes em nossa sociedade. Isso alerta para a distância em que podemos estar daquela nossa verdadeira identidade, que se realiza e se concretiza justamente na “assiduidade” à Sagrada Escritura. Por isso, essa jornada é um forte convite à Lectio Divina, que no Brasil, foi nominada como “Leitura Orante da Bíblia”, e muito frutificou nas Comunidades Eclesiais de Base.

 

A “Lectio” não é apenas um exercício de piedade, ou “momento de oração” para obter graças, curas, etc … Também não é tempo no qual o leitor busca seus interesses pessoais e tenta encontrá-los na Bíblia. Antes de tudo, a “Lectio” é uma decisão entre duas pessoas que fizeram uma “Aliança”, um “Pacto de Amor”: Deus e o homem. E nessa leitura, homem e Deus se encontram no percurso escolhido em plena liberdade por ambos, em que a Palavra proferida e a Palavra escutada, vai assumindo carne e presença em uma nova historia, a “Historia da Salvação”.

 

Mesmo desenvolvida em um contexto monástico, a Lectio Divina não é privilégio de monges e monjas. Na experiência de Fé, o cristão que frequenta a Palavra, vai exprimindo a Imagem de Deus que lhe foi impressa no Batismo, pois, quando duas pessoas se amam e se “encontram” nesse dialogo de ternura – próprio da leitura orante – inexoravelmente se adquire aquela palavra de conhecimento experiencial, que Platão (400 a.C) chamava de syggeneia, isto é, conaturalidade ou consanguinidade, pois somente os semelhante conhece o semelhante. É esse o fruto da Lectio! Pela continua frequentação á Palavra Santa, nós nos tornamos conaturais de Deus, do mesmo modo que Ele se conaturalizou conosco.

 

O “Grande” Papa e Doutor São Gregório (séc. VI), em seus escritos, nos permite confirmar essa realidade com uma máxima de muito valor para os que decidiram percorrer o caminho fundamental da Lectio: “Divina eloquia legente crescunt”. “A Palavra de Deus cresce junto com quem dela se aproxima”. Aquele Jesus que se esconde e se revela no texto bíblico, é o “Grande Amigo”, melhor, o “Noivo” que vai desvelando gradualmente à sua amada os seus mais ricos tesouros, impulsionando-a delicadamente, no pleno respeito da sua liberdade, a aderir à sua proposta de amor.

 

O “Domingo da Palavra de Deus”, celebrado pela primeira vez em nossas comunidades religiosas e paroquiais, quer ser sinal e apelo para redescobrirmos nossa identidade de discípulos e discípulas de Jesus, homens e mulheres que escolheram o “Primado” da Palavra de Deus, que é sempre transformadora, restauradora e vivificadora de cada ser humano e de toda a sociedade “Quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro.” (APERUIT ILLIS, Papa FRANCISCO, n.12)”.

 

Dom Cristiano Sousa OSB Camé monge Beneditino da Congregação de Camaldoli, natural de Guaratinguetá –SP e membro da Comunidade do Mosteiro de São Gregório al Celio, Roma. Formado em Sacra Teologia pelo Pontificio Ateneo Santo Anselmo de Roma, atualmente é mestrando em Psicologia Clinica pela LUMSA-Roma.

 

Jackson Erpen – Vatican News

Estátua de São Pedro diante da Basílica Vaticana (Foto Vatican News)

A visita Ad Limina Apostolorum tem uma grande riqueza teológica, espiritual-pastoral e histórica

 

Teologicamente, a visita ad limina expressa a plena comunhão entre a Igreja Universal, presidida pelo sucessor do Apóstolo Pedro, o Papa, e a Igrejas locais (dioceses), presididas pelos sucessores dos Apóstolos, os bispos. Os traços de uma primeira visita ad limina são bíblicos. Na Carta aos Gálatas, ao relatar sobre sua conversão e convicção de ser chamado pelo Senhor para ser apóstolo, Paulo conta que foi à Jerusalém e permaneceu 15 dias com Pedro (cf. Gl 1, 18). Quatorze anos depois, ele repete o mesmo ato, vai encontrar-se com Pedro para partilhar como realizava sua ação evangelizadora entre os gentios (cf. Gl 2,2). Tal gesto já manifestava a comunhão com Pedro, àquele a quem Jesus confiou a Igreja, concedendo-lhe as chaves do Reino dos céus (cf. Mt 16,19).

 

A Liturgia Eucarística expressa a plena comunhão da Igreja local (dioceses) com a Igreja Universal (presidida pelo Papa, com sede em Roma), a semelhança da comunhão Trinitária, que é o modelo perfeito de comunidade. As fórmulas ditas pelo padre na missa: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo”, assim como “…na unidade do Espírito Santo” realçam comunhão e unidade. Por isso, na Missa sempre se reza pelo bispo diocesano e pelo papa.

 

O sentido litúrgico e teológico convida a uma prática que traduz, concretamente, a comunhão. Desta forma, as visitas ad limina expressam a união da Igreja Católica: dos bispos com o Papa, que é o sucessor de Pedro, no local de seu martírio. Tal viagem dos bispos é de todo o povo a eles confiado, que ruma com o Papa para a salvação. Aí se manifesta o encontro dos princípios da fé com a realidade concreta vivida nas dioceses do mundo. “A fé para ser concreta tem necessidade de experiências sempre novas da história humana, mas estas experiências sempre parciais tornam-se riqueza da catolicidade somente se são purificadas e iluminadas pela luz fulgurante e aquecedora da fé comum[1]”.

 

Como ato jurídico-administrativo, previsto no Código de Direito Canônico, a visita é um dever do pastor de cada Igreja: “O Bispo diocesano, vá a Roma no ano em que está obrigado a apresentar o relatório ao Sumo Pontífice, se de outro modo não houver sido decidido pela Sé Apostólica, a fim de venerar os sepulcros dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e apresente-se ao Romano Pontífice” (Cân. 400). Porém, mais que uma obrigação do ministério episcopal, tal ato é revestido de um significado profundo,  pois que em última análise, pode-se considerar que a visita ad limina expressa o encontro de um princípio pessoal e um princípio comunitário no governo da Igreja. A Igreja foi confiada pelo Senhor a pessoas que, iluminadas em sua consciência, são responsáveis por guiar a instituição. Portanto, na visita ad Limina se manifesta também a junção entre o personalismo e a dimensão comunitária, na colegialidade dos bispos.

 

Católico significa universal, ou seja, é uma mesma fé vivida no mundo, guiada pela força do Evangelho e pelos princípios da tradição da Igreja. Ir a Roma é ter contato com o local onde a Igreja floresceu e com fatos que “exprimem de fato a unidade da Igreja, fundada pelo Senhor sobre os Apóstolos e edificada sobre Pedro, sua cabeça, com o próprio Jesus Cristo como pedra-mestra-angular e seu ‘evangelho’ de salvação para todos os homens[2]”.

*A visita Ad Limina dos bispos do Paraná acontecerá nos dias 17 a 27 de fevereiro de 2020.

Pe. Fabiano Dias Pinto – Arquidiocese de Curitiba-PR
Karina de Carvalho – Assessora de imprensa da CNBB Sul 2

 


[1] Joseph Card. Ratzinger. Nota teológica. Diretório da Visita Ad Limina. Cidade do Vaticano, 1998.

[2] Diretório da Visita Ad Limina. Introdução. Cidade do Vaticano, 1998.

 A A Visita Ad Limina Apostolorum, que os bispos do Paraná farão a Roma de 17 a 27 de fevereiro, é um  evento que deve proporcionar a comunhão não só dos bispos com o Papa, mas também de toda a Igreja e o povo de Deus.

 

Por isso, os bispos pedem que os fiéis os acompanhem na oração pelo bom êxito da visita, a fim de que produza frutos de santidade para a Igreja. Os bispos escreveram uma oração para que os fiéis intercedam por eles no tempo que antecede e que acontece a Visita. Rezemos em especial pelo arcebispo dom Geremias Steinmetz e a Arquidiocese de Londrina.

 

Oração pela visita Ad Limina

Ó Deus, Pastor eterno, nós vos agradecemos pelo
dom da Igreja una, santa, católica e apostólica,
que é no mundo  um sinal visível do vosso amor.
Unidos, pela fé, às pessoas de todas as nações,
formamos um único povo, renovados em Jesus Cristo.

Concedei ao nosso arcebispo Dom Geremias, a liderança do Bom Pastor,
para governar a nossa Arquidiocese de Londrina em comunhão
com a Igreja de Roma, que a preside na caridade.

Pedimos as luzes do Espírito Santo para os Bispos do Paraná,
nesse tempo de graça que é a Visita Ad Limina Apostolorum.

Em comunhão com eles, peregrinamos, espiritualmente, até Roma,
para venerar o Sepulcro dos Apóstolos e encontrar o Santo Padre,
que é o sucessor de São Pedro, a quem Jesus confiou a Igreja.

Por Jesus Cristo, nosso Senhor, na unidade do Espírito Santo. Amém.

(Rezar um Pai nosso, três Ave Marias e um Glória ao Pai)